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Poeta e apenas poeta

Já me olharam espantados quando digo que sou poeta e só poeta. Que não canto, nem danço, nem atuo, nem pinto, nem bordo, que "só" ...

segunda-feira, 23 de outubro de 2023

Sextilhas com mote e rim (Parte I)

modernoso e não moderno
passageiro e não eterno

-Eclode a modernidade:
da Belle époque o delírio,
do entre guerras todo horror!
Feito sonho liberdade
desafia regra e fio 
da métrica e escandor.

Poeta em noite intranquila
teme o metro e alucina 
nas sílabas e nas tônicas.
Moderníssimo delira:
-Construirei minha sina
minha torre babilônica!

-Sem mais rima! A novidade?
Eis aqui: Seu Assonâncio,
Compadre Aliterador.
-Amigos desde a helenidade
e louvados no prefácio
do tal modernizador...

Não aquele que se grila
duas sextilhas acima
mas um dos bons, sem irônica
fala, pois ele vitíma
o gosto burguês e nina
sua revolução jônica 

modernoso e não moderno
passageiro e não eterno

Sim, ele mesmo, um Andrade
-Mas qual dos salafrário?
-O de gente comedor? 
-Não não, esse é o Oswald! 
-Seria Carlos ou Mário?
-É Mário, o prefaciador

'teressantíssimo gira:
a Paulicéia arruina
a arrogância indômita
e detona e desvaira
e desnuda e desatina
toda elite em sua crônica 

aparta a rima com vontade
que preenche seu vazio,
contrafeito rimador;
com pés de latinidade,
fonética do vizinho
aplicado escutador.

modernoso e não moderno
passageiro e não eterno

Moderníssimo revira
desconhece tanta prima
Afônica e a Fônica
Bilabina, Dentina, Vela
Nasalina, Plosivina
Ladentina e Glotônica

-Por erro e não vaidade
dumas filhas doutro tio 
esqueci, mas tenho amor
nas duas: Alplade e Plade
Cada qual com seus filinhos 
presam ao versejador

Carregam toda catira 
desde as colunas heleninas
ditam o ritmo e a tônica 
de cada verso que brilha
no salão e na cantina
pra tristeza da platônica

modernosa e não moderna
passageira e não eterna

sexta-feira, 20 de outubro de 2023

quarta-feira, 11 de outubro de 2023

Concerto

Na música de gênia lhe provo
e vejo meu receio ruir
na harmonia me recrio e inovo
sou eu aluno do seu porvir

eu vim acordar o sol de novo
bem depois do frio onde dormi
no calor da vida me renovo
canto cada vogal a sorrir

Lhe guardo no som e na harmonia 
sou vivo nesse nascer do dia
sou vivo feito de sede e fome

Sou ainda poeta enganador
em nove sílabas meu amor
embalo sem dizer o seu nome

sábado, 7 de outubro de 2023

Cantiga do mar

Trago numa rede
sede d'água doce
fome dos abraços 
de quem bem me quer

Pescador do rio
fiz o meu caminho 
pescador do mar
feito fui marujo 
hoje no navio
trago peixe e fruto
desse mar salgado

Trago numa rede
sede d'água doce
fome dos abraços 
de quem bem me quer

Meu irmão nas águas
doces, nossa casa
cuida com carinho
cuida de mainha
cuida de painho
que já vou voltar
desse mar escuro

Trago numa rede
sede d'água doce
fome dos abraços 
de quem bem me quer

Meu amor do porto
vem você pro cais 
vou comer contigo
faz a cama e guarde
guarde dia e noite
seu chamego calmo
pro meu mar bravio