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Poeta e apenas poeta
Já me olharam espantados quando digo que sou poeta e só poeta. Que não canto, nem danço, nem atuo, nem pinto, nem bordo, que "só" ...
terça-feira, 23 de abril de 2013
Como fazer um soneto
Compor sonetos bons não tem mistério
é só alinhar os tons, ritmo e rima
o assunto pode ser jocoso ou sério
o bom poeta faz seu próprio clima
Não não me faz essa cara de velório
vício de sonetar não tem vacina
Me instiga que começo o falatório
de metro, forma assim que me alucina
Escolha qualquer tema que quiser
e com os decassílabos me faça
um poema que dá gosto de ler
redondilhas também tem a sua graça
e são daquelas fáceis de fazer
se nessa arte você é novo na praça
segunda-feira, 22 de abril de 2013
Coroa de Sonetos de Amor - I
Moça bonita me faz seu amor
com seu beijo todinho para mim
mas não fique vermelha de pudor
pois dai minha fome não tem fim
Eu quero sua saliva e seu suor
na minha língua e boca bem assim
sabe como ficar ainda melhor?
se me amar também cada pedacim
Que mais quero é suas mãos tão famintas
ávidas, curiosas e atrevidas
me tocando e mostrando seu querer
Beije vai, cada uma de minhas pintas
em meu corpo e lhes chame de queridas
sabendo onde estão sem sequer lhes ver
com seu beijo todinho para mim
mas não fique vermelha de pudor
pois dai minha fome não tem fim
Eu quero sua saliva e seu suor
na minha língua e boca bem assim
sabe como ficar ainda melhor?
se me amar também cada pedacim
Que mais quero é suas mãos tão famintas
ávidas, curiosas e atrevidas
me tocando e mostrando seu querer
Beije vai, cada uma de minhas pintas
em meu corpo e lhes chame de queridas
sabendo onde estão sem sequer lhes ver
Coroa de Sonetos de Amor - II
Sabendo onde estão sem sequer lhes ver
é assim que lido com todos meus medos
e nesse doce ofício de escrever
sem revelar desvelo meus segredos
Regojizo do sol em seu nascer
como quem primeiro ama os eleitos
para o primeiro amor do adolescer
com a força dos peitos apressados
Estamos nós fadados: paraíso
eis o nome da gaiola de nós dois
cujo caminho é a trilha do amor
Eis feito nosso fim o nosso guizo
Estamos cá sem antes ou depois
nesses sonhos que são da nossa cor
é assim que lido com todos meus medos
e nesse doce ofício de escrever
sem revelar desvelo meus segredos
Regojizo do sol em seu nascer
como quem primeiro ama os eleitos
para o primeiro amor do adolescer
com a força dos peitos apressados
Estamos nós fadados: paraíso
eis o nome da gaiola de nós dois
cujo caminho é a trilha do amor
Eis feito nosso fim o nosso guizo
Estamos cá sem antes ou depois
nesses sonhos que são da nossa cor
Coroa de Sonetos de Amor - III
Nesses sonhos que são da nossa cor
eu branquelo e você essa preta linda
seu beijo caramelo o meu quitanda
você alvorada e Eu sou sol-se-pôr
E na minha sua boca é bem vinda
com a suavidade ou vigor
eu gosto de sua lingua com fulgor
que saborosamente vem e brinda
O roçar de seus cabelos em meu peito
tal cobras que deslizam pela presa
são meio passo pra me enlouquecer
Navegamos juntos em nosso leito
a nossa fome é rio sem represa
o que nunca jamais vamos perder
eu branquelo e você essa preta linda
seu beijo caramelo o meu quitanda
você alvorada e Eu sou sol-se-pôr
E na minha sua boca é bem vinda
com a suavidade ou vigor
eu gosto de sua lingua com fulgor
que saborosamente vem e brinda
O roçar de seus cabelos em meu peito
tal cobras que deslizam pela presa
são meio passo pra me enlouquecer
Navegamos juntos em nosso leito
a nossa fome é rio sem represa
o que nunca jamais vamos perder
Coroa de Sonetos de Amor - IV
O que nunca jamais vamos perder
são as lembranças que guardamos
dos momentos de doce padecer
entre os lençóis que juntos nos amamos
Lembre também que já fomos foder
e pra isso nossos pais nós enganamos
dois jovens assim a tarde a meter
e mentindo dizendo que estudamos
"Menina estudiosa" o pai dizia
e nós dois explorando a anatomia
de nossos corpos: puro despudor!
latim, derivações das matemáticas
e entalpia das físicas sistemáticas
eternidades são de um só calor
são as lembranças que guardamos
dos momentos de doce padecer
entre os lençóis que juntos nos amamos
Lembre também que já fomos foder
e pra isso nossos pais nós enganamos
dois jovens assim a tarde a meter
e mentindo dizendo que estudamos
"Menina estudiosa" o pai dizia
e nós dois explorando a anatomia
de nossos corpos: puro despudor!
latim, derivações das matemáticas
e entalpia das físicas sistemáticas
eternidades são de um só calor
Coroa de Sonetos de Amor - V
Eternidades são de um só calor
que deixam marcas sutis na pele
nos lábios, nos olhos, no sabor
que me prova na força que me fere
Inebria-me todo esse rubor
de quando seu chicote bem adere
na carne num prazer de doce dor
fazendo que meu gozo se rebele
Mas se depois do gozo vem meu pranto
não será de tristeza meu doce amo
mas sim de assim poder sempre viver
Você, meu amado, belo e puro encanto
permite até o deleite que mais amo
de sua face na minha padecer
que deixam marcas sutis na pele
nos lábios, nos olhos, no sabor
que me prova na força que me fere
Inebria-me todo esse rubor
de quando seu chicote bem adere
na carne num prazer de doce dor
fazendo que meu gozo se rebele
Mas se depois do gozo vem meu pranto
não será de tristeza meu doce amo
mas sim de assim poder sempre viver
Você, meu amado, belo e puro encanto
permite até o deleite que mais amo
de sua face na minha padecer
Coroa de Sonetos de Amor - VI
de sua face na minha padecer
o sorriso de nossos dias felizes
pois não, não é o que clama meu querer
que fincou em você longas raízes
Nosso amor clama a cama pode ver
nossas brigas e fodas tem matizes
exatamente opostas pra se manter
mesmo sendo você Apolo e eu Isis
Odeio nosso amor que me devora
não fique nem fuja faz parte de mim
Não lhe quero mais, mas vou pra onde for
Corpo: sim! Mente: não! e o peito chora
não, não me abraça quero um basta um fim
quero seu beijo com fogo e fulgor
o sorriso de nossos dias felizes
pois não, não é o que clama meu querer
que fincou em você longas raízes
Nosso amor clama a cama pode ver
nossas brigas e fodas tem matizes
exatamente opostas pra se manter
mesmo sendo você Apolo e eu Isis
Odeio nosso amor que me devora
não fique nem fuja faz parte de mim
Não lhe quero mais, mas vou pra onde for
Corpo: sim! Mente: não! e o peito chora
não, não me abraça quero um basta um fim
quero seu beijo com fogo e fulgor
Coroa de Sonetos de Amor - VII
Quero seu beijo com fogo e fulgor
de você meu amigo mais querido
meu amante e confidente dessa dor
causada pela vida e seu perigo
Me abraça forte e me dá seu amor
que apenas desse jeito Eu consigo
voar mais alto que o Cristo Redentor
pra lhe contar venturas em seu abrigo
E se hoje estamos juntos depois talvez
distância nem importa pro carinho
somos cumplices mesmo sem nos ver
É meu amigo meu amante toda vez
com seu riso, seu cheiro faço um ninho
que me aquece e me faz até esquecer
de você meu amigo mais querido
meu amante e confidente dessa dor
causada pela vida e seu perigo
Me abraça forte e me dá seu amor
que apenas desse jeito Eu consigo
voar mais alto que o Cristo Redentor
pra lhe contar venturas em seu abrigo
E se hoje estamos juntos depois talvez
distância nem importa pro carinho
somos cumplices mesmo sem nos ver
É meu amigo meu amante toda vez
com seu riso, seu cheiro faço um ninho
que me aquece e me faz até esquecer
Coroa de Sonetos de Amor - VIII
Que me aquece e me faz até esquecer?
a memória de quando era criança
e nós dois inventamos de correr
até depois da igreja pela praça
Eu cai e não parava de doer
Como Doía! Ficou essa lembrança
de você branca quando me foi ver
todo sujo no chão uma lambança!
Veio me dando beijos pra sarar
me prometendo que já ia passar
toda dor com carinhos na cabeça
E me veio a saudade de lhe amar
será que nós daríamos um par?
Linda não fale só faça a promessa
a memória de quando era criança
e nós dois inventamos de correr
até depois da igreja pela praça
Eu cai e não parava de doer
Como Doía! Ficou essa lembrança
de você branca quando me foi ver
todo sujo no chão uma lambança!
Veio me dando beijos pra sarar
me prometendo que já ia passar
toda dor com carinhos na cabeça
E me veio a saudade de lhe amar
será que nós daríamos um par?
Linda não fale só faça a promessa
Coroa de Sonetos de Amor - IX
Linda não fale só faça a promessa
por que agora será minha cadela
fará cada vontade mais possessa
de tornar puta minha Cinderela
ajoelhe-se mas sem qualquer pressa
Eu quero que meu falo seja a vela
que concentrará toda a sua reza
enquanto minha mão lhe descabela
Não para agora e muito menos pensa
como é que ousa servir-me só metade?
abra a boca pra benção do seu fim.
Sim, eu lhe invado e não peço licença.
Era isso que sonhava com vontade?
não, não diga mais nada só o seu sim...
por que agora será minha cadela
fará cada vontade mais possessa
de tornar puta minha Cinderela
ajoelhe-se mas sem qualquer pressa
Eu quero que meu falo seja a vela
que concentrará toda a sua reza
enquanto minha mão lhe descabela
Não para agora e muito menos pensa
como é que ousa servir-me só metade?
abra a boca pra benção do seu fim.
Sim, eu lhe invado e não peço licença.
Era isso que sonhava com vontade?
não, não diga mais nada só o seu sim...
Coroa de Sonetos de Amor - X
não, não diga mais nada só o seu sim
sua boca velada e o seu suspiro
são as respostas que quero pra mim
minha doce miragem que prefiro
não, não conto os segundo para o fim
mas você bem que sabe que sou Sátiro
e não apenas um sonho que não-ruim
pois com o que lhe curo também firo.
Marcados, unos, nossos por completo
e vejo-lhe um espelho uma igual
com quem de olhos cerrados sempre vou
Fazemos juntos um par mais seleto
ninfas e faunos de outro carnaval
é minha por inteiro tal lhe sou
sua boca velada e o seu suspiro
são as respostas que quero pra mim
minha doce miragem que prefiro
não, não conto os segundo para o fim
mas você bem que sabe que sou Sátiro
e não apenas um sonho que não-ruim
pois com o que lhe curo também firo.
Marcados, unos, nossos por completo
e vejo-lhe um espelho uma igual
com quem de olhos cerrados sempre vou
Fazemos juntos um par mais seleto
ninfas e faunos de outro carnaval
é minha por inteiro tal lhe sou
Coroa de Sonetos de Amor - XI
é minha por inteiro tal lhe sou
e desde que meus lábios lhe provou
jamais esqueci dessa tecitura
tão faminta que agora me tortura
a sua pele é de quando deus errou
tecendo-lhe asas de anjo em pleno vôo
zelando por seu corpo com doçura
e me atiçando minha mente impura
Lhe farei dos meus reinos a princesa
terá tudo que sonha apenas peça
meu banquete de farta e bela mesa
e a felicidade mais que uma promessa
ao seu lado é, acredite, certeza
não quero que se assuste nem esqueça
e desde que meus lábios lhe provou
jamais esqueci dessa tecitura
tão faminta que agora me tortura
a sua pele é de quando deus errou
tecendo-lhe asas de anjo em pleno vôo
zelando por seu corpo com doçura
e me atiçando minha mente impura
Lhe farei dos meus reinos a princesa
terá tudo que sonha apenas peça
meu banquete de farta e bela mesa
e a felicidade mais que uma promessa
ao seu lado é, acredite, certeza
não quero que se assuste nem esqueça
Coroa de Sonetos de Amor - XII
Não quero que se assuste nem esqueça
pois com meus gesto cheios de rudeza
eu quero lhe dizer que minha pressa
é o tanto que minh'alma lhe deseja
Antes que nessa mente os medos teça
sente e beba comigo um vinho à mesa
sinta o sabor do aroma nessa taça
pois cada gota é toda uma represa
Você é meu vinho mais inebriante
sabor macio, toque suave de carvalho
uma delícia de não ter mais fim
Mais uma taça e um brinde de amantes
nesse amor só lhe quero sem atalho
quero que saiba bem, tal é pra mim
pois com meus gesto cheios de rudeza
eu quero lhe dizer que minha pressa
é o tanto que minh'alma lhe deseja
Antes que nessa mente os medos teça
sente e beba comigo um vinho à mesa
sinta o sabor do aroma nessa taça
pois cada gota é toda uma represa
Você é meu vinho mais inebriante
sabor macio, toque suave de carvalho
uma delícia de não ter mais fim
Mais uma taça e um brinde de amantes
nesse amor só lhe quero sem atalho
quero que saiba bem, tal é pra mim
Coroa de Sonetos de Amor - XIII
quero que saiba bem, tal é pra mim
só quero lhe comer. Mais? não tô afim
não podemos pular todo esse flerte
e vir logo pagar-me esse boquete?
não, não que eu seja uma pessoa ruim
mas mulher bonita trato assim
se ela não sabe nem pintar o sete
e na cama só paga de vedete
você se faz de burra como uma porta
e espera que eu me dê todo o trabalho
de desvendar o que já não mostrou?
Não se faça de tonta esteve torta
desde o começo fora do baralho
moça bonita, nunca alguém lhe amou....
só quero lhe comer. Mais? não tô afim
não podemos pular todo esse flerte
e vir logo pagar-me esse boquete?
não, não que eu seja uma pessoa ruim
mas mulher bonita trato assim
se ela não sabe nem pintar o sete
e na cama só paga de vedete
você se faz de burra como uma porta
e espera que eu me dê todo o trabalho
de desvendar o que já não mostrou?
Não se faça de tonta esteve torta
desde o começo fora do baralho
moça bonita, nunca alguém lhe amou....
Coroa de Sonetos de Amor - XIV
Moça bonita nunca alguém lhe amou
do tamanho do espaço sideral
Mas digo bem sincero que beijou
meus lábios despertou um sem igual
Moça bonita veja bem como sou
as minhas asas são do carnaval
passado e minha auréola vazou
não passo duma nota de três real
Sou malandro nadinha de perfeito
lhe compro flor na banca duma praça
se meu atraso for mais que um horror
Lhe falo sou sincero desse jeito
não me xingue, nem ligue pra essas graças
Moça bonita me faz seu amor
do tamanho do espaço sideral
Mas digo bem sincero que beijou
meus lábios despertou um sem igual
Moça bonita veja bem como sou
as minhas asas são do carnaval
passado e minha auréola vazou
não passo duma nota de três real
Sou malandro nadinha de perfeito
lhe compro flor na banca duma praça
se meu atraso for mais que um horror
Lhe falo sou sincero desse jeito
não me xingue, nem ligue pra essas graças
Moça bonita me faz seu amor
Coroa de Sonetos de Amor - XV
Moça bonita me faz seu amor
sabendo onde estão sem sequer lhes ver
nesses sonhos que são da nossa cor
o que nunca jamais vamos perder
Eternidades são de um só calor
de sua face na minha padecer
quero seu beijo com fogo e fulgor
tão forte que me faz quase morrer
Linda não fale só faça a promessa
não, não diga mais nada só o seu sim
é minha por inteiro tal lhe sou
Não quero que se assuste nem esqueça
quero que saiba bem que como a mim
Moça bonita, nunca alguém lhe amou
sabendo onde estão sem sequer lhes ver
nesses sonhos que são da nossa cor
o que nunca jamais vamos perder
Eternidades são de um só calor
de sua face na minha padecer
quero seu beijo com fogo e fulgor
tão forte que me faz quase morrer
Linda não fale só faça a promessa
não, não diga mais nada só o seu sim
é minha por inteiro tal lhe sou
Não quero que se assuste nem esqueça
quero que saiba bem que como a mim
Moça bonita, nunca alguém lhe amou
domingo, 21 de abril de 2013
terça-feira, 16 de abril de 2013
de pulso
Inventamos o relógio
numa genialidade louca
para nos esquecer
de nossa estupidez
de nossa insensatez
de nossa pequenez
Olhamos pro relógio
pra não cairmos
no doce conforto
de criarmos deuses
de criarmos mitos
de criarmos sonhos
Pois ao olhar pro céu
em busca do tempo
nós nos damos conta
de quanto é infinito
de quanto é eterno
de quanto é absurdo
na parede como altar
o relógio dita a casa
como no pulso o homem
os precisos relógios
são nossas correntes
modernas e perfeitas
Que nos fizeram enfim
libertos dos deuses
mas escravos da máquina
domingo, 14 de abril de 2013
Os críticos literários de ocasião
Recolhendo os livretos depois de muitos risos, sorrisos, pagamentos graúdos pelos livretos e muitos agradecimentos até que...
-Gostou dos Poemas?
-Gostei de alguns mas você repetiu a palavra poeta duas vezes em um poema e isso é errado. - disse ela devolvendo pra mim o livreto.
-Errado? Sou poeta, eu posso. Conferiu a escansão dos poemas também? - respondi irônico.
-Você é quem sabe, estou lhe ajudando. - disse ela arrogantemente
Fiquei indignado e respondi:
-Já vendi mil e quatrocentos livros em um ano aqui no metrô. Obrigado por sua ajuda.
Sai do vagão e continuei minha meta de vender pelo menos cem livretos num dia de chuva e levar poesia para pelo menos dez vezes mais pessoas.
sexta-feira, 12 de abril de 2013
Queijos
I - Entrada
Queijo combina com vinho
tal o beijo com carinho
mas se combinar demais
vira suspiros e ais
II - Convite
Quero um jantar bem gostoso
pão molhado no foundue
coberto de queijo cremoso
com velas ali e aqui
III -Dizem
que quanto mais fedorento
mais refinado é o queijo
mas é teu perfume suave
que saliva meu desejo
sábado, 6 de abril de 2013
Pechincha de feira
Se pela boca desdenha
mas o corpo quer comprar...
Como apagar essa lenha
com tanto fogo a queimar?
Só há um jeito meu bem: venha
cá comigo se deitar
sem perigo sabe a senha:
fruta doce do pomar
por estas maçãs tenha
fé que vai se aconchegar
entre bananas da Penha
e caquis d'outro lugar
na cesta quero que tenha
tudo que pode levar
da feira de Saramenha
mas seu pudor vai ficar
cuidarei dele pequena
com saudade de matar
queroso: de novo venha
cá comigo se deitar...
sexta-feira, 5 de abril de 2013
Homicídio Coletivo
Sobre o ônibus que despencou do viaduto. Me parece uma crônica de uma morte anunciada. Quantas vezes eu não xinguei o ônibus que simplesmente não parou no ponto? Quanta vezes eu não tive que andar e até atravessar o viaduto porque o ônibus não parou no ponto? Quantas vezes eu não fiquei mofando no ponto porque o motorista resolveu cortar caminho e não passou pelo meu bairro? Quantas vezes o trocador olhou pra minha cara e disse que não tinha o cartão da integração e que eu devia comprar as duas passagens pelo preço integral?
Contei muitas vezes até dez, muitas vezes até mil e me resignei e não fiz nenhuma besteira. Mas mentalmente já me sentei na frente do ônibus que não quis abrir a porta pra mim quando estava parado no sinal e no ponto. Mentalmente já joguei pedra no ônibus que não parou no ponto de madrugada. Mentalmente já agredi o motorista.
Mesmo sabendo que o cara é pressionado por uma empresa escrota que lucra rios de dinheiro fazendo com que ele faça sempre uma viagem mais rápida que a anterior. Mesmo sabendo que a passagem aumenta pra mim mas no salário dele nem faz diferença, continua recebendo a mesma miséria. Mesmo sabendo que faz jornadas longas e estressantes e agora dupla trabalhando como cobrador e motorista. Mesmo sabendo de tudo isso por pouco controlei minha raiva e minha frustração.
Mas esse controle, esse eterno engolir sapo uma hora estoura. Uma hora alguém não suporta mais, mais um dia em que vai ter que atravessar o viaduto porque a porra o motorista não parou no ponto. Mais um dia que vai ter o ponto cortado porque a porra do passageiro demorou demais pra descer. Motorista e passageiro no mesmo moedor de carne do lucro da empresa,consórcio rodoviário que "ganhou" uma concessão pública para explorar o transporte em massa da cidade.
Fácil buscar culpado no motorista que estava acima do limite de velocidade. Fácil culpar o ex-futuro-engenheiro que pulou a roleta para agredir o motorista. Quando são dois agente-vítimas de um crime arquitetado há anos, meses, dias após dias de maximização dos lucros de centavo após centavo lucrado indevidamente às custas de tantos trabalhadores, de tantos passageiros que são levados de um lado pro outro como gado.
Não tenho respostas fáceis, mas os culpados não tem o rosto colocados nos jornais. Não estão agora deitados em macas nos hospitais. Estão confortáveis em seus lares vendo todos dizendo que a culpa é do estado que não fiscaliza. Estão lá prefeito, governador, empresário e empreiteiro felizes e contentes com sua máquina de fazer dinheiro azeitada com os corpos de trabalhadores-indigentes.
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