A cada momento
e por todo instante
eu lamento e tento
seguir adiante
contando meu aperro
calando meu berro
No fio infiel
do meu sacramento
nas juras de níquel
de arrependimento
pois sou eu amante
duma dama errante
Nem no nunca mais
sou inverossímil
sem risos ou ais
uma lenda ao léu
nem tocam os ventos
de mil e oitocentos
O meu calafrio
é nunca ter cais
mas tenho o delírio
de dominicais
manhãs de mel
pipa e carretel
Serei só miragem
na curva do rio
sou terceira margem
um nem-ser-se-viu
d'olhos lacrimais
sem nada demais
sem mirada verde
sem pele alva e virgem
sem cama ou rede
um velho em vertigem
que sempre ouviu
ene, a, o, til
de tudo e todos
pois a mim sucede
sortidos engodos
que quase me fede
desde minha origem
com ferro e fuligem
Mas jamais que enterro
meu sonho no lodo
tal quem não é bezerro
muito menos touro
pois eu sou quem ferve
o inferno e lhe bebe
E nada garante
que esse meu desterro
não é sem sextante
sem bússola só erro
exílio sem êxodo
soldado sem soldo