Lucas de Castro Lisboa também conhecido como o Poeta Sobre Trilhos tem como missão o despertar dos leitores adormecidos nos vagões de trens e metrôs. Acreditando que a poesia não pode ser algo restrita somente a quem frequenta bibliotecas, saraus e livrarias O Poeta Sobre Trilhos se apropriou do formato de livreto que tantos poetas como Glauco Mattoso, Chacal e Waly Salomão já se utilizaram e o adaptou para a grande escala do público dos vagões.
Nas praças e bares, público habitual dos poetas “zineiros”, a escala de atuação é reduzida aos frequentadores desse ambiente porém ao adaptar o formato para o transporte de massa o público se amplia em quantidade e o mais importante, em variedade. Dentro de cada vagão há uma enormidade de indivíduos únicos que só estão ali reunidos pelo transporte de massa. Médicos, advogados, executivos se misturam com mecânicos, faxineiros, secretárias, colegiais que se misturam as tribos urbanas como skatistas, patricinhas, ratos de academia e acabam estando junto até do público tipico dos bares como músicos, poetas, professores e alunos das humanas em geral.
Nessa mistura tão heterogênea onde o público vai dos oito aos oitenta anos, o Poeta Sobre Trilhos leva a todos uma oportunidade de reavivar o prazer da leitura que foi perdido pela maioria. Cada um daqueles tantos indivíduos recebe um livreto contendo além da capa e do verso seis páginas de poesia bem sortida e variada de sua autoria.
Lucas ao conceber cada um de seus livretos abre seu arquivo poético e pensa em como conciliar naquelas seis páginas versos de toda sorte: escolhendo sempre um romântico para amaciar os corações, um melacólico para acompanhar as tardes chuva, outro erótico safadinho que vai ser a graça das turminhas, um filosófico que fará seus leitores pensar, não se esquece do poema-piada para o riso solto provocar e vez por outra até arrisca um micro-conto.
Com toda essa variedade o Poeta garante que seu leitor, que pode virtualmente ter qualquer cara e gosto, goste de pelo menos um! E que após ler esse um lerá pelo menos outro por pura curiosidade. E quando isso acontece o Poeta Sobre Trilhos conseguiu seu principal objetivo, despertar o prazer de ler.
Com esse primeiro objetivo alcançado muitos dos leitores recompensam o Poeta com o que podem, um sorriso, um conselho, um voto de sucesso e sorte e também moedas e notas para que ele continue seu trabalho. Para que o leitor leve para casa o livreto o Poeta pede uma contrapartida do leitor. Como seu público é tão variado não faria o menor sentido que houvesse um valor fixo pelos livretos, tudo depende do quanto aqueles versos encantaram e também do quanto o leitor dispõe. Um real pode ser muito ou pouco, e Dez reais também.
A troca do livreto pela contribuição também ajuda a criar um vinculo entre o leitor e o poeta, o entendimento que a arte precisa ser incentivada e até mesmo aumenta a importância daquele material pois no momento que se diz que se está vendendo há uma associação direta com a valorização. Com esse processo há a formação de mais que um público leitor de poesia mas também de um público consumidor de poesia que ajuda a tornar a realização da arte poética independentemente de auxílios governamentais.
Falando em números são cerca de cem livretos vendidos por saída para os vagões do metrô, porém esse número não diz muito per si pois dentro de cada vagão com seus trinta leitores potenciais pelo menos vinte se interessam em ler mas apenas poucos dois a cinco resolvem ficar com os livretos. Com isso os cem livretos são na verdade multiplicados por muitos e muitos mais leitores que por um motivo ou outro devolveram o livreto ao fim da leitura. No entanto esse leitor que devolve conta igualmente para o projeto de despertar o prazer da leitura.
Se em um mês dois mil livretos ganham novos donos que os levarão para casa e possivelmente mostrarão pra mais alguém há um número muito maior de leitores despertados por esses mesmos livretos. E pelo caráter tão massivo do transporte sobre trilhos o público potencial é enorme frente a essa quantidade de livretos e apesar de os leitores que já conhecem o trabalho sempre adquirirem a nova edição dos poemas eles são raros de se encontrar. Cada edição dos livretos, mês a mês, desperta uma leva nova de leitores, mostra que poesia pode ser um enorme prazer e contradiz todas as expectativas e afirma que se pode sim viver de poesia.