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Poeta e apenas poeta
Já me olharam espantados quando digo que sou poeta e só poeta. Que não canto, nem danço, nem atuo, nem pinto, nem bordo, que "só" ...
sábado, 26 de junho de 2021
Dentre trilhas
sexta-feira, 25 de junho de 2021
Marina Mares de Morros
Galanteio
serão seus olhos, sua barba o meu novelo
que desfio elogios que desafio o firmamento
e escrevo letras lindas a todo momento
Miro em sua voz, óculos e cabelos
e acerto sonhos lindos e sinceros
vagando em ti e em mim como se fosse vento
que varre em versejar e no proseamento
Lhe conto histórias, as mais felizes que tenho
ilustrando seu coração com meu engenho
e meus planos de alcançar o céu de sua boca
Porque seu núbio empenho é belo, sincero
que como bom espectador vejo e desvelo
um conto de princesas e rainha louca
A uma musa
A Debora Freire de Lima
é meu verso, minha rima
das letras é minha musa
que de tão perfeita abusa
Do meu sonho, minha estima
dos deuses uma obra prima
que nos meus olhos repousa
pois sua maravilha ousa
Ser mais brilhante que o sol
e bem mais bela que a lua
tão intensa quanto as marés
lhe sigo tal girassol
um nenúfar que flutua
pelas águas aos seus pés
quarta-feira, 16 de junho de 2021
Oralidade e Escrita
A leitura silenciosa que estamos acostumados a fazer é um fenômeno recente para as artes literárias. Até o advento da imprensa a leitura era uma atividade que envolvia a fala. Poderia ser através de murmúrios que acompanhavam as linhas do texto ou como Platão que ,lia a plenos pulmões. A oralidade tão marcante nos textos antigos também pode ser vista pela hegemonia dos versos em detrimento da prosa.
O verso é por excelência oral, foi através da oralidade que surgiram as primeiras versões da Ilíada e da Odisseia. Foi pelo caráter mnemônico que os primeiros aedos registravam na memória os milhares de versos que compõe essas epopéias numa época em que a cultura helênica ainda era ágrafa. O papel da escrita começa como mero registro para só muito tempo depois adquirir um estilo próprio, o fluxo de pensamento, o ritmo de leitura através da concatenação de ideias é um fenômeno muito mais recente que o fluxo ritmico causado pelas sílabas poéticas, pela alternância de sílabas longas e breves do grego ou das sílabas átonas e tônicas do português.
O período da hegemonia dos versos é também o período marcado pelas grandes epopéias. Além das gregas temos a romana "Eneida" e a suméria "Gilgamesh", ainda na antiguidade clássica. No medievo temos a inglesa "Beowulf" , a germânica " Parzival" e a consolidadora do idioma italiano "A Divina Comédia". Com o advento do renascimento surgiram novas epopéias como "Os Lusíadas" e "Paraíso Perdido".
Porém conforme o fluxo mental, a prosa e a leitura silenciosa avançam, suplantando o veros, o ritmo e leitura em voz alta, a Epopéia também cede espaço para novos gêneros textuais o Romance e a Novela são frutos diretos da imprensa, eram, originalmente, publicados de maneira seriada em jornais. Onde cada capítulo vinha na edição do periódico vindo após as páginas de notícias tal qual ocorre até hoje quando as novelas se intercalam com os jornais na televisão.
O texto em prosa não é feito para ser lido em voz alta, seu fluxo mental não obedece o fôlego da oralidade. Se o cordel com suas redondilhas pode ser contado verso a verso pelo cantador ou o repentista pode improvisar toda uma história se segurando ritmicamente nas sete sílabas de seus versos o mesmo não pode ser feito ao ler Machado de Assis, José de Alencar ou Paulo Coelho. A prosa exige um fôlego que apenas a mente consegue acompanhar, a lingua, o pulmão e a boca operam numa outra lógica. Porém apesar da hegemonia do fluxo mental imperar contemporaneamente e a poesia moderna abdicar do ritmo natural ou formal há casos onde autores subvertem a lógica da prosa silenciosa e resgatando a oralidade nos trazem uma nova poética, agora em prosa como podemos ver em Clarisse Lispector e, principalmente em Guimarães Rosa.
Grande Sertão: Veredas é profundamente calcado na oralidade, no falar do sertão. Sua leitura silenciosa atropela nuances que apenas a oralidade é capaz de captar. É uma 'epopéia contemporânea" num mundo o silêncio da prosa tradicional é hegemônica. Resgata toda a cadência, todo o ritmo da versificação que mesmo os nomes mais aclamados da poesia fizeram um laborioso trabalho de se distanciar.
A literatura oral, aquela mesma que Benjamin exalta em seu texto "O narrador" é o substrato mais profundo da comunicabilidade humana, é por ela que e transmite universos e realidades por gerações e como diria Marcuse: "a poesia torna possível o que já se tornou impossível na prosa da realidade. Pois é em versos que o homem diz das últimas e verdadeiras coisas."