Publicação em destaque

Poeta e apenas poeta

Já me olharam espantados quando digo que sou poeta e só poeta. Que não canto, nem danço, nem atuo, nem pinto, nem bordo, que "só" ...

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Bilboquê

Lucas C. Lisboa

É na sua carne o meu fogo
embala o som tique e taque
da sua nova fantasia
e eu de mágico de araque

Nas mãos o brinquedo antigo
que me delira no fraque
num movimento que delicia
e me faz seu melhor claque

Sigo seu riso onde for
e me pergunto porquê
d'um perfume ser tão bom

Ela menina de flor
brinca com seu bilboquê
no Carnaval do Leblon








quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Gordinha Gostosa


Lucas C. Lisboa

Gosto quando minha glande
ganha a garganta da gordinha
num gracejo grosso e grande
para lhe gozar gatinha

gostosamente em suas nádegas
regojizo meu bons golpes
de palmadas graciosas
se cavalga-me aos galopes

a garota gorduchinha
tão gostosa me dá gana
de assim lhe apertar todinha

ela me engole e afana
meu falo mui gulosinha
e é mesa pruma semana!

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Arqueira


Lucas C. Lisboa

A flecha dourada
bem em riste pulsa
a morte e a vida
e no vento expulsa

A madeixa alada
pelo ar esvoaça
também dourada
que seduz sua caça

Bárbaro guerreiro
sob sua doce mira
precisa e cruel
penetrando o peito

Seu corpo inteiro
veste verde mirra
canta o menestrel
o seu grande feito












Imagem por: http://www.facebook.com/estranhagrazy

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Poeta


a mentira
é verdade
que inda insiste
em tá certa

eu não sou
nem alegre
e nem triste
sou poeta

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Sobre Máscaras e Espelhos

Minha poesia reunida em 10 anos de ofício literário finalmente se encontra condensada em um livro! É com enorme prazer que digo que meu livro: "Sobre Máscaras e Espelhos" foi enviado para a gráfica e em breve esse blog passará por grandes mudanças para receber meu lançamento.
(Clique na imagem para ampliar)

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Rio, até logo

Lucas C. Lisboa

O Rio de Janeiro continua lindo
continua vermelho de sol
e verde e amarelo de alma
num contraste mais perfeito

Tudo fica lindo na madrugada
a dentro quando o ar rarefeito
de oxigênio entra nos pulmões
e o álcool dominas as artérias

Pois Eu sou assim hoje: poeta
livre das amarras quotidianas
livre dos compassos e dos ritmos

Caminho no trilho do trem
tomando carona nos vagões
num vagar de vagabundo artista

domingo, 11 de dezembro de 2011

A moça desnuda


Lucas C. Lisboa

no degrau da escada
de joelhos chora
a morte amada
que veio sem demora


Confissão Carioca

Lucas C. Lisboa


Prefiro sentir calor
a destilar meu ciúme
ambos me cortam de dor
em faca de fino gume

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Poema Natalino

Aos que me dizem
Sou um poeta nato?
Não Nato é meu pai!
que não é apelido

de Renato mas sim
Natalino na verdade
mas não ele não
nasceu no natal!

Quem é que nasceu
foi o meu velho avô
que quis ter um filho
com o nome igual

lá nos idos tempos
de caixeiro viajante
de tropas de burro e
de trem de ferro

Em Alfredo Graça
tinha um armazém
desses de montanhas
de milho e de panos

Meu avô arrendava
um vagão do trem
pra levar de tudo
e trazer também

lá de Caravelas
fim da ferrovia
onde negociava
comprava e vendia

Vovó Terezinha
cuidava da venda
se o velho viajava
e entre uma agulha

e panela vendida
Ela fazia partos
das mulheres grávidas
da vila do Graça

Vovô Natalino
ia do coração
das minas gerais
até na Bahia

Trazia no Natal
fitas pras meninas
e a borracha fazia
festa pros meninos

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Bêbado em Copacabana


Lucas C. Lisboa

Mas me diga seu Drummond
porque é que não me responde
Não gosta desse meu tom
ou porque você é de bronze?

Foto: Livia Torres / G1

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Poeme-se

Lucas C. Lisboa

Poesia nas praças,
becos e avenidas.
Poesia pra ser
cantada e vestida!

Poeme-se a rua
de pedras floridas
Poeme-se os carros
em lenta corrida

Poema é um nada
lotado de tudo

Poema é piada
de choro profundo

Poema é estrada
correndo pro mundo


Poeme-se



sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Honesto


Lucas C. Lisboa

E me diga meu benzinho
de que são essas olheiras?
Pois são culpa do vizinho
que me alugou as orelhas!

Tocando samba e chorinho
pela madrugada inteira!
Mas fui pago direitinho
com moças e bebedeira.

Sim, sim, eu tava na festa
não nego, é feio mentir...

Eu sei que hoje só me resta
pelo seu perdão pedir.

Se me der faço a promessa
de TENTAR não repetir!

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Detrás da porta


Lucas C. Lisboa

me toca sem pedir perdão
sem dizer uma palavra
me levanta numa mão
para me fazer sua lavra

de ouro puro de tesão
me fazendo sua escrava
com a perna na escansão
que dentre as minhas me trava

marca minha pele branca
e com meu mamilo brinca
na fome que se faz sede

quando meu suspiro estanca
porque me vem numa trinca
de nos por contra parede

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Apoteose



Lucas C. Lisboa

Ele duma voz de sangue
bem negro de samba atiça
Ela num swingue sem voz
se mexe, samba e eriça

o sorriso branco do Negro
que reluz nos olhos claros
duma gringa que não ginga  
mas que no peito palpita desejo

só não sabe se quer sê-la
ou ser como o negro e tê-la 
se excita tanto a  branquela
quê não vê  chegar o Mulato

mais que sedento por ela
bruto mas de fino trato
que lhe faz dama e cadela
atrevido num mesmo ato

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

A princesa amada


Lucas C. Lisboa

na frente do espelho
de tudo e de nada
ri até do conselho
da velha encurvada

não bota aparelho
nem fica falada
somente um fedelho
lhe deixa irritada

Se lhe olha faceiro
se faz mal amada
sem ele é errada
e rasga dinheiro

a moça calada
de lábio vermelho
é muito tarada
pra pouco pentelho

por ele gamada
lhe cai de joelho
jaz descabelada
na hora do recreio

com fome de fada
faminto parceiro
co'a boca felada
lhe engolindo inteiro

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Vizinhança


Lucas C. Lisboa

Nervoso o velho Agripino
brandindo com sua bengala
a ralhar com o menino

que fez da bola uma bala
com um chute bem cretino
acertando sua janela
e a brasília do vizinho

O ecológico Agripino
resmungando não se cala
e recomenda ao menino

a usar bodoque de tala
grossa e elástico fino
pois assim não mais abala
sua paz só a do passarinho


sexta-feira, 28 de outubro de 2011

O homem de preto disse não a poesia


Lucas C. Lisboa

Nos trilhos do metrô Eu fui barrado
disseram-me: poesia não tem vez
sem um certo papel protocolado
vai embora poeta d'uma vez!

Sim, eu assino sou muito culpado
de não aceitar a insensatez
de ver o verso meu ser censurado
por ganância de pura estupidez

Eu só lhe digo: Ei seu segurança
porque estraga a leitura dos viajantes
que liam-me com sorrisos em seus rosto?

Sei que só querem que eu siga sua dança
de querer coisas bem desimportantes
sem magia, sem lirismo, só desgosto!

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Coração Mineiro

Lucas C. Lisboa

Bom dia belo horizonte!
Bom dia minas gerais.
Pra minha terra de amantes.
Meus suspiros e ais!

sábado, 15 de outubro de 2011

15 de Outubro


Lucas C. Lisboa

No brasil mais de quinhentos
anos de exploração global
Fome e miséria são armamentos
da terceira mundial

Na terra seus mil encantos
são vitimas do capital
que fez do Mercado um Santo
intócável e irreal

Não acredite no terno
e gravata que lhe diz
com ar de sábio paterno:
"seja um escravo feliz"

Não seja apenas um servo
menos que uma meretriz
que vende a vida pro inferno
e se faz de força motriz

Jovens e velhos aos prantos
pela ganância de loucos
Acordem! Nós somos tantos
eles são grandes mas poucos!

Pois todos juntos gritemos!
bem mais alto até que roucos
escutem a verdade que sabemos:
que nós não somos os trocos!


Eventos em todo o Brasil e no mundo! 
Praças pelo mundo afora despertaram. Milhões de pessoas cansadas de autoritarismo, de democracias voltadas para os ricos, da farra do capital financeiro.
Há 500 anos, o Brasil é um país saqueado por políticos corruptos, ruralistas e empreiteiros gananciosos. O governo brasileiro segue dominado pela mesma elite que levou nosso país a um dos primeiros lugares em desigualdade social.

Temos muita coisa para mudar!

Precisamos construir uma nova forma de fazer política, queremos decidir os rumos em assembleias livres, amplas e democráticas. Queremos levar o debate a todas as praças do país.
Somos contra a política suja das negociatas, de um sistema que concentra o poder nas mãos de uma minoria que não nos representa, corruptos cuja dignidade está a serviço do sistema financeiro; queremos uma Democracia Real com participação do povo nas decisões fundamentais do país, muito além das eleições, essa falsa democracia convocada a cada quatro anos.

Transparência!

Não somos palhaços. A Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016 do jeito como estão sendo organizados servem apenas para os interesses dos ricos e de seus governantes. Estamos vendo uma verdadeira “faxina social” em nosso país, com a remoção de milhares de famílias das regiões onde serão os megaeventos esportivos. Os benefícios atingiram uma pequena parte da população. O sigilo do orçamento das obras da Copa, a flexibilização das licitações e a postura submissa do Brasil à Fifa e à CBF são um banquete farto aos corruptos.

Quem disse que queremos crescer assim?

Queremos um Brasil ecologicamente sustentável. Atualmente a política de desenvolvimento da matriz energética segue a devastação do meio-ambiente e do desrespeito aos povos originários, como a construção de Belo Monte, um atentado aos povos do Xingu. Não concordamos com o caminho que o governo federal está propondo - que prevê a construção de pelo menos mais quatro usinas nucleares até 2030 - no desenvolvimento de uma energia cara e não segura: Enquanto o Brasil segue com as usinas nucleares de Angra dos Reis, mesmo após a calamidade nuclear de Fukushima, há pouco incentivo às novas tecnologias energéticas sustentáveis, como a solar, eólica, de marés, para as quais o país possui enormes potenciais.

Equilibrado e para todos.

O agronegócio segue como um risco ao futuro. O desmatamento desenfreado, anistiado e estimulado pelo novo Código Florestal, segue transformando o Brasil numa grande fazenda de soja. Não há uma política séria de reforma agrária, de soberania alimentar e de preservação do meio-ambiente. Segue a destruição da Amazônia, o uso abusivo de agrotóxicos e a propriedade da terra cada vez mais concentrada.

Educar ou manipular?

Estamos fartos de que os meios de comunicação, que deveriam servir a população como ferramenta de educação, informação e entretenimento, sejam usados como armas de manipulação de massas, trabalhando para os mesmos políticos corruptos que deflagram o país em benefício próprio.

Vamos colorir as praças com diversidade!

Ainda sofremos discriminação pela cor da nossa pele, por nosso sexo ou orientação sexual, por nossa nacionalidade, por nossa condição econômica. Queremos colorir as praças brasileiras com a diversidade do nosso país, que precisa ser livre, digno e para todos. Devemos ocupar, resistir e produzir decisões e encaminhamentos democráticos, onde a colaboração esmague a competição e a socialização destrua a capitalização. Não temos a ilusão de resolver todos os problemas em poucos dias, semanas, meses. Mas teremos dado o primeiro passo.
Chegou o momento em que todas as nações, todas as pessoas se unem e tomam as ruas para dizer: Basta! É hora de assumir a nossa responsabilidade e o nosso direito a uma vida livre e justa. 15 de outubro: um só planeta, uma só voz.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Bêbado Boêmio



Lucas C. Lisboa

Manhã de feriado
bebeu pela santa
e também tinhado
do capeta sem regra

Caminhando de lado
tropeça na penca
de cajá-do-diabo
sem querer encrenca

Pergunta embriagado
quanto cobra a quenga
de batom borrado
e saia flamenca

Mas é mãe de santo
que lhe joga praga
por ser tão errado
no sertão sem água

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Anotações sobre versificação



O metro faz parte de um conjunto de sistemáticas que nos permite ter com clareza as potencialidades formais de cada verso e de seu conjunto. A afinação paulatina dos versos permite ao poeta reexaminar seu poema e lhe dá tempo para que possa dentro dele atingir sua máxima expressividade.

A cada reolhar de um poeta sobre seus próprios versos acontece uma concepção mais pura do que é a obra que criou e tal qual um desenhista que ajustas detalhes de proporção de seu quadro o poeta tem todo o direito de acertar cada nuance de sua expressão posta no papel.

Ao reorganizar as palavras de seu poema o escritor consegue aprofundar a força expressiva das palavras centrais de seu texto dando-lhe o acompanhamento adequado pois se acompanhada de algum termo de peso igual a idéia central de um verso pode ser ofuscada.

A adequada concatenação de fonemas átonos e tônicos permite o poeta dar relevo semâtico e rítimico às partes de seu poema que sua temática demanda maior atenção. Na poesia a versificação não serve apenas para polir as pérolas de um poema mas também para afiar os seus espinhos.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Copo Sujo


Lucas C. Lisboa

Numa briga de casal
chega dois policial
ou vira logo bangbang
ou senão um gangbang

a briga tem razão tal:
ela não quer fazer anal
é pinga cachaça e sangue
bueiro fedor de mangue

Bebo na mesa ao lado
e dou um trago no cigarro
ouvindo a voz arranhada

da moça c'o namorado
que sequer noto o catarro
do mendigo na calçada

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Outono



Eu penso que as folhas secas
são rascunhos de poemas
descartados pelas árvores
e inspiradas pelo sol

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Flerte sobre trilhos


Lucas C. Lisboa

Com o doce balanço do vagão
Ela morde seus lábios bem no canto
e conforme lhe sobe seu tesão
relê o poema cheio de tanto encanto

Ele se fez poeta em procissão
que evangeliza como fosse santo
e tem a poesia e a desrazão
as duas únicas deusas de seu canto

ela moça de saia justa e curta
que curte os versos dele com corpo
tendo sua alma cativa e bem absorta

sua silueta no reflexo torto
da janela ele admira e arquiteta
para dela fazer seu cais e porto



quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Para dizer a verdade


Lucas C. Lisboa

Carlos plantava sapatos
para colher suas abóboras
e fazer porta-retratos
duma mesa cheia de sobras

na ceia de fotos e fatos
as damas e peões de obras
cantam os seus velhos fados
ao preá jogado às cobras

Mas Carlos é dro mundo
e hoje planta tenis nike
feitos por crianças chinas

Não sou ele então abundo
nas praias como beatnik
vendo as bundas femininas

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Carola


Lucas C. Lisboa

a moça de pele negra
mas olhos de céu nascer
seu sonho sujo renega
pro meu deleite e prazer

diz seu "não" a cada entrega
como quem sim quer dizer
ao falo e falar se apega
com vontade de morrer

desminto o que pastor prega
contra a fome de viver

servindo vinho na bodega
bem antes do entardecer

mas a culpa que lhe cega
é da pureza perder

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Eu

Lucas C. Lisboa

Meu nome é Lucas Lisboa
sou um poeta bem atoa
dizem que vim do parnaso
mas isso não vem ao caso

Minha poesia destoa
mesmo se meu metro soa
como um antiquado atraso
do trem moderno do acaso

Eu detesto Drummond
não gosto desse seu tom
maestral e filosófico
rigido como um estóico

Que dá conselhos com praso
de validade vencido
se dizendo metamórfico
moderno no cenozóico

Confesso que eu quero mesmo
assustar senhoras gordas
como me ensinou o Quintana
com e após seus cem sonetos

Quero o poema piada
contar história rasteira
Eu quero pegar a estrada
em plena segunda feira

Quero versejar bem livre
da jaula do verso livre
Eu sou toureiro e peão
laço versos co'a escansão

Quero brincar co'a estrutura
do verso mas sem postura
de conselheiro ou de vilão
mas amante por tesão







segunda-feira, 5 de setembro de 2011

A praia vermelha

Lucas C. Lisboa

A garrafa de vidro na parede
se espatifa já seca, vil, vazia,
incapaz de matar a minha sede
em mil cacos da mia melancolia

O desengarrafado cão me pede
um gole de poesia mais vadia
meu verso descuidado logo perde
sua postura na pinga que me ardia

O peito e também nos tantos cortes
em minhas mãos rosadas de meu sangue
pras bitucas meu maço virou tumba

Me sorriem as lixeiras e seus postes
com um cheiro de maresia e mangue
e lhes brindo o champanhe de macumba


Soneto em homenagem ao meu querido Augusto dos Anjos escrevo à sua maneira e temática um poema em decassílabos heróicos.  Ele foi o primeiro poeta que me seduziu , que me fez ver a beleza da forma, sua temática já foi bem comum em minhas obras, hoje volta como um exercício de estilo. De um fazer poético onde todos os temas são lícitos e belos. Sou hoje um oficineiro que não rejeita nenhum material para seu esmeril poético.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Quotidiano sobre trilhos

Praticamente todo dia quando saio da UFRJ  eu pego o ônibus de integração para a estação de Del Castillo. Nessa quinta feira ainda não é dia de pagamento então está todo mundo meio duro. Sinal que recebo mais moedas do que notas. O que me leva a uma situação chata, pois como não sou lá um grande economista, costumo sempre depositar as notas e usar as moedas para minhas despesas do dia a dia, cerveja, comida, ônbus e por ai vai.

Fim de mês, mochila cheia de moedas e eu mudo de vagão para continuar despertando os leitores do seu sono literário. Sim, é assim que eu enxergo o que faço, sou despertador ambulante, um guerrilheiro da poesia. Assalto poeticamente as vítimas em seu momento mais vulnerável: quando estão completamente entediadas, naquela espera até a estação de desembarque. Afinal são muitos os que ficam olhando pro tempo, que jogam um joguinho estúpido no celular, fazem as unhas ou qualquer outra coisa sintomática do tédio absoluto.

Enquanto são absorvidas por um tédio (que só não é maior que ver faustão no domingo na casa da avó) eu levo meu livreto de poemas até elas, algumas se atiçam pela curiosidade quando falo que estou vendendo aquele pedaço de papel, outras abrem o livreto no meio (sim a maioria abre exatamente no meio do livreto) e encontram um poema erótico-engraçadinho, tem também aquelas que quando eu falo a palavra mágica: "poesia" se eriçam na hora. O negócio é que em dois ou três minutos eu coloco um vagão inteiro para ler poesia.

Sim, umas trinta a quarenta pessoas com livreto na mão e lendo poesia. Umas param na primeira e voltam pro universo do tédio, outras já querem comprar! São aquelas que realmente acreditam na poesia e no poder encantatório das palavras. Tem quem leia até o final devorando absortas e nem percebem quando passo recolhendo os livretos, essas se não prestarem atenção que eu estou recolhendo me deixam com o ego tão envaidecido que acabam ganhando o livreto, pois começo achar que seria um crime estragar aquela leitura tão ávida. Tem quem devolva o livreto sem nem abrir e também quem me deseje sorte para lançar meu livro, mal sabendo que com os livretos eu chego a um público que eu nunca conseguiria chegar com o livro, mas eu sorrio e agradeço aos votos.

Mas meu dia é ganho mesmo quando acontecem aqueles eventos únicos como a senhora negra de cabelos brancos que se levanta e começa a recitar um poema meu para suas companhias, sim e é aquele poema erótico-engracadinho! Ela recita em plenos pulmões e fica me elogiando à beça. Eu, claro, fico vermelho de vergonha mas se colocarem uma agulha perto do meu ego ele explode de tão inflado! A senhora então desmancha elogios, diz de como é bom que alguém faça isso no metrô, que leve  poesia e arte para as pessoas. A cada elogio ela me encabula mais e mais. Nesse momento eu dou corda, conto para ela do meu sonho que é ter mais e mais gente lendo poesia. Nesse vagão praticamente ninguém me devolve os livretos e melhor, são poucas as moedas e muitas as notas.

Tem quem diga que eu deveria fazer isso na lapa, na frente do CCBB, da biblioteca nacional e outros grandes lugares onde a turma cultural está reunida. Eu conto o caso que aconteceu comigo no trem, bom, no trem se compra e vende de tudo e lá eu aprendi que todo mundo pode se abrir a uma experiência nova se lhe for oferecida. Quando vendo poesia eu nunca seleciono público, seleciono quem vai ler e quem não vai. Nisso os ambulantes que estão ali também recebem livretos, e leem e se divertem com meu trabalho. Mas o melhor dia foi quando eu escutei: "Ei, Lucas, tem poesia nova ai?" e quem me perguntou isso foi o vendedor de coca, cerveja e água. Sim, de bermuda e havaianas e camisa do flamengo  ele me veio pedir por mais poesia! O esteriótipo perfeito que muitos dos cultos diriam que jamais iriam gostar de poesia. Mas estava ali me perguntando se eu tinha mais. Ao entregar o livreto ele me fez a pergunta de sempre: "quanto custa?" e eu como sempre com um sorriso desafiador respondi: "Você é quem me diz quanto vale" a resposta me surpreendeu: "pode ser uma coca?". Confesso que eu nunca bebi uma coca cola com tanto prazer.

Tem mais outros tantos casos, estórias engraçadas e divertidas mas agora vou voltar pra minha quinta feira e contar uma das travessuras que aprontei no metrô. Sim, eu acabo vendendo muito no metrô mas ali a venda de poesia não é uma atividade muito bem quista pelos seguranças. Quando entro em um vagão tenho que tomar cuidado para ver se não tem um segurança a bordo, eles sempre me chateiam.  Era o segundo vagão da noite, entrei e caminhei até o fundo dele quando reparei quase imperceptível um segurança, ele me notou.  Esperei sentado no percurso até a próxima estação e quando fui trocar para o vagão de trás o nosso amigo veio me seguir. Aquela situação estava chata e eu tive que pensar rápido. Quando o apito do metrô soou para as portas se fecharem eu saltei do vagão. E a porta se fechou atrás de mim sem que desse tempo dele continuar atrás. A verdade é que me senti meio que num filme de ação e tive que resisitir a virar e dar tchauzinho para o homem de preto. Sentei na estação, tirei os óculos, vesti o agasalho longe das cameras de segurança e fiquei jogando no celular até o próximo metrô passar.

Ser poeta sobre trilhos, talvez o único poeta underground (literal) do rio, é um enorme prazer. Ver o sorriso no rosto alheio, os olhares encantados, a felicidade estampada vale os riscos. Ninguém pode me tirar esse prazer, principalmente quando sei que são milhões de leitores adormecidos que passam por ali todo dia, aos poucos eu vou conseguindo levar até eles. Oito mil livretos vendidos nesse processo que já dura seis meses. Mas a pergunta que me move é: você tem ideia do que pode uma mente que voltou a usar a sua imaginação?

terça-feira, 30 de agosto de 2011

A virgem do Cabaré

Lucas C. Lisboa

Dez minutos uma era
nos trinta jaz descontente
rói o esmalte como fera
até chegar na carne rente

A boa moça descabela
bate a bota no batente
da porta na longa espera
do seu primeiro cliente

Ela, uma boa moça pura
treme a perna sem postura
que dê jeito a sua pressa

Mal vê quando a tecitura
do vestido cai na procura
sem mais amor ou promessa

domingo, 28 de agosto de 2011

Quadras para todos

Lucas C. Lisboa

tsunami no japão
terremoto na turquia
papa pede pelo pão
da primeira eucaristia

tsunami no japão
terremoto na turquia
pede a puta por paixão
pelo pau de sodomia

o chucrute é alemão
e tapioca é da bahia
pastor bolina o portão
pelo faro de vadia

o chucrute é alemão
e tapioca é da bahia
pecado é dançar baião
com a moça sem calcinha

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Versos e Flores


Lucas C. Lisboa

um romântico canalha
é que se diz poeta
que assim sem querer desperta
o amor com fogo de palha

faz da moça doce e certa
sua putinha de cangalha
e viseira sem que valha
à pena nessa sua festa

suspira ela apaixonada
e voz da mãe não diz nada
que ajuize sua cabeça

lhe dizem: pobre coitada
foi no verso enfeitiçada
por ele de quarta a terça!

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

O que pensa o poeta sobre trilhos?


O artista foi durante o século passado o que menos ganhou com sua própria arte, o advento da reprodutibilidade técnica e sua consequente monopolização fez com que o artista sujeitasse seu trabalho à exploração alheia. Em livros, cds, filmes e tudo mais o artista por mais que ganhe muito não fica com sequer 10% do montante arrecadado.

Mas como todo sistema contém em si o germe de sua destruição a reprodutibilidade técnica se aprimorou de tal forma que se tornou acessível a qualquer pessoa por valores que tornaram o monopólio do passado insustentável. 

Hoje a banda mais bonita da cidade lançou-se na internet e fez sucesso furando a fila das gravadoras. E eu enquanto poeta edito meus livretos usando meu computador e o levando até uma gráfica barata. Com sete mil livretos rodados eu furei a fila da crítica literária, das editoras, das associações e instituições que monopolizavam a arte. 

Usando do próprio sistema que um dia oprimiu a arte é possível hoje viver de arte no brasil de forma autônoma e independente. Eu vivo integralmente de poesia e vivo de uma forma que editora nenhuma permitiria ou daria para um autor exceto os grandes e escolhidos pela sacrossanta entidade chamada Mercado. 

Mas agora esse deus está sendo desvelado, o que há são apenas homens e anseios, ao artista cabe identificar esses anseios, identificar e dar a panacéia para as almas que estão adormecidas em um pesadelo sufocante onde tudo está pronto e acabado. O mundo se tornou novo e maior em possibilidades, estamos todos enjaulados mas o carcereiro está sonolento isso é se já não dormiu. 

Eu vivo como uma areia grande engrenagem do sistema, usando os artifícios criados para me controlar ao meu favor. Os apitos do trem que um dia me diziam a hora de entrar e sair do vagão para não chegar atrasado no trabalho hoje servem de cadência para que eu desperte a imaginação de tantos quanto possíveis novos leitores libertos da ditadura cultural outrora hegemônica.

Nenhuma ideia é genuinamente nova. Mas creio ter descoberto uma forma de usar as engrenagens desse nosso sistema mecanizado e massificador em favor da poesia, em favor da arte. A magia de ver um vagão inteiro, com cinquenta ou mais pessoas, lendo poesia e usando novamente a imaginação é uma sensação única.

Dentro de uma estrutura tão mecanizada, onde os passageiros entram e saltam do metrô de acordo com os apitos e gravações que anunciam as estações, eu consegui penetrar num espaço inexplorado. O tempo que cada indivíduo aguarda pacientemente a sua estação. 

É um momento onde boa parte da industria cultural simplesmente não pode alcancá-lo. São vinte minutos de absoluto tédio e vazio, onde o leitor adormecido pode enfim ser despertado.

Nesse momento onde a indústria cultural tão onipresente falha e o deixa perdido e desamparado em seu contato consigo mesmo é que a poesia tem a chance de despertá-lo desses pesados grilhões. Uma mente que se abre para uma nova idéia nunca mais volta a ter o mesmo tamanho de antes. 

O indivíduo que nunca antes teve o prazer de ler algo e o tem se modificou, modificou-se em sua essência se tornou um potencial leitor, voltou a usar uma imaginação que estava adormecida há muito.

E falando em idéias a minha tem pai E mãe! De um lado os tantos poetas que se auto-publicam, do outro um mar de vendedores ambulantes que vendem de tudo nos trens do rio de janeiro. Quando eu vi essas duas realidades, do modus operandi de ambos. 

Vi que valia à pena tentar um híbrido pois se existia que apreciava arte e também existia público para os produtos mais insólitos que eram vendidos aos montes pelos ambulantes dentro dos vagões, também poderia haver público para a poesia sobre trilhos.

Há pequenos eventos que marcaram fortemente minha passagem nos metrôs e um eu não canso de relembrar que é o do vendedor de cerveja, água e coca cola que sempre que me vê pergunta se há uma nova edição de meu livreto e troca comigo por uma lata de refrigerante. Aqui não se trata de nenhum tipo de "ajuda" ao poeta ou coisa parecida. Se trata de um legítimo indivíduo que teve o prazer da leitura despertado. 

E eu não posso querer nada mais verdadeiro que isso. Se de todos os meus livretos já vendidos eu tiver conseguido despertar esse prazer em 1% dos leitores já me considerarei feliz e bem sucedido mais do que em toda minha vida.

domingo, 14 de agosto de 2011

Sentimento

Lucas C. Lisboa

Eu quero lhe convidar
prum luau particular
levo vinho e poesia
você sua carne macia

vamos juntos degustar
ao sabor da lua e do mar
nossa vontade vadia
de nos amar noite e dia

Estrelas em serenata
os dois deitados na areia
em um sonho de mãos dadas

Eu serei o seu pirata
e você minha sereia
de doces madeixas douradas

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

As quadras d'Eu (Autobiografia)

Lucas C. Lisboa

Eu, garoto cefaléia,
lotado de rebeldia
para o mundo a panacéia
em poemas escrevia

do som puro de idéia
é orfã minha poesia
num choro de Medéia
em metro e melancolia

na redondilha plebéia
sou o bobo que a corte ria
tal hienas na alcatéia
ou cio da gata que mia

hoje viajo na boléia
dos trilhos em sinfonia
levando luz à miséria
com poética vadia

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Poesia de Viagem

Lucas C. Lisboa

Sr. Motorista
alegre seu dia
e pare na pista
dê carona a poesia!

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Todas as quintas

Lucas C. Lisboa

Brincava como moleque
e de muita piada pronta
ria co'a face e coração
na mesa a noite inteira

Compartilhava do Domecq
que passava de mão em mão
como procissão de santa
até a gota derradeira

A turma era sua catarse
mas de todos foi primeiro
pedindo a parcial da conta
dessa vida injusta e tonta

O câncer em sua metástase
leva embora o companheiro
de todas as quintas-feiras
no mesmo bar e cadeira