Com a desculpa que estou bêbado sem de fato estar cá estou eu me travestindo de velho safado. Numa pífia desventura de imitar o fracasso de Bukowski. Sem seu gênio ébrio, sem sua podridão e amoralidade habitual estou eu. Preso numa cidade do interior do interior que é o estado de minas gerais. Estou, ao menos, sólido. Consciente de mim, ou pelo menos em parte. O bastante para saber de meu fracasso nessa noite, onde sequer consegui ficar bêbado de verdade. Não sei dançar e muito menos me dou bem em conhecer desconhecidos. Solto nessa cidadezinha em sua maior festa não tenho o benefício de ser cara nova, pois caras novas nessas épocas pipocam de todos os lados. Me é mais farta a entressafra do que a colheita, sou melhor na escassez. Sou singularíssimo em gostos e defeitos, ou pelo menos, gosto de pensar que sou assim ao menos. Gosto de ignorar que meus dramas e defeitos são iguais a outros tantos seres viventes. Aliás, compreender o outro, que ele existe de fato, tem sentimentos, medos e receios é uma verdade que tomei consciência à pouco mas que ainda não soube aplicar com a devida competência. Dancei com minha sombra como sempre fiz mas agora à base de cavalos voadores e cereais fermentados e depois destilados. O resultado etílico é o que no fim das contas o que realmente importa uma vez que o gosto forte do energético supera todos os outros. Supera inclusive minha tendência ao torpor ao primeiros sinais de embriaguez. Que resulta nisto, eu aqui escrevendo para absolutamente ninguém. Que leitores lerão essa pieguice sem fim? Tomara que nenhum mesmo. Tenho vergonha de ser humano. Nada aqui tem de novidade, nenhum sentimento desses já não passou com outrem com força avassaladora. Carrego no dedo anular da mão direita a marca de sol da presença dela. Sim, a presença dela que ausente causa tanto disso daqui. Ausência causada por mim por não suportar não ter as rédeas da situação. Não me dou bem com mares revoltos dos quais não tenho o prumo necessário para combatê-lo de peito. Bastou uma mentira narrando ser pior que sou para deixar a situação desse jeito. Dessa maneira lastimável. Quinze vezes já estive assim ou até mais por essa mesma mulher. Sentimentos teem dessas coisas, não se explicam e não se acabam pelo mero desejo após se constatar sua contra producência absoluta. Que faço eu, um ególatra assumido, com alguém que apesar da paixão avassaladora não me cultua como eu me cultuo? Mas diabos! Como posso me comparar com o gênio de Bukowski se sequer consigo me manter num linguajar simples e inteligível! Sou apenas uma palavroso cheio de palavras que dizem exatamente tudo para mim mas absolutamente nada para meu leitor. Ah, leitor, quem é você que perde tempo comigo? Que me visita em meu sitio virtual sem se identificar deixando apenas seu número no contador de visitas? Quem é você que visita e lê impassível minhas confidências em versos apenas, quando tenho sorte, votando como péssimos ou perfeitos? Mas tomando de volta. Cá estou em depois de fumar um derby para matar cinco minutos de uma noite morta. Depois de relembrar e marcar todos os momentos terríveis que já vivi com ela. Depois de relembrar todas aquelas que me fizeram me sentir rei mas sem me sentir recompensado pelos súditos que tinha. Odeio ser a merda de mais um ser humano que teme os cavalos mais bravios mas se entedia com a sela arriada do alazão domado por outrem. Eu quero conquistar o mundo de possibilidades mas que cada dificuldade venha à medida para minha superação. Como um jogo de video game com fases de níveis progressivos. Quero o orgulhos do hardcore e a segurança do easy mode. E olha que engraçado, que tempos são esses que metrifico um poema e depois venho cá falar de virtualidade, computadores, games e toda a modernidade? Sou anacrônico, velas me iluminam enquanto digito. Sou eu pulando de assunto em assunto, misturando o meio de campo, jogando futebol como técnico no computador e ao mesmo compondo sonetos à minha amada que terminou comigo por causa de uma provocação através de um SMS. E estar no interior me traz cenas hilárias. Estou numa varanda escutando o galo cantar logo após uma banda tocar com guitarras distorcidas, me lembrar do travesti que se apresentou no mesmo palco na noite de ontem e rir-me de estar dormindo numa cama na varanda usando a tomada do banheiro, que fica do lado de fora da casa, para alimentar o meu computador de sobre as pernas, meu laptop. Eu queria ser poeta mas trabalho com computadores. E no fundo não sei o que faço pior. Boa noite manhã de quarta-feira pós independência do Brasil.
Boa noite.
ResponderEliminarMá noite, essa foi uma péssima noite
ResponderEliminarPelo visto...
ResponderEliminarNossa... Tenso... Adorei o jogo de palavras... ou.... me adiciona no seu msn. É a primeira vez que conheço alguem com o mesmo objetivo q eu, ser escritor... meu sonho, meu carma, meu eu as avessas..... meu futuro, meu presente, meu passado.... escrever é tbm tudo que sou.
ResponderEliminarEm um longo tempo mais do que jogos de palávras, finalmente sentimentos dignos de admiração.
ResponderEliminarNão me prosto, mas eis algo digno de que me curve em respeito, sinto me feliz por ler isto aqui.
Humanos...Humanos...O mais lúcidos deles é um infeliz por sua lastimável condição.
ResponderEliminarAlgo belo.
Ora, ora... Indubitavelmente esse foi o seu melhor texto! Nunca em toda a minha humilde existência li algo tão profundo e tão singularmente humano. É tão bom saber que você consegue se superar em cada palavra, e em cada frase! Seu anacronismo me diverte e me instiga... Parabéns, senhor Lucas! Belas palavras, dotadas de sentimentos que eu nunca pensei que tivesse...
ResponderEliminar