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Poeta e apenas poeta

Já me olharam espantados quando digo que sou poeta e só poeta. Que não canto, nem danço, nem atuo, nem pinto, nem bordo, que "só" ...

terça-feira, 8 de abril de 2025

Pentágono Mágico de 5⁵ cantos

Te tenho tentado
calado num riso
do certo e errado
no peito ferido
amor proclamado

Te tenho contado
medido, preciso
e cronometrado
fazendo registro
de todo passado

Te tenho cobrado
tentado teu ciso
governo e estado
valendo teu guiso
presente embalado

Te tenho marcado
por onde te piso
de faca e de fado
de dentro do ouvido
teu endiabrado

Te tenho cuidado
cuidado te aviso
quebrado no quadro
confesso mentindo
todo apaixonado 

segunda-feira, 31 de março de 2025

Por seu paladar

Resoluta, Bianca saiu de sua morada e escolheu, depois de muito procurar, o espécime pretendido entre os mais saudáveis, belos e de macia carne. A caça não era de modo algum escassa e ela também não tinha qualquer pressa. Aguardou até que o espécime ideal lhe cruzasse o caminho. O abate foi fácil, fácil demais, quase um tédio pela expectativa que tinha de antemão. Mais trabalho teve para higienizar as unhas de todos os resíduos. Mas o cheiro, o cheiro era exatamente aquele que se lembrava.

Mesmo sem o hábito não teve dificuldades para limpá-lo e separar os cortes mais nobres. Dispensou os ossos, nervos, vísceras, sebos e as partes de segunda categoria. Só lhe interessava os cortes mais nobres acondicionados, enfim, em seu refrigerador. Exceto o primeiro corte que reservou e o deixou descansar no varal de sua lavanderia. Quando retornou sorriu ao ver sua peça, escolhida com muito esmero, coberta e já semeada pelos ovos sarcófagos. 

Estava feito e ela pôde sair em busca de mais. Do mercado local trouxe legumes e hortaliças. Do empório trouxe uma especiaria eslava que sequer saberia pronunciar. Chegado o momento fatiou as cebolas roxas e brancas, rasgou o hortelã e picou o alho-poró e os pimentões amarelos, vermelhos e verdes. Do corte do varal pinçou todas as iguarias verminosas e prontas para o consumo. De um segundo corte, refrigerado, seccionou um bife de três dedos de altura, como rezavam as cartilhas dos melhores chefes internacionais.

Em fogo forte azeitou a frigideira e acrescentou dois dedos de manteiga para dar um toque francês. Então, adicionou cada item preparado, do mais sólido ao mais tenro, à frigideira apreciando cada chiado e pacientemente conduziu a reação de Maillard pois queria todo aquele contraste dourado da superficie com seu interior sanguíneo. O sol morria, vermelho, lá fora quando o tempero do leste europeu, ocre e terroso, deu o último toque. Era uma receita antiga, emanava uma fragrância que invadia todos os lares de sua vizinhança. Orgulhosa imaginava do porteiro à vizinha do andar de cima salivando por seus dotes culinários.

Finalizada a cocção, posta a mesa e servido seu prato, percebeu que sua taça repousava vazia sobre a mesa. Praguejou, irritada, por seu esquecimento do acompanhamento mais pertinente. Rangeu a cadeira, circundiu a mesa e a sala, destrancou a tetrachave, passou pela porta principal e foi, em passadas apressadas, à padaria preferida comprar coca-cola.

domingo, 30 de março de 2025

Quadrado mágico de 4⁴ cantos

Subindo a serra
num turbilhão 
que logo inverna
seu alazão 

Descendo a terra
nesse estradão 
de pé, de perna
pra ter seu pão 

Prevendo a guerra
pro seu canhão 
numa caserna
ter o quinhão 

Sabendo que erra
e tudo é vão 
sem vida eterna
e sem razão 

sexta-feira, 28 de março de 2025

300ml

Eu e minha boca,
meus pés doloridos 
Tomando uma só 
num bar de sinuca
me sinto tão só 
triste na tristeza
que não acaba nunca

terça-feira, 25 de março de 2025

Triângulo magico de 3³ cantos

Feito festa
cai o gato
na cidade

Feito lua
ladra o lobo
na floresta

Feito luto
roi o rato
no porão

domingo, 2 de março de 2025

Tragédia bibliotecária


Zelosa, ela vivia entre estantes, prateleiras e fichas catalográficas.  Piso em falso ou terremoto? Não se sabe, mas sob livros, fora soterrada, morta e coberta de razão..

domingo, 16 de fevereiro de 2025

Nunca mais café

Mulher feita e dona
do próprio nariz
Disse resoluta 
que ela nunca mais
serviria café
Comprou uma chaleira

sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

Poetautista

Pergunto com verso
quem disse que tem
só essa ou aquela
maneira de brincar?

alinho brinquedos
como uma criança 
no chão do meu quarto 
escrevo poemas

alguns por tamanho 
outros pela cor
arestas co'arestas
rodas com os pés

meu jeito, meu verso 
brinquedos-palavras
tão inesperadas
no modo de usar

Nestas teclas


Os seus dedos
longos languidos
e angulares
eram todos
delicados
 
tão suaves
que apagavam
meus pesares
pensamentos
singulares

poética
em seus sons
e meus sonhos
os seus dedos
sobre mim

quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

Djeina

quase dói 
quando sinto
não me sento
no banheiro
porque tenho
medo do eco
desta lágrima
nesta chuva 
no chuveiro

segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

SteamPunk Fantasy em cinco palavras

 Raivosas ovelhas luditas quebram teares.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

Sem fingir costume

Mote: “escovar a história a contrapelo” Walter Benjamin

Atento, com olhos semiabertos,
como quem penteia a memória 
o filósofo cata os piolhos
das verdades meias e inteiras

Entre ser monge ou barbeiro
hábito e manto contra pelos 
Entre o padre e a prostituta 
há seus pedidos de joelhos

A cada deus, a própria prece
que sonha com seu paraíso
profano, divino ou terrestre
cada qual feito por um juízo 

O sagrado só o é entre aqueles 
que comungam da mesma fé
seus segredos, seus votos, são 
pros devotos e nada mais 

quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

Quanto vale a poesia?

Pode me propor:
moeda, pix, nota...
o importante é a troca
e não o valor!