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Poeta e apenas poeta

Já me olharam espantados quando digo que sou poeta e só poeta. Que não canto, nem danço, nem atuo, nem pinto, nem bordo, que "só" ...

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Incêndio

Enquanto na floresta se buscava
co'as bocas, bicos, trombas e suas patas
um tanto qualquer d'água para essas matas
que nas chamas do incêndio já queimava

O lobo, sentado, seu vento tragava
usando de suas forças mais inatas
a procurar aquelas almas rotas
que tudo novamente incendiava

As feras atarantadas julgavam:
ele parado, sem nada ajudar!

"Que ser mais egoísta!" - murmuravam
não o viram sorrateiro a circundar...

Pois quando as brasas altas crepitavam
com fome de homens se pôs a caçar.

Quadras calculadas

sílaba poética
é saber que verso
não é aritmética
mas da prosa o perverso
*
prum ouvido certo
versificação
é medida de metro
sem regulação
*
dentro duma métrica
cabe o não pensado
duma frase cética
num texto sagrado
*
o poeta escande
como alguém que canta
e não como quem conta
moedas e as esconde

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

à luz da Lamparina

Meu pai criava em sua mente todas as formas, luzes, gestos, olhares e sombras das assombrações que meu avô lhe narrava à luz da lamparina, os filhos da minha geração recebem todos os mínimos detalhes de seus monstros narrados através das telas de seus tablets. Não há mais qualquer espaço para que o espectador do tablet crie em sua mente as feições que recebe das luzes do tablet.  Cada monstro, cada personagem já tem impressa sua cor, forma e tamanho de maneira indissociável, sem qualquer espaço ou possibilidade de liberdade para o espectador.

O narrador da lamparina, o livro de contos e histórias fantásticas, os romances, as epopeias, e as notícias do jornal impresso cada vez mais são substituídas por narrativas apinhadas de sons e imagens que provam e comprovam sua forma como indissolúvel, pronta e acabada. Quadro a quadro em movimento, narrado e articulado sem deixar espaço para que o receptor inclua ali sua perspectiva, sua ótica. Cada mensagem acompanhada de todo um aparato imagético comprova sua veracidade indiscutível, é pois as imagens não mentem.

Num mundo imagético, onde tudo é movimento, fala, som e imagem. Num mundo onde toda informação é dada como pronta, acabada. O ato da Literatura, per si, sem outro suporte que não a escrita é um ato político. A poesia escrita e lida é avisa rara na contemporaneidade. É uma arte incompleta em sua produção pois depende sempre do leitor para ter seu som e imagem concebidos.
No momento em que o leitor  inicia a leitura  é o exato momento que ele se implica no texto pois e forçado a preencher as lacunas do que lê consigo mesmo, com suas experiências, com suas memórias, tendo como argamassa sua imaginação fresca e, pro vezes, nunca antes utilizada. E nesse despertar da imaginação nasce a capacidade de criar novas narrativas para o que já recebe de antemão como dado.
Um livreto de poesia dentro dos vagões do metrô caem, por vezes, no colo desse espectador televisivo, de seu filho empolgado pelo novo jogo em seu tablet. E aquela leitura de poucas páginas, de amor, de piada, de política e até metalinguagem pode despertar o gosto, o desejo por atiçar a parte imaginativa tão esquecida, tão oculta e guardada num quotidiano que não dá mais espaço para seu exercício.
Uma mente capaz de imaginar os olhos, boca e nariz da amada do poeta também é capaz de usar dessa mesma imaginação para descortinar as sombras veladas que os flashes das câmeras não alcançam. Cada dobra de página, cada personagem que é construído gera a dúvida salutar de que se Capitu traiu ou não Bentinho. Se a narrativa do jornal das 10 condiz ou não com a verdade, se a perspectiva é mesmo a única possível, se outras imagens não existem e contradizem aquela posta ao ar em rede nacional. Um poema de amor, num mundo onde a própria imaginação não tem mais vez, é um ato político. Um ato político de despertar pois " a poesia torna possível o que já se tornou impossível na prosa da realidade.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Cidade digital

Computador lento
é um engarrafamento
de bits ou de bytes?

domingo, 27 de dezembro de 2015

É como se diz:

Com palmas e bis
doce Beatriz
ficou por um triz
de ser meretriz

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Tropa Natalina

Começou como tropeiro
pelo sertão derradeiro
das muitas minas gerais,
bem longe das capitais
guiando burros em tropa
e com cavalo que trota!
 
Mula madrinha enfeitada
por muito chão, muita estrada
levava o comércio de ouro
dentro do embornal de couro
dos garimpos até os roçados
era ele muito aguardado

Trocou tropa pelo trem
e ao progresso disse amem
quando a ferrovia chegou
e novamente se inventou
pois dentro do seu vagão
todo, arroz, milho, feijão

Ele mesmo compraria
para vender lá na Bahia
e de lá vinha descendo
com o seu vagão trazendo
perfumes, panos, tecidos,
remédios e mil artigos

Por anos indo e vindo
fez ele seus dividendos
Casado com Terezinha
fizeram na vilazinha
seu comércio e pensão,
a maior da região.

Com a casa logo erguida
já quiseram em seguida
uma professora pra lá
para contas e beabá
ensinar pela primeira
vez para essa vila inteira

Nem tudo foi belo e bom
e num grito fora do tom
vieram os tiros de canhão
e trem, vagão e estação
já não existiam tais
e mudou-se uma vez mais

De Alfredo Graça pegaram
o último trem e pararam
na cidade de Teofilo Otoni
e eles sofreram ali
a triste separação
em nome da educação

De todos os seus filhos
Natalino foi nos trilhos
de volta para a fazenda
de seus pais numa contenda
lá para as margens do Rio
Setúbal num desafio

Feira Natalina

Quando sábado chegava
Seu Natalino montava
o seu cavalo Rosi
que já sabia pra onde ir:
de Santa Cruz, sua fazenda
até a feira buscar a renda.
 
Na vila do Jenipapo
era a feira de trapo,
rapadura, porco, pinga,
panela, couve, moringa,
linguiça, milho, feijão,
gado, queijo e requeijão....
 
Natalino bom mascate
na feira dava arremate
nas pagas e encomendas
que faziam pra sua moenda
de rapadura e cachaça
enquanto andava na praça.

Anotava, em prosa lenta,
num papel de letra atenta
uma nova e boa encomenda
Parava e resolvia a contenda
dum filho querendo comer
queijo e groselha beber

 De passada lenta e aberta
andava como quem acerta
na sorte fazendo o que gosta
vivendo e vendendo a roça
que cuidava com carinho
tal pássaro do seu ninho

Essa vila orgulho lhe dava
quem dissesse não errava
do mercado até a Igreja
tinha da sua bemfazeja
cada rua cada calçada
fez com esmero de morada

 Mas não fez sozinho é certo
tinha amigos bem diletos
com quem andava e proseava
e até versos declamava
histórias de assombração
e também de lampião
 
De boa prosa e jeito calmo
foi delegado da região
de Araçuai, Jenipapo,
de Machados, Badaró,
até Córrego das Velhas,
Berilo e também Chapada
 
Era um delegado diferente
desses tipos boa gente
não mandava prender
se dava pra resolver
com conversa, com conselho
via no outro sempre um espelho

Seus olhos azuis sérios
de contador de mistérios
de troças, de escalabros
de piadas e de causos
um mundo se emocionavam
quando seus filhos chegavam

Pois estudavam bem longe
Araçuai, Teofilo Otoni
e também Belo Horizonte
mas nas férias iam pra feira
nos burros e na traseira
do seu cavalo Rosi




quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Flâmula

Em seu talo eu me embalo
sua menina meretriz
e se diz: ‘‘ fela me o falo’’
seu falo felo feliz

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Lama

De vida, de morte
de jornada breve
Com acaso, sorte
e meu peso leve

De fome, banquete
natural, urbano,
selva,  palacete,
animal e humano

Sou chama sou brisa
pra tudo que me
refresca e atiça

Sou terra sou água
pra tudo que me
soterra e deságua

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Sou terra
pra tudo
que me
soterra

Sou água
pra tudo
que me
deságua

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Ela

Nos enredos já se atira
nos medos sequer respira
pois me inspira seus segredos
quando pira em meus dedos

sábado, 28 de novembro de 2015

Carnavalescer

Pois se nós, reles mortais
ainda estamos em janeiro,
dezembro, junho ou mais
tristes por um ano inteiro
entre seus risos e ais

Ele bem tá em fevereiro
e vive seus carnavais
roda de samba e pandeiro
cariocando muito mais
que eu ou outro brasileiro

Pois se nós, reles mortais
vamos depois dum dia inteiro
contentes pros triviais
botecos de bom mineiro
dessas e doutras gerais

Ele, samba derradeiro
em tão doces festivais
pois no Rio de Janeiro
se carnavalece mais
de março até fevereiro

puxando papo
pedindo ixqueiro
numa ixquina
fazendo ixcola
ficando em paix

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Lágrima

Ela, estátua de mármore, era bela, belíssima e também muito emotiva. Mas sempre parecia impassível, insensível por segurar suas lágrimas. E, de fato, Ela fazia de tudo para contê-las, como um dique de castor, pois suas lágrimas eram tão ácidas que quando escorriam pelo seu rosto marcava-lhe em sulcos como o leito de um rio caudaloso passando pelas bochechas e desaguando no lago de seus lábios.

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Seu rabo

Que belo!
Eu quero
fodê-lo
com esmero.

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Questão

Qual animal
late mil vezes?
- O gato
ele faz mil-au

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Before Honeymoon

It's very good
I'ts very fun
We have a new mood
to eat bubble gum

It's very good
I'ts very fun
He is my favorite food
and my sauce is his cum

In the last afternoon
with kisses and bites
me and my husband

play hard in bedrom
and it sounds like
the best house band

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Oitava do Regojizo

Gorgogeando galante
a grande glande de Glad
se degladia co'a garganta
gulosa da gorda Glória
se golfando nos galopes
da grande glande de Glad
que ginga gostosamente
e goza grosso e gostoso

domingo, 11 de outubro de 2015

Oitava do Verso da Moeda

Antes pedido nas bolsas
de tão sorridentes moças
Antes esquecido nos bolsos
de tão sonhadores moços
O metal, enfileirado,
bem contado e recontado
Guarda verdade secreta:
pois paga o pão do poeta.

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Coronel

Coronel, nove décadas,  aposentado.
Guarda com muito orgulho sua farda do lado
da cama, paga com soldo, mas sem o saldo
de sangue, do vil golpe de sessenta e quatro.

Mineiro, nasceu negro, no ano vinte e cinco
do século passado, soube que era odiado:
pela pele, tamanho e pela cara dura
de defender o voto colocado na urna!

Vê com desgosto, quase que com um desdém,
o jovem cabo, malfa(r)dado que enganado
de joelhos, ao golpe, reza seu amem...

Mal sabe ele que é só dormente para o trem
de empresários e generais endinheirados
e seu soldo... é pouco, amargo e não cai bem.

terça-feira, 6 de outubro de 2015

Modernice

Seus pequenos pensamentos
Levemente filosóficos
Por si só  já não fazem
Um belo ou denso poema

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Lentes 2

Eu, Branco prum Brasileiro
e Preto prum Europeu
Ascendo socialmente
com um par de verdes lentes

Lentes

Nem todos me entendem...
Quem é que diria!
que olhos verdes vendem
bem mais poesia.

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Lusófono

Porque falar zine
E não livreto?
Porque usar o inglês
como um cabresto?

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

ao ponto

saliva é tempero
quero sua língua de brasa
grelhando meu grelo

terça-feira, 8 de setembro de 2015

à moda de duchamp

Atenção Atenção!
Isso não é um poema

domingo, 6 de setembro de 2015

Libertino

Eu me velo e desvelo num santo martírio
pelo que quero muito tanto ou talvez
Eu me faço e desfaço num doce delírio
pelo que trago, bebo e tomo duma vez

Eu que me corto, sangro mas também lhe firo
numa inocência pura vista nos bebês
mostro os dentes caninos dum velho vampiro
lhe rompendo pudores por toda sua tez

muito prazer sou seu satânico desejo
seu sexo mais ardente que todos pecados
de Sodoma, Gomorra e terras além-mar

Não me tema nem trema diante do meu beijo
sou fome, sou paixão de peito perfumado
pois em sua pouca carne vim para ficar

sábado, 5 de setembro de 2015

Ruazinha

Teima o sol avermelhado
a se por no fim da tarde
Quer ver os guri endiabrado
brincando com bola que arde

Quer ver o homem tão cansado
quando seu Fiat Uno invade
O campinho demarcado
com chinelos e com alarde

Gritam logo "Contra Mão"
A rua é arena da Bola
e o carro maior vilão

O homem desce desenrola
"Tem como passá aqui não"
"Eta vida! Vou embora..."

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Composição

musa e autor dormem
e um poema na gaveta
perde a poesia

terça-feira, 11 de agosto de 2015

Dos moinhos de vento

Eu acho tão engraçado quando poetas contemporâneos exaltam que seus versos não tem métrica ou rima.

Falam de um jeito como se isso fosse uma particularidade, um feito, algo que distinguisse sua poética das demais que o cercam, como se fosse algo muito diferente do que é feito hoje.

Mal percebem que o verso livre já virou arroz de festa, completamente hegemônico e dentro do manual da boa poesia contemporânea.

Meu caro poeta contemporâneo, você pode fazer seus versos livres à vontade, mas, por favor, não acredito que isso seja um feito revolucionário ou digno de ser exaltado.

Essa revolução já aconteceu no início do século passado e o monstro parnasiano que diz hoje combater tem tanto poder quanto os gigantes de Dom Quixote.

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Sou o que sou

Eu não viveria no céu;
Gosto do cheiro da terra,
do suor de gente que erra,
acerta e faz escarceu.

Eu não viveria no céu;
Gosto do cheiro de vida
de cutucar a ferida.
Bolero lambada e créu!

Eu sou do tipo atrevido,
que nunca tá resolvido;
como sujeito normal.

Eu sou o que sou e posso
no que faço, vou e aposto
botando pimenta e sal

quinta-feira, 30 de julho de 2015

Boca Suja

Diz Maria Clara irritada:
"Pu/ta/ que/ pa/riu/ xe/reca
ti/nha/ á/gua/ ne/ssa/ merda"
Pois é,  xingando com métrica

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Recontagem

A volta do voto impresso
um baita dum retrocesso!
Quem for ficar de malgrado
Chama o melhor advogado...

sábado, 25 de julho de 2015

Dândi

Ajusto logo esse foco
de lente, cabelo curto
Auto-retrato in loco
serei sucesso absurdo

quinta-feira, 23 de julho de 2015

Lingüistica

Porque é que pé
rima com Chulé?
(Se fosse  fedor
seria um terror!)

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Estrela

Esse país cada dia
me da mais orgulho
Estamos pouco a pouco
Limpado todo o entulho
Deixados pelos ridículos
E sanguinários milícos.

Cada dia muito menos
gente passa fome
E mais gente pode ter
O seu sonhado iphone
E temos faculdades instaladas
nas cidades mais afastadas

Pouco em 12 anos
mas muito mais do que em 38
O Brasil volta a crescer
depois de 50 anos parado.
38 estragando e 12 consertando
o malfeito de tanto deputado.

Há uma estrela de esperança
Vermelha como o coração
Se você desistiu de nossas crianças
Eu ainda não.

Haiquase

Imagine esse mundo
que panfletasse poemas 
no lugar de compro ouro...

sábado, 4 de julho de 2015

Pragmática

Sim, eu sou de esquerda
pois o problema da fome
é muito mais importante
que o preço do seu iphone

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Moça do vestido azul

Quero dedilhar meus dedos
quero-os em ti mergulhados
Nadando dum lado ao outro
em suas carnes envoltos

E sentir-me abocanhado
pouco a pouco cravado
pelos seus labios revoltos
provando-me mil gostos

De falo rijo te faço
esse poema devasso
tal uma canção perversa

Pois me inspira quando pira
quando arfa, goza, delira,
devora (ou vice e versa)

terça-feira, 23 de junho de 2015

Inflação

Poeta num mal-me-quer
reclama da seda mais cara.
Porém, se a Musa lhe der,
um tapa, sequer repara...

sexta-feira, 12 de junho de 2015

terça-feira, 5 de maio de 2015

Eu, homem

Melhor ter remorso
que arrependimentos
Ou seguir pro inferno
que os dez mandamentos

quinta-feira, 16 de abril de 2015

Sordidez Carioca

Na escadaria da Lapa
entre um Baseado e outro
eles planejam a Revolução

Entre um e outro tapa
o Nego da Rocinha
tem medo do B.O. de
Desacato, Conflito e Resistência

E com muito pó na cabeça
numa cobertura no Leblon
Ele planeja com cuidado
como deixar as coisas como estão

Redondilha maior ou menor?

"Cinco sílabas poéticas"
Formam um verso de sete
sílabas poéticas contadas
Até a última das tônicas

quinta-feira, 2 de abril de 2015

Pecado

Vem o capeta e atiça
uma Rede na varanda
Para dizer que quem manda
nessa porra é a preguiça

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Com quantas becas se faz um poema?

Leve você em qualquer laje
versos sem assinatura
dum nome de d'douro traje
que apenas será loucura

Bote num museu de mármore
um penico na moldura
que cada macaco na árvore
em coro dirá:" arte pura"

Vai tenta arrisca petisca
de banquete a quem tem gula
faz sua arte visceral

Tome cuidado caro artista
que arte não cai bem com bula
e nem vem com manual

sexta-feira, 27 de março de 2015

Podorastia di versos

bem no pé do verso
sibila uma língua
que lânguida lambe
o metro e sua tônica

Em saliva imerso
o lábio à míngua
deixa que se game
na orgia polifônica

segunda-feira, 16 de março de 2015

Bom mocinho

Baixinha de peitos grandes
dona dum bumbum durinho
Rebola assim aos galopes
que engole meu pau todinho

Me chupa do talo à glande
com fome e com carinho
Num tesão rude que range
quando lhe dedo o rabinho

Pulsa e repulsa meu sangue
deixando meu pau durinho
Minha saliva vai longe
melando seu anelzinho

São meus dedos que lhe expande
aos poucos seu buraquinho
Até que se torne grande
pra que eu entre de mansinho

Seu doce gemido me unge
no papel de malvadinho
Que com vigor lhe inflige
um gozo pelo cuzinho

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Filosofices

Não sou Pedro
Não sou pedra
A minha lavra
De mil palavras
É de  poesia

Na minha igreja
Não tem pecado
Não tem culpa
E muito menos
A tal sacristia

Não sou senhor
Não sou escravo
Todos dias travo
Um doce trago
De melancolia

No meu terreiro
Na minha terra
Certo é quem erra
Quem de tão torto
Acerta a alegria

Capitão do mato século XXI

Um negro vestindo preto
faz papel de autoridade
à mando dum branco que
traja terno e faculdade

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

SE ESSA RUA FOSSE MINHA

(versão verão)
Se essa rua
Se essa rua fosse minha
Eu mandava
Eu mandava já plantar
Muita árvore
Muita árvore sombreante
Para o meu
Para o meu calor passar
Nessa rua
Nessa rua tá tão quente
Que se frita
Que se frita ovo no chão
Dentro dela
Dentro dela mora um sol
Que roubou
Que roubou meu tesão
Se eu roubei
Se eu roubei teu tesão
Tu roubaste
Tu roubaste o meu também
Se eu roubei
Se eu roubei teu tesão
É porque
É porque te quero sem

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Madame Baderna

Me despetala em trapos, fitas, pétalas
de bem e mal me quer que mais me quer
que desdenha, destrata, mas me quer
como porta-bandeiras e abre-alas

Pois Eu me apego e até pago pra ver
dentro do porta-luvas levo as mágoas
e encho com alegria o porta-malas
sou da escola do samba e bem querer

Eu, Madame Baderna com prazer
tomo da tina e latrina de restos
essas babas e beijos dos amores

Eu sou essa Arlequina com as cores
que não se cabem nos pincéis modestos
desses caras sem cara pra bater

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

NO FIM DO CORREDOR

No fim do corredor tinha um banheiro
tinha um banheiro no fim do corredor
tinha um banheiro
no fim do corredor tinha um banheiro.

Nunca me esquecerei desse momento
na vida de minhas calças tão respingadas
Nunca me esquecerei que no fim do corredor
tinha um banheiro
tinha um banheiro no fim do corredor
no fim do corredor tinha um banheiro.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

mau conselho

abuse dos lábios
que quase dá pra deixar
a língua de lado

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Trágico

Eu vivo desde sempre
um paradoxo míope
de precisar dos óculos
para achar os meus óculos

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Dieta

Batata Vegana?
Bah! A batata da boa
É frita na banha!

Salada Etílico-Poética

Bilac Bêbado, Bilac Bêbado
não seu Olavo, num é chacota não
é verso sáfico de metro dado
aos meus poetas sem rima e solução

Eu conto sílabas num dedo a dedo
nesta veloz prestidigitação
que engana versos bem mal remendados
sendo meu velho truque de salão

Dez sílabas safadas que dos Anjos,
com maestria de quem Espanca sem
nos causar marcas, causou mais que medo

Dez sílabas heroicas são arranjos
pra Cisne Negro e Passarinho dizerem
a pior das verdades e um segredo.

Vernelho

Me enche de tesão
quando o seu batom
vem manchando o talo
do meu rijo falo

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Depois do Brinde

Havia uma sede de saliva
havia uma fome atrevida
De lhe fazer mais cativa
em vontade bem vivida

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Desgosto do Cavalo Branco

Eu que desgosto do cavalo branco
e nunca fui o primeiro da turma,
faço-me feio, torto e até manco:
sou mau agouro d'alma mais soturna...

Eu que carrego meu talento franco
de vaguear numa insônia noturna,
recuso-me a seguir por mais um tanto
de tédio e labor da vida curta!

Eu jamais seguirei num galopante
corcel alado tal conto de fadas.

Eu que sempre serei fidel amante
das moças e mulheres mais erradas...

Eu, nem príncipe nem bobo ou infante,
sou poeta de rimas espalhadas!

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Estóico

A
moderação, 
em excesso,
faz mal?

Questão de ritmo

Paralelepípedo
é uma redondilha
mesmo com suas quinas
tamanho família

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Pragmática

É a praga da matemática
que insiste em dizer que dois
e dois só é e só pode ser
o rigoroso de um quatro

Sendo que nós precisamos
pra fazer o bem de todos
e da nação que então seja
ao menos cinco ou seis 

O conservador tortura
e conserva a dor de um três
querendo menos que dois

E o radical queima o palanque,
rasga a tabela exigindo
nada menos que seu dez

sexta-feira, 6 de junho de 2014

ÁGUA VIVA: O JARDIM METAFÍSICO

O JARDIM

O Jardim aparece como alegoria a multiplicidade do universo segundo a metafísica de Clarice Linspector em Água Viva. É um elemento cuja a metáfora abarca em si todo o universo da Natureza Espinosiana, "Deus ou seja Natureza" é uma expressão que define bem a concepção de Clarrice em seu panteismo feito em prosa poética dotado de uma polissemia própria e pungente.

Em uma  honesta tentativa de decifrar Clarice Linspector e seu feérico livro Água Viva para uma árida metafísica resolvi por bem não abrir mão do lirismo absurdamente indissociável dessa obra e fazer uma análise mito-poética de sua especificidade universalizante.

"Neste  instante-já  estou  envolvida  por  um  vagueante  desejo difuso de maravilhamento e milhares de reflexos do sol na água que  corre  da  bica  na  relva  de  um  jardim  todo  maduro  de  perfumes,  jardim  e  sombras  que  invento  já  e  agora  e  que  são  o meio  concreto  de  falar  neste  meu  instante  de  vida.  Meu  estado  é  o  de  jardim  com   água  correndo.  Descrevendo - o  tento  misturar  palavras  para  que  o  tempo  se  faça.  O  que  te  digo  deve   ser lido rapidamente como quando se olha."

Jardim é o instante-já onde a Natureza se revela ao leitor em toda a sua compreensão possível de mundo é a forma inteligível que o conhecer humano concebe para ascender ao divino e ao transcendental. Vale dizer que por seu caráter mito poético O Jardim não é mera metáfora do universo em sua totalidade é ele de fato in natura. O olhar rápido e a imediaticidade revelam o primeiro e mais direto contato com a  Verdade que o Jardim representa, a natureza é tautológica per si é “Uma rosa é uma rosa é uma rosa”.

O verso de Gertrude Stein seduz ao um entendimento imediato que apenas a Natureza quando vista pelos olhos poéticos consegue traduzir-se, traduzir-se não. Apreender, pois é um processo que não se prende aos intelectualismos semânticos e sim um processo que se dá por transcendência do conceito em ato de si.

“Sei  da  história  de  uma  rosa.  Parece -te  estranho  falar  em rosa quando  estou me ocupando com bichos? Mas ela agiu de um modo tal que lembra os mistérios animais. De dois em dois dias eu comprava  uma  rosa  e  colocava-a  na  água  dentro  da  jarra  feita especialmente para abrigar o longo talo de uma só  flor. De dois em dois dias a rosa murchava e eu a trocava por outra. Até que houve  determinada  rosa.  Cor-de-rosa  sem  corante  ou  enxerto porém  do  mais  vivo  rosa  pela  natureza  mesmo.  Sua  beleza alargava o coração em amplidões.”

Rosa, a máxima flor,  presentifica-se em meio ao natural reino dos bichos, os próprios reinos são criação do humano em sua tentativa vã de classificar, nomear e dar significado à poética do Jardim.  O cor-de-rosa é uma perfeita representação do estado aparentemente indistinto do real pela ótica humana, mas pela Natureza é representação máxima de um estado que é vivo e verdadeiro. Mesmo que não alcançado pela dialética de olho e mente de quem observa a Rosa.

A prisão da rosa no cárcere doméstico é uma alegoria forte da linguagem que tenta a todo custo dar conta do real sacrificando-o, murchando-o em prol de sua domabilidade, de sua domesticação ao espaço da mente humana. Nomear o Ser é restringí-lo à uma pálida expressão de si mesmo.  A linguagem humana aponta, sugere, faz-se uma sombra sob a Verdade e não a compreede, assim é esperar que a água do jarro nutra eternamente a Rosa que ornamenta a mesa da sala de jantar.

"Para me refazer e  te  refazer  volto a meu estado de jardim e  sombra,  fresca  realidade,  mal  existo  e  se  existo  é  com  delicado cuidado.  Em  redor  da  sombra  faz  calor  de  suor  abundante. Estou  viva.  Mas  sinto  que  ainda  não  alcancei  os  meus  limites, fronteiras  com  o  quê?  sem  fronteiras,  a  aventura  da  liberdade perigosa.  Mas  arrisco,  vivo  arriscando.  Estou  cheia  de  acácias balançando  amarelas,  e  eu  que  mal  e  mal  comecei  a  minha jornada,  começo-a  com  um  senso  de  tragédia,  adivinhando  para que oceano perdido vão os meus  passos de vida."

A compreensão de si que se insere no contemplamento do Jardim é de uma total indentificação entre o eu e o mundo. Uma indissocialidade tântrica que permeia o pensamento Clariceano de tal forma que não há espaço para a metáfora morta o que há é uma absoluta multiplicidade que dissolve o Eu entre as acácias amarelas, entre o espírito da liberdade e as raizes da realidade.

O Suor, elemento tragicamente humano, contrasta como resíduo indesejável da tentaiva humana de lançar luzes sobre a Verdade. A realidade em seu frescor está nos limites fronteiriços das possibilidades do entendimento racional e apenas a poética é capaz de tomar para si um vislumbre momentâneo dessa totalidade panteística.

"Agora vou falar da dolência das flores para sentir mais o que  existe.  Antes  te  dou  com  prazer  o  néctar,  suco  doce  que muitas flores contém e que os insetos buscam com avidez. Pistilo é órgão  feminino  da  flor  que  geralmente  ocupa  o  centro  e  contém  o rudimento  da  semente.  Pólen  é  pó  fecundante  produzido  nos estames  e  contido  nas  anteras.  Estame  é  o  órgão  masculino  da flor.  É  composto  por  estilete  e  pela  antera  na  parte  inferior contornando o  pistilo. Fecundação é a união de dois elementos de  geração  -  masculino  e  feminino  -   da  qual  resulta  o  fruto fértil.  "E  plantou  Javé  Deus  um  jardim  no  Éden  que  fica  no  Oriente e colocou nele o homem que formara" (Gen. 11, 8)."

Em Água Viva Lispector  partilha com Espinoza de um panteismo cristão que torna  Natureza o divino, indissocia e funde num universalismo, aqui simbolizado pelo Jardim, todo o Amor que há enquanto Verdade. E é nessa fusão que se encontra a narrativa de Clarice que sendo uma narradora também é personagem e narrada de sua própria obra. O eu-lirico dessa prosa profundamente poética imiscui-se do Divino para ter em si o initeligível que é próprio da existência que é mesmo quando não dita ou não significada.

A dolência das flores, elemento-símbolo do jardim. contrasta a primeira vista com o Desejo de um Criador e numa descrição absolutamente profana da Flor enquanto sexo e geradora de vida. Clarice inverte a concepção de Criador unindo no Éden todo o humano presentificado no néctar da Natureza. O suco doce das Flores é buscado com avidez pelo inseto mas também pelo próprio homem que sendo parte da Natureza tenta negar que é uno ao Todo nesse Jardim.

"Mas conheço também outra vida ainda. Conheço e quero-a e devoro-a  truculentamente.  É  uma  vida  de  violência  mágica.  É misteriosa  e  enfeitiçante.  Nela  as  cobras  se  enlaçam  enquanto  as estrelas  tremem.  Gotas  de  água  pingam  na  obscuridade fosforescente da gruta. Nesse escuro as flores se entrelaçam  em jardim  feérico  e  úmido."

A gruta  com suas sombras é uma caverna onde o homem contemplas as suas sombras sob a pálida luz fosforescente. É um indicativo do espaço humano dentro desse universo polissemântico, de apenas perceber as sombras, o obscuro.  Um leve contorno daquilo que é de fato.

A avidez descrita por Lispector é parte da ânsia humana que se desvela num mundo onde o homem não participa mais. O Jardim Feérico vai para além da compreensão humana pois é o espaço onde cobras  dialogam com as estrelas, onde a virulência da realidade não tenta impor seu domínio por completo, onde a Vida e a Verdade coexistem em plena harmonia sem mediações artificiais e onde o mistério é aceito como tal.

" No  Jardim  Botânico, então,  fico  exaurida.  Tenho  que  tomar  conta  com  o  olhar  de milhares  de  plantas  e  árvores  e  sobretudo da vitória-régia.  Ela está lá. E eu a olho."

        A contemplação da vitória-régia é uma sintese perfeita da postura da autora frente ao Real. Um simples Ser-em-si. O olhar precedido da existência e nada mais. O Real enquanto presentificação do Ser garante ao olhar do Jardim um êxtase místico. Uma verdadeira existência que esgota o ser humano, a contemplação do Real, exaure o indivíduo pois o mesmo não é capaz de abarcar toda sua infinitude. E a contemplação per si deve bastar pois a linguagem não pode mais do que sugerí-lo Indicar a Natureza é máximo que a mente finita do homem pode fazer em sua comunicabilidade desprovida da universalidade contida no Ser.

        A recorrência do Jardim na prosa de Clarice denota o eterno desejo humano de domesticar a Natureza, de tê-la sob sua capacidade intelectiva e de vontade. Seja por preces ou tubos de ensaio é o homem com sua linguagem tentando cada vez mais dar conta dessa infinitude que o ultrapassa mas que mesmo assim o fascina. A poética de Clarice é uma ode ao humano que conta grãos de areia imaginando-se colecionador de estrelas. 

terça-feira, 3 de junho de 2014

Saudades?

A falta que ainda me faz
é a mesmíssima dum par
de pesos presos aos pés
quando me ponho a nadar

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Alcorão 2.0

Não há nenhum deus se não o Google
e o Wikipédia é seu profeta.

domingo, 30 de março de 2014

sexta-feira, 14 de março de 2014

Dizer que:

todo político é corrupto, 
todo político é ladrão. 
É o melhor salvo conduto
pra manter as coisas como estão.

Deixando todos enlameados
os que tem culpa e os que não
favorece os mais emporcalhados
que de sujeira entendem de montão.

O coronel engravatado
reina na sujeira do sertão

O midiático cooptado
domina fácil a televisão

E todo mundo é enganado
por esse velho chavão

quarta-feira, 12 de março de 2014

Pois os conta-sílabas ainda não estão extintos.

Segunda feira é dia de reunião na casinha. Reunião de poetas na casa do Catete para discutirmos as ações de nosso grupo poético que estava até sem nome  após o fim do contrato com o SESC. Passamos horas e horas pensando e debatendo um nome que substituiria o Fora de Área, passamos por Balalaica, Balacrente, Clubinho Poético, Pedra Portuguesa, Foda Diária e outros tantos até chegarmos ao nome Vide Verso onde toda sua polissemia nos encantou.

Escolhido o nome pensamos na identidade visual e nas futuras ações poéticas que executaríamos ao longo do ano a volta das oficinas, as interferências e as apresentações... A reunião se estendeu para depois das dez da noite e quando peguei o vagão do metrô já estava mais vazio. Só para não perder o costume  saquei meus livretos de dentro da bolsa.

Distribui por todo vagão com um sorriso no rosto mas poucas pegavam e na volta menos ainda pagaram pelo prazer de ler poesia. Mas no fim do vagão uma senhora me chamou a atenção, ela estava compenetrada em meus versos e seus dedos se mexiam freneticamente contando as sílabas dos meus versos!

Encontrar outra conta-sílabas é cada vez mais raro com essa ditadura do verso livre. Foi um enorme prazer sentar ao lado dela e partilhar desse prazer que é a escansão, vê-la contando à moda espanhola que conta todas as sílabas do verso e me justificar dizendo que sigo a moda francesa de se contar somente até a última tônica.Acertado os termos ela conferiu que todos os versos estavam mesmo em redondilha maior. Era um sonetilho que agora tinha sido contado e revisado dentro do vagão. É bom encontrar com quem eu posso conversar na mesma língua.

E pensar que semanas antes uma revisora de oportunidade veio me corrigir a gramática sacrificando o ritmo e a oralidade de outro poema... O verso "lhe tomo num trago"  tem um ritmo e uma melodia que "tomo-lhe em um trago" perde totalmente! Foi triste ser corrigido assim por alguém letrado, que faz da revisão o seu ganha pão, mas que ignora os conceitos mais básicos do que é poesia.

Por essas e por outras que eu elegi os vagões do metrô e seus personagens como meu melhor público no lugar daqueles acadêmicos com seus artigos e teses modernas debaixo do braço.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Poema Botequeiro

Nos bares do Brasil a cada 100 recados de guardanapo
57 são amassados antes de serem lidos

Nos bares do Brasil
a cada 100 recados de guardanapo
57 são amassados antes de serem lidos

Nos bares do Brasil
a cada 100 recados
de guardanapo
57 são amassados
antes
de serem lidos

antes de serem lidos
antes de serem lidos
antes de serem lidos
antes de serem lidos

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Redondilha Maior

Sou o que sou, por inteiro
e acredito que me expresso
dum jeito mais verdadeiro
se pelo verso me meço

Sou do tipo poeteiro
que mesmo quando converso
vou escandindo o letreiro
poético que estou imerso

São minhas métricas escravas
as cartas dum palacete

São palavras pouco sábias
que poeto pra cacete

São minhas sete sílabas
o mais redondo banquete

sábado, 11 de janeiro de 2014

A Menina Mariposa

A Menina Mariposa
só vê num verso qualquer
um espelho que desposa
sua vaidade de mulher

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Menina-raposa

Menina-raposa
seu corpo de flor
espinho e rosa
em perfume e cor

Menina-raposa
lhe sorvo o suor
de garoa nova
em tom sonhador

Menina-raposa
lhe provo o sabor
que tanto nos goza
em prazer e dor

Menina-raposa
sou seu caçador
de verso e de prosa
pecado e pudor






quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Balada

Lhe tomo num trago
de doce absinto
é forte o afago
da fome que sinto.

Lhe traço num rasgo
do quarto bonito
e quero num rastro
sorver o seu grito

Lhe faço calada
na palma da mão
e ponho de quatro
por puro tesão

Sou doce cilada
pro seu coração
um belo retrato
de vil perversão

Eu não peço nada
nem mesmo perdão,
lhe pego num ato
e devoro então

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Maresia

Lucas C. Lisboa

Imagina se eu fosse um pirata
e seu quarto navio todo cheio
de riquezas bem mais que ouro e prata
por apenas ter você no meio

lhe darei cantos e serenatas
se for minha sereia de cachos
com perfume do oceano e fragatas
entre os mastros as velas e laços

pelas cordas içadas ao vento
com seu corpo sutilmente preso
minha bela que faço de porto

para todos desejos imensos
que transborda até o mar onde rezo
o meu terço e cântico torto

sábado, 19 de outubro de 2013

Pescador de Palavras

Pai, quando você
subia pra pescar
no alto amazonas

Sonhava eu co'as águas
negras e barrentas
que não misturavam
ao se encontrar

Você prometia
que ia me levar
junto se eu ficasse
maior que você

Mas não me levou
até o solimões
e nem mesmo no
baixo Pantanal

Foi no Velho Chico
e no Rio das Velhas
que pescamos juntos

Me esquecia do anzol
confundia as linhas
mas tinha bem sorte
de principiante

Paciência nunca
tive muita e o papo
valia sempre o barco

Moro hoje no Rio
de Janeiro mas na
minha poesia
cabem versos mil

Até mesmo aqueles
de amor guardados
bem na sua gaveta

Eu pesco palavras
tal pescou jaús
com sabor de estórias
e algo de aventura

Paciente deixo
o verso chegar
mordendo meu metro

Puxando forte a linha
perfazendo rimas
embolando estrofes
na poesia turva

Ainda quero ouvir
o esturro duma onça
no meio do mato

Pra saber se o medo
que eu sentia quando
pequeno lhe ouvia
contar é esse mesmo

Mas quero também
ver todo seus versos
sairem da gaveta

Tal fossem cardume
grande de curimbas
tomando o rio todo
em versos e prosas

Pai, vamos pescar
peixes e palavras
nessa mesma linha?

Azul

São cinco estrelas no peito
e mais onze nos gramados
juntos, o time perfeito
que nem todo céu estrelado

brilha mais e desse jeito
pelos estádios e estados
ofuscam velhos eleitos
já depostos no relvado

Meu cruzeiro cruza os campos
dos mais belos horizontes
das minhas minas gerais

O Brasil de canto a canto
já nos vê como gigantes
destronando até os globais!

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

do caráter poético das ruas.

A minha poesia
é sempre e sempre
foi do tipo vadia

E se estende bem em
qualquer corda de varal
e até no fio do fio dental

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

de caráter

Desde sempre defensor
dos frascos e comprimidos
comunista , feminista
e também botafoguense

Sobre trilhos

um pouco de fama e cédulas
são só cereja no bolo 
os sorrisos e as moedas
é que dão vida ao poeta

Não era como se dizia

A doce mocinha era de uma alma tão cândida, que quando pela primeira vez se deitou, não se fez ao leito um caudaloso rio rubro como lhe aterrorizaram a mãe, as tias, as avós e até mesmo as primas mais velhas. Tudo que se viu entre os tecidos de brancura impecável eram pequenas gotículas de um vermelho-quase-rosa.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Urbanização Infantil

-Menino, desce que eu vou lhe dar o Ipad para você jogar! - disse a mãe toda persuasiva
-Mas mãe, eu quero brincar aqui fora.
-Desce! Desce agora! - respondeu ela sem a menor paciência.

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Com quantos pau-brasil se faz uma vanguarda?

Tome oh musa Liberdade
um gole de vinho escocês
uma taça de cerveja russa

só não me abusa
do azeite francês
ou da comida inglesa

Experimenta urucum na cara
tapioca na tigela

Te quero mameluca
filha do boto
minha meretriz cabocla

Oh musa Liberdade
se deita comigo
não como espelho italiano
mas como olho d'água
que reflete o canto de Iara

Quero ser vitória régia
e não só a última flor do Lácio

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

meu pássaro meu

meu pássaro meu
não sou julieta
nem você romeu

sou vontade louca
da cor do marfim
que a fome desfruta
tal suave cetim

vem beber comigo
um gole de vinho
serei pão e trigo
em cada cadinho

meu pássaro meu
não sou julieta
nem você romeu

sou menina pura
vem fazer-me assim
presa mas com luta
de querer-lhe enfim

vem correr perigo
sem luz no caminho
sou seu mais antigo
desejo quentinho

meu pássaro meu
não sou julieta
nem você romeu

sou doce sou fruta
vem provar de mim
em suave labuta
de não dizer sim

vem beber comigo
um gole de vinho
serei pão e trigo
em cada cadinho

meu pássaro meu
não sou julieta
nem você romeu

sou quem sempre escuta
Vem contar pra mim
toda vida injusta
que não tem mais fim

vem ser meu amigo
não fique sozinho
sou seu novo abrigo
um seguro ninho

meu pássaro meu
não sou julieta
nem você romeu

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Deu na televisão

Se não for do carro queimado
irão falar do banco quebrado
Se não for do banco quebrado, 
irão falar do trânsito parado, 
Se não for do trânsito parado 
irão falar do lixo deixado
Se não for do lixo deixado
irão falar do festejo estragado
Se não for do festejo estragado
irão falar do vizinho incomodado...

Se não incomodar a ninguém
não é protesto não é nada 
é só um bando dizendo seu amém
uma matilha pela mídia amestrada!

domingo, 14 de julho de 2013

Baratas de Copacabana

Se essa conta vou ter que pagar
pra essa festa ja tenho meu par:
levo cara de pau e as mãos nuas
pra dizer Não pras suas falcatruas!

Vinte centavos ou Caviar?
escolha o lado que vai ficar
são centenas que tomam as ruas
gritam verdades óbvias e cruas.

Você pode me atirar dinheiro
com o qual suborna os militares
mas ele não cala o mundo inteiro!

Você pode me atirar cinzeiro
o sangue de um mexe com milhares
porque de fumaça já estou cheio!

terça-feira, 9 de julho de 2013

Insônia

Quem nunca dormiu
nas últimas décadas
não pôde fechar
os olhos pra quem
não tinha pão cama
remédio e escola

Agora se assusta
sendo eles de vândalos
pichados em rede
nacional em prol
do transnacional
capital que explora

Quem esteve insône
vigiou o sono
dos micro burgueses
que por seu conforto
em berço esplêndido
nunca se mexeram

Agora se assusta
com esses sonâmbulos
que gritam facismos
e queimam bandeiras
querendo escrever
leis sem saber ler

Quem sempre lutou
não pelo pais
mas pelo seu povo
queria ficar
feliz co'esse novo
e forte aliado

Agora vê cordas
que de novo tentam
manipular todos
com a mesma velha
mídia com suas cartas
marcadas e arcaicas

Quem nunca fechou
olhos não será
por  spray, bombas,
manipulações
logo adormecido
por vinte centavos

Vândalo

Quero quebrar essas regras
subverter essas medidas
e brincar de cabra-cega
com as normas esquecidas

Quero brindar com as pregas
das verdades carcomidas
dum modernismo que afaga
ideias pré concebidas

O metro não é vilão
nem mata a criatividade
dum poeta verdadeiro

É desafio de montão
pra quem tem necessidade
de inovar o tempo inteiro

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Vidraças valem mais que Vidas

"Médici! Médici! Médici!" Eu gritava no meio das ruas do Rio de Janeiro, com o pulso balançando no ar. Ao meu lado três caras de bandeiras verde-amarelas me acompanharam sem exitar. Os mesmos três que segundos antes estavam gritando "Dilma sua puta" "Fora Dilma" e outras coisas assim. Eles demoraram alguns segundos até perceber o que estavam gritando puxados por mim. E esse momento marcou o que eu vi do protesto, um gigante sonâmbulo, que sob a máscara do apartidarismo rompeu seu despertar de quem tentava acordá-lo há muito tempo para se deixar manipular pelos fios sutis de outros partidos que preferem não mostrar a sua face. 

Outros tantos de verde-amarelo apartidários também seguiram os brados que saiam dos trios elétricos contratados por alguém que não se deu o nome mas que pelo discurso claramente tinha um partido político bem específico que acreditava e defendia. Os gritos puxados transforam o movimento legítimo do Passe Livre numa massa amorfa que misturava elementos de patriotismo ufanista, politicamente correto e flertes perigosos com um golpe. Eram tantos e tantos os gritos vazios de sentido e significado, causas enormes e intangíveis não havia mais uma pauta, um objetivo claro traçado.

Brandavam contra a corrupção, mas do carro de som não se falava qual, como e onde! Como se a corrupção fosse uma entidade personificada algo que pudéssemos jogar uma pedra. Brandar contra a corrupção é como passeatas pela paz, belíssimo porém completamente inócuo. É preciso de uma agenda direta, concreta específica. E preciso combater a corrupção? Sem sombra de dúvida! A corrupção foi o azeite que engrenou nossas engrenagens da política nacional em tantos momentos que me assombra a facilidade com que o carro de som só se lembrou do Mensalão de Brasília e se esqueceu completamente do Mineiro, da privatização em massa das empresas brasileiras por preços risíveis e outros tantos casos emblemáticos. 

Um protesto apartidário que deliberadamente escolhe atacar apenas um ou outro partido? Faça-me rir! O apartidarismo é uma falácia, um engodo. Todos tomamos partido, todos defendemos uma ideologia. Podemos até não ter consciência disso e bradar ser apartidário, mas na realidade seu discurso e seus atos defendem sim os interesses de algum partido. Ao quebrarem a bandeira dos partidos vermelhos conseguiram favorecer imediatamente os azuis. Conseguiram rezar pela cartilha dos anos de chumbo e ressuscitaram sabe-se lá com que miopia política o comando de caça aos comunistas. 

Além disso tudo haviam os vândalos, os baderneiros. Aqueles cujo os atos não são alvos dos apartidários de verde amarelo pois não possuem uma bandeira para quebrar, não possuem um cartaz para ser rasgado. Mas são alvos de cassetetes, bombas e tiros. São o grupo que abriu caminho em direção a prefeitura, ao maracanã, a visibilidade internacional. Armados com  pedras ameaçavam fortemente o patrimônio privado, pois num país dominado pelo lobby de empresas o que chamamos de público é só uma farsa os donos, de fato, não somos nós. Essa incrível ameaça a umas vidraças garantiu uma ponderada ação da polícia de jogar gás lacrimogêneo num grupo singelo de 2 milhões de pessoas, a maior parte sem o costume de participar de manifestações, causando pânico generalizado num risco a suas vidas.

Quem controla de fato essa polícia? A quem interessaria uma tragédia envolvendo 2 milhões de classe média de suado labor? Mais uma vez há cordões invisíveis que só não tem nome para quem não quer acreditar no óbvio manipulando toda essa situação . O Golpismo ronda novamente a América Latina atingido primeiro os paises centro-americanos e chegando até nosso vizinho Paraguai o mesmíssimo processo que aconteceu há cinco décadas. O mesmo clamor anti-corrupção amorfo, o mesmo exército insatisfeito, o mesmo "apartidarismo", a mesma perseguição aos "comunistas". Tomemos cuidado pois o gigante sonâmbulo pode não estar acordando sozinho. Pode facilmente cair novamente nos cordões de aço de um Golpe que dessa vez será muito mais midiático.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Poeticamente sádico

amarro bem os meus versos
e tolho cada palavra
que avulsa vira escrava
de meus desejos perversos

gosto quando a rima crava
na carne ímpetos imersos
em tara,  desvios diversos
e doce perversão rara

com voz doce e macia
teço bem uma ilusão
de que a corda acaricia

pelas linhas da escansão
geme cada poesia
e se encadeia o tesão

terça-feira, 18 de junho de 2013

Protesto com Vinagre e Lágrimas

Não, não é apenas por vinte centavos
ou "só" pelo direito de ir e vir
É por tudo que nos faz os escravos
duma seleta elite ainda a sorrir

Oito horas de trabalho por salários
que se fossem piada fariam rir
Enlatados, viajamos num calvário
diário pro sustento garantir

Sabe quanto que vale meu vintém?
Vale muito mais do que seu valor
corrente, monetário e absoluto...

Vale o dever de não dizer amém
prum bando de bandido sem pudor
que trajando ternos mentem absurdos!


segunda-feira, 3 de junho de 2013

cabelos, roupas e unhas de feriado em casa

Segredo não me sento no metrô
não quando é com meu comum leitor
Livretos somente entrego e recolho
Mantendo meu sorriso de olho a olho

Vagos vagões e céu de malumor
mas tinha ela num sorriso encantador
e tímido que obrigou meu desfolho
dos meus livretos com pesar e orgulho

Eu ouso - posso sentar? - Ela ri
esquecido falamos de livros
dos cursos, quadrinhos e poesia

Se dos nomes na língua esqueci
não me apagou os seus modos tão vivos,
seu doce desleixo que seduzia...

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Capataz


Minha mucama mulata
me beija os pés lavados
com rosas e serenatas
que abençoa meus pisados

Tem nos olhos de gata
travessuras, requebrados
e uma malicia exata
dum feito mais que safado

Que ninguém jamais me acuda
da  língua em meus ouvidos
que pra cama logo puxa

Que me importa se ela ajuda
uns tantos negros fugidos
debaixo de minha fuça?

terça-feira, 23 de abril de 2013

Como fazer um soneto


Compor sonetos bons não tem mistério
é só alinhar os tons, ritmo e  rima
o assunto pode ser jocoso ou sério
o bom poeta faz seu próprio clima

Não não me faz essa cara de velório
vício de sonetar não tem vacina
Me instiga que começo o falatório
de metro, forma assim que me alucina

Escolha qualquer tema que quiser
e com os decassílabos me faça
um poema que dá gosto de ler

redondilhas também tem a sua graça
e são daquelas fáceis de fazer
se nessa arte você é novo na praça

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Coroa de Sonetos de Amor - I

Moça bonita me faz seu amor
com seu beijo todinho para mim
mas não fique vermelha de pudor
pois dai minha fome não tem fim

Eu quero sua saliva e seu suor
na minha língua e boca bem assim
sabe como ficar ainda melhor?
se me amar também cada pedacim

Que mais quero é suas mãos tão famintas
ávidas, curiosas e atrevidas
me tocando e mostrando seu querer

Beije vai, cada uma de minhas pintas
em meu corpo e lhes chame de queridas
sabendo onde estão sem sequer lhes ver

Coroa de Sonetos de Amor - II

Sabendo onde estão sem sequer lhes ver
é assim que lido com todos meus medos
e nesse doce ofício de escrever
sem revelar desvelo meus segredos

Regojizo do sol em seu nascer
como quem primeiro ama os eleitos
para o primeiro amor do adolescer
com a força dos peitos apressados

Estamos nós fadados: paraíso
eis o nome da gaiola de nós dois
cujo caminho é a trilha do amor

Eis feito nosso fim o nosso guizo
Estamos cá sem antes ou depois
nesses sonhos que são da nossa cor

Coroa de Sonetos de Amor - III

Nesses sonhos que são da nossa cor
eu branquelo e você essa preta linda
seu beijo caramelo o meu quitanda
você alvorada e Eu sou sol-se-pôr

E na minha sua boca é bem vinda
com a suavidade ou vigor
eu gosto de sua lingua com fulgor
que saborosamente vem e brinda

O roçar de seus cabelos em meu peito
tal cobras que deslizam pela presa
são meio passo pra me enlouquecer

Navegamos juntos em nosso leito
a nossa fome é rio sem represa
o que nunca jamais vamos perder

Coroa de Sonetos de Amor - IV

O que nunca jamais vamos perder
são as lembranças que guardamos
dos momentos de doce padecer
entre os lençóis que juntos nos amamos

Lembre também que já fomos foder
e pra isso nossos pais nós enganamos
dois jovens assim a tarde a meter
e mentindo dizendo que estudamos

"Menina estudiosa" o pai dizia
e nós dois explorando a anatomia
de nossos corpos: puro despudor!

latim, derivações das matemáticas
e entalpia das físicas sistemáticas
eternidades são de um só calor

Coroa de Sonetos de Amor - V

Eternidades são de um só calor
que deixam marcas sutis na pele
nos lábios, nos olhos, no sabor
que me prova na força que me fere

Inebria-me todo esse rubor
de quando seu chicote bem adere
na carne num prazer de doce dor
fazendo que meu gozo se rebele

Mas se depois do gozo vem meu pranto
não será de tristeza meu doce amo
mas sim de assim poder sempre viver

Você, meu amado, belo e puro encanto
permite até o deleite que mais amo
de sua face na minha padecer

Coroa de Sonetos de Amor - VI

de sua face na minha padecer
o sorriso de nossos dias felizes
pois não, não é o que clama meu querer
que fincou em você longas raízes

Nosso amor clama a cama pode ver
nossas brigas e fodas tem matizes
exatamente opostas pra se manter
mesmo sendo você Apolo e eu Isis

Odeio nosso amor que me devora
não fique nem fuja faz parte de mim
Não lhe quero mais, mas vou pra onde for

Corpo: sim! Mente: não! e o peito chora
não, não me abraça quero um basta um fim
quero seu beijo com fogo e fulgor