Sou daqui
não porquê nasci
mas porquê cresci
nas férias, feriados
aniversários e
campanhas
da barragem,
das eleições,
de saúde,
e tantas mais
Onde minha vó
me levava
à feira de sábado
e antes de chegar
parava pra conversar,
dar conselhos,
passar bilhetes,
curar joanetes
e calos ou caçar um carro,
um jeito de tratar fora
seus aflitos pacientes
Vó demorava
a manhã todinha
pra caminhar
as duas quadras
de casa até a praça da feira
Onde aprendi
a andar à cavalo,
à beira do rio, nas trilhas
dos mascates e tropeiros
e pescar no Rio Setúbal
Onde ouvi
sobre os trilhos
da Bahia-Minas
que saia de Araçuaí
até Caravelas
e seu fim num desatino
dos milico tontos
que desde pequeno
aprendi a não gostar
Onde minha vó
me deu o cavalo
que chamei de Rambo
mas que era o Jardineiro
pra todo mundo da fazenda
(Rambo, que nomebestameudeus!)
Onde fui pra escola
estadual Nossa Senhora de Fátima
e fiz amigos, corri perigo
"Esse menino vai cair do cavalo!"
E eu nunca, nunca cai cavalgando
à toda velocidade ouvindo os cascos
batendo nos paralelepípedos
Onde minha vó
me ensinou
da Igreja,
dos padres,
das freiras...
me ensinou
seu ateísmo
não praticante
e que tudo
é política, luta,
cuidado
e também amor!
Onde dei meu
primeiro beijo
onde aprendi
a amar
o queijo,
a rapadura
e o puxa
(que eu puxei achando que era
uma ordem e não o nome)
Genipa americana, o fruto
Jenipapo de Minas, a cidade
são só nomes
nomes insuficientes
para descrever meu amor
meu amor por um lugar
um lugarejo, distrito
e agora município
que é parte de quem sou
desde sempre.
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