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Poeta e apenas poeta

Já me olharam espantados quando digo que sou poeta e só poeta. Que não canto, nem danço, nem atuo, nem pinto, nem bordo, que "só" ...

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

mau conselho

abuse dos lábios
que quase dá pra deixar
a língua de lado

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Trágico

Eu vivo desde sempre
um paradoxo míope
de precisar dos óculos
para achar os meus óculos

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Dieta

Batata Vegana?
Bah! A batata da boa
É frita na banha!

Salada Etílico-Poética

Bilac Bêbado, Bilac Bêbado
não seu Olavo, num é chacota não
é verso sáfico de metro dado
aos meus poetas sem rima e solução

Eu conto sílabas num dedo a dedo
nesta veloz prestidigitação
que engana versos bem mal remendados
sendo meu velho truque de salão

Dez sílabas safadas que dos Anjos,
com maestria de quem Espanca sem
nos causar marcas, causou mais que medo

Dez sílabas heroicas são arranjos
pra Cisne Negro e Passarinho dizerem
a pior das verdades e um segredo.

Vernelho

Me enche de tesão
quando o seu batom
vem manchando o talo
do meu rijo falo

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Depois do Brinde

Havia uma sede de saliva
havia uma fome atrevida
De lhe fazer mais cativa
em vontade bem vivida

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Desgosto do Cavalo Branco

Eu que desgosto do cavalo branco
e nunca fui o primeiro da turma,
faço-me feio, torto e até manco:
sou mau agouro d'alma mais soturna...

Eu que carrego meu talento franco
de vaguear numa insônia noturna,
recuso-me a seguir por mais um tanto
de tédio e labor da vida curta!

Eu jamais seguirei num galopante
corcel alado tal conto de fadas.

Eu que sempre serei fidel amante
das moças e mulheres mais erradas...

Eu, nem príncipe nem bobo ou infante,
sou poeta de rimas espalhadas!

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Estóico

A
moderação, 
em excesso,
faz mal?

Questão de ritmo

Paralelepípedo
é uma redondilha
mesmo com suas quinas
tamanho família

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Pragmática

É a praga da matemática
que insiste em dizer que dois
e dois só é e só pode ser
o rigoroso de um quatro

Sendo que nós precisamos
pra fazer o bem de todos
e da nação que então seja
ao menos cinco ou seis 

O conservador tortura
e conserva a dor de um três
querendo menos que dois

E o radical queima o palanque,
rasga a tabela exigindo
nada menos que seu dez

sexta-feira, 6 de junho de 2014

ÁGUA VIVA: O JARDIM METAFÍSICO

O JARDIM

O Jardim aparece como alegoria a multiplicidade do universo segundo a metafísica de Clarice Linspector em Água Viva. É um elemento cuja a metáfora abarca em si todo o universo da Natureza Espinosiana, "Deus ou seja Natureza" é uma expressão que define bem a concepção de Clarrice em seu panteismo feito em prosa poética dotado de uma polissemia própria e pungente.

Em uma  honesta tentativa de decifrar Clarice Linspector e seu feérico livro Água Viva para uma árida metafísica resolvi por bem não abrir mão do lirismo absurdamente indissociável dessa obra e fazer uma análise mito-poética de sua especificidade universalizante.

"Neste  instante-já  estou  envolvida  por  um  vagueante  desejo difuso de maravilhamento e milhares de reflexos do sol na água que  corre  da  bica  na  relva  de  um  jardim  todo  maduro  de  perfumes,  jardim  e  sombras  que  invento  já  e  agora  e  que  são  o meio  concreto  de  falar  neste  meu  instante  de  vida.  Meu  estado  é  o  de  jardim  com   água  correndo.  Descrevendo - o  tento  misturar  palavras  para  que  o  tempo  se  faça.  O  que  te  digo  deve   ser lido rapidamente como quando se olha."

Jardim é o instante-já onde a Natureza se revela ao leitor em toda a sua compreensão possível de mundo é a forma inteligível que o conhecer humano concebe para ascender ao divino e ao transcendental. Vale dizer que por seu caráter mito poético O Jardim não é mera metáfora do universo em sua totalidade é ele de fato in natura. O olhar rápido e a imediaticidade revelam o primeiro e mais direto contato com a  Verdade que o Jardim representa, a natureza é tautológica per si é “Uma rosa é uma rosa é uma rosa”.

O verso de Gertrude Stein seduz ao um entendimento imediato que apenas a Natureza quando vista pelos olhos poéticos consegue traduzir-se, traduzir-se não. Apreender, pois é um processo que não se prende aos intelectualismos semânticos e sim um processo que se dá por transcendência do conceito em ato de si.

“Sei  da  história  de  uma  rosa.  Parece -te  estranho  falar  em rosa quando  estou me ocupando com bichos? Mas ela agiu de um modo tal que lembra os mistérios animais. De dois em dois dias eu comprava  uma  rosa  e  colocava-a  na  água  dentro  da  jarra  feita especialmente para abrigar o longo talo de uma só  flor. De dois em dois dias a rosa murchava e eu a trocava por outra. Até que houve  determinada  rosa.  Cor-de-rosa  sem  corante  ou  enxerto porém  do  mais  vivo  rosa  pela  natureza  mesmo.  Sua  beleza alargava o coração em amplidões.”

Rosa, a máxima flor,  presentifica-se em meio ao natural reino dos bichos, os próprios reinos são criação do humano em sua tentativa vã de classificar, nomear e dar significado à poética do Jardim.  O cor-de-rosa é uma perfeita representação do estado aparentemente indistinto do real pela ótica humana, mas pela Natureza é representação máxima de um estado que é vivo e verdadeiro. Mesmo que não alcançado pela dialética de olho e mente de quem observa a Rosa.

A prisão da rosa no cárcere doméstico é uma alegoria forte da linguagem que tenta a todo custo dar conta do real sacrificando-o, murchando-o em prol de sua domabilidade, de sua domesticação ao espaço da mente humana. Nomear o Ser é restringí-lo à uma pálida expressão de si mesmo.  A linguagem humana aponta, sugere, faz-se uma sombra sob a Verdade e não a compreede, assim é esperar que a água do jarro nutra eternamente a Rosa que ornamenta a mesa da sala de jantar.

"Para me refazer e  te  refazer  volto a meu estado de jardim e  sombra,  fresca  realidade,  mal  existo  e  se  existo  é  com  delicado cuidado.  Em  redor  da  sombra  faz  calor  de  suor  abundante. Estou  viva.  Mas  sinto  que  ainda  não  alcancei  os  meus  limites, fronteiras  com  o  quê?  sem  fronteiras,  a  aventura  da  liberdade perigosa.  Mas  arrisco,  vivo  arriscando.  Estou  cheia  de  acácias balançando  amarelas,  e  eu  que  mal  e  mal  comecei  a  minha jornada,  começo-a  com  um  senso  de  tragédia,  adivinhando  para que oceano perdido vão os meus  passos de vida."

A compreensão de si que se insere no contemplamento do Jardim é de uma total indentificação entre o eu e o mundo. Uma indissocialidade tântrica que permeia o pensamento Clariceano de tal forma que não há espaço para a metáfora morta o que há é uma absoluta multiplicidade que dissolve o Eu entre as acácias amarelas, entre o espírito da liberdade e as raizes da realidade.

O Suor, elemento tragicamente humano, contrasta como resíduo indesejável da tentaiva humana de lançar luzes sobre a Verdade. A realidade em seu frescor está nos limites fronteiriços das possibilidades do entendimento racional e apenas a poética é capaz de tomar para si um vislumbre momentâneo dessa totalidade panteística.

"Agora vou falar da dolência das flores para sentir mais o que  existe.  Antes  te  dou  com  prazer  o  néctar,  suco  doce  que muitas flores contém e que os insetos buscam com avidez. Pistilo é órgão  feminino  da  flor  que  geralmente  ocupa  o  centro  e  contém  o rudimento  da  semente.  Pólen  é  pó  fecundante  produzido  nos estames  e  contido  nas  anteras.  Estame  é  o  órgão  masculino  da flor.  É  composto  por  estilete  e  pela  antera  na  parte  inferior contornando o  pistilo. Fecundação é a união de dois elementos de  geração  -  masculino  e  feminino  -   da  qual  resulta  o  fruto fértil.  "E  plantou  Javé  Deus  um  jardim  no  Éden  que  fica  no  Oriente e colocou nele o homem que formara" (Gen. 11, 8)."

Em Água Viva Lispector  partilha com Espinoza de um panteismo cristão que torna  Natureza o divino, indissocia e funde num universalismo, aqui simbolizado pelo Jardim, todo o Amor que há enquanto Verdade. E é nessa fusão que se encontra a narrativa de Clarice que sendo uma narradora também é personagem e narrada de sua própria obra. O eu-lirico dessa prosa profundamente poética imiscui-se do Divino para ter em si o initeligível que é próprio da existência que é mesmo quando não dita ou não significada.

A dolência das flores, elemento-símbolo do jardim. contrasta a primeira vista com o Desejo de um Criador e numa descrição absolutamente profana da Flor enquanto sexo e geradora de vida. Clarice inverte a concepção de Criador unindo no Éden todo o humano presentificado no néctar da Natureza. O suco doce das Flores é buscado com avidez pelo inseto mas também pelo próprio homem que sendo parte da Natureza tenta negar que é uno ao Todo nesse Jardim.

"Mas conheço também outra vida ainda. Conheço e quero-a e devoro-a  truculentamente.  É  uma  vida  de  violência  mágica.  É misteriosa  e  enfeitiçante.  Nela  as  cobras  se  enlaçam  enquanto  as estrelas  tremem.  Gotas  de  água  pingam  na  obscuridade fosforescente da gruta. Nesse escuro as flores se entrelaçam  em jardim  feérico  e  úmido."

A gruta  com suas sombras é uma caverna onde o homem contemplas as suas sombras sob a pálida luz fosforescente. É um indicativo do espaço humano dentro desse universo polissemântico, de apenas perceber as sombras, o obscuro.  Um leve contorno daquilo que é de fato.

A avidez descrita por Lispector é parte da ânsia humana que se desvela num mundo onde o homem não participa mais. O Jardim Feérico vai para além da compreensão humana pois é o espaço onde cobras  dialogam com as estrelas, onde a virulência da realidade não tenta impor seu domínio por completo, onde a Vida e a Verdade coexistem em plena harmonia sem mediações artificiais e onde o mistério é aceito como tal.

" No  Jardim  Botânico, então,  fico  exaurida.  Tenho  que  tomar  conta  com  o  olhar  de milhares  de  plantas  e  árvores  e  sobretudo da vitória-régia.  Ela está lá. E eu a olho."

        A contemplação da vitória-régia é uma sintese perfeita da postura da autora frente ao Real. Um simples Ser-em-si. O olhar precedido da existência e nada mais. O Real enquanto presentificação do Ser garante ao olhar do Jardim um êxtase místico. Uma verdadeira existência que esgota o ser humano, a contemplação do Real, exaure o indivíduo pois o mesmo não é capaz de abarcar toda sua infinitude. E a contemplação per si deve bastar pois a linguagem não pode mais do que sugerí-lo Indicar a Natureza é máximo que a mente finita do homem pode fazer em sua comunicabilidade desprovida da universalidade contida no Ser.

        A recorrência do Jardim na prosa de Clarice denota o eterno desejo humano de domesticar a Natureza, de tê-la sob sua capacidade intelectiva e de vontade. Seja por preces ou tubos de ensaio é o homem com sua linguagem tentando cada vez mais dar conta dessa infinitude que o ultrapassa mas que mesmo assim o fascina. A poética de Clarice é uma ode ao humano que conta grãos de areia imaginando-se colecionador de estrelas. 

terça-feira, 3 de junho de 2014

Saudades?

A falta que ainda me faz
é a mesmíssima dum par
de pesos presos aos pés
quando me ponho a nadar

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Alcorão 2.0

Não há nenhum deus se não o Google
e o Wikipédia é seu profeta.

domingo, 30 de março de 2014

sexta-feira, 14 de março de 2014

Dizer que:

todo político é corrupto, 
todo político é ladrão. 
É o melhor salvo conduto
pra manter as coisas como estão.

Deixando todos enlameados
os que tem culpa e os que não
favorece os mais emporcalhados
que de sujeira entendem de montão.

O coronel engravatado
reina na sujeira do sertão

O midiático cooptado
domina fácil a televisão

E todo mundo é enganado
por esse velho chavão

quarta-feira, 12 de março de 2014

Pois os conta-sílabas ainda não estão extintos.

Segunda feira é dia de reunião na casinha. Reunião de poetas na casa do Catete para discutirmos as ações de nosso grupo poético que estava até sem nome  após o fim do contrato com o SESC. Passamos horas e horas pensando e debatendo um nome que substituiria o Fora de Área, passamos por Balalaica, Balacrente, Clubinho Poético, Pedra Portuguesa, Foda Diária e outros tantos até chegarmos ao nome Vide Verso onde toda sua polissemia nos encantou.

Escolhido o nome pensamos na identidade visual e nas futuras ações poéticas que executaríamos ao longo do ano a volta das oficinas, as interferências e as apresentações... A reunião se estendeu para depois das dez da noite e quando peguei o vagão do metrô já estava mais vazio. Só para não perder o costume  saquei meus livretos de dentro da bolsa.

Distribui por todo vagão com um sorriso no rosto mas poucas pegavam e na volta menos ainda pagaram pelo prazer de ler poesia. Mas no fim do vagão uma senhora me chamou a atenção, ela estava compenetrada em meus versos e seus dedos se mexiam freneticamente contando as sílabas dos meus versos!

Encontrar outra conta-sílabas é cada vez mais raro com essa ditadura do verso livre. Foi um enorme prazer sentar ao lado dela e partilhar desse prazer que é a escansão, vê-la contando à moda espanhola que conta todas as sílabas do verso e me justificar dizendo que sigo a moda francesa de se contar somente até a última tônica.Acertado os termos ela conferiu que todos os versos estavam mesmo em redondilha maior. Era um sonetilho que agora tinha sido contado e revisado dentro do vagão. É bom encontrar com quem eu posso conversar na mesma língua.

E pensar que semanas antes uma revisora de oportunidade veio me corrigir a gramática sacrificando o ritmo e a oralidade de outro poema... O verso "lhe tomo num trago"  tem um ritmo e uma melodia que "tomo-lhe em um trago" perde totalmente! Foi triste ser corrigido assim por alguém letrado, que faz da revisão o seu ganha pão, mas que ignora os conceitos mais básicos do que é poesia.

Por essas e por outras que eu elegi os vagões do metrô e seus personagens como meu melhor público no lugar daqueles acadêmicos com seus artigos e teses modernas debaixo do braço.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Poema Botequeiro

Nos bares do Brasil a cada 100 recados de guardanapo
57 são amassados antes de serem lidos

Nos bares do Brasil
a cada 100 recados de guardanapo
57 são amassados antes de serem lidos

Nos bares do Brasil
a cada 100 recados
de guardanapo
57 são amassados
antes
de serem lidos

antes de serem lidos
antes de serem lidos
antes de serem lidos
antes de serem lidos

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Redondilha Maior

Sou o que sou, por inteiro
e acredito que me expresso
dum jeito mais verdadeiro
se pelo verso me meço

Sou do tipo poeteiro
que mesmo quando converso
vou escandindo o letreiro
poético que estou imerso

São minhas métricas escravas
as cartas dum palacete

São palavras pouco sábias
que poeto pra cacete

São minhas sete sílabas
o mais redondo banquete

sábado, 11 de janeiro de 2014

A Menina Mariposa

A Menina Mariposa
só vê num verso qualquer
um espelho que desposa
sua vaidade de mulher