Um relato que escrevi no meio do ano passado e redescobri agora, dá uma certa nostalgia relembrar daqueles meses quando estava começando a vida de poeta sobre trilhos, se naqueles dias eu ainda era inseguro sobre o que fazia hoje sei que esse sonho está cada vez mais concreto. Vivo, visto e respiro poesia há um ano e meio aqui nessa cidade maravilhosa.
"Ô da poesia" escutei antes de atravessar a catraca do metrô. Gelei na hora, sempre tem muitos seguranças por ali e eu não gosto deles e a maioria também não gosta de mim. Mas dessa vez não era nenhum deles, era um rapaz de uniforme cinza e vermelho da limpeza do metrô. Eu parei e me virei e ele veio até mim e me perguntou se eu tava com as poesia ali e me comprou para dar de presente para a namorada. Contou que tinha me visto outro dia mas que não tava com grana no dia.
Tem dias que é assim, antes mesmo de entrar no vagão já ganho o dia! Fui lembrado pelo meu rosto enquanto ainda estava por começar o trabalho. Tem coisa mais prazerosa do que ser reconhecido por aquilo que faz de melhor e com mais prazer? Não, ao menos para mim que sou mais bobo não tem! Agora escrevendo me lembrei de outro dia já a algum tempo quando saindo para tomar café na rua riachuelo um singelo armário de terno e gravata me chamou pelo nome e pediu o endereço do meu blog pois tinha dado o lireto pra namorada.
Ser parado na rua por ser poeta é um privilégio que pouquíssimos escritores já tiveram o prazer! A arte da escrita é tradicionalmente solitária e isolada. Precisa-se de muita pompa, revista, jornal e toda a mídia tradicional em cima prum amigo poeta ter seu rosto reconhecido. Mas não comigo, bastou algumas poucas edições para isso começar de quando em quando a acontecer. E agora com dez mil livretos em circulação isso tem se tornado mais comum.
Eu sou tímido demais e alguns leitores tem falado que mandaram e-mails para o Jô. Me dá um medo e um frio enorme da barriga só de pensar nisso! Gosto é do meu trabalho ali quase silencioso nos vagões. Quanbdo junta muita gente para falar e me perguntar sobre o que faço não sei dizer muito, gaguejo e gostaria de poder bater os calcanhares e sumir!
Fui cara de pau o bastante para furar a fila do mercado literário, fiz a afronta de ser reconhecido na rua sem o aval das editoras me sinto um pouco herege ao desafiar o sacrossanto processo de canonização do escritor! Sinto que provei que existem apenas homens e anseios, ao artista cabe identificar esses anseios, identificar e dar a panacéia para as almas que estão adormecidas em um pesadelo sufocante onde tudo está pronto e acabado. O mundo se tornou novo e maior em possibilidades, estamos todos enjaulados mas o carcereiro está sonolento isso é se já não dormiu.
Eu vivo como uma areia grande engrenagem do sistema, usando os artifícios criados para me controlar ao meu favor. Os apitos do trem que um dia me diziam a hora de entrar e sair do vagão para não chegar atrasado no trabalho hoje servem de cadência para que eu desperte a imaginação de tantos quanto possíveis novos leitores libertos da ditadura cultural outrora hegemônica.
Sem comentários:
Enviar um comentário