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Poeta e apenas poeta

Já me olharam espantados quando digo que sou poeta e só poeta. Que não canto, nem danço, nem atuo, nem pinto, nem bordo, que "só" ...

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terça-feira, 20 de novembro de 2012

Gato

que pense curto
mas pense rápido
dois fios num curto
frita o lagarto

Banal

não sou poeta para citação
em folhetim revista ou jornal
nem caio bem na coluna social
e nem no diário de coração

eu sou poeta do dia mais banal
da coisa já sem brilho ou razão
do instante mínimo além do tesão
típico do caderno marginal

falo da menina quase sem graça
que acha graça da minha cantada

falo dos belos mendigos da praça
que transam na fonte de madrugada

falo da minha poesia de raça
impura e filosofia renegada

sábado, 17 de novembro de 2012

Para "A queda" um band-aid

Me diz: "o seu corpo é sujo!"
que meu prazer é um mal
censura se me lambuzo
com delícias sem igual

Se rejeito tal abuso
é pecado capital
me acusa d'outro desuso
de ser crente do infernal

Pois eu rejeito esse intruso
não me cabe culpa e moral
E sem fé bem que lhe acuso
de ser anti-natural

Pois vestir calças é russo
no meu pais tropical
Me deixe que não lhe fuço
na sua vidinha sem sal

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Dia de chuva

Passei o meu dia à ferro
pra alinhar todo meu mundo
como se ele fosse um terno
que se molhou num dia frio

Tentei consertar meu erro
encher de nada o vazio
jurando que seria eterno
só por mais esse segundo

Eu queria ter no meu peito
um algo que desse jeito
de chamar de coração

Tenho é um vazio perfeito
um belo sonho desfeito
que me canta a solidão

Ramalhete de palavras

Bonitas frases e flores singelas
são tudo que tenho a lhe oferecer
pra provar, pulo muros e janelas
espalho doces versos pra você

Cândidos cravos junto a rosas belas
eu trago pois se fosse seu querer
pintaria nas mais vivas aquarelas
só prum riso de seus lábios nascer

tenho duas mãos e a mente apaixonada
singro mares de morros, cruzo montes
quebro prantos e medos mais medonhos

eu simplesmente sei que é minha amada
pois em toda a arte somos amantes
nosso castelo é de pedras de sonho

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Cego

O tal assum preto
canta bem melhor
no escuro perfeito
lhe feito sem dó

O saci do gueto
pula na maior
dum barraco pro outro
cuma perna só

mal não se renega
pois é desatino
não levar sua cruz

mariposa cega
tem no som do sino
seu facho de luz

domingo, 21 de outubro de 2012

Acelerado

Eu quero fundo
num gozo raro
e quero raso
num riso solto

Não sei se passo
ou não do ponto
no que eu aposto
sem um centavo

Eu quero à vista
do sonho cego
e quero à prazo
desregulado

Não sei se fico
num beijo morno
ou se me vazo
como um cachorro

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Primavera de Ocasião

Nessa tarde de domingo
verdes araras urbanas
colorem um céu cinzento
num tchau pro fim de semana

sábado, 15 de setembro de 2012

Eu-miragem

Mas que faço eu se sou sonho
se sempre acham que poetas
não sentem fome nem sede
de mil maneiras diversas?

que faço se sou medonho
no mesmo reino de quimeras
que também me fazem príncipe
sem perguntar meu querer?

Sou o cavaleiro que amada
sonha mas não quer que volte
pra sempre poder amar

Eu sinto que sou miragem
que querem nunca alcançar
mas contentam em estar lá

sábado, 8 de setembro de 2012

Para uma poetisa de mão cheia

Bem eu sei que tem sonhos dos mais nobres
e um ralhar mais severo não só irrita:
deprime e propicia males piores...
mas elogio vão nem cai bem na fita!

Linguagem rebuscada, rimas pobres
pois escreve sonetos como se imita
poetas mui antigos por uns cobres
não vê que cega, tolhe e se limita?

Queria ver mais esmero na escansão
mais sabor, tino e crítica na rima
e um versejar mais solto com sua pena

Aprenda no repente e na canção
a amar como mulher e tal menina
brincar com os mil sons desde pequena

sábado, 18 de agosto de 2012

Código de Barras

Eu chego em casa e descubro
um reles papel comprova:
eles sabem meu endereço!

Tem meu nome, CPF
CEP e código de barras
tudo isso pra me cobrar

Cada conta vencida é praga
que faz tocar telefone
bater porta e campainha

tira o sono e me arranca
os cabelos da cabeça
incomoda sem parar

Sabe, cada conta paga
eu trato como troféu
que guardo com muito zelo

É tipo meu amuleto
um espanta-cobrador
por pelo menos um mês

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Romântico II

Gata a vida é bela
mas mais bela fica
com a minha pica
pela sua goela

domingo, 6 de maio de 2012

Maternidade

Lucas C. Lisboa

Eu por ter nascido homem
nunca soube nada sobre
o que é ser mulher
ou conceber um filho

Porém como poeta
Eu sei bem como é
quando o verso solto
fecunda minha mente

E cresce até se tornar
pequena e timida estrofe
depois ganhar corpo
e também ganhar forma

Orgulha-me se vira um poema
daqueles, garboso e forte
e cheio de melodia que conquista
um outro coração incauto

Despertando outro poeta
semeando dentro dele
um outro verso
de pura inspiração

Que crescerá noutro
papel de pauta marcada
para uma outra alma
lê-lo e espalhar por ai

Não sei se é um sentimento
sequer próximo ou parecido
o dom de criar no papel
e a benção de dar a vida

Mas já me contento
se meus versos gestados
embalarem uma canção
de ninar de uma Mãe

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Café com leite

Lucas C. Lisboa

O negro de forma bela
e cheio de melanina
com esse seu olhar mela
a nina de uma menina

De pele branquinha ela
se faz tão doce e felina
que arrepia toda aquela
nuca atrás da trança fina

Sim, negro garboso e afro
de cabelos de tantas tranças
seduz os olhos da gringa

Ela se sonha no sarrafo
dele enquanto dança
dura seguindo sua ginga