Sim, lhes confesso, eu sou o que sou
sou poeta, poeta sobre trilhos
pois toda poesia não pode nunca
estar presa, trancada na gaveta
Poesia não se cabe bem guardada
escondida em biblioteca pública ou
particular nem só merecida por
quem pode pagar numa livraria
Poema é meu caminho, é meu trilho
pródigo filho feito o pai rebelde
Poema faz do riso mais que um alento
dá forças pro seu choro e canta o grito
Sim, bem atento, eu sou o que sou
sou poeta, poeta sobre trilhos
um passageiro? meu novo leitor
o vagão? livraria e biblioteca
Poesia leve levo nos vagões
do metro, do metrô ou qualquer comboio
do trem pois o poeta tira de onde
não tem para por onde não se cabe
Poema é a colher da sopa rala
do mendigo ou grossa do grã-fino
Poema vem e mata minha sede
e dá mais fome dum lirismo solto
Sim, atrevido, eu sou o que sou
sou poeta, poeta sobre trilhos
nos livretos de versos e poemas
eu me entrego sem pressa ao leitor
Poesia feito amor arde sem se ver
que até nos descontenta tão contente
e eloquente sussurra travessuras
pecados e delitos saborosos
Poema é pro dia a dia e também
para qualquer um ou para um qualquer
Poema faz seu bem querer com quem
conta seus pix, moedas ou estrelas
Sim, eu respiro, eu sou o que sou
sou poeta, poeta sobre trilhos
meu alvo? desalento passageiro
vidrado na janela ou celular
Poesia assim tão branca como a noite
tão negra que de dia labuta versos
pintada de arco-íris ri e se oculta
num pote sempre dado de bom grado
Poema que nos bebe quente feito
licor vermelho, rum douro ou cachaça
Poema feito faca corta a carne
do poeta, do leitor, que juntos sangram
Sim, lhes convido, eu sou o que sou
sou poeta, poeta sobre trilhos
me deito com a musa que bem me abusa
pra dar o meu melhor e pior verso
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