Sempre fui da xepa
da promoção e pechincha
comprei meu coração
na barraca de um e noventa e nove
Mas meu peito e pulmão
pobres e expropriados
fizeram fiado
pendurando a conta
pra minha garganta
pagar sob protestos
Por solidariedade
a boca fez greve
não queria o novo
e vermelho inquilino
piquete montado,
dentes trincados
mas a mão furou
pelega, não era de esquerda
Furado o piquete
o coração caiu
na barriga
burguesa
de tão gorda
se fez de sonsa
e não quis devolver
foi briga das feias
minhas velhas veias
tiveram que intervir
greve geral e o general
da cabeça, prefeito
não eleito do meu corpo
entrou em febre,
uma convulsão social
Reintegração de posse
biles, vômito e rebordose
mitocôndrias em pânico
ouviam a internacional
quando o latifúndio
improdutivo
Numa noite
fui tomado por uma princesa
que se fez realeza socialista
encampou meu corpo
e botou meu coração no peito
deu um jeito nos grevistas
botou de regime minha barriga
E todos, todas as partes
pedaços, ossos, órgãos, células
culturas bacterianas, tártaros superbacanas
puseram abaixo a superestrutura
Era revolução,
de agora em diante,
Todos, todos
teriam o direito
Inalienável
ao pão,
aos beijos dela
e... é claro,
à poesia.
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