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Poeta e apenas poeta

Já me olharam espantados quando digo que sou poeta e só poeta. Que não canto, nem danço, nem atuo, nem pinto, nem bordo, que "só" ...

sexta-feira, 6 de março de 2020

Porquê o mineiro se encanta ao ver o mar

Mineiro tem mais culpa na alma do que tem  minério nas suas montanhas. O minério século após século escavamos, primeiro ouro, depois o conto diamantino, por fim o pesado minério de ferro vermelho, sanguíneo, perene que tudo mancha e não sai. A cada chuva após caprichosa estiagem faz das estradas um rio vermelho, um fluxo menstrual de pó de asfalto, minério e água. Mas, ao menos dessa, vez não há lençol branco para se esconder. O que nunca mudou foi a culpa. A culpa essa estranha a gente entranha cada vez mais. Culpa, matéria prima da Santa Igreja Católica Apostólica Romana que montanha por montanha por suas ordens terceiras ergueu igrejas lindas Barrocas, Rococós, ornamentadas com folhas douradas, meticulosamente entalhadas, esculpidas,  cravejadas, madeira, pedra-sabão e rubi. Vigiar e punir foi lavrado nas bateias de ouro preto bem antes de ser cunhado em terras além-mar, por aqui há muita janela lateral para pouca namoradeira. Culpa, medo, tão fortes são que até tombamento histórico prévio de igrejinha recém inaugurada se faz em minas. Os horizontes são belos mas, que medo que dá saber o que há do lado de lá das montanhas que se vêem na linha do horizonte para todo lado que se olha, estar cercado de montanhas é ter muralhas naturais em cada uma de suas grandes ou pequenas cidadezinhas, que igualmente protegem e sufocam.

quarta-feira, 4 de março de 2020

Paz(tiche)

Encontrei a paz
e já aceito bem
meu vício é ver
um ser qualquer
transpirando
ao talhar a pedra,
ou numa pintura,
fazendo seu verso,
no seu gozo,
numa laje
vira massa,
vira terra,
numa horta,
num pomar,
num jardim,
no canteiro
central da
autopista
numa máquina,
numa troca
de pessoa
ao volante,
que se joga
pro seu canto
reza forte
para Bara
erra o tiro
mas o berro
da polícia
tá chegando;

Minha musa
tão safada
vê beleza
nisso tudo,
bebo um gole
de não sei
também sou
caprichoso
indolente
com meus versos
pasticheando
num sadeano
prazer métrico.