Publicação em destaque

Poeta e apenas poeta

Já me olharam espantados quando digo que sou poeta e só poeta. Que não canto, nem danço, nem atuo, nem pinto, nem bordo, que "só" ...

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Passeio entre rochedos e oliveiras

Lucas C. Lisboa

Amo vinho, versos, vela e venda
Quero a noite pra lhe desvendar
Faremos do meu lençol a tenda
pras noites de sonhos bem guardar

Até por fim que no fundo me entenda
pois sem mim não pode mais ficar
Venha que eu quero que aprenda
meus truques de fino paladar

E desejará lençóis que lhe prenda
as mãos sem que possa se soltar
Até que muito mais se surpreenda
com meu jeito de lhe dominar!

Pois sequer pense ou compreenda
Venha, relaxe e deixe-se gozar
Seremos muito mais que qualquerlenda
que por pudor ninguém ousa contar


sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Despertador

Pois nada é belo tão cedo,
meu cabelo desgrenhado,
o meu rosto bem amassado
e meu olho remelado

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Coca-Cola

Ele estava sentado na beira do balcão, na segunda cadeira antes de seu fim. Trajava um terno de trabalho. Pedira um drink de gin olhando nos olhos do garçom e sorrindo pois acreditava que assim pareceria mais simpático e cortêz.

Se sentara naquela posição pois assim saberia que não haveria muita gente atrás de si caso precisasse sair, não que ele temesse algo, que estivesse sendo perseguido, apenas gostava de manter-se sempre seguro.

Ele ria para dentro de si vendo o garçom limpar os copos com uma toalha, era uma cena cinematográfica demais para que alguém o fizesse no mundo real. Mas seu riso se calou quando viu pelo reflexo do copo ela entrar naquele bar.

Depois do reflexo escutou o som de seus passos que estranhamente estavam ao ritmo da banda de jazz que se apresentava ali naquele momento.Quem ainda usava sapatilhas com solas de madeira? Quem ainda usava saia plisada depois que saia do colegial? E quem usava pares de óculos tão grossos?

Ela havia entrado na primeira porta que vira ao dobrar a rua, acabara de ser despedida da cia de dança na qual sacrificara meses de árduos ensaios. Torceu o nariz, o cheiro de tabaco e outras ervas queimadas empesteava o ambiente e desde a infância, quando tivera crises asmáticas, passou a detestar odores fortes.

Sentiu as pernas tremerem ao ver que mais de um par de olhos a examinaram quando entrou. Sentia os olhos como agulhas cravejando em suas pernas, seu busto, seus lábios e até em suas nádegas. Porém respirou fundo pois tinha que manter sua postura de indiferença.

Dirigiu-se ao balcão uma cadeira vazia estava perto demais da outra ocupada. Era cedo e tinham mais quatro bancos vazios, não se sentaria na outra ponta, não queria demonstrar medo.  Sentou-se numa ousadia há uma cadeira de separação daquela ocupada. Sentiu-se bem consigo, ela precisava se desafiar.


- Uma coca-cola por favor. - Ela não sorriu e nem olhou para o garçom.
- Light senhora? - Se fora invisível para ela, ele sequer levantou a cabeça para identificar quem era.
- Não, pode ser a normal mesmo...

Ele se virou curioso, uma mulher que pedia coca-cola de verdade ainda existia? E seus olhos de soslaio a examinara mais atentamente. Não era feia e nem gorda. Ali não era um bar de artistas, porque diabos ela fora até ali destoando tanto de todos os demais?

Ela percebeu aquele olhar dele por mais que tivesse sido discreto e talvez, exatamente, por essa discrição ele chamou a sua atenção mais do que  qualquer um dos tantos olhares que recebeu desde que ali pisou. Mas quando foi se atentar para as feições dele já era tarde. Ele havia se levantado e caminhado de costas sem sequer olhar para trás. Tudo que pôde apreciar era como suas nádegas eram firmes e a calça se ajustava a cada passo destacando-as ainda mais.

Ele precisava distrair a mente, não podia se deixar levar pela primeira mulher que lhe chamava a atenção. Ele sempre fora bom com o taco e a sinuca estava vazia. Passeou por entre as tantas hastes de madeira, conferiu a envergadura e depois de ajeitar as bolas no centro da mesa fez-se sombra atrás de si e escutou a voz de coca-cola:

-Posso jogar?

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

A Sociedade Sexista

Questionei a psicanalista Regina Navarro a respeito das expectativas que as pessoas tinham ao se casar no passado e no mundo contemporâneo. E partindo dos resultados dessas expectativas, qual era o grau de felicidade que essas pessoas tinham e qual o grau que possuem hoje.

A resposta segue a baixo:

"As mulheres que foram criadas usando burca não desejam usar vestido decotado, pq nem sabem q essa possibilidade existe. O máximo q elas anseiam é uma burca mais enfeitada. Só desejamos o q conhecemos e sabemos que é possível. Antes do amor entrar no casamento, a família escolhia o cônjuge. As mulheres tinham q ser submissas e obedientes ao marido, q podia castigá-las fisicamente. P/ a maioria delas o sexo era um suplício, mas cumprir o dever conjugal era obrigação. Elas não podiam estudar nem tinham direito à própria herança; o marido ficava dono de tudo. Como isso acontecia com todas as mulheres, elas nem imaginavam outra forma de vida. O marido tratá-las bem, sem agredi-las verbalmente ou espancá-las, era o máximo de felicidade almejado. Com nosso olhar de hoje sabemos q é possível viver com mto mais satisfação."

Fonte: http://www.twitlonger.com/show/8hl7iu


Algo que percebi imediatamente é que se eu questionei sobre pessoas com suas expectativas e felicidades. Recebi uma resposta que tratava exclusivamente das expectativas e felicidades da mulher. Porque? Porque um gênero foi extirpado da resposta em detrimento do outro? Foi uma assunção que os homens do passado viviam plenos e satisfeitos de seu papel, com todas as suas expectativas realizadas e plenos de felicidade? Tal escolha argumentativa não é feita ao léu. Ao negar discursividade ao lado masculino em uma discussão dessas é como colocar a culpa um gênero pelas lamúrias do outro.

O enfoque no mundo feminino é um processo que joga às sombras o masculino. E isso me soa como uma mera perversão da sociedade sexista do passado por uma versão sua contemporânea. Se antes o prazer feminino era considerado feio e impuro e por isso teve negado ou diminuído seu papel no discurso. Hoje vemos a sexualidade feminina esmiuçada em seus mínimos detalhes, enquanto a masculina é deixada de lado, escondida.

Não se conserta uma opressão, uma exclusão de séculos praticando seu oposto simétrico. Se numa pergunta simples como a minha toda a resposta (dada por uma pessoa que tem profundo conhecimento do tema) só enfocou o lado feminino imagine qual é o ambiente que induziu a isto.

A sopa de ismos "machismo, feminismo, femismo, masculinismo" me deixa completamente confuso e eu não consigo usar tais termos com propriedade. Mas eu posso dizer que nossa sociedade é sexista, atribuindo papeis sexuais rígidos ainda hoje para ambos os sexos.

Ambos os sexos sofrem com essa imposição de papéis, ao atacarmos e explicitarmos apenas o papel excruciante por qual um dos sexos é obrigado a se submeter incorremos no risco de desconsiderar o sofrimento do outro e por pensar que ele não carrega nenhum peso de culpá-lo por toda a estrutura sexista da sociedade.

E reitero, uma sociedade sexista não é benevolente com ninguém nem com os homens e nem com as mulheres. Só levantar a bandeira para libertar um dos sexos, não libertará ninguém e apenas criará mais uma sociedade sexista, invertida talvez, mas igualmente ruim.