Publicação em destaque
Poeta e apenas poeta
Já me olharam espantados quando digo que sou poeta e só poeta. Que não canto, nem danço, nem atuo, nem pinto, nem bordo, que "só" ...
sexta-feira, 31 de março de 2017
Lentamente
não mais me diz quem eu sou
muito menos porque vivo
Não tenho mais essa sorte
que do meu peito passou
só me resta um frio cativo
Não sei bem quem mais errou
e por mais que viro e revivo
não acho qualquer resposta
Tantos meses se calou,
meu lirismo tão altivo,
que de mim mesmo se desgosta
Qual verdade, qual meu crivo,
do pesadelo uma amostra
que do gosto me ressinto
Dessa sala não me livro
migalhas na mesa posta
é o q'Eu como tão faminto
Perdi o jogo, perdi a aposta
nem lavra, ouro ou quinto
me resta desse desejo
Das montanhas até a costa
acabei-me por extinto
todo gosto de meu beijo
Minhas mágoas de absinto
no meu quarto de despejo
guardo minha melhor veste
Manchada de vinho tinto
que lambo, esfrego e almejo
com toda sede do agreste
No caco d'espelho vejo
o meu sangue e minha peste
minha humilhante derrota
No embalo do realejo
mecânico e inconteste
cuja melodia me corta
Não há um deus que me ateste
que me indique a certa porta
d'esperança e acalento
Não há diabo que se preste
a me contar uma lorota
que me afaste esse lamento
Não há jardim e nem horta
onde eu colha o sacramento
ateu duma vida bela
Espinho seco, flor morta
sem horizonte no firmamento
sou nau sem mastro ou vela
Testemunho e testamento
minha herança e sequela
de coração aleijado
Desatino desatento
escondido na janela
do meu quarto rejeitado
Aqui jaz a sentinela
do anjo roto e maltratado
que quis o meu bem querer
Hoje é quadro d'aquarela
em lágrima aquarelado
me pintando sem me ver
Tento e tento ter cuidado
ao meu pranto recolher
destilado num só frasco
Suturado e retalhado
sucessivamente ser
sendo meu algoz carrasco
Venha, venha logo ver
não é ensaio de teatro
nem coroa dum infante
Meu ocaso é pra valer
sem pudor e sem recato
jaz em dois o diamante
Poema inacabado
bom, ruim, leal ou mau
ainda quero meu poema
escrito co'a linha forte
da palma de minha mão
tracejada em fino corte
Verso verseja mortal
bom, ruim, leal ou mau
Cutucando meu edema
num masoquismo de morte
voando a partir do chão
seguindo sem sul nem norte
Verso verseja mortal
bom, ruim, leal ou mau
Quero que o fio do frio trema
todo meu corpo na sorte
caída no caramulhão
um anjo d'altivo porte
Verso verseja mortal
bom, ruim, leal ou mau
a caldeira lhe queima a lenha
solta fumaça no trote
torce o torque do pistão
é tanta trata e transporte
Verso verseja mortal
bom, ruim, leal ou mau
na barca de rima rema
um cavalo de pinote
com ar puro e cara do cão
ladrando ante seu bote
quarta-feira, 15 de março de 2017
No dia seguinte
vejo seu short no meu box
decorando meu banheiro
meu riso não é botox
e sim puro e verdadeiro
sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017
Prece
quero o descalabro
de ter cada canto
de ti devastado
por mia fome e espanto
quero ungir seu rabo
com meu óleo santo
pra levar a cabo
seu orgasmo e pranto
quero lhe causar
deliciosas dores
com prazer imundo
posta em meu altar
de amarras tal flores
num jardim fecundo
domingo, 5 de fevereiro de 2017
Máxima Podolatria
ela me lambe os detalhes
dentre os dedos de meus pés
deixando-me rijo tal entalhe
com seu sexo nas marés
oceânicas de desejo
de cima abaixo até o queixo
sábado, 7 de janeiro de 2017
Lara
Fernanda Lara Máximo Cardoso
quero seu beijo e também o seu gozo
os seus cachos se encaixam nos meus cachos
e seus passos bem cabem nos meus passos
Seu corpo, coxas, lábios, nuca e dorso
me adoçam em amor, café e almoço
desenho com meus dedos os seus traços
faminto lhe ato e desato meus laços
Minha boneca minha lhe desejo
em cada cômodo de minha casa
Sala, cozinha e quarto de despejo
lhe quero leve na lufada de asa
com plumas pervertidas de meu anjo
que lhe vê febril, ardente e em brasa
domingo, 20 de novembro de 2016
quarta-feira, 2 de novembro de 2016
Desato
ante o pulso tracejado,
num deleite delicado,
deita-se em doce destino
de cordas e desatino
és minha, doce pecado
que cultivo com cuidado
de daninha dor e tino
de boneca com fita e sino
de nó em nó eu faço atado
nessse deleite enlaçado
por fitas e cordas mil
e teu olhar feminino
se espanta com meu canino
chegando em ti com ardil
sexta-feira, 30 de setembro de 2016
quarta-feira, 21 de setembro de 2016
terça-feira, 13 de setembro de 2016
vinte e seis
Sequer retrucou
a bela mocinha
quando Ele a mandou
sair sem calcinha
de vestido provou
a leve carícia
que o vento soprou
por pura malícia
Seu rosto corou
na fome que aninha
nas traves do gol
da sua bucetinha
Seu dono domou
seu ar duma anjinha
que o sino soou
barroca putinha
segunda-feira, 12 de setembro de 2016
B
por seu corpo pequenino
pois quero ver se lhe acorda
um desejo ou desatino
Se você faminta aborda
do palato ao intestino
uma vontade que não discorda
um malvado ou santino
É erótica a restrição
de seus movimentos e frêmitos
deixando-lhe à mercê
É erótica a escansão
nos lugares mais sedentos
que são parte de você
D
tenho seu controle exato
de lhe fazer abanar
seu rabo para me dar
Faz pose, fica de quatro
q'eu pego chego e lhe engato
o tapa de avermelhar
as nádegas em seu par
É minha caso se deite
ou levante de revés
com minhas ordens amando
S
sua submissão satisfaz
por essa dor em seu reto
jeito de ser tão mordaz
Você meu verme abjeto
que sua dor tanto me apraz
É no seu parco intelecto
que acha a desculpa eficaz
Mamilos e pregadores
fazem santa dualidade
que me abrem bem o apetite
Por essa e mais tantas dores
que só suporta por vaidade
do meu sádico requinte
M
sua perversão me conquista
como pode ter prazer
com tal tão estranho querer
Sequer preciso que insista
maltratar-lhe tá na lista
do que gosto de fazer
pra mais e mais perverter
Essa sanha louca sua
de sentir a dor profana
que enfim posso lhe causar
num rasgo deixar-lhe nua
para toda minha gana
de bem lhe chicotear
sábado, 10 de setembro de 2016
Sorria às onze
eu sei que sente saudades
das piadas de minha boca
sei que tem as suas vontades
de matar sua sede louca
tenho essas calamidades
belas, sussurradas roucas
que renegam suas vaidades
e lhe dão as carnes poucas
dos amores não há razão
que chega lado a lado
com o peito apaixonado
moça que firme diz que não
mas que guarda meu retrato
na parede do seu quarto
sexta-feira, 9 de setembro de 2016
Bobagem
Eu queria poder gritar,
mas dizem que não convém
Eu queria poder berrar,
mas não me vale um vintém
Não tenho peito de mar
sequer sei dizer amém
Não tenho olhos de ar
pelo tanto quanto além
Cabisbaixo quem procura
no bem claro o que perdeu
no mais que profundo breu
Não é poema, é loucura
reza forte dum ateu
que incrédulo se benzeu
segunda-feira, 1 de agosto de 2016
segunda-feira, 25 de julho de 2016
delicado equilibrio
Há pobres com seus milhões
e ricos que vivem de esmola
doutores tendo lições
com sabidos sem escola
Há machos bem grandalhões
mostrando como rebola
E moças com mais culhões
que deixam homens na sola
Pois nessa vida nessa terra
veja bem, nada parece
com o que realmente se é
Quando acerta que se erra
na clara luz que anoitece
na mais puro cabaré
sábado, 9 de julho de 2016
Bilhete
em meu quarto cento e sete
o desejo de seu carinho
que mais e mais se repete
Cárcere
que me segura do malfeito pronto
do desatino em forma e conteúdo
riso e choro alternados em seu tanto
Eu tenho cá comigo um mal profundo
que não se cura com reza nem canto
sou, em suma, sujeito mais imundo
que jamais pisou em qualquer recanto
Eu queria meu fim finalmente
mas tenho apenas muros que me cercam
cuidadores amáveis que torturam
Trancado, louco ou demente
Dopado, rijo, frio que me secam
então morro com que os outros se curam
sexta-feira, 8 de julho de 2016
Sanatório
São vinte horas, é troca de turno
e a enfermeira Bela, seu jaleco
despe enquanto no quarto soturno
ele lhe tira mais c'o intelecto
Nua na cama tem um sonho noturno
do poeta que lhe queima e molha o nexo
e lhe leva de Vênus a Saturno
entre dor e gemido no mesmo eco
Com seu nome aos lábios assustada
acorda como se um beijo profundo
houvessem lhe roubado essa noite
Mas o beijo veio por Morgana a fada
que compadeceu do poeta imundo
de coração bom entre um e outro açoite
domingo, 3 de julho de 2016
Sextilha para FLIP
Pois queria eu estar em Paraty
mas demasiado cedo é para mim
ir onde as pedras lembram-me de ti
dos dias felizes que agora, enfim,
me doem por ser verão curto no inverno
que hoje aqui me abraça como eterno
quarta-feira, 29 de junho de 2016
Ressaca de mar
e depois tento
uma vez mais
guardo meus ais
Então lamento
o meu rebento
morto sem paz
navio sem cais
Eu nunca soube
me dar um fim
como um presente
Ou que me roube
meu camarim
de peça ausente
domingo, 26 de junho de 2016
sábado, 25 de junho de 2016
Virtuosismo
Eu sou tão viciado nisso
que mesmo no nosso chat
meu rimar eu não enguiço
numa salada de abacate
sexta-feira, 24 de junho de 2016
Adeus ,
como quem pede socorro
mas é por muito orgulhoso
de pedir um gesto morno
pra paz d'eu desventuroso
como quem diz num sussurro
do amor que grita estrondoso
em seu coração escuro
que teme seu próprio gozo
meu pé esquerdo ainda dói
pelo pulo da janela
do meu quarto num domingo
tanta culpa me corrói
pela lambança e esparrela
que fiz com tudo que sinto
quinta-feira, 23 de junho de 2016
Biográfico trinta
Sou, eu, verme inconformado
contrafeito querubim
d'arco e flecha despojado
maçã de gosto ruim
Mão perna e pé aprisionado
sob a pena de Aladim
de querer certo e errado
pelo não é pelo sim
Meu peito despedaçado
sem pó de pirim pim pim
tecido grosso rasgado
costurado com cetim
Deixo meu grito calado
quero ir embora de mim
não me quero nem assado
e muito menos assim
quarta-feira, 22 de junho de 2016
Trova quarenta e cinco para meia noite
Deixo meu grito calado
quero ir embora de mim
não me quero nem assado
e muito menos assim
sexta-feira, 17 de junho de 2016
Iminente
Então você anima
Fazer poema-repente
Um gole por rima
de fina aguardente
Não se subestima
a língua vidente
Que se desatina
no verso excelente
Vamos num clima
pra lá de excelente
Que não subestima
esse desejo latente
Parte masculina
que jaz eloquente
Parte feminina
faminta, saliente
terça-feira, 7 de junho de 2016
Quarenta e sete minutos
é o ponto exato que eu iria se nisso
eu de fato pudesse crer tranqüilo
sem chance de galhofas ou mil risos
Tranço e destranço as cordas do suicídio
como quem reza as contas de seu terço
que é, até pra ele, macabro e bem ridículo
e cada nó me vale um pé de verso
Pois não vou me orgulhar de ser ateu
você que tem um deus é mais astuto
tem um ser imaginário pra brincar
O que vai me esperar é só um breu
Em um nada tão calmo, absoluto
que da música não posso reclamar
domingo, 5 de junho de 2016
Sinto
segurando firme na alça do caixão
cada um vai segurando do seu jeito
conforme dói a culpa do seu peito
"Meus amigos, Amigos, pronde vão?"
bebê-lo tristes pois fomos em vão
cada qual tem nas lágrimas ao leito
seu conforto cruel e contrafeito
Que vai na paz das pás de terra fria
descem, caem, escorrem tantas lágrimas
bem guardadas da chuva e seu clichê
Mas as nuvens são hoje fugidias
com Sol e Rouxinol na mesma lama
e na aba do caixão gruda o chiclete
quinta-feira, 2 de junho de 2016
Fortuna
olhe meus olhos brilhantes
Tudo que fez é passado
mil lábios são o bastante?
Nem carinho nem cuidado
são segundos prum instante
Nem vinho nem destilado
calariam esse amante
Por gosto faço-me torto
de toda sorte me livro
troco verso por concreto
Nem sei se quero teu corpo
e menos quero teu crivo
não, não sou o que deu certo
terça-feira, 26 de abril de 2016
Para fins de registro e catalogação
derreter até o tipográfico
que imprimiu no nosso sexo
e traficou nosso gozo
Quero rasurar a nota
onde gravei meus segredos
e a ficha catalográfica
hei de sumir nas estantes
Quero que reste só pó
da poesia que matamos
sem rima ou chave de ouro
Ser praga de biblioteca
comer, devorar, tal traça
capa, miolo e contra capa
Fiel
quis ou de você pedi
pelo tempo de hora longa
que não contei ou medi
terça-feira, 12 de abril de 2016
terça-feira, 5 de abril de 2016
#SaraPintado
com meus olhos tristes
e livreto leve
a poesia segue
entre tantos mestres
que são aprendizes
pra dias mais felizes
segunda-feira, 28 de março de 2016
Cinco ou seis badaladas
Ducha fria de manhã
pode espantar pesadelos?
Até que me revigora
mas não me faz esquecê-los
segunda-feira, 14 de março de 2016
Pornochanchada para
Lhe digo, não é cilada
ela quer tapa na cara
quer na goela esporrada
É tão pura e doce Lara
quando tá muito inspirada
cheia de sanha e tara
Lhe faço logo a charada
me diga com quanta vara
pica, pau ou caralhada
se satisfaz uma Sara
pois só goza com porrada
que começa e nunca para
Lhe digo, não é errada
quando ela repete, fala
quer muito mais pirocada
que tem muita fome a Clara
na cama nua depilada
geme, grita e escancara
Lhe faço logo a piada
sobre o que será que sara
depois duma chicotada
na bela bunda de Nara
fica roxa, avermelhada
que de quatro se prepara
sexta-feira, 11 de março de 2016
quinta-feira, 10 de março de 2016
Celerado
Os meus versos desgraçados
não surgem dum elogio
duma alegria em seu cio
mas do choro derramado
Eu que jamais me sacio
tenho um peito carregado
de desejos afogados
nas lágrimas quando rio
Cada verso desalmado
é chuva no meu estio
mamilo que acaricio
num momento emprazerado
Sou errado, vil e vadio
um pedaço mal calculado
perverso desmascarado
que faz dos erros seu fetio
Do mais feio, torto ou errado
ganho um abraço macio
pois deles sou fogo e frio
sou príncipe dos celerados
quarta-feira, 9 de março de 2016
Venenos noturnos
Tem certas coisas
que não terminam
quando se acabam
Tem velharias
que ficam noivas
das agonias
tem os seus fins
no meio do começo
Maltratando os rins
Tem culpa de berço
erva no jardim
E salgado preço
sábado, 5 de março de 2016
Não
Não sei se quero
conversar sério
um tema amargo
tomando trago
Não sei se devo
acordar cedo
depois da insônia
e da vergonha
Não sei se posso
por no pescoço
a mesma corda
que não me acorda
Não sei se dura
minha tortura
no mesmo prego
que bem me esfrego
quarta-feira, 2 de março de 2016
De vestido
Tapa, gemido, escarcéu
lembranças duma conquista.
Serão roxos o troféu
para uma boa masoquista?
terça-feira, 1 de março de 2016
Primeiro de março
Rio de Janeiro em festa
para meu aniversário
na janela pela fresta
vejo apenas o operário
pela chuva castigado
justo nesse feriado
Conserta o que os salafrários
que tão bem tem estragado
com seus régios honorários
e cargos comissionados
fazendo a gente de besta
de segunda até na sexta
Então anoitece sábado
e já não há quem resista
a dançar junto colado
patrão e empregado na pista
sem ver pompa ou salário
domingo é dia de baralho
terça-feira, 23 de fevereiro de 2016
Atropelamento e fuga
Não me pergunte porquê
Recuse limitações
Venha vamos dar rolê
Nas rodas dos caminhões
domingo, 7 de fevereiro de 2016
Meu caro sanguessuga
terça-feira, 2 de fevereiro de 2016
Sabor semelhante
Ducha molhando meu rosto
E a água que cai nos meus lábios
Não é salobra de mar
Mas dum copioso chorar
O que não vejo
seu falso querer
eu tenho meu medo
medo de você
Seu falso enredo
de me dizer
que lhe trago azedo
no fel de você
desço sem mais lágrimas
e sem mais soluço
do fim ao princípio
entre minhas lástimas
sequer um impulso
para meu precipício
terça-feira, 26 de janeiro de 2016
Dos delírios e deleites
os seios da moça amada
com seu sêmen e saliva
ansioso por sua florada
de lírios e copos de leite
Das coisas
mais fora de hora e de lugar:
-Carne de soja em churrasco
-Retiro espiritual
na sexta de carnaval
segunda-feira, 25 de janeiro de 2016
Incêndio
co'as bocas, bicos, trombas e suas patas
um tanto qualquer d'água para essas matas
que nas chamas do incêndio já queimava
O lobo, sentado, seu vento tragava
usando de suas forças mais inatas
a procurar aquelas almas rotas
que tudo novamente incendiava
As feras atarantadas julgavam:
ele parado, sem nada ajudar!
"Que ser mais egoísta!" - murmuravam
não o viram sorrateiro a circundar...
Pois quando as brasas altas crepitavam
com fome de homens se pôs a caçar.
Quadras calculadas
é saber que verso
não é aritmética
mas da prosa o perverso
*
prum ouvido certo
versificação
é medida de metro
sem regulação
*
dentro duma métrica
cabe o não pensado
duma frase cética
num texto sagrado
*
o poeta escande
como alguém que canta
e não como quem conta
moedas e as esconde
terça-feira, 12 de janeiro de 2016
à luz da Lamparina
O narrador da lamparina, o livro de contos e histórias fantásticas, os romances, as epopeias, e as notícias do jornal impresso cada vez mais são substituídas por narrativas apinhadas de sons e imagens que provam e comprovam sua forma como indissolúvel, pronta e acabada. Quadro a quadro em movimento, narrado e articulado sem deixar espaço para que o receptor inclua ali sua perspectiva, sua ótica. Cada mensagem acompanhada de todo um aparato imagético comprova sua veracidade indiscutível, é pois as imagens não mentem.
Num mundo imagético, onde tudo é movimento, fala, som e imagem. Num mundo onde toda informação é dada como pronta, acabada. O ato da Literatura, per si, sem outro suporte que não a escrita é um ato político. A poesia escrita e lida é avisa rara na contemporaneidade. É uma arte incompleta em sua produção pois depende sempre do leitor para ter seu som e imagem concebidos.
segunda-feira, 11 de janeiro de 2016
domingo, 27 de dezembro de 2015
quinta-feira, 24 de dezembro de 2015
Tropa Natalina
pelo sertão derradeiro
das muitas minas gerais,
bem longe das capitais
guiando burros em tropa
e com cavalo que trota!
Mula madrinha enfeitada
por muito chão, muita estrada
levava o comércio de ouro
dentro do embornal de couro
dos garimpos até os roçados
era ele muito aguardado
Trocou tropa pelo trem
e ao progresso disse amem
quando a ferrovia chegou
e novamente se inventou
pois dentro do seu vagão
todo, arroz, milho, feijão
Ele mesmo compraria
para vender lá na Bahia
e de lá vinha descendo
com o seu vagão trazendo
perfumes, panos, tecidos,
remédios e mil artigos
Por anos indo e vindo
fez ele seus dividendos
Casado com Terezinha
fizeram na vilazinha
seu comércio e pensão,
a maior da região.
Com a casa logo erguida
já quiseram em seguida
uma professora pra lá
para contas e beabá
ensinar pela primeira
vez para essa vila inteira
Nem tudo foi belo e bom
e num grito fora do tom
vieram os tiros de canhão
e trem, vagão e estação
já não existiam tais
e mudou-se uma vez mais
De Alfredo Graça pegaram
o último trem e pararam
na cidade de Teofilo Otoni
e eles sofreram ali
a triste separação
em nome da educação
De todos os seus filhos
Natalino foi nos trilhos
de volta para a fazenda
de seus pais numa contenda
lá para as margens do Rio
Setúbal num desafio
Feira Natalina
Seu Natalino montava
o seu cavalo Rosi
que já sabia pra onde ir:
de Santa Cruz, sua fazenda
até a feira buscar a renda.
Na vila do Jenipapo
era a feira de trapo,
rapadura, porco, pinga,
panela, couve, moringa,
linguiça, milho, feijão,
gado, queijo e requeijão....
Natalino bom mascate
na feira dava arremate
nas pagas e encomendas
que faziam pra sua moenda
de rapadura e cachaça
enquanto andava na praça.
Anotava, em prosa lenta,
num papel de letra atenta
uma nova e boa encomenda
Parava e resolvia a contenda
dum filho querendo comer
queijo e groselha beber
De passada lenta e aberta
andava como quem acerta
na sorte fazendo o que gosta
vivendo e vendendo a roça
que cuidava com carinho
tal pássaro do seu ninho
Essa vila orgulho lhe dava
quem dissesse não errava
do mercado até a Igreja
tinha da sua bemfazeja
cada rua cada calçada
fez com esmero de morada
Mas não fez sozinho é certo
tinha amigos bem diletos
com quem andava e proseava
e até versos declamava
histórias de assombração
e também de lampião
De boa prosa e jeito calmo
foi delegado da região
de Araçuai, Jenipapo,
de Machados, Badaró,
até Córrego das Velhas,
Berilo e também Chapada
Era um delegado diferente
desses tipos boa gente
não mandava prender
se dava pra resolver
com conversa, com conselho
via no outro sempre um espelho
Seus olhos azuis sérios
de contador de mistérios
de troças, de escalabros
de piadas e de causos
um mundo se emocionavam
quando seus filhos chegavam
Pois estudavam bem longe
Araçuai, Teofilo Otoni
e também Belo Horizonte
mas nas férias iam pra feira
nos burros e na traseira
do seu cavalo Rosi
quarta-feira, 23 de dezembro de 2015
Flâmula
quinta-feira, 10 de dezembro de 2015
Lama
De vida, de morte
de jornada breve
Com acaso, sorte
e meu peso leve
De fome, banquete
natural, urbano,
selva, palacete,
animal e humano
Sou chama sou brisa
pra tudo que me
refresca e atiça
Sou terra sou água
pra tudo que me
soterra e deságua
terça-feira, 8 de dezembro de 2015
sexta-feira, 4 de dezembro de 2015
Ela
Nos enredos já se atira
nos medos sequer respira
pois me inspira seus segredos
quando pira em meus dedos
sábado, 28 de novembro de 2015
Carnavalescer
Pois se nós, reles mortais
ainda estamos em janeiro,
dezembro, junho ou mais
tristes por um ano inteiro
entre seus risos e ais
Ele bem tá em fevereiro
e vive seus carnavais
roda de samba e pandeiro
cariocando muito mais
que eu ou outro brasileiro
Pois se nós, reles mortais
vamos depois dum dia inteiro
contentes pros triviais
botecos de bom mineiro
dessas e doutras gerais
Ele, samba derradeiro
em tão doces festivais
pois no Rio de Janeiro
se carnavalece mais
de março até fevereiro
puxando papo
pedindo ixqueiro
numa ixquina
fazendo ixcola
ficando em paix
segunda-feira, 16 de novembro de 2015
Lágrima
segunda-feira, 2 de novembro de 2015
sexta-feira, 30 de outubro de 2015
quinta-feira, 22 de outubro de 2015
Before Honeymoon
It's very good
I'ts very fun
We have a new mood
to eat bubble gum
It's very good
I'ts very fun
He is my favorite food
and my sauce is his cum
In the last afternoon
with kisses and bites
me and my husband
play hard in bedrom
and it sounds like
the best house band
quarta-feira, 14 de outubro de 2015
Oitava do Regojizo
Gorgogeando galante
a grande glande de Glad
se degladia co'a garganta
gulosa da gorda Glória
se golfando nos galopes
da grande glande de Glad
que ginga gostosamente
e goza grosso e gostoso
domingo, 11 de outubro de 2015
Oitava do Verso da Moeda
de tão sorridentes moças
Antes esquecido nos bolsos
de tão sonhadores moços
O metal, enfileirado,
bem contado e recontado
Guarda verdade secreta:
pois paga o pão do poeta.
quinta-feira, 8 de outubro de 2015
Coronel
Guarda com muito orgulho sua farda do lado
da cama, paga com soldo, mas sem o saldo
de sangue, do vil golpe de sessenta e quatro.
Mineiro, nasceu negro, no ano vinte e cinco
do século passado, soube que era odiado:
pela pele, tamanho e pela cara dura
de defender o voto colocado na urna!
Vê com desgosto, quase que com um desdém,
o jovem cabo, malfa(r)dado que enganado
de joelhos, ao golpe, reza seu amem...
Mal sabe ele que é só dormente para o trem
de empresários e generais endinheirados
e seu soldo... é pouco, amargo e não cai bem.