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Poeta e apenas poeta

Já me olharam espantados quando digo que sou poeta e só poeta. Que não canto, nem danço, nem atuo, nem pinto, nem bordo, que "só" ...

quarta-feira, 31 de julho de 2024

Prece para ti

Quero o descalabro
De ter cada canto
De ti devastado
Numa fome e espanto

Quero ungir seu rabo
Com meu óleo santo
Pra levar a cabo
Seu orgasmo e pranto

Quero lhe causar
Deliciosas dores
Com prazer imundo

Posta em meu altar
De amarras e flores
Num jardim fecundo

quarta-feira, 24 de julho de 2024

O papel aceita tudo

É poesia! Liberdade!
Lirismo em flor e cio?
Não! não passa de vaidade...
feita de verso vazio.

O papel aceita tudo
do soneto mais profundo
ao poema mais capenga
e tem quem se surpreenda
co'a má vontade ou esforço
que quem rima rumo ao poço
dessas metáforas mortas
de tantos clichês e cartas
piegas que sem quê nem
pra quê canta pois convém
ao mau gosto o pior verso
que sem risco sai direto
da boca para a latrina
dos ouvidos e alucina:

É poesia! Liberdade!
Lirismo em flor e cio?
Não! não passa de vaidade...
feita de verso vazio.
 
O papel aceita tudo
não importa o absurdo
passa recibo e atesta
é um gênio, é poeta
a nova Creta e Parnaso 
a Ilíada de um asno
é calamidade pública
um púbis de tão impúbica
e quem publica concorda
é aplauso de claque e corda
e embebeda o ego, mata
esfola, rasga e maltrata
sua musa torturada
em rima malacabada:

É poesia! Liberdade!
Lirismo em flor e cio?
Não! não passa de vaidade...
feita de verso vazio

sexta-feira, 12 de julho de 2024

Poeme-se

Poesia nas praças,
becos e avenidas.
Poesia pra ser
cantada e vestida!

Poeme-se a rua
de pedras floridas
Poeme-se os trilhos
em lenta corrida

Poema é um nada
lotado de tudo
Poema é piada
de choro profundo

Poema é queimada
inundando o mundo

sábado, 6 de julho de 2024

Sete

Sete

remexendo meus guardados
encontrei um par de estrelas
misturadas entre versos
que não sei porque escrevi
duas trovas de três versos
um sonetos sem tercetos
meio haiquase incompleto

tantos entre tanto lixo, 
e tonto entre tanto resto
a caneta que eu procurava
só deixei por lá ficar
pois por esse par de estrelas
meu lirismo não contava 
e menos ainda escandia

nesse espanto me perdi 
mas não me fiz de rogado
escondi minha vergonha
ritmando na redondilha
sete fones sete versos
pr'estrelas de sete pontas
amparadas nos meus dedos

eram elas delicadas
e trançadas com esmero
duas estrelas de brio
quente de macio toque
do meu bodoque, da lira
que delira de tão doida
poesia pura e vadia
 
duas estrelas e a quinta
estrofe em septilha cai
sem tema sem trema sem
nem ao menos respirar
é só mofo de gaveta
com gorjeta guardada
pro velho verso garçom 

sobe o tom e tira o pó
dessa poesia branca
asséptica que se lê
só com os olhos e nunca
com os ouvidos ou peito
abaixo o verso mental
quero fluxo do meu grito

meu doce agito termina
e sem rima não se manca
mas marca com fogo a língua
que repenteia meus versos
serpenteia minha boca
que surpreso ouve estrelas
e ri de encanto no lacio