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Poeta e apenas poeta

Já me olharam espantados quando digo que sou poeta e só poeta. Que não canto, nem danço, nem atuo, nem pinto, nem bordo, que "só" ...

segunda-feira, 25 de maio de 2020

Descontrole

Certa vez uma moça veio em minha casa com uma blusa listrada estávamos morrendo de saudades um do outro, da moça e não da blusa obviamente. Depois de duas garrafas de vinho a blusa se misturou com minhas calças em algum canto do quarto e minhas pernas se misturaram com suas coxas na cama.
Foi uma longa noite que poderia durar uma semana de tão gostosa que estava, mas na manhã seguinte, depois de termos dado uma segunda rodada e tomado café, ela me pergunta: — Tô muito descabelada? — Não até que não está, seu cabelo continua lindo. Eu disse sorrindo, o cabelo dela era incrível continuava perfeito mesmo no dia seguinte. Mas ela parecia contrariada: — Me ajuda a encontrar minha blusa listrada? Procuramos, reviramos, travesseiros, cobertores, tapetes, roupas, toalhas e nada. Nem o menor sinal da blusa listrada. Fomos nos dois derrotados pelos gnomos esconde dores de roupas. E eu emprestei uma camiseta minha de cor amarela que combinava bem com sua pele. Não era como a dela. Mas serviria por enquanto. Ela terminou de se vestir tomou o carro de transporte e foi para sua casa. Chegando a tempo do almoço de família. Voltei para casa, pros meus afazeres sérios de procrastinar meu dia. Até que me dei conta que tinha perdido o controle remoto da televisão e novamente me meti na labuta de revirar o quarto... e não é que nesse momento a blusa listrada ressurge do nada? Estava enroscada junto com as cordas que ela tanto se amarra que eu usei nela. — Achei sua blusa listrada. — Não creio! Como você achou? — Procurando o controle da tv. — Tá foda né! — Vê se você por acaso não vestiu ele ai — Meu Deus!

quinta-feira, 21 de maio de 2020

Tá achando que esquerda é bagunça?

Tem algo que eu odeio mais que bolsonarista. É o tal do Isentão, isentão que já está jogando o Bolsonaro no colo da esquerda como se fossem a mesma coisa. Como se não tivessem apertado felizes 17 com a esperança do Bozo vender até a última estatal e privatizar até o ar de nossos pulmões. E agora que viram que o Filho duma chocadeira é exatamente como a gente descreveu e como ele próprio dizia que ele era. Estão correndo pra de livrar da culpa e se mostrarem como salvadores da pátria. 

Sinceramente? Quem botou ele lá que tire.  Sim senhora Globo, sim senhor Dória, Witzel, Aécio, Zema e companhia. Quando vocês fizeram a merda de manipular o debate em 89 para botar Collor lá o PT fez das tripas coração pra tirar o playboy de lá. Mas todo desgaste de tirar o bode da sala rendeu louros para o príncipe dos sociólogos o novo queridinho da Vênus Platinada. 

Agora fazer cara de nojinho, dizer-se arrependido, enganado, surpreso só me dá vontade de arrastar a cara de cada um de vocês no asfalto quente. Porquê é muita cara de pau. Os trinta anos desse merda no congresso não deixavam dúvidas de seu sonho dourado Miliciano. Até a porra da sua camisa de campanha era uma imitação barata do pôster do poderoso chefão! E que vontade de xingar quem dizia que eu estava sendo exagerado quando eu apontei isso na campanha, que isso era mera coincidência. Pois até seu condomínio é um condomínio mafioso com assassinos e traficantes de armas como vizinhos! É uma paródia mais que perfeita. 

Não me venha botar mais essa na conta da esquerda. Já tô de saco cheio de arguir os historiadores sobre esses assuntos, assim eles merecerão ganhar adicional de insalubridade para responder perguntas como estas se Bolsonarismo, integralismo e nazismo são de direita ou de esquerda. Porquê anauê é o raio que o parta.

quarta-feira, 20 de maio de 2020

O que diria Fedro?

Cada deus embriagado
numa arena enluarada
no hipódromo do Olimpo
de mão em mão a sua benção

Por eles agraciado
com a minha biga alada
de chucros cavalos negros
Distraído e Depressão

Não basta vinho de Baco
nem os  beijos de Afrodite
e por mais que Eris me irrite

Pra Apolo não tenho saco
Hera e Zeus? Não sou padre.
quiçá ao Hades se acabe!

sábado, 2 de maio de 2020

Era como se fosse Domingo

Ele já teve uma casa boa para ir em cada capital. Para pernoitar, se deixar ficar e se arrumar. Antes, depois e após cada festa e funeral. E eram muitos os que já fora convidado. Sim, já fora convidado. Não mais. Nunca mais.  Hoje nesse primeiro de maio de ruas desertas e infectadas doía sua barriga de fome, suas víceras de vício. 

Nunca fora por assim dizer um trabalhador. Mas sempre um entusiasmado defensor de suas causas. Suas pernas cansadas pararam, sua respiração pesada por detrás da máscara pediam por um ar fresco inexistente.

Sacou o molho de chaves, ela não trocaria o segredo, não importa o que acontecesse. Era contra seus princípios. Arrastou o portão de ferro que rangeu em protesto como sempre fez nesses trinta e três anos que moravam ali. Ele riu-se havia vinte que já não morava mais. Mas onde ele diria que era sua casa senão ali?  
 
O Primogênito pousou seu pé no primeiro degrau e forçou seu corpo magro ao alto como se o mesmo de repente pesasse muitas arrobas. Vencendo os degraus pouco a pouco viu que o arrombado do seu irmão caçula fora alertado pelo portão escandaloso como acontecia sempre que ele tentava voltar desapercebido das escapadas noturnas. 

Marcelo vestia em seu corpanzil de ex atleta obeso um passeio completo com direito gravata, quem mais faria isso para visitar os próprios pais no feriado no dia do trabalhador, ou como diria o próprio dia do trabalho? Mas não, não usava máscara tinha dinheiro para pagar as vacinas importadas que custavam seu peso em ouro.

- Marcos, Mamãe não vai lhe receber - disse Marcelo em meio a mini floresta que era a entrada da casa após a escadaria - Nós estamos no meio do almoço.
- Mas já são três e quarenta e cinco da tarde - exasperou Marcos de olhos injetados - Ninguém almoça tão tarde. 

O portão lá embaixo bateu, ambos os irmãos ignoraram solenemente. A campainha estava estragada novamente?

- Quinze pras quatro - Marcelo, corrigiu friamente - Você bem sabe como papai se demora para cozinhar nos fins de semana.
- Quem se importa, não vou me demorar - insistiu
- Hoje não Marcos, não comigo aqui. 

O portão bateu novamente, agora ambos se entreolharam e o ar contaminado pesou ainda mais. 

- Você não tem esse direito. - Marcos rosnou por detrás da máscara. 
- Não só tenho como estou fazendo. - sorriu triunfante de orelha a orelha e completou como dá ordens a um subalterno - Já está na hora de ir  vá ver quem está no portão, sua mãe espera por seu filho. Parece que você não conseguiu estragar de todo o garoto.

Fuzilado por aquelas palavras tateou cegamente sem resposta o corrimão da escada, desceu como um cão enxotado da porta da igreja, desceu cambaleante  se apoiando nos espaços vazios que encontrava pelo caminho até se separar com o portão dedo duro que xingou mentalmente pela milionésima vez.  Ao abrir o portão deu-se de cara com o grande clichê, a sua versão mais jovem, melhorada, sem todas as suas burradas, erros e cagadas.

- Pai - Miguel olhou pra ele num misto de espanto e alegria e o abraçou - Não esperava ver você aqui. Vovó deve estar tão feliz! Já faz meses que ela fala que estava preocupada contigo.
- Não pude entrar, Marcelo. - Marcos cortou secamente.
- Filho da Puta! - Gritou Miguel na fúria dos dezoito anos.  - isso não vai ficar assim.
- Não faça isso, não se exalte assim, não compre essa briga. Eu não valho a pena - os olhos de Marcos estavam completamente vazios - escolha melhor do que eu as brigas que vai entrar.
- Então eu vou com você, vamos almoçar juntos! - Miguel disse num estalo -  Abriu um restaurante de comida inuite novo que está todo mundo comentando que adoraria que fosse comigo. 
- Eu já almocei são quinze pras quatro - mentiu Marcelo - quem almoça a essa hora? Além do mais mamãe iria ficar muito triste em não ver seu neto favorito. - completou rindo
- Mas eu sou o único! 
- Justamente!
- Como eu lhe encontro? 
- Meus contatos continuam os mesmos.
- Mas você nunca responde.
- prometo que agora vou responder
- Vamos almoçar juntos essa semana?
- Vamos.
- Promete?
- Prometo.

Marcelo deu um abraço afetuoso em seu filho, o viu subir as escadas, fechou e trancou o portão.
Caminhou sem rumo  ou direção. Sentou numa praça. Sentia fome. Mas pior que isso era o que lhe despedaçava o orgulho. E se pôs a chorar o velório da sua vida de merda.