Já me olharam espantados quando digo que sou poeta e só poeta. Que não canto, nem danço, nem atuo, nem pinto, nem bordo, que "só" faço versos e de quado em vez me arrisco na prosa.
Em tempos tão performáticos e midiáticos há espaço para um poeta que seja apenas poeta? Há espaço para quem apenas aprecia a arte da escrita, que gosta de observar a leitura silenciosa de seus versos? Que gosta do efeito de um poema que ao terminar de ser lido seja relido e lido novamente?
Eu, sinceramente achava que não, acreditava que jamais faria sucesso como poeta por não saber e nem querer, cantar, recitar, declamar ou mesmo sapatear com meus versos. Tá, eu confesso, era uma mistura de timidez com falta de jeito para as demais artes. Porém o que é dificuldade e barreira também é o estimulo para a invenção.
O Poeta sobre Trilhos surge como um personagem capaz de levar a poesia para um público amplo sem depender do suporte de outras artes como a retórica, a música ou as artes cênicas. A poesia, somente a poesia em papel e tinta se basta na tarefa de levar o prazer de si mesma para os leitores.
Nada de declamação, nada de piruetas ou acordes de violão. Dentro de cada vagão levo apenas meus livretos de poemas. Oito páginas com minha poesia bem diagramada e com letras grandes para que todos possam ler, mesmo aqueles que já estão com os braços curtos e esqueceram os óculos em casa.
Sei que é lindo ter uma platéia cantando junto suas músicas ou gargalhando em sincronia com sua atuação. Mas sou eu muito feliz de poder ver a sinfonia silenciosa das expressões de meus leitores dentro dos vagões.
1 comentário:
é linda e sadia.. é pura.. apenas poesia!
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