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Poeta e apenas poeta

Já me olharam espantados quando digo que sou poeta e só poeta. Que não canto, nem danço, nem atuo, nem pinto, nem bordo, que "só" ...

quinta-feira, 27 de outubro de 2022

Alusivo

Ah ela, a tal língua 
que lhe lambeu 
loucas maledicências 
de loucuras, malfeitos, 
malfados e maldades

Ela, língua, logrou 
eloquente êxito
e meu lirismo 
está de luto

Não lhe olharei linda
meus olhos são lágrimas
cada cheiro cada palavra
de seus lábios vermelhos 

censuro meu verso
censuro os sonhos
vejo os demônios
que nos deram 
num buquê de flores
é primavera!

Você reluz
meu amor
meu gesto
meu ato
mas não
não mais
nada

quinta-feira, 20 de outubro de 2022

Também é poesia

Quanta angústia cabe
dentro dum poema
Cada dor num verso
Cada drama numa estrofe

Mas o quanto de verdade
Eu lhe confesso em verso
Eu lhe confio em prosa
e quanto goza meu martírio
daquilo que não digo?

Carrego culpas tamanhas
temperadas com sonhos
desfeitos pelos meus erros
não preciso do seu dedo
em riste acusando tudo
tudo aquilo que sei
e já cansei de me mentir

Já não leio como lia
páginas e mais páginas
madrugada a dentro
porém, pro meu tormento, eu não durmo
passo em claro em silêncio
sem urro no meio da noite
guardo a dor bem guardada
num prateleira de mágoa e melancolia

Será que um dia eu esqueço
dessas culpas que só eu sei
e passo o bastão desalmado
prum desavisado mais romântico?
Será que um dia eu esqueço
de carregar esses ossos
e guardo num armário
como todo mundo?

terça-feira, 4 de outubro de 2022

Faço música de sua letras

Oh...  quanto delírio 
que quando lhe penso 
deságuo eu no intenso
toque que dedilho

tal meu instrumento 
que os dedos eu trouxe 
pro seu sexo doce
que inunda sedento

jorra feito fonte
de sujos pecados
numa imunda mente

De anjos safados
que gozam defronte 
o meu dedilhado 

quinta-feira, 22 de setembro de 2022

no colo

de bruços
plugada
levando
palmada

sexta-feira, 16 de setembro de 2022

Cecília Filósofa

Saiba: nem tudo vem dos descaminhos,
porque também há os vícios dos vinhos.
Afinal, nem o mundo é só impurezas...
também competem muitas malvadezas!

Saiba, nem serão sempre esses espinhos...
há ferrões nos melhores dos caminhos.
Pois que nem tudo é sempre uma tristeza,
sobra também tais fomes e pobrezas!

Pequena, são mazelas da virtude,
das que infligem tormentos amiúde,
dignas de quem só o bem deseja e faz,

Sei que admira esses bêbados devassos,
amantes, libertinos, cordas, laços 
tudo querem assim mais que demais


sexta-feira, 2 de setembro de 2022

hai-quase explicito

jorro natural
recolhido por seus lábios
saliva-me o sêmen 

sábado, 16 de julho de 2022

Minha orquestra

Lhe dedilho o sexo
perfeito piano,
Dessas suas nádegas 
própria percussão,

Da boca e dos lábios
o meu saxofone
E seu corpo inteiro
o meu violão

Qual o seu gemido
em dó sustenido?

de lado, de quatro
de joelho o retrato?

que no ré lhe trago 
pro perfeito estrago

sexta-feira, 15 de julho de 2022

Análise da Canção Ouro de Tolo de Raul Seixas


 Raul dos Santos Seixas, cantor e compositor baiano, nascido no ano da bomba atômica se definia como um canceriano sem lar. Era pois, um cronista ambíguo e contraditório em muitas de suas composições que aqui analisaremos sob a perspectiva econômica de sua época, O Brasil da Ditadura Civil-Militar ocorrida a partir do ano de 1964 cujo próprio término em distensão lenta e gradual Raul como seus espírito de mosca na sopa duvidava quiçá só para incomodar, quiçá para apontar ali uma ferida, um incômodo que seria mais conveniente ignorar.

O caráter monetário, concreto da natureza de seus versos  acontece desde o título de sua canção “Ouro de Tolo” do álbum Krig-ha, Bandolo! lançado no ano de 1973 durante o chamado Milagre econômico brasileiro período propagandeado pela Ditadura como de enorme pujança e prosperidade para o país.  Mas o Eu-lírico do autor inicia seu canto dizendo que:

“Eu devia estar contente

Porque eu tenho um emprego

Sou o dito cidadão respeitável

E ganho quatro mil cruzeiros por mês”


O devir, o dever ser inaugura o poema contestando a ética protestante da realização pelo trabalho, pois põe em cheque a certeza que o indivíduo respeitável por ter um emprego e uma renda, tenha em situação de alteridade a sua auto realização.  Na estrofe subsequente:


“Eu devia agradecer ao Senhor

Por ter tido sucesso na vida como artista

Eu devia estar feliz

Porque consegui comprar um Corcel 73”


O elemento religioso se impõe novamente e a realização da rima entre o mês e o sententa e três novamente demonstram como valores de realização primeiro o salário nominativo e em seguida um carro novo, do ano do lançamento do álbum denotando um sucesso financeiro que deveria ser garantidor do seu próprio contentamento e se esse devir não se realiza, se o eu-lírico não canta seu agradecimento, há uma dissincronia entre a expectativa capitalista de realização e o próprio anseio humano.


“Eu devia estar alegre e satisfeito

Por morar em Ipanema

Depois de ter passado fome por dois anos

Aqui na Cidade Maravilhosa”


Nesta estrofe impera novamente o devir e o incomodamento do eu-lírico se expande para um dos bairros símbolos do crescimento nesse período de um novo Rio de Janeiro, bem distinto daquele Rio antigo das crônicas do bruxo do Cosme Velho. Se Laranjeiras, Glória, Botafogo, Lapa, Flamengo são o pano de fundo das narrativas machadianas por serem os espaços frequentados pela elite carioca de sua época. Aqui, na obra de Raul seixas, Copacabana, Ipanema e Leblon assumem esse papel em um Rio de Janeiro que não é mais capital do Império ou da República, mas que mantém-se ainda como a meca dos artistas, para qual todos que querem colonizar seu espaço no mundo das artes devem migrar. E mesmo após passar fome por dois anos na Cidade Maravilhosa, o sucesso não basta para extinguir a alteridade do devir do eu-lírico. E o que era apenas devir se afirma como negativa nas duas quadras a seguir:

“Ah! Eu devia estar sorrindo e orgulhoso

Por ter finalmente vencido na vida

Mas eu acho isso uma grande piada

E um tanto quanto perigosa

Eu devia estar contente

Por ter conseguido tudo o que eu quis

Mas confesso, abestalhado

Que eu estou decepcionado”

A vinculação da felicidade ao sucesso financeiro apregoado pela ética capitalista é, para o eu-lírico uma piada, e pior, uma piada perigosa. Pois, apesar de ter conseguido tudo que quis é com espanto que ele se percebe decepcionado com essa promessa.  a partir dessas estrofes a uma mudança no tom dos versos pois o artista decepcionado deixa de apenas narrar o seu devir para lançar outras dúvidas e explicitar diretamente o seu sentimento de falta, onde as recompensas e realizações ofertados pela sociedade capitalista não  são o bastante para que ele se sinta pleno.

“Porque foi tão fácil conseguir

E agora eu me pergunto: E daí?

Eu tenho uma porção

De coisas grandes pra conquistar

E eu não posso ficar aí parado”


Neste momento de virada da canção, quando o compositor troca as quadras por uma sextilha vemos um eu-lírico que abraça a incongruência, o contraditório que não cabem no estreito espaço ético da sociedade brasileira que sob o milagre econômico que ao mesmo tempo oferecia carros do ano para o artista, que relembra a fome na Cidade Maravilhosa, mesma fome que matou mais de meio milhão de pessoas do mesmo pais na Grande Seca de 1970. E o questionamento “e dai?” remete ao imponderável, o abstrato que não cabe em 4 mil cruzeiros por mês, que não se concretiza em um corcel 73 e nem se negocia com vencer a fome tão distante de suas própria terra. E assim, esse eu-lírico se distancia daqueles protestantes weberianos que vão ao novo mundo fundar o capitalismo através da ética do trabalho.

“Eu devia estar feliz pelo Senhor

Ter me concedido o domingo

Pra ir com a família no Jardim Zoológico

Dar pipoca aos macacos

Ah! Mas que sujeito chato sou eu

Que não acha nada engraçado

Macaco, praia, carro, jornal, tobogã

Eu acho tudo isso um saco”


Após a sextilha o compositor retorna ao esquema de quadras e enquanto nas quadras iniciais o eu-lírico aparecia em um questionamento do seu devir, no que devia ser mas não se realizava, sem contudo, expressar seu contentamento, neste par de quadras vemos  a tensão da primeira quadra ser resolvida na segunda. O devir da primeira é negado em seguida. e retoma os elementos das quadras anteriores quando do terceiro verso da segunda estrofe. Pois nem os macacos do Jardim Zoológico, nem a praia de Ipanema e muito menos seu corcel 73 aliviam o vazio que não se preenche com as recompensas por ser “um dito cidadão respeitável”

“É você olhar no espelho

Se sentir um grandessíssimo idiota

Saber que é humano, ridículo, limitado

Que só usa 10% de sua cabeça animal


E você ainda acredita

Que é um doutor, padre ou policial

Que está contribuindo com sua parte

Para o nosso belo quadro social”


Pela primeira vez o eu-lírico se dirige para o interlocutor, despejando seu próprio descontentamento no outro que vê como um espelho, como também pertencente ao “nosso belo quadro social”  Elenca àquelas profissões fundamentais nessa estrutura, ao mesmo tempo que os lembra que são animais, seres limitados e que a despeito das conquistas, das contribuições ainda permanecem carentes de significação, de objetivos maiores que só se realizam dentro das expectativas limitadas e limitantes dessa sociedade.  E tal processo acaba por  guiar o interlocutor para o fechamento da canção.

 

“Eu é que não me sento

No trono de um apartamento

Com a boca escancarada, cheia de dentes

Esperando a morte chegar


Porque longe das cercas embandeiradas

Que separam quintais

No cume calmo do meu olho que vê

Assenta a sombra sonora dum disco voador”


Para se distinguir dos seu interlocutor o eu-lírico nega a posição do dia de domingo, de ser mero espectador de sua vida conquistada, de suas próprias pequenas e burguesas realizações, refere-se a “um apartamento” de maneira indefinida pois a vida de seu habitante é igual e genérica como a de tantos outros habitantes, cidadãos respeitáveis que dormem em seus sofás de boca aberta sem mais expectativas, sem sonhos de mudanças. Mas em sua última quadra o eu-lírico canta acerca do imponderável, de um lugar longe do sonho burguês de uma casa com cerca e quintal, tal qual um filme americano. Fala daquilo que está na margem da visão, em seu ponto mais calmo, uma sombra sonora, uma sinestesia que torna o extraterreno a solução para quando a realização protestante da redenção pelo trabalho oferece apenas o material mas não desfaz o mal-estar existencial. 

Sob a égide de um Milagre econômico que só satisfaz uma pequena classe média, o Brasil de 1973, tem fome, tem miséria, tem tortura e opressão que não são maquiados pelos números econômicos, que a ficção monetária não consegue ser verossímil para quem já passou fome. Em uma canção onde os elementos autobiográficos ressoam temos um migrante nordestino percebendo que a promessa de prosperidade é falseada e falseável. Que não há bilhete premiado que garanta a felicidade além das recompensas ofertadas para o bom trabalhador. 


terça-feira, 5 de julho de 2022

Tempos melhores

Quero magia, cor e cenas
pra toda boca que beija
Bang bang só nos cinemas
retomados das igrejas
Bibliotecas eu prefiro
do que esses clube de tiro

terça-feira, 28 de junho de 2022

13 anos

bate sua  punheta
escondido no banheiro
mas batem na porta

segunda-feira, 6 de junho de 2022

Nas noites mais cegas


Sonhei que era sátiro
e você minha ninfa
prima da floresta
e éramos nós dois
na seiva e saliva
apenas um só
tal qual um narciso
que desabrochado
é seu próprio par

Agora eu sei
Cecília bastava-me
você em meu jardim
o meu narciso minha
pétala que só
nunca mais, jamais
estaria pois somos
mais, bem mais que dois
somos primavera
no meio do outono 

quarta-feira, 18 de maio de 2022

Frente Fria

Pois quantas ruas morreram
nesta madrugada fria?
e quantos olhos cansados
perderam seu último brilho?

Já você quente no lar
quantos cobertores negou
com seu voto de indiferença?
com seu olhar pro outro lado?

Quantas vidas a paixão
(ou o ódio) assassinaram
nesta madrugada fria?
Você consegue contar?

Você consegue contar
com seu conforto e paz
de quarto, cama e tevê
mas não é sobre você

Você consegue contar
nesta madrugada fria
os quantos olhos cansados
perderam o último brilho?

segunda-feira, 2 de maio de 2022

domingo, 10 de abril de 2022

Acaso calculado

Poeta tratante
é certo: poema
feito de rompante
tem uns mil rascunhos

quinta-feira, 3 de março de 2022

Cuco quem?

Em meu ninho ela repousa
a doce cuco canora
saliva a saliva da outra
e lambe minhas bolas

terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

Beijos pra poesia

Estava eu voltando, de ônibus, da Lapa para casa de madrugada, no Rio de janeiro, Vi uma moça chorando sentada no fundo do ônibus. Tímido, eu não teria coragem de falar com ela. Mas isso não me impediu de tentar fazer algo. Saquei um dos meus livretos de poesia (ainda eram xerocados na época) e entreguei para ela. De início ela recusou dizendo que não tinha dinheiro. Eu lhe disse que era um presente e fui me sentar lá na frente perto do trocador, não pude nem ver se ela realmente estava lendo meus versos. Chegou meu destino, dei o sinal e desci. Quando o ônibus arrancou e passou por mim, ela abriu a janela e me lançou um bilhete lotado de beijos dizendo "a arte ainda vai salvar o mundo!!!" 

Duda, Por onde andará você?

domingo, 20 de fevereiro de 2022

haicai

Noite japonesa
tem sushi,sakê e shibari,
comcorda princesa?

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

Sujeito Erroso

A cada momento
e por todo instante
eu lamento e tento
seguir adiante
contando meu aperro
calando meu berro

No fio infiel
do meu sacramento
nas juras de níquel
de arrependimento
pois sou eu amante
duma dama errante

Nem no nunca mais
sou inverossímil
sem risos ou ais
uma lenda ao léu
nem tocam os ventos
de mil e oitocentos

O meu calafrio
é nunca ter cais
mas tenho o delírio
de dominicais
manhãs de mel 
pipa e carretel

Serei só miragem
na curva do rio
sou terceira margem
um nem-ser-se-viu
d'olhos lacrimais
sem nada demais

sem mirada verde
sem pele alva e virgem
sem cama ou rede
um velho em vertigem
que sempre ouviu
ene, a, o, til

de tudo e todos
pois a mim sucede
sortidos engodos
que quase me fede
desde minha origem
com ferro e fuligem

Mas jamais que enterro
meu sonho no lodo
tal quem não é bezerro
muito menos touro
pois eu sou quem ferve
o inferno e lhe bebe

E nada garante
que esse meu desterro
não é sem sextante
sem bússola só erro
exílio sem êxodo
soldado sem soldo 

Insônia

A lua no espelho da penteadeira
a milhares de milhas enxerga
(e talvez se veja orgulhosa de si,
mas ela nunca, nunca se alegra)
além ou longe de se deitar, ou
talvez daquelas que dormem de dia.

Se seu Universo virasse vazio,
ela o mandaria ao inferno,
e acharia um olho d'água,
ou um espelho, para morar
teceria pra si seu casulo
e cairia em sua gruta

nesse mundo ao avesso
onde esquerda é direita,
onde sombra é corpo,
onde não nos deitamos à noite,
onde o céu é raso como o mar
é profundo, e você me ama.

Tradução do poema Insomnia de Elizabeth Bishop

terça-feira, 18 de janeiro de 2022

Shaninha

Shaninha, serviçal da senhorita Lula, jaz em cálcio
preta, de branco, ela desceu
abaixo da superfície do recife de coral.
Sua vida dispensou
cuidando da senhorita Lula, por sua surdez,
Na cozinha comiam seu jantar, ela na pia 
enquanto Senhorita Lula comia na mesa.
As nuvens foram de branco para o funeral
e os rostos de negro

Esta noite o brilho da lua alivia
o derreter das rosadas rosas de cera 
plantadas em latas de areia
perfiladas para a perda da Senhorita Lula;
mas quem gritará e a fará ouvir?
Na procura por terra e mar de outra pessoa
o farol vai descobrir onde Shaninha jaz
para apenas ignorá-la; o mar, revolto,
lhe ofertando onda após onda.


Tradução do poema Cootchie de Elizabeth Bishop




quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

Na ponta dos dedos

Todo, todo dia cê fuma
às quatro e vinte da tarde
E em mim a larica apruma
pra ver-te de quatro e me arde
como brasa essa vontade:
sê a fumaça que te invade

quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

Invisível cotidiano

Eu na papelaria e aviamentos imprimindo umas pílulas de poesia, eis que chega uma senhora e pergunta para a atendente:
-Moça você tem feixo éclair invisível?
A atendente de pronto responde:
-Pera ai que eu vou ver se tem.
Fico olhando para aquela situação impossível e me pergunto filosoficamente como ela vai VER se tem se ele é INVISÍVEL?

Sonetilho para Cecília

Meu desejo, paz e leito
é assim sóror Cecília
sonho largo corpo estreito
minha maior redondilha

É meu chão e também ilha
Onde me aporto perfeito
É loba e minha matilha
que banqueteia meu peito

Por onde corre, tropeço
pois conhece meu segredo
o meu erro e redenção

Verso cujo metro meço
na lembrança do degredo
rima, ritmo coração

terça-feira, 14 de dezembro de 2021

Vendaval

Não respira
só me beija
pra quê fôlego
se há saliva?

quinta-feira, 18 de novembro de 2021

Cuando grita

Moça sábia bem artista
tem no rosto delicado
seu trunfo que até despista
o sujeito mais errado
que não sabe que seu beijo
é atacado no varejo

Ela faz fila, faz lista
dos amor arrebatado
mas escolheu um vigarista 
pra ter seu cu arrombado
moço de trato e traquejo
que faz dela seu gracejo

Ele guia e ela quica
requebrando seu quadrado
sofre e goza pela pica
no seu rabo agasalhado
enquanto pinga desejo
seu xibiu farto e sobejo

Porque seu cu quando grita 
não pensa nem tem cuidado
é fome que dá e repica
de esfolar no seu safado
sufoca a fronha num beijo
e o pau no cu é gorgolejo

Só o mais corajoso fica
e mete o dedo sem medo
ele sabe onde se arrisca
porque cu não é brinquedo
é preciso ter molejo
pra cair no saculejo

sexta-feira, 12 de novembro de 2021

Missiva

Ergam seus copos e corpos!
Boa noite meus queridos
e minhas queridas poetas
Da minha rima macia
vem o desejo vadio
que escorre na redondilha
e pela mão eu lhes guio

Ergam seus copos e corpos!
Deixo pra todos ouvidos,
que vai começar a festa:
Cães ladram e gato mia
Eu procuro companhia
que aceite meu desafio
de trepar em verso e cio!

Ergam seus copos e corpos!
Não haverá arrependidos,
mamando juntos nas tetas
das musas gregas, Sofia,
Safo, Ágape e outro trio
que nossa teogonia
criar por deleite e ócio!

terça-feira, 9 de novembro de 2021

Com quantos castelos se faz um monte?

A prima Cecília
só dormia sonhando
beata o barroco
das ruelas dos livros
que o primo vendia
nos vagões do trem
queria ela o embalo
daqueles trilhos
queria ele a paz
daqueles olhos
e nenhum dos dois
tinha de verdade
tão perto, tão próximos
mas sem saber que eram
espelhos um do outro.

sábado, 6 de novembro de 2021

incorrigível

O amor está no (b)ar!

Confidências


Eu nunca vivi em Itabira
Principalmente nunca fui em Itabira
Talvez por isso não seja de ferro
Noventa por cento de sangue nas calçadas
Oitenta por cento de sangue nas armas
E essa alienação das vidas que são negras e pobres

A falta de vontade de amar quem não é igual
vem de mim que sou branco, que sou homem, de belo horizonte

E o hábito da indiferença, que julga 
é amarga herança mineira

Das minas gerais, prendas diversas te ofereço
esta pedra de nióbio, futuro minério do Brasil
esta cloroquina do braço forte do exército
esta vacina de mão amiga e contrato superfaturado 
esta rachadinha, esta notícia falsa

tive fome zero, tive a sexta economia, fui poeta
hoje me tranco em casa
Itabira não é apenas um vídeo nas redes
Mas como dói!

#paracegover: Vídeo de Segurança - Itabira 05/11/2021, Sexta-Feira 18:46 - Mulher Negra, magra de estatura baixa está na calçada de rua movimentada, carrega criança no colo, está de mãos dada com outra criança de 6 anos é abordada violentamente por dois policiais que afastam a segunda criança. A criança afastada grita, tenta proteger a mãe completamente impotente, Os policias derrubam no chão a mãe ainda com a criança no colo, ajoelham em seu pescoço e a imobilizam. 

segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Canto do Labirinto

Quanta fantasia
dos seus sussuros
guarda em ti, Cecília
quantos os delírios
ditos nos ouvidos
tais doces pecados
guarda em ti, Cecília
Hoje, no meu sonho,
curto entrecortado
sou eu quem delira

sexta-feira, 29 de outubro de 2021

4lg0r1t1m0

Eu tenho uma enorme, 
GIGANTESCA, R4iv4 
de ter que censur4r 
as palavras para que 
o 4lg0r1t1m0 não me p3rsiga. 

Me sinto numa época 
completamente vigiad4 puritan4. 
É sufoc4nt3! É dit4dvr4. 
É infantil ter que censur4r pal4vrão, 
od3io ter que ler cool.

Eu quero a beleza 
do c e do u juntinhos.

segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Trova T

Tortura tua timidez 
todo tato torturado
tem telúrica tristeza
traceja treme termina 

quinta-feira, 21 de outubro de 2021

Em resumo (prolixo) quem sou eu?

Eu posso dizer que tenho uma imensa sorte, com 4 anos tem foto minha num piquete com minha avó protestando contra a interrupção das obras no vale do jequitinhonha. Mais tarde um pouco lá estava eu acompanhando meu pai na greve dos Bancários em BH. 

Já cortei dedo em estilete fazendo molde em radiografia pra silkar bandeiras, cartazes e camisas pra campanha no interior quando minha vó saiu candidata a prefeita numa chapa de mulheres quando a cidade dela ainda era distrito e ela teve a cara de pau de concorrer a prefeitura da cidade maior. Perdemos, também fizemos campanha pro Lula desde sempre e meu primeiro voto aos 16 foi no Lula em 2002. 

Cresci tomando guaraná no bar enquanto meu pai conversava com meu tio e com o garçom que já tinha sido do MST e era daqueles que tinha decorado o manifesto comunista. O garçom também sabia de cor todas as letras de Raul Seixas e apostava comigo quem sabia mais e ora eu tinha que cantar um trecho e ele falava o nome da música e noutra falava a música e eu tinha que mandar um trecho.

Acho que esse foi meu primeiro contato com a poesia misturado com política mas nem sempre política diretamente, ele me mostrou como as letras aparentemente inocentes podiam ter os conteúdos mais politizados mesmo falando de amor.

Um pouco antes de votar pela primeira vez com os mesmos  16 escrevia meus versos e brigava na escola defendendo o Lula e o PT. Levei a bandeira vermelha e fui parar na diretoria. Se meu pai não falasse comigo pra guardar a bandeira estava preparado pra ser expulso pois por mim eu não guardaria. 

Como era de se esperar não fiz muitos amigos na escola e também estudei em várias. Não tendo mais que um colega com quem conversava mais frequentemente dentro de toda a sala. Nunca socializei em eventos héteros, apesar de ser. E também ser o único entre meus amigos que fiz fora da escola, na liberdade da praça da liberdade em Belo Horizonte. O único menino que se interessava por meninas de toda a turma era eu, mas não era nada demais, as meninas também só se interessavam por meninas e assim eu ia levando num grupo onde eu me sentia bem acolhido e feliz. 

Minha poesia tinha política mas a vocação de ser subversivo era mais arraigada em mim. E por ironias mil nas aulas de literatura a professora exaltava o modernismo e a semana de 22.  Na minha cabeça só martelava a questão do que diabos era a métrica que eles estavam se libertando. O que se contrapunha ao verso livre que a autoridade da sala de aula tanto exaltava foi o que me chamou a atenção. 

Da mesma forma que fuçava no computador pra formatar o windows e instalar os jogos que só rodavam no meu PC herdado do escritório na base gambiarra eu fui atrás do outro lado da história, conhecer os tais malditos parnasianos cujos versos estéreis o modernismo parecia querer queimar.

Acabei encontrando ali uma trincheira, minha própria ditadura pela qual lutar, a do verso livre. Porque só se podia  escrever dessa maneira, porquê não havia espaço pros sonetos de Florbela ou do meu primeiro poeta Augusto dos Anjos. Foi por rebeldia que resolvi fazer sonetos. Quanta ironia.  E eu tomei gosto pela forma fixa com conteúdo subversivo.

E na mesma toada de conhecer as regras para poder quebra-las fui tortamente fazer Direito em Ouro Preto mas fui traído pela sedutora filosofia e por mais que me desse bem entre códigos e comentadores fui lá prestar outro vestibular pra Filosofia.  E decerto que foi aí minha alcova. 

Mas antes disso conheci o CA de Direito, fiz meus próprios piquetes contra a reitoria, até me estafar da luta estudantil ao mesmo tempo que eu me desiludia com o governo Lula. Tudo que eu achava que entendia era pouco ainda. Votava no PSTU como protesto sem saber exatamente qual o pretesto que eu estava apoiando no momento.

A filosofia era muito mais desafiante, instigantes e dificílima para minha pouca concentração. E lá fui eu pra biblioteca da UFMG pesquisar sobre mim mesmo e meio por acaso e a esmo encontrei sobre o que era o déficit de atenção. Que eu prefiro dizer que atenção eu tenho muita, só não controlo ela. Minha mente vai e vem pra onde ela quer. Se interessa quando lhe convém. 

Na UFMG o movimento estudantil me tinha como apoiador, era um calouro não calouro. Que se achava experiente e maduro demais. Mas já não fazia mais sentido gritar contra ALCA e FMI. Nem as propostas de reuni me pareciam tão erradas assim. O curso de medicina não aumentava suas vagas desde a época que meu tio mais velho se formou há meio século.

Voltando a descoberta do TDAH, descoberto esse conjunto de explicações eu fiz testes, fiz enquetes, usei meus amigos de grupo controle e cheguei numa consulta com um neurologista com uma farta documentação, quase que um laudo pronto na mão.  Era a melhor explicação pras minhas inquietudes, minha constante vontade de contraposição. A Rita não me levou o sorriso, aliás graças a ritalina consegui ganhar um pouco de controle da minha vida.  

Mas não deixei de flertar com o desafio, com as intensidades, foi uma doce calamidade conhecer o bdsm, o universo fetichista.  Explorar novas transgressões, sentir novos tesões e provocar tensões com novos temas pros meus versos que já não se prendiam aos decassilabos. Eu inocente e arrogante fui logo me meter a fazer decassilabos, heróicos, sáficos... O martelo agalopado venceu minha arrogância pois na época não consegui jamais fazer um.  Meus versos perversos foram pras singelas redondilhas, muitíssimo macias aos ouvidos.

Eu simplesmente amava (e ainda amo) adocicar os ouvidos do leitor com versos confortáveis para que a temática mais suja ou revolucionária lhe pegue no contrapé. Foram bons tempos na filosofia mas minha eterna insatisfação levou meu tesão pra longe da sala de aula. E graças ao ENEM fui atrás da poesia em terras cariocas.

Letras na UFRJ era minha desculpa, eu só queria sair das montanhas de minas mudar de horizontes pois os de BH já não me pareciam tão belos.  Levei uma poupança miúda, um colchonete e uns livretos de poesia. Sim, livretos moro no Brasil, falo português e jamais fiz um zine sequer.

Nos bares de BH eu sentava pedia uma cerveja tomava o primeiro copo, levantava e distribuía pelas mesas ao redor minha poesia. Muito tímido deixava que as pessoas mesmo lessem meus versos em paz, eu não ficava por detrás fiscalizando. Distribuía nas mesas e voltava pra minha cerveja. Depois de finda a primeira cerveja passava de mesa em mesa recolhendo os livretos desprezados, conversando com os leitores mais animados e recolhendo os trocados  dos que tinham apreciado os meus versos. Não era muita grana, pagava a conta do bar, o tiragosto e as vezes sobrava um pouco. 

No Rio conheci a bela Balbúrdia chamada Supervia, o sistema de trens urbanos carioca que era um verdadeiro shopping sobre trilhos onde de tudo comprava e também vendia.  Adaptei meu esquema do bar para o vagão e me surpreendi com o resultado. Se antes eu fazia vinte livretos para levar pro bar e sabia que ia sobrar, agora se eu levasse menos de cem ficava com medo de acabar.

Eu nem acreditava que minha professora estava errada, que ainda havia espaço pra poesia com forma e rima.  E a poesia se tornou meu ganha-pão. Vivia, bebia, vestida, comia e morava graças a ela, de vagão em vagão que eu vagava levando meus versos e comecei a me sentir seguro de me chamar de Poeta. Lancei meus dois livros em 2012 e depois 14.   Ambos com o apoio exclusivo dos meus leitores e amigos. O primeiro através da lei Rouanet de pessoas físicas que não sabiam que podiam doar e abater 100% do valor no IR. E segundo exclusivamente com dinheiro dos vagões.

Lancei ambos com o apoio de uma empresa com quem namoro desde que cheguei ao Rio, a Poeme-se.  Foi nos estandes dela que fiz o lançamento de ambos.  Contando com a presença de quem me conhecia e sabia desse projeto de poesia sobre trilhos. Mas Como o bicho de estimação ( meu querido TDAh) que carrego comigo não me deixa parado durante esses anos criei minha anti editora, a Prensa Mínima e publicava a preço de custo livretos de novos poetas que queriam se aventurar no universo literário. Foram mais de 20 nomes lançados.  Poesia sobre trilhos saiu pelas minhas mãos em 30 edições comuns, 1 infantil e outra erótica totalizando 60 mil livretos postos em circulação só por mim.

Com o tempo descobri outros nomes contemporâneos afeitos a métrica como o genial Glauco Mattoso que por coincidência também publicava seus poemas independentes ainda na época da máquina de escrever, fazendo incríveis poemas concretos  antes de se tornar cego quando então se voltou aos sonetos. Somos tão semelhantes mas também simetricamente opostos!  No amor pelo fetiche, pelo verso em suas formas. Mas ele gay, podolatra e masoquista.  Vamos dizer que ele é meu grande mestre vivo. Um poeta sem igual. 

Depois de tanto tempo de namoro aceitei o desafio e entrei pra Poeme-se onde hoje sou o curador das estampas, trabalhando em sua concepção, pesquisando e encontrando novas maneiras de colocar a poesia em Movimento.

segunda-feira, 11 de outubro de 2021

Haicai de Orvalho

a língua em curva
lambe e lateja seu sexo
molhado de chuva

quarta-feira, 29 de setembro de 2021

Balada para um espelho

Ipê florido do meu cerrado
vaidosa cor roxa que atrai
o olhar cobiçoso e cobiçado
sendo seu filho, irmão e pai
É você espelho casto de mim
que do meu fogo compartilha
balada desse bandolim
meu amor meu, minha Cecília

Em cada toque dos meus dedos
em nota, num suspiro, num ai
rezando por todos os credos
pecados que nos tanto atrai
A fome que une nosso fim
nosso parnaso, nossa idília 
nossos nãos feito nosso sim
meu amor meu, minha Cecília

Por tanto tempo os Segredos
guardamos como alguém que cai
numa armadilha de brinquedo
agora diz, como a gente sai?
Sacros segredos em latim
com medos na coleira e guia
ganindo no nosso festim
meu amor meu, minha Cecília

Ouro manchado de carmim
somos nós Dirceu e Marília
na poesia entre seus rins
meu amor meu, minha Cecília

espelho

É você espelho casto de mim
que do meu fogo compartilha
na balada dum bandolim
meu amor meu, minha Cecília

Em cada toque dos meus dedos
uma nota, um suspiro, um ai
rezando por todos os credos
e pecados que tanto atrai

a fome que une nosso fim
nosso parnaso, nossa idília 
nossos nãos e no nosso sim
somos nós Dirceu e Marília

Por tanto tempo os Segredos
guardamos como alguém que cai
numa armadilha de brinquedo
agora diz, como a gente sai?

Caminhos

Entre a stairway to heaven 
e a highway to hell
Prefiro apanhar 
um táxi lunar

domingo, 19 de setembro de 2021

Triolé para Cecília

Penso em ti Cecília, Cecília
em cada sonho ou vigília
em cada suspiro ou transpiro
Penso em ti Cecília, Cecília
entre nossos mares de morros
entre pecados e capelas
Penso em ti Cecília, Cecília
em cada sonho ou vigília 

sábado, 28 de agosto de 2021

Em lá maior

Ligo o rádio e só toca
sempre o velho do re mi
mas meu coração coloca
meus ouvidos só pra ti
eufônica de tão bela
minha menina Mirela

quarta-feira, 25 de agosto de 2021

Rondó para Cecília

É, Cecília, meu amor
sigo seu passo onde for
rodeado por semelhanças
Iguais sem tirar nem por

Da nossa própria canção
nos passos e nos compassos
feita em verso, linha e traços
que nos ressoa o clamor

Medidas pela escansão
nos contempla tal crianças
de nossas secretas danças
pois sou seu versejador

É, Cecília, meu amor
sigo seu passo onde for
rodeado por semelhanças
Iguais sem tirar nem por

Nos diverte a discussão
que o Neoclássico acelera
e Barroco essa quimera
embala o fio sonhador

Fazemos da arte a lição
nosso pathos tão levado
e o rococó com cuidado
tecendo gotas de dor

É, Cecília, meu amor
sigo seu passo onde for
rodeado por semelhanças
Iguais sem tirar nem por

Pois quando acerto a mão
por nossas fomes aflitas
corro cordas tranço fitas 
lhe ato e desato em louvor

Nos céus eis constelação:
Psices et Virgo juntos
em nós somos sonhos mútuos
num destino bem maior

É, Cecília, meu amor
sigo seu passo onde for
rodeado por semelhanças
Iguais sem tirar nem por

Alvorece na nova estação
deste adolescer amável
um par óbvio e improvável
Insatisfeito fulgor

Narcisos, mútua visão
somos eternos infantes
pelo amanhã, no hoje e dantes
eis musa e compositor

É, Cecília, meu amor
sigo seu passo onde for
rodeado por semelhanças
Iguais sem tirar nem por

Com Caetano e um violão
numa cantinga de roda
lhe dou toda, toda corda
com ganas de amarrador

E me confessa a paixão
num soneto de bocage
convite pruma viagem
prima minha meu amor

É, Cecília, meu amor
sigo seu passo onde for
rodeado por semelhanças
Iguais sem tirar nem por

Canta comigo essa ilusão
sê meu querubim rebelde
de puro desejo e sede
nave, altar e confessor

És minha religião
minha musa, minha deusa
sem ti sou eu, só tristeza
de sonhar sem qualquer cor

É, Cecília, meu amor
sigo seu passo onde for
rodeado por semelhanças
Iguais sem tirar nem por

sábado, 21 de agosto de 2021

Sinal Fechado

Certa vez eu entrei no metrô para vender poesia como sempre fazia todos os dias, porém havia algo de estranho. Pois as pessoas estavam com uma cara tão triste mas tão triste que eu pensei que tinha morrido alguma figura muito querida e popular. Estava todo mundo com cara de enterro, de luto mesmo. Procurei saber, quem tinha morrido era o sol que não aparecia a uma semana. Cariocas não sabem lidar com dias de chuva, cariocas não gostam de dias nublados.

sexta-feira, 20 de agosto de 2021

Bonjour, Happy hour

Sede de saliva cannabis sativa
Vem, se achegue e aconchege-se
Sex to you, sextou my baby
Vem você de vinho, vem

terça-feira, 3 de agosto de 2021

Micro conto em 140 caracteres

Era perfecionista, mas também manco e sua perna esquerda teimava em alcançar a direita.  Caminhava sempre, pontualmente, em sentido horário.

quinta-feira, 29 de julho de 2021

porquê a verdade não vence a mentira

Não há argumentação possível contra negacionistas ou revisionistas históricos. É uma questão de economia básica. Enquanto a ciência prescinde de pesquisa, estudo e elaboração para corroborar suas teses o revisionismo precisa só de criatividade, retórica e imaginação. 

Ou seja: O tempo que eu gastaria comprovando que esse texto é uma bosta é muito maior que o tempo que gastou quem escreveu esse espantalho.  E mesmo se eu refuta-lo o autor pode simplesmente inventar outro argumento tirado da bunda sem qualquer trabalho. 

Por isso só dá pra discutir com quem está usando os mesmos paramentos técnicos, o mesmo rigor científico. Fora disso é pura perda de tempo.

Para combater notícias falsas não basta  jornalismo competente ou esclarecimento científico. É preciso de força política e econômica. Por isso iniciativas que cortam o financiamento dos propagadores de mentiras são muito mais eficientes que sites de checagem de fatos.  Checar fatos é um instrumental que legítima as ações de combate às mentiras. Mas sozinho, esse instrumento, não é capaz de mudar a propaganda de mentiras.

domingo, 11 de julho de 2021

Terra dos Troncos de Fogo

Os Primeiros foram aqueles que nunca vieram pois sempre estiveram em suas moradas entre árvores, em seu respeito pela floresta que tudo lhes dava e nada cobrava. Depois vieram os Orgulhosos das terras além-mar, cobiçando a água, a terra e até o ar. sangrando o solo com seus arados, cortado as matas com seus machados, ferindo as montanhas pelos cobiçados tesouros dentro delas guardados. 

Os Primeiros receberam os Orgulhosos pois as terras eram vastas, muito mas vastas do que tudo que precisavam. Mas não vastas o bastante para a cobiça dos Orgulhosos cuja avidez era mais forte e mais intensa, sua ganância imensa era sua força e por ela mataram, expulsaram e escravizaram os Primeiros. Os Orgulhosos, por terem seus braços menores que sua cobiça, trouxeram escravizados um povo forte, de fé e de suas terras distantes apartados. 

Os Resolutos e os Primeiros foram forçados a construir todo o reino dos Orgulhosos, suas cidades, suas fazendas, suas Igrejas, não há sequer uma pedra colocada no calçamentos de suas ruas que não tenha sido feita por eles. Mas os belos povos não entregaram sua alma aos orgulhosos e nem rejeitaram seus próprios deuses, confidentes uns dos outros aguardaram por eras por um momento. 

E o momento foi do Cataclisma que despertou na terra e no mar todas as criaturas que se ocultavam desde antes dos Primeiros. Caminharam pela terra todos os deuses e nos mares foram engolidos todo navio longe do porto,  e cada embarcação que ousasse cruzar o oceano. 

Os  rios viraram sangue durante o Cataclisma, sem as armas vindas de além-mar os Orgulhosos foram enfim enfrentados. Os Primeiros reconquistaram suas terras longe da costa. Os Resolutos quebraram seus grilhões e expulsaram das Terras do Norte Oriental os Orgulhosos. 

Após o Cataclisma, nada mais voltou a ser como antes. Não há mais qualquer contato com os reinos distantes, o Oceano de Atlas é intransponível e mesmo o mar além das montanhas do Ocidente é perigoso. 

As guerras foram de séculos mas um mestiço de sangue Orgulhoso, Resoluto e Primeiro ascendeu ao trono esquecido e com sua maestria convenceu cada rei a depor suas armas. Sem mais sangue, sem mais guerras até o Rei das Terras de Prata reconheceu o Rei Mestiço como seu imperador e assim a paz reinou por mil anos.

Porém durante o reinado da Rainha Delmora filha do amado Rei Ludovico surge Iahire, um guerreiro Orgulhoso da linhagem real, se ressentiu por ser preterido como herdeiro ao trono Imperial. Ele se alimentou pela ganância de seus antepassados e tramou junto a Guarda Real, os Clérigos da Cruz e os Barões de Terras sua própria ascenção. Para seu itual profano sequestrou os primogênitos dos Reinos de Prata, do Sul Oriental, do Norte Oriental e do Ocidente. E sacrificando-os absorveu sua linhagem e foi proclamado por seus seguidores como a restauração do Rei Mestiço. 

Com seu trono contestado, Delmora acabou enredada por uma rede de intrigas e golpeada por seu outrora fiel conselheiro Temerius. Ele manipulou todo o conselho real para declarar que a rainha havia enlouquecido, Delmora foi então enviada a um Sanatório e  Temerius foi nomeado tutor dos príncipes Villelmus e Immanuelina e assim governou com uma junta de conselheiros fantoches por 5 anos todo Império do Tronco de Fogo

Os Clérigos da Cruz, contrários a Temérius, por ele pertencer a um culto ligado ao antigo culto a Adonai, e os Barões de Terra, por ele ser ligado a Liga do Vapor, incitaram  com fiés e ouro a ascensão de Iahire ao trono. Iahire nesse momento já havia aprisionado dentro de si muito mais almas através de rituais profanos e seu poder era temido. Temerius não era páreo para enfrentá-lo e o ofereceu seu lugar sem enfrentamento em troca de permanecer como conselheiro real. 

Iahire no primeiro momento era apenas tutor dos filhos da Rainha porém soldados ainda leais a Rainha descobriram um plano de morte para o príncipe e a princesa elaborado pela própria Guarda Real. Num plano ousado conseguiram resgata-los do Castelo Vermelho. Porém isso apenas deu mais poder a Iahire que se outorgou plenos poderes e dissolveu o conselho em nome de uma caçada aos supostos sequestradores da familia real. 

Três décadas se passaram, os Reinos agora são governados por nobres Orgulhosos nomeados pelo próprio Iahire que governa todo o Império com terror. Há canções clandestinas clamando pela volta dos príncipes.  Há bandoleiros mestiços percorrendo as fronteiras dos reinos. A liga do Vapor está cada vez mais decadente, seus trens, suas ferrovias e suas  fábricas minguam enquanto os Barões das Terras, Guarda Real e Clérigos da Cruz ganham terreno, poder e influência cada vez maiores.



quarta-feira, 7 de julho de 2021

Atenção

Aqui tudo bem se ajeita
tem caos, bagunça, tem treta
e meu psicomotor
chega a ser um horror

Minha mente não é feita
de arquivo, armário, gaveta,
fichário organizador...
Nada tem lugar pra por

Hiperfoco no hiperléxico
minha hiperatividade
tem doses de ingenuidade

Concreto, nunca hipotético
sou distraído em cada ato
real, sonho ou abstrato

sábado, 26 de junho de 2021

Dentre trilhas


André Cruz Moreno Siqueira
brilhante de alma tão farreira
que me convida pra tanta
festa que logo me desanda 

É minha avis rara, guerreira
o melhor vinho da videira
que me embriaga pois me canta
todo o fôlego da garganta

Lhe passeio no seu território
pois lhe conheço no ser homem
pruma fome que ninguém dome 

Eu lhe quero saber de tudo 
em cada saber mais profundo
de sua boca, de seus olhos

sexta-feira, 25 de junho de 2021

Marina Mares de Morros

Bela Marina Araújo Teixeira
sigo, sedento e ávido na esteira
de suas palavras de seu véu
e pela sua voz inenarrável

Sua canção chega deixada a beira
do delírio duma verdadeira
musa, uma heroína de cordel
Riobaldo e Diadorim num tropel

Suas letras jurídicas me narram
entrelinhas de pura poesia
com melodia de voz e violão

São veredas e caminhos que esbarram 
na narrativa que me descaminha
o ritmo leve do meu coração

Galanteio

Pedro Henrique Ferrari Lessi Rabello
serão seus olhos, sua barba o meu novelo 
que desfio elogios que desafio o firmamento
e escrevo letras lindas a todo momento

Miro em sua voz, óculos e cabelos
e acerto sonhos lindos e sinceros
vagando em ti e em mim como se fosse vento
que varre em versejar e no proseamento

Lhe conto histórias, as mais felizes que tenho
ilustrando seu coração com meu engenho
e meus planos de alcançar o céu de sua boca

Porque seu núbio empenho é belo, sincero
que como bom espectador vejo e desvelo
um conto de princesas e rainha louca

A uma musa


A Debora Freire de Lima
é meu verso, minha rima
das letras é minha musa
que de tão perfeita abusa

Do meu sonho, minha estima
dos deuses uma obra prima
que nos meus olhos repousa
pois sua maravilha ousa

Ser mais brilhante que o sol
e bem mais bela que a lua
tão intensa quanto as marés

lhe sigo tal girassol
um nenúfar que flutua
pelas águas aos seus pés

quarta-feira, 16 de junho de 2021

Oralidade e Escrita


A leitura silenciosa que estamos acostumados a fazer é um fenômeno recente para as artes literárias. Até o advento da imprensa a leitura era uma atividade que envolvia a fala. Poderia ser através de murmúrios que acompanhavam as linhas do texto ou como Platão que ,lia a plenos pulmões.  A oralidade tão marcante nos textos antigos também pode ser vista pela hegemonia dos versos em detrimento da prosa. 

O verso é por excelência oral, foi através da oralidade que surgiram as primeiras versões da Ilíada e da Odisseia. Foi pelo caráter mnemônico que os primeiros aedos registravam na memória os milhares de versos que compõe essas epopéias numa época em que a cultura helênica ainda era ágrafa. O papel da escrita começa como mero registro para só muito tempo depois adquirir um estilo próprio, o fluxo de pensamento, o ritmo de leitura através da concatenação de ideias é um fenômeno muito mais recente que o fluxo ritmico causado pelas sílabas poéticas, pela alternância de sílabas longas e breves do grego ou das sílabas átonas e tônicas do português. 

O período da hegemonia dos versos é também o período marcado pelas grandes epopéias. Além das gregas temos a romana "Eneida" e a suméria "Gilgamesh", ainda na antiguidade clássica. No medievo temos a inglesa "Beowulf" , a germânica " Parzival" e a consolidadora do idioma italiano "A Divina Comédia".  Com o advento do renascimento surgiram novas epopéias como "Os Lusíadas" e "Paraíso Perdido". 

Porém conforme o fluxo mental, a prosa e a leitura silenciosa avançam, suplantando o veros, o ritmo e leitura em voz alta, a Epopéia também cede espaço para novos gêneros textuais o Romance e a Novela são frutos diretos da imprensa, eram, originalmente, publicados de maneira seriada em jornais. Onde cada capítulo vinha na edição do periódico vindo após as páginas de notícias tal qual ocorre até hoje quando as novelas se intercalam com os jornais na televisão. 

O texto em prosa não é feito para ser lido em voz alta, seu fluxo mental não obedece o fôlego da oralidade. Se o cordel com suas redondilhas pode ser contado verso a verso pelo cantador ou o repentista pode improvisar toda uma história se segurando ritmicamente nas sete sílabas de seus versos o mesmo não pode ser feito ao ler Machado de Assis, José de Alencar ou Paulo Coelho. A prosa exige um fôlego que apenas a mente consegue acompanhar, a lingua, o pulmão e a boca operam numa outra lógica.  Porém apesar da hegemonia do fluxo mental imperar contemporaneamente e a poesia moderna abdicar do ritmo natural ou formal há casos onde autores subvertem a lógica da prosa silenciosa e resgatando a oralidade nos trazem uma nova poética, agora em prosa como podemos ver em Clarisse Lispector e, principalmente em Guimarães Rosa.  

Grande Sertão: Veredas é profundamente calcado na oralidade, no falar do sertão. Sua leitura silenciosa atropela nuances que apenas a oralidade é capaz de captar. É uma 'epopéia contemporânea" num mundo o silêncio da prosa tradicional é hegemônica. Resgata toda a cadência, todo o ritmo da versificação que mesmo os nomes mais aclamados da poesia fizeram um laborioso trabalho de se distanciar. 

A literatura oral, aquela mesma que Benjamin exalta em seu texto "O narrador" é o substrato mais profundo da comunicabilidade humana, é por ela que e transmite universos e realidades por gerações e como diria Marcuse: "a poesia torna possível o que já se tornou impossível na prosa da realidade. Pois é em versos que o homem diz das últimas e verdadeiras coisas."

quinta-feira, 10 de junho de 2021

Road Trip

A história que conto agora
já até se foi sem ter sido
era segredo muito embora
por todos fosse sabido
menos pois pros dois viventes
que mais que muito se amavam 

Ela santa, ele vilão
tanta fome revelada
Barroca igreja, emoção
uma aventura ensaiada
e no carro o vidro enturva
pelos dois em pura bala

Era assim antes de outrora
o seu fogo ensandecido
que a boca sedenta chora
por onde é bem sabido
eis tão amados amantes
que na prosa planejavam:

"Belo Horizonte é visão
mas não terra destinada
das Minas Gerais sairão 
pela noite na calada 
numa lua que murmura
pra estrela vestindo gala"

Sem feito o plano embolora
mas do seu jeito sabido
ela é musa que colabora
c'o jeito desatinado
dele de amar tal ardente
fome que jamais amansam 

Road trip por todo sertão
uma viagem ousada
trinta horas na direção
ao lado da moça amada
os sonhos no porta-luvas
pois a estrada bem embala

E trocando a marcha rola
um carinho dele atrevido
ela compraz e lhe consola
os dedos num divertido
de dois corpos e uma mente
que do mesmo sopro aspiram

Cecília, seu coração
é guia e norteia em cada
quilômetro do estradão
mas a sua ritimada 
vem do gole de fanta uva
que a doçura lhes iguala

São vintage, na vitrola
do carro vem o alarido
de Caetano e cantarola
ela com mais um pedido
que gata pede somente
um Raul que jamais olvidam

Nas letras duma canção
pelas rodas pela estrada 
embalando na paixão
ao lado da moça amada
os dois nas retas, nas curvas,
desejos no porta-malas

A vontade descontrola
encosta o carro perdido
E os lábios dela devora
pelo convite atrevido
dela de assim sutilmente 
revelar o que ambos clamam

No cerrado, imensidão
tudo pois pruma picada
de aventura e de ilusão
que esperam lá na chegada
serão eles sol e chuva
duma voz que nunca cala

Vida dentro mundo fora
o carro desapressado
sem ter pra chegar sua hora
no tempo do delicado
deleite que tal corrente
seus sutis elos se selam

Cada serra e serração
e cada casa caiada
testemunham nesse chão
os amantes da cilada
embebidos na araruva
e segredos de cabala

Entre  um causo e uma história
o sol desce avermelhado
a paisagem rememora
o mundo dos exilados
seu contento descontente
é aquilo que mais esperam

Querem canjica e quentão
festa junina ensaiada
nas terras desse sertão
numa noite aluminada
pela fé na ciência pura
e na utopia que espalha

domingo, 6 de junho de 2021

Metapoética

Minha poética expande
pelo meu lirismo e pede
pra queimar esse baralho
de verso-livre-espantalho

Eu não sou Jack, não sou Gandhi
o meu modus operandi
conserta meu verso falho
metro e rima sem atalho

Corto frases, conto sílabas
retalho versos pra forma
que confirma a eufonia

E todo e qualquer escriba
que nunca se conforma
sou eu nessa poesia

sábado, 5 de junho de 2021

Confessionário

Nosso altar, nossa benesse
essas são noites tão frias
sem aquarela, sem prece
de suas mãos sobre as minhas 

Irmã minha que padece
cúmplice da mais vadia
vontade que nos aquece
e sonha todos os dias

Cecília, pelos seus olhos
eu me via bem melhor
do que sou, fui ou serei

Sim, sou eu de sonhos falhos
mas ainda sei de cor
os olhos que mais amei

quarta-feira, 26 de maio de 2021

sexta-feira, 21 de maio de 2021

Sinfonia

seu sexo em si
meu sexo bem lá
um sexo tão só
num sexo que ar fá
mais sexo pra mi
seu sexo de ré
só sexo sem dó

sábado, 15 de maio de 2021

Eu não queria te dizer

Sou meu vendaval:
o meu pé de vento
serve de sustento
pruma flor astral

São rosas de vidro
que contra meu peito
quebram e me cortam
com amor e doçura

Gotas de meu sangue
mancham minha blusa
branca de algodão
que a fome recusa

Sexo na varanda
e macarronada
Beijos pra torcida
e fim da estrada

sexta-feira, 14 de maio de 2021

Cachimbo D'água

Meu fumo, de levíssimas tragadas
um ato solitário, prazer
que atiça meu suavísssimo esquecer
de anéis de fumaça, bolhas d'água

Louvo as felicidades tão sagradas
da fumaça, dos pulmões, do meu ser
me entorpece, me atiça e faz viver
em tantos tragos nas cinzas apagadas

Seda, piteira e isqueiro par a páreo
e prontos pra dançar com meu veneno
nas médias medidas da escansão

Morros, montes, relevo solitário
da janela contemplo o belo extremo
Nuvens e prédios, uma só visão

segunda-feira, 26 de abril de 2021

excrementíssimo senhor

Das mentiras numa rede
sangue nas mãos e nas urnas
um copo de ódio sua sede
não mata mas rega as ruas

Justiça implora e lhe perde
as verdades das mais cruas
Telhado se fez parede
de vidro e regência nua

Casa de vidro é palácio
da milícia e da morte
que ceifa num só cardume

a vida que de tão frágil
esvai sem logro ou sorte
sob o mando dum estrume

quarta-feira, 7 de abril de 2021

Aldravia 8

Eu
Sinto
Tanto
A
Sua
Falta

sábado, 3 de abril de 2021

Aldravia 7

Quanta
Quarentena!
Sozinho
Sem 
Minha
Morena

Aldravia 6

Minha 
Glande
Penetra
Seu 
Esfíncter
Engole

Aldravia 5

Sol
Poente
Sangra
Vermelho
Todo
Céu

Aldravia 4

Meu
Falo
Seu
Felar
Gozo
Abundante

Aldravia 3

 Meus
Pés
Sua
Língua
Encontro
Perfeito

sexta-feira, 2 de abril de 2021

Aldravia 1

Pinga
Fogo
Risca
Faca
Boteco
Cachaça

Aldravia 2

Com
Cordas
Ato
O
Seu
Gozo

quarta-feira, 31 de março de 2021

Minha doce Pêra


A pêra queixosa fica pelos cantos
seu amor lhe usa só de vez em quando
sonha com as velas, as cordas e tantos
os prazeres que fica salivando

É faminta mulher cheia de encantos
é latifúndio pra ser invadido
com desejos cruéis que causa espantos
aos homens muito aquém do desejado

Diga os seus mais profundos dos anseios
suas vontades submissas, masoquistas
e tão, tão pervertidas que me soam

tal canção de ninar nos doces seios
duma devassidão das mais narcisistas
que das marcas sorri por mais que doam

Prum poema apaixonado

Tenho guardado meu verso
bem medido bem contado
de modo que não esqueço
prum poema apaixonado

Minha frente meu avesso
nos dedos escancionado
em lirismo todo imerso
prum poema apaixonado

Leio, releio, converso
que é tesouro lapidado
com seu brilho mais intenso
prum poema apaixonado

São palavras ao acaso
como quando jogo um dado
que abole o gosto e o senso
prum poema apaixonado

quinta-feira, 25 de março de 2021

Dúbios Deleites

Seu corpo delicado, meu declive
descendo suas curvas tal quem pinta
O mais intenso quadro que em nós vive:
nosso suor, saliva e gozo é a tinta!

Seu corpo terra chã pra que eu cultive
nosso prazer e a fome nunca extinta
A mais terna tortura que já tive
lhe ver nua, sedenta e tão faminta!

Temos nossos delírios, nossos sonhos
que sussurramos entre nossos lábios
desejosos um do outro mais e mais

Temos nossos desejos e carinhos
que machucam a pele para dúbios
deleites amarrados em seus ais


domingo, 14 de março de 2021

Gabriela,

eu não dou conta mais, não tem escala:
acordo e vou dormir pensando em ti...
durmo mais de doze horas e não para!
meu coração não para de sentir.

borderline, limítrofe que fala
o psiquiatra fala para mim:
que tenho que entender mas não repara
o fio que me corta a frio assim.

não, não me compreende, só me acusa
de não ser neurotípico e ser vil,
machista, torto, errado e bem malfeito!

sei que não tem qualquer que seja a escusa
pra que eu tenha esse péssimo perfil
de quem não tem conserto ou mais jeito!

domingo, 7 de março de 2021

Victória

cinco dedos espalmados
nas nádegas eritemas
com seus gemidos safados
que inspiram poemas

Nos nistagmos excitados
de seus olhos, doce pena
e num tenesmo plugado
que as lagrimas encena

lambendo meus pododactilos
em diplopia no entesado
do sexo que lhe desperta

rebola em pélvicos circulos
num borborigmo calado
quando o falo lhe penetra

Miau

Minha gatinha toda grata
plugada miava eterna
fome e jura insensata
e soltava a pilhéria
declarando se por tudo
seu amor tão torto e escuso

A mais safada, vadia
e obediente do gatil
Meus pés ela me lambia
dum jeito meigo e servil
abanando seu rabinho
implorando por carinho

Ronronava tal uma gata
se esfregava nas pernas
minhas totalmente grata
por deixar numa baderna
molhada o sexo miúdo
que ansiava um gozo imundo

Sua língua nada sacia:
mãos, pau, pés, tesão a mil
como mestre ela me via
solta um gemido sutil
por meu dedo em seu cuzinho
deixando meu pé limpinho

sexta-feira, 5 de março de 2021

Minha cobiça

Sente-se mais viva
nas juras eternas
sabor de saliva
pernas entre pernas

Você me vicia
com sede, com fome
e com a volúpia
intensa sem nome

sua mão vazia
trêmula nas minhas
em forte carícia
como ervas daninhas

Que brotam vizinhas
na veia a semente
feita verso e linha
amor simplesmente

num pulso pungente
o não entre o sim
que na cama prende
você feita pra mim

Não diz que não sente
o gosto do gin
que logo se rende
tão cativa no fim

quarta-feira, 3 de março de 2021

Cecília

Ela começa com uma pergunta
antevendo minha resposta singela
Eu falo ela escuta sua boca coça
e me contrapõe com galante enleio
Ela me ensina sobre arte contemporânea
ouço atento transcrevendo em sílabas
poéticas, métricas e rimas
Ela me fala do concreto, dos bichos
móveis de Lygia Clark e Hélio Oiticica
Eu diminuo a velocidade do carro
esbarro minhas mãos em suas coxas
e repenso a filosofia procuro
um argumento na minha língua
Estou aprendendo como nunca
seus olhos brilham e rimos, sorrimos
juntos de uma piada boba
A viagem se alonga e não me importa
a estrada é nosso melhor destino
Rimas, tintas, história e coisa e tal

vocabulário

Respire, tome seu ar,
tenho fome das palavras,
bem trancadas, nessa boca.
Essas que mandam as favas
o pudor, da carne pouca,
que tampa sua vergonha
de menininha direita.
Quero logo que se ponha
em posição de que aceita
na cara as palavras sujas
e a expressão mais imunda.
Até mesmo aquela cuja
a palmada mais fecunda
de seu bumbum faz lembrar!

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

Sade e a efemeridade:

não menos indiferente 
ao que farão de tuas cinzas 
do que poderias ter sido, 
a  antes de teu nascimento

terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Trova Quarenta e sete pra meia noite

De gangorra com a forca
eu brinco com meus passados 
que repasso a ferro e fogo
nos anseios que me mordo

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Lentamente

Minha virtude, meu mote
não mais me diz quem eu sou 
muito menos porque vivo
Não tenho mais essa sorte
que do meu peito passou
me resta o frio cativo

Não sei bem quem mais errou
por mais que viro e revivo
não acho qualquer resposta
Tantos meses se calou, 
meu lirismo tão altivo,
de mim mesmo se desgosta

Qual verdade, qual meu crivo,
do pesadelo uma amostra
que do gosto me ressinto
Dessa sala não me livro
migalhas na mesa posta
é o q'Eu como tão faminto

Perdi o jogo, perdi a aposta
nem lavra, ouro ou quinto
me resta desse desejo
Das montanhas até a costa
acabei-me por extinto
todo gosto de meu beijo

Minhas mágoas de absinto
no meu quarto de despejo
guardo minha melhor veste
Manchada de vinho tinto
que lambo, esfrego  e almejo
com toda sede do agreste

No caco d'espelho vejo
o meu sangue e minha peste
minha humilhante derrota
No embalo do realejo
mecânico e inconteste
cuja melodia me corta

Não há um deus que me ateste
que me indique a certa porta
d'esperança e acalento
Não há diabo que se preste
a me contar uma lorota
que me afaste esse lamento

Não há jardim e nem horta
onde eu colha o sacramento
ateu duma vida bela
Espinho seco, flor morta
sem horizonte no firmamento
sou nau sem mastro ou vela

Testemunho e testamento 
minha herança e sequela
de coração aleijado
Desatino desatento
escondido na janela
do meu quarto rejeitado

Aqui jaz a sentinela
do anjo roto e maltratado 
que quis o meu bem querer 
Hoje é quadro d'aquarela
em lágrima aquarelado
me pintando sem me ver

Tento e tento ter cuidado 
ao meu pranto recolher 
destilado num só frasco 
Suturado e retalhado
sucessivamente ser
sendo meu algoz carrasco 

Venha, venha logo ver
não é ensaio de teatro 
nem coroa dum infante
Meu ocaso é pra valer
sem pudor e sem recato
jaz em dois o diamante 

terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

Valiosa

Ela foi, sem menor dúvida, seu maior sonho já concretizado e quando findo sabia que era um trabalho ímpar. Não sabia bem porque, mas não lhe convinham olhos verdadeiros, em sua face de fada lapidou como ourives duas pedras de jade.

Tinha lhe feito com as curvas mais delicadas e uma boca tão rubra quanto bem tracejada. Entre os lábios uma língua muitíssimo apurada e a tez ao menor toque ou roçar se eriçava. Ouvia o bater de seu coração mesmo nos instantes de calma e quando ele nervoso ouvia o gritar sua alma. Quando ele chegava sabia de longe pelo olfato tão apurado e sempre estava encantadoramente bem perfumada.

Nunca o vira e nem podia sequer admirar a sua própria beleza que fora tecida por ele. Pois seus olhos eram de jade! Mas eles lhe caiam perfeitamente com sua profundeza sem fim...

Ela a cada toque mui deliciosamente gemia, soando-me como a mais bela e formidável sinfonia. Sua voz tão doce e delicada foi, por ele,  afinada. Dela eram as melhores carícias qu'ele recebia em toda sua vida e também ela rapidamente os pontos mais sensíveis dele descobria. Por ele cada gesto fora ensinada e nos toques de amor tornou-se requintada.

Adormecida seus olhos beijava, as frias pedras eram nela sempre cálidas. Nos seus olhos de jade nunca havia lágrima ou tristeza, somente a felicidade de Rei e Princesa.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

Foi sério mesmo

 você me tirou

do duo do spotify

apagou meu avatar

na conta da netflix

mudou a senha do wifi

tudo para eu não voltar

a contracenar contigo

cenas que nem no reddit

xnxx, pornhub ou redtube

encontrará tanto prazer

tanto orgasmo e satisfação

Juntos somos melhores

que qualquer sessão

profissional ou amadora

Nossos gemidos

a melhor trilha sonora

que não vai encontrar

nem na amazon music

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

Camilla

Eu conheci uma garota
o seu nome era Camila
uma Menina direita, 
uma Menina tranquila

o seu chá de camomila
bolado pro punk na certa
olhos rubros de neblina
mocinha muito da esperta

e nos lábios de Camila
- a blusa o mamilo alerta -
os dedos faziam fila
no anexo à praça liberta

sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

Tautolorgia

O hoje é o depois de
amanhã de anteontem
e o antes de ontem do 
depois de amanhã
O anteontem do 
depois de amanhã
é hoje e o depois
de amanhã o antes 
de ontem de hoje!

sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Narcisa

Perfeita e linda ao espelho
pois me fica ainda mais
deliciosa, insinuante
com as minhas digitais
salpicando de vermelho
a sua pele num instante

sábado, 14 de novembro de 2020

Passeio

Está ela no paraíso
dos dedos entrelaçados 
da boca de puro riso
por seus joelhos ralados, 
Vestido todo florado
e seu rabinho plugado.

quinta-feira, 12 de novembro de 2020

Pois nada é tão humano

Pois nada é tão errado,
que não se possa acertar!

Pois nada é tão sagrado,
que não se possa gozar!

Pois nada é tão acertado,
que não se possa errar!

Pois nada é tão gozado,
que não se possa rezar!

Mimada

Por mimo, prazer e trato,
eis a linda bonequinha:
tão deliciosa putinha,
que uso, abuso e maltrato!