Lucas C. Lisboa
Desde o dia que o pianista falhara em sua primeira exibição, frente toda a Corte; culpara, terrivelmente, sua mão direita. Afinal, fora ela que tropeçara, amargamente, frente ao público tão exigente.
Sua mão errara naquele momento crucial, transformando um Fá sustenido em um dissonante Sol natural. Ele soubera, imediatamente, que todos os ouvidos do ambiente haviam sido feridos. Mas, complacentes com sua inépcia, o aplaudiram em patente e jocosa cordialidade falseada.
Tudo culpa da sua maldita mão direita! Que até então sempre fora sua favorita, que tudo pegava, apalpava, escrevia e fazia. Não confiava mais nela; pois ela poderia novamente vacilar. Reaprendeu: a escrever, a escovar os cabelos, a fazer todas as suas necessidades, de abrir portas até atar e desatar os nós de seus sapatos.
Em toda a sua dor sentia-se inútil, o piano não poderia mais tocar, pois não poderia jamais perdoar aquela tratante; que tanto o decepcionou depois de tantos anos que lhe prestou prioridade, cuidados e carinhos. E como se sentia culpado por nunca ter dado um melhor préstimo à sua fiel mão esquerda; que mesmo relegada ao descrédito nunca havia deixado de cumprir com o seu dever.
Não podendo mais tocar; logo seria preterido, naquela competitiva corte do príncipe regente, caso não dominasse outra arte. Não tinha, porém nenhum dom para os pincéis ou para outros instrumentos: flauta, violino, violoncello; que não tinham a mesma imponência e importância do piano. Além de também serem todos dependentes da impossível reconciliação com sua pérfida e vil mão direita.
Mas havia a arte da esgrima; uma arte que até praticara em seus arroubos de juventude. Era, à época, apenas bom e não o melhor, sendo sempre vencido pelos movimentos imprevisíveis daquele canhoto de cabelos vermelhos. Pois assim, redimindo-se com sua honesta e correta mão esquerda, empunhou novamente o Florete que há tanto jazia empoeirando e com afinco tornou-o uma extensão de sua mão fiel e certeira.
Guardando a amarga lembrança das lutas com a mão direita, sabia, exatamente, onde o seu oponente estaria no próximo momento. Assim com sua habilidade rara venceu, após anos de prática dedicada, obstinada e decidida, inúmeros duelos e torneios em terras próximas e também em outras distantes, algumas até mesmo além-mar.
Com os seus novos sucessos teve o almejado reconhecimento e assim chegou novamente às honrarias da corte e ao exibir-se para sua Rainha e Rei colocava-se à posição clássica exibindo sua mão esquerda ao florete e escondendo em suas costas a indigna mão direita.
Naquela corte, depois de tantos anos passados, não mais se recordavam de sua face. Não reconheciam, naquele esgrimista hábil, o promissor pianista de outrora. Mas entre os tantos artistas daquela corte, de talentos tão diversos quanto fantásticos, havia uma compositora de Ópera , Violino e Piano que desde o primeiro instante o reconhecera.
Não por sua face agora séria e amadurecida, mas por sua bela mão que ele tão despropositadamente parecia querer ocultar. Sim, pois se havia algo que ela apreciava mais do que uma sonata bem composta ou uma peça grandiosa era a harmonia dos dedos, ossos e falanges de mãos belas e bem cuidadas. Tinha em seu quarto uma coleção delas bem guardadas, dentro de um baú reforçado e trancado, em seus respectivos potes embebidos ao rum.
A compositora, ao notar aquela mão escondida atrás do tal esgrimista, se perguntava o porque dela estar tão mal cuidada e tão distante da beleza que já tivera, revoltando-se com tal desleixo para com uma mão tão preciosa. Mas, não obstante a tal fascínio, estava curiosíssima para saber do porque do seu inexplicável desaparecimento, naqueles tempos onde Vossa Magestade ainda era Regente; afinal, sumira depois daquela inspiradora tarde de música, onde conduzira magistralmente suas mãos encantadas sobre o piano.
Desde o dia que o pianista falhara em sua primeira exibição, frente toda a Corte; culpara, terrivelmente, sua mão direita. Afinal, fora ela que tropeçara, amargamente, frente ao público tão exigente.
Sua mão errara naquele momento crucial, transformando um Fá sustenido em um dissonante Sol natural. Ele soubera, imediatamente, que todos os ouvidos do ambiente haviam sido feridos. Mas, complacentes com sua inépcia, o aplaudiram em patente e jocosa cordialidade falseada.
Tudo culpa da sua maldita mão direita! Que até então sempre fora sua favorita, que tudo pegava, apalpava, escrevia e fazia. Não confiava mais nela; pois ela poderia novamente vacilar. Reaprendeu: a escrever, a escovar os cabelos, a fazer todas as suas necessidades, de abrir portas até atar e desatar os nós de seus sapatos.
Em toda a sua dor sentia-se inútil, o piano não poderia mais tocar, pois não poderia jamais perdoar aquela tratante; que tanto o decepcionou depois de tantos anos que lhe prestou prioridade, cuidados e carinhos. E como se sentia culpado por nunca ter dado um melhor préstimo à sua fiel mão esquerda; que mesmo relegada ao descrédito nunca havia deixado de cumprir com o seu dever.
Não podendo mais tocar; logo seria preterido, naquela competitiva corte do príncipe regente, caso não dominasse outra arte. Não tinha, porém nenhum dom para os pincéis ou para outros instrumentos: flauta, violino, violoncello; que não tinham a mesma imponência e importância do piano. Além de também serem todos dependentes da impossível reconciliação com sua pérfida e vil mão direita.
Mas havia a arte da esgrima; uma arte que até praticara em seus arroubos de juventude. Era, à época, apenas bom e não o melhor, sendo sempre vencido pelos movimentos imprevisíveis daquele canhoto de cabelos vermelhos. Pois assim, redimindo-se com sua honesta e correta mão esquerda, empunhou novamente o Florete que há tanto jazia empoeirando e com afinco tornou-o uma extensão de sua mão fiel e certeira.
Guardando a amarga lembrança das lutas com a mão direita, sabia, exatamente, onde o seu oponente estaria no próximo momento. Assim com sua habilidade rara venceu, após anos de prática dedicada, obstinada e decidida, inúmeros duelos e torneios em terras próximas e também em outras distantes, algumas até mesmo além-mar.
Com os seus novos sucessos teve o almejado reconhecimento e assim chegou novamente às honrarias da corte e ao exibir-se para sua Rainha e Rei colocava-se à posição clássica exibindo sua mão esquerda ao florete e escondendo em suas costas a indigna mão direita.
Naquela corte, depois de tantos anos passados, não mais se recordavam de sua face. Não reconheciam, naquele esgrimista hábil, o promissor pianista de outrora. Mas entre os tantos artistas daquela corte, de talentos tão diversos quanto fantásticos, havia uma compositora de Ópera , Violino e Piano que desde o primeiro instante o reconhecera.
Não por sua face agora séria e amadurecida, mas por sua bela mão que ele tão despropositadamente parecia querer ocultar. Sim, pois se havia algo que ela apreciava mais do que uma sonata bem composta ou uma peça grandiosa era a harmonia dos dedos, ossos e falanges de mãos belas e bem cuidadas. Tinha em seu quarto uma coleção delas bem guardadas, dentro de um baú reforçado e trancado, em seus respectivos potes embebidos ao rum.
A compositora, ao notar aquela mão escondida atrás do tal esgrimista, se perguntava o porque dela estar tão mal cuidada e tão distante da beleza que já tivera, revoltando-se com tal desleixo para com uma mão tão preciosa. Mas, não obstante a tal fascínio, estava curiosíssima para saber do porque do seu inexplicável desaparecimento, naqueles tempos onde Vossa Magestade ainda era Regente; afinal, sumira depois daquela inspiradora tarde de música, onde conduzira magistralmente suas mãos encantadas sobre o piano.
3 comentários:
Seu conto me pareceu deveras interessante, meu amigo. Gostei das nuanças entre os talentos do personagem principal. Gostei muito também de ver a auto crítica que ele se fez, pois os artistas são assim mesmo, sendo muitas vezes duros demais consigo mesmo.
Em fim, gostei muito de seu texto, e lhe dou os parabéns.
Um grande abraço,
Átila Siqueira.
Essa maldita mão direita, ainda me paga!
pois então sr Lucas.
[resolvi comentar neste.]
como ontem a gente tinha fala das rasteiras possíveis, neste conto você acertou, com uma preciosa rasteira na última linha!
ainda não tive tempo de ler muito do seu blog, mas terei em breve. já estou ansioso esperando as suas indicações bibliográficas. muito me enteressa entender de poesia, pra dizes enquando continuar brincando de ser poeta. meu e-mail está no meu blog, e assim espero martermos contato!
parabéns pelo conto, e até breve!
Enviar um comentário