Questionei a psicanalista Regina Navarro a respeito das expectativas que as pessoas tinham ao se casar no passado e no mundo contemporâneo. E partindo dos resultados dessas expectativas, qual era o grau de felicidade que essas pessoas tinham e qual o grau que possuem hoje.
A resposta segue a baixo:
"As mulheres que foram criadas usando burca não desejam usar vestido decotado, pq nem sabem q essa possibilidade existe. O máximo q elas anseiam é uma burca mais enfeitada. Só desejamos o q conhecemos e sabemos que é possível. Antes do amor entrar no casamento, a família escolhia o cônjuge. As mulheres tinham q ser submissas e obedientes ao marido, q podia castigá-las fisicamente. P/ a maioria delas o sexo era um suplício, mas cumprir o dever conjugal era obrigação. Elas não podiam estudar nem tinham direito à própria herança; o marido ficava dono de tudo. Como isso acontecia com todas as mulheres, elas nem imaginavam outra forma de vida. O marido tratá-las bem, sem agredi-las verbalmente ou espancá-las, era o máximo de felicidade almejado. Com nosso olhar de hoje sabemos q é possível viver com mto mais satisfação."
Fonte: http://www.twitlonger.com/show/8hl7iu
Algo que percebi imediatamente é que se eu questionei sobre pessoas com suas expectativas e felicidades. Recebi uma resposta que tratava exclusivamente das expectativas e felicidades da mulher. Porque? Porque um gênero foi extirpado da resposta em detrimento do outro? Foi uma assunção que os homens do passado viviam plenos e satisfeitos de seu papel, com todas as suas expectativas realizadas e plenos de felicidade? Tal escolha argumentativa não é feita ao léu. Ao negar discursividade ao lado masculino em uma discussão dessas é como colocar a culpa um gênero pelas lamúrias do outro.
O enfoque no mundo feminino é um processo que joga às sombras o masculino. E isso me soa como uma mera perversão da sociedade sexista do passado por uma versão sua contemporânea. Se antes o prazer feminino era considerado feio e impuro e por isso teve negado ou diminuído seu papel no discurso. Hoje vemos a sexualidade feminina esmiuçada em seus mínimos detalhes, enquanto a masculina é deixada de lado, escondida.
Não se conserta uma opressão, uma exclusão de séculos praticando seu oposto simétrico. Se numa pergunta simples como a minha toda a resposta (dada por uma pessoa que tem profundo conhecimento do tema) só enfocou o lado feminino imagine qual é o ambiente que induziu a isto.
A sopa de ismos "machismo, feminismo, femismo, masculinismo" me deixa completamente confuso e eu não consigo usar tais termos com propriedade. Mas eu posso dizer que nossa sociedade é sexista, atribuindo papeis sexuais rígidos ainda hoje para ambos os sexos.
Ambos os sexos sofrem com essa imposição de papéis, ao atacarmos e explicitarmos apenas o papel excruciante por qual um dos sexos é obrigado a se submeter incorremos no risco de desconsiderar o sofrimento do outro e por pensar que ele não carrega nenhum peso de culpá-lo por toda a estrutura sexista da sociedade.
E reitero, uma sociedade sexista não é benevolente com ninguém nem com os homens e nem com as mulheres. Só levantar a bandeira para libertar um dos sexos, não libertará ninguém e apenas criará mais uma sociedade sexista, invertida talvez, mas igualmente ruim.