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Poeta e apenas poeta

Já me olharam espantados quando digo que sou poeta e só poeta. Que não canto, nem danço, nem atuo, nem pinto, nem bordo, que "só" ...

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domingo, 15 de setembro de 2024

Xepa

Sempre fui da xepa, da promoção e da pechincha, comprei meu coração na barraca de um e noventa e nove.

Porém meu peito e pulmão, pobres e expropriados, fizeram fiado. Eles penduraram a conta pra minha garganta pagar sob protestos.

Por solidariedade a boca fez greve não queria o novo e vermelho inquilino: piquete montado, dentes  trincados...

Mas a mão furou, pelega, não era de esquerda. Furado o piquete o coração caiu na barriga, burguesa, de tão gorda se fez de sonsa e não quis devolver, foi briga das feias, minhas velhas veias tiveram que intervir:

GREVE GERAL e o general da cabeça, prefeito não eleito do meu corpo, entrou em febre, uma convulsão social. Reintegração de posse, biles, vômito e rebordose, mitocôndrias em pânico ouviam a internacional!

Eu feito latifúndio improdutivo, fui numa noite  tomado por uma princesa  socialista, que encampou meu corpo, pôs meu coração no peito, deu um jeito nos grevistas e botou de regime minha barriga.

E todos, em todas as partes, pedaços, ossos, órgãos, células, culturas bacterianas   e   tártaros superbacanas puseram abaixo a superestrutura. 

Era a revolução e, de agora em diante. Todos, todos teriam o direito, Inalienável, ao pão,  à poesia e... é claro, aos beijos dela.

quinta-feira, 29 de agosto de 2024

Cyberpunk em 5 palavras:

I)
Implantaram um coração num Bilionário 

II)
Porcos corporativos dão melhores hambúrgueres 

III)
Televangelista enforcado nas tripas corporativas

quinta-feira, 22 de agosto de 2024

Sci-fi em 5 palavras:

I)

no céu a terra cintilava


II)

pálido ponto azul, nunca mais 


III)

Rápido, siga aquele táxi voador! 

sábado, 9 de setembro de 2023

Xepa

Sempre fui da xepa, da promoção e pechincha, comprei meu coração na barraca de um e noventa e nove. Mas meu peito e pulmão, pobres e expropriados, fizeram fiado pendurando a conta pra minha garganta pagar sob protestos. Por solidariedade a boca fez greve não queria o novo e vermelho inquilino...piquete montado, dentes trincados... mas a mão furou, pelega, não era de esquerda. Furado o piquete o coração caiu na barriga, burguesa, de tão gorda se fez de sonsa e não quis devolver, foi briga das feias, minhas velhas veias tiveram que intervir... GREVE GERAL e o general da cabeça, prefeito não eleito do meu corpo, entrou em febre, uma convulsão social. Reintegração de posse, biles, vômito e rebordose, mitocôndrias em pânico ouviam a internacional. Como latifúndio, improdutivo, numa noite fui tomado por uma princesa que se fez realeza socialista, encampou meu corpo e botou meu coração no peito, deu um jeito nos grevistas, botou de regime minha barriga. E todos, todas as partes, pedaços, ossos, órgãos, células , culturas bacterianas, tártaros superbacanas puseram abaixo a superestrutura. Era revolução, de agora em diante. Todos, todos teriam o direito, Inalienável, ao pão, aos beijos dela e... é claro, à poesia.

quinta-feira, 17 de agosto de 2023

Duas teclas

Durante as bodas del Rei, o Pianista teve sua estréia, entretanto seu fá sustenido soou em si bemol. Doeu-lhe os ouvidos, desesperou seu peito, mas, obstinado, tocou até o fim, mesmo malogrando seu lado direito. Os aplausos no palco e os elogios da imprensa não impressionavam. Tempos depois declinou, desconfiado, o convite de tocar durante o debute da Princesa.

Decepcionado sentiu o seu ocaso de pianista, todos mentiam, os incentivos eram só chistes refinados pelo seu si bemol em falso. Sentia-se traído e por tal renegou sua mão direita. Deitou-se do mundo dos dedilhados, cordas, baritonos e sopranos. Entretanto, não deixou-se afastar dos palcos e por, destino e glória, tornou-se Esgrimista canhoto. 

Dedicou-se ardorosamente, demostrou talento, derrotou oponentes e de florete empunhando, pela diligente mão esquerda, voltou aos palcos e palmas. Envaidecido, não notou os olhos da Princesa soprano sobre si. Ela preservava no peito aquele si bemol que só um gênio poderia encaixar dentro duma desgastada melodia.


quinta-feira, 27 de julho de 2023

Flor de esquina

De terno branco, bem cortado, caminhou pela rua, como se fosse me atravessar, suspeitei que ele sequer me via, mas olhou-me nos olhos, passeou pelos meus cabelos, desceu por meus lábios e enquanto sorria me secou o decote. 

Desviou, flanou, sem perder seu sorriso. Senti seu perfume, dama da noite. Distante atendeu o telefone: "Oi amor, não paro de pensar em você!" Disse, tão sincero, que duvidei da lembrança de sentir seus olhos sobre mim.  Poucos passos depois, eu nem sabia mais aonde ia. Contrariando-me, virei-me para vê-lo.

Decerto que pela indecisão só vi seus sapatos, polidos, na esquina e eu, no meio da rua, girei para alcançá-lo. Cheguei e só vi aquela flor com a bala mordida nas pétalas. Venci a vergonha, cheirei e era o mesmo perfume. A meia bala, com sua saliva. era para mim.

quarta-feira, 26 de julho de 2023

Esculpida pois sim, eterna porém.

Orgulho de seu escultor. Ela, estátua de mármore, bela, belíssima e, também, muito emotiva. Mas sempre, sempre, impassível, insensível no reter de suas lágrimas. De fato, esforçava-se para contê-las, como um dique, suportava dor, angustia, desespero como se nada fossem.

Obstinada, calava tudo. Não se demovia pela ofensa proferida por um bêbado, nem por uma criança que lhe escalava tal mangueira em pleno verão, nem corava o rosto por um casal afoito que lhe usava de beco escuro, sequer via o sem-teto que fenecia aos seus pés pelos rigores do inverno. E nem mesmo um pedido de casamento lhe afetava os olhos.

O motivo? Seu peito de mármore guardava a razão: eternidade. Afinal suas lágrimas ácidas, caso irrompessem de seus olhos, esculpiriam sulcos profundos, tal leito de rio, em sua face e desaguariam no lago de seus lábios. Dolorido? Sim, mas eterna porém.


terça-feira, 25 de julho de 2023

Escolástica

Ela não teve um primeiro amor no jardim de infância, não paquerou dentro da escola, no colégio, não cultivou amores platônicos pelos professores.
 
Entretanto, era zelosa por seus livros, recolhia cada traça e lagarta da biblioteca e, uma a uma, as engolia inteiras.

Estava certa que não tardaria para, enfim, sentir o farfalhar de asas das tão faladas borboletas em seu estômago.

terça-feira, 3 de agosto de 2021

Micro conto em 140 caracteres

Era perfecionista, mas também manco e sua perna esquerda teimava em alcançar a direita.  Caminhava sempre, pontualmente, em sentido horário.

segunda-feira, 14 de agosto de 2017

O Homem dos porquês

Por ser tão cheio de dúvidas, questionamentos, inseguranças e curiosidades ele abusava das interrogações exclamações mas era reticente aos pontos finais.

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Lágrima

Ela, estátua de mármore, era bela, belíssima e também muito emotiva. Mas sempre parecia impassível, insensível por segurar suas lágrimas. E, de fato, Ela fazia de tudo para contê-las, como um dique de castor, pois suas lágrimas eram tão ácidas que quando escorriam pelo seu rosto marcava-lhe em sulcos como o leito de um rio caudaloso passando pelas bochechas e desaguando no lago de seus lábios.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Não era como se dizia

A doce mocinha era de uma alma tão cândida, que quando pela primeira vez se deitou, não se fez ao leito um caudaloso rio rubro como lhe aterrorizaram a mãe, as tias, as avós e até mesmo as primas mais velhas. Tudo que se viu entre os tecidos de brancura impecável eram pequenas gotículas de um vermelho-quase-rosa.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Urbanização Infantil

-Menino, desce que eu vou lhe dar o Ipad para você jogar! - disse a mãe toda persuasiva
-Mas mãe, eu quero brincar aqui fora.
-Desce! Desce agora! - respondeu ela sem a menor paciência.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Diálogos que a gente vê por ai:

- O homem é o único animal que joga no bicho.

- Claro! O bicho não é burro o bastante pra jogar no homem!

sábado, 30 de outubro de 2010

Não eram velas sobre a escrivaninha

Ela tinha ideias, tão luminosas nas noites em claro, que não deixaria ninguém dormir se ela não mantivesse suas janelas trancadas debaixo de pesadas cortinas.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Micro conto em 140 caracteres

Era perfecionista mas também manco e por isso corria em sentido horário pois sua perna esquerda teimava sempre em tentar alcançar a direita.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

A pirâmide de um homem

Queria que seu castelo de cartas tocasse o teto da sala de jantar. Era, sem sombra de dúvidas, um projeto ambicioso. Não lhe impediria os tantos baralhos ou mesmo as mais de mil horas de labor dedicado e cuidadoso.

Terminada sua obra, de tantas cores e motivos estampados, encheu-se todo de vaidade e seu ego ficou ainda mais ardoroso: uma pirâmide em tamanho real. Ele a construiria do solo até rasgar o céu e o firmamento luminoso.

Não contava, porém, que ao colocar a última carta, a pirâmide se faria mármore e se cravaria, firmemente, no tecido azul. E, muito menos, que do chão se elevaria para ficar dependurada, com toda a brancura de um lustre, na sala de jantar.