Segunda feira é dia de reunião na casinha. Reunião de poetas na casa do Catete para discutirmos as ações de nosso grupo poético que estava até sem nome após o fim do contrato com o SESC. Passamos horas e horas pensando e debatendo um nome que substituiria o Fora de Área, passamos por Balalaica, Balacrente, Clubinho Poético, Pedra Portuguesa, Foda Diária e outros tantos até chegarmos ao nome Vide Verso onde toda sua polissemia nos encantou.
Escolhido o nome pensamos na identidade visual e nas futuras ações poéticas que executaríamos ao longo do ano a volta das oficinas, as interferências e as apresentações... A reunião se estendeu para depois das dez da noite e quando peguei o vagão do metrô já estava mais vazio. Só para não perder o costume saquei meus livretos de dentro da bolsa.
Distribui por todo vagão com um sorriso no rosto mas poucas pegavam e na volta menos ainda pagaram pelo prazer de ler poesia. Mas no fim do vagão uma senhora me chamou a atenção, ela estava compenetrada em meus versos e seus dedos se mexiam freneticamente contando as sílabas dos meus versos!
Encontrar outra conta-sílabas é cada vez mais raro com essa ditadura do verso livre. Foi um enorme prazer sentar ao lado dela e partilhar desse prazer que é a escansão, vê-la contando à moda espanhola que conta todas as sílabas do verso e me justificar dizendo que sigo a moda francesa de se contar somente até a última tônica.Acertado os termos ela conferiu que todos os versos estavam mesmo em redondilha maior. Era um sonetilho que agora tinha sido contado e revisado dentro do vagão. É bom encontrar com quem eu posso conversar na mesma língua.
E pensar que semanas antes uma revisora de oportunidade veio me corrigir a gramática sacrificando o ritmo e a oralidade de outro poema... O verso "lhe tomo num trago" tem um ritmo e uma melodia que "tomo-lhe em um trago" perde totalmente! Foi triste ser corrigido assim por alguém letrado, que faz da revisão o seu ganha pão, mas que ignora os conceitos mais básicos do que é poesia.
Por essas e por outras que eu elegi os vagões do metrô e seus personagens como meu melhor público no lugar daqueles acadêmicos com seus artigos e teses modernas debaixo do braço.
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