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Poeta e apenas poeta
Já me olharam espantados quando digo que sou poeta e só poeta. Que não canto, nem danço, nem atuo, nem pinto, nem bordo, que "só" ...
sexta-feira, 30 de janeiro de 2009
Você
Diga quanto de você
deixou ficar para trás?
presa nas minhas narinas
ou sobre minhas retinas
Diga quanto de você
deixou ficar para trás?
por todos os meus lugares
em todos os meus pares
Em um posto do correio
ou numa praça esquecida
se deixou ficar presente
faz parte do meu asseio
limpar lhe da minha vida
mas não sai por mais q'eu tente
quarta-feira, 14 de janeiro de 2009
segunda-feira, 22 de dezembro de 2008
Nunca leia Kafka
Ando meio sociopata
Mui recluso sem diálogo
Pois exceto co'a barata
que me corroi o decálogo
terça-feira, 2 de dezembro de 2008
Em sépia
são serpentes e punhais
numa cidade vazia
são suspiros e postais
na parede de sophia
sábado, 29 de novembro de 2008
O Pianista (revisado)
Desde o dia que o pianista falhara em sua primeira exibição, frente toda a Corte; culpara, terrivelmente, sua mão direita. Afinal, fora ela que tropeçara, amargamente, frente ao público tão exigente.
Sua mão errara naquele momento crucial, transformando um Fá sustenido em um dissonante Sol natural. Ele soubera, imediatamente, que todos os ouvidos do ambiente haviam sido feridos. Mas, complacentes com sua inépcia, o aplaudiram em patente e jocosa cordialidade falseada.
Tudo culpa da sua maldita mão direita! Que até então sempre fora sua favorita, que tudo pegava, apalpava, escrevia e fazia. Não confiava mais nela; pois ela poderia novamente vacilar. Reaprendeu: a escrever, a escovar os cabelos, a fazer todas as suas necessidades, de abrir portas até atar e desatar os nós de seus sapatos.
Em toda a sua dor sentia-se inútil, o piano não poderia mais tocar, pois não poderia jamais perdoar aquela tratante; que tanto o decepcionou depois de tantos anos que lhe prestou prioridade, cuidados e carinhos. E como se sentia culpado por nunca ter dado um melhor préstimo à sua fiel mão esquerda; que mesmo relegada ao descrédito nunca havia deixado de cumprir com o seu dever.
Não podendo mais tocar; logo seria preterido, naquela competitiva corte do príncipe regente, caso não dominasse outra arte. Não tinha, porém nenhum dom para os pincéis ou para outros instrumentos: flauta, violino, violoncello; que não tinham a mesma imponência e importância do piano. Além de também serem todos dependentes da impossível reconciliação com sua pérfida e vil mão direita.
Mas havia a arte da esgrima; uma arte que até praticara em seus arroubos de juventude. Era, à época, apenas bom e não o melhor, sendo sempre vencido pelos movimentos imprevisíveis daquele canhoto de cabelos vermelhos. Pois assim, redimindo-se com sua honesta e correta mão esquerda, empunhou novamente o Florete que há tanto jazia empoeirando e com afinco tornou-o uma extensão de sua mão fiel e certeira.
Guardando a amarga lembrança das lutas com a mão direita, sabia, exatamente, onde o seu oponente estaria no próximo momento. Assim com sua habilidade rara venceu, após anos de prática dedicada, obstinada e decidida, inúmeros duelos e torneios em terras próximas e também em outras distantes, algumas até mesmo além-mar.
Com os seus novos sucessos teve o almejado reconhecimento e assim chegou novamente às honrarias da corte e ao exibir-se para sua Rainha e Rei colocava-se à posição clássica exibindo sua mão esquerda ao florete e escondendo em suas costas a indigna mão direita.
Naquela corte, depois de tantos anos passados, não mais se recordavam de sua face. Não reconheciam, naquele esgrimista hábil, o promissor pianista de outrora. Mas entre os tantos artistas daquela corte, de talentos tão diversos quanto fantásticos, havia uma compositora de Ópera , Violino e Piano que desde o primeiro instante o reconhecera.
Não por sua face agora séria e amadurecida, mas por sua bela mão que ele tão despropositadamente parecia querer ocultar. Sim, pois se havia algo que ela apreciava mais do que uma sonata bem composta ou uma peça grandiosa era a harmonia dos dedos, ossos e falanges de mãos belas e bem cuidadas. Tinha em seu quarto uma coleção delas bem guardadas, dentro de um baú reforçado e trancado, em seus respectivos potes embebidos ao rum.
A compositora, ao notar aquela mão escondida atrás do tal esgrimista, se perguntava o porque dela estar tão mal cuidada e tão distante da beleza que já tivera, revoltando-se com tal desleixo para com uma mão tão preciosa. Mas, não obstante a tal fascínio, estava curiosíssima para saber do porque do seu inexplicável desaparecimento, naqueles tempos onde Vossa Magestade ainda era Regente; afinal, sumira depois daquela inspiradora tarde de música, onde conduzira magistralmente suas mãos encantadas sobre o piano.
domingo, 9 de novembro de 2008
A Máquina
terça-feira, 14 de outubro de 2008
Restos
Primeiro vou celebrar
tudo que restou de mim
entre o penhasco e o mar
com as asas de marfim
Primeiro vou lhe guardar
pedaço e pedaço assim
sangrando n'algum lugar
que inda chora nosso fim
minhas asas já não são
tão belas quanto lembras
ou macias como sentiu
hoje asas de camaleão
de couro remendo e dobras
como meu eu triste e vil
quarta-feira, 1 de outubro de 2008
Pois seus beijos nunca foram sinceros
Após nosso para sempre
nada foi que me restou
eu queria a verdade ou
ser feliz eternamente?
Minha boca inda inocente
sabor amargo provou
Eu não sei quem mais errou
quem acredita ou quem mente
Com nosso sonho o que faço?
Como sonhar tão sozinho?
Como não mais lhe querer?
Sem você sou só pedaço
Em meu pesadelo daninho
indo aos poucos me perder
terça-feira, 16 de setembro de 2008
Canalha
Para elas vou fazer a Poesia
mais Bela que sequer Camões fazia
Versos sordidamente Lapidados
para ver seus olhares Encantados
Mestre nos Poemas de Galanteria
que consquistará a boca mais macia
por meus Versos nos pequenos recados
corpo e coração são Arrebatados
Escrevo com Heroismo das espadas
das penas, capas, lenços e chapéus
não mando flores mas prometo céus
Me encanta moças tão Apaixonadas
perguntando: "Seus versos são pra mim???"
Só posso responder sincero: "Sim!"
quarta-feira, 10 de setembro de 2008
Doce Garotinha
A doce garotinha, vestida em um vestido rodado e branco, tem os cabelos penteados e de lindos cacheados. Ela tem os seus olhos amendoados de um azul elétrico e violáceo, mas tristes e marejados.
A doce garotinha, em um salão amplo e vazio, está amargamente sozinha, com seus pés descalços sobre o mármore frio. Ela, com sua pequenina mão, manchando o chão com seu lento gotejar tão vermelho, segura trêmula uma faca pelo fio.
A doce garotinha apenas chora e mordendo uma raiva tamanha que machuca seu lábio tão macio.
terça-feira, 9 de setembro de 2008
O Pianista
Sua mão errara naquele momento crucial transformando um Fá sustenido em um dissonante Si bemol. Ele soubera, imediatamente, que todos os ouvidos do ambiente haviam sido feridos. Mas, complacentes com sua inépcia, o aplaudiram em patente e jocosa cordialidade falseada.
Tudo culpa de sua maldita mão direita! Que até então sempre fora sua favorita, que tudo pegava, apalpava, escrevia e fazia. Não confiava mais nela, pois ela poderia novamente vacilar. Reaprendeu a escrever, a escovar os cabelos, a fazer todas as suas necessidades, de abrir portas até atar e desatar os nós de seus sapatos.
Em toda a sua dor sentia-se inútil, mas o piano não poderia mais tocar, pois não perdoaria jamais perdoar aquela tratante que tanto o decepcionou depois de tantos anos que lhe prestou prioridade, cuidados e carinhos. E como se sentia culpado por nunca ter dado um melhor préstimo à sua fiel mão esquerda que mesmo relegada ao descrédito nunca havia deixado de cumprir com o seu dever.
Não podendo mais tocar logo seria preterido naquela competitiva corte do Rei caso não dominasse outra arte. Não tinha, porém nenhum dom com os pincéis e outros instrumentos flauta, violino, violoncelo não tinha a mesma imponência e importância do piano. Além de também serem todos dependentes da impossível reconciliação com sua pérfida e vil mão direita.
Mas havia a arte da esgrima, uma arte que até praticara em seus arroubos de juventude. Era, à época, apenas bom e não o melhor, sendo sempre vencido pelos movimentos imprevisíveis daquele canhoto de cabelos vermelhos.
Pois assim, redimindo-se com sua honesta e correta mão esquerda, empunhou novamente o Florete que há tanto jazia empoeirando e com afinco tornou-o uma extensão de sua mão fiel e certeira.
Guardando a amarga lembrança das lutas com a mão direita, sabia exatamente onde o seu oponente estaria no próximo momento e com sua habilidade rara venceu, após anos de prática dedicada e centrada, inúmeros duelos e torneios em terras próximas e também em outras distantes.
Com os seus novos sucessos teve o almejado reconhecimento e assim chegou novamente às honrarias da corte e ao exibir-se para sua Rainha e Rei colocava-se à posição clássica exibindo sua mão esquerda ao florete e escondendo em suas costas a indigna mão direita.
Na corte ninguém mais se lembrava dele, exceto uma bela Dama, que compunha óperas e apreciava mãos, que reconheceu aquelas belas mãos do misterioso pianista que sumira depois de uma espetacular exibição.
Com os seus novos sucessos teve o almejado reconhecimento e assim chegou novamente às honrarias da corte e ao exibir-se para sua Rainha e Rei colocava-se à posição clássica exibindo sua mão esquerda ao florete e escondendo em suas costas a indigna mão direita.
Naquela corte, depois de tantos anos passados, não mais se recordavam de sua face. Não reconheciam, naquele esgrimista hábil, o promissor pianista de outrora. Mas entre os tantos artistas daquela corte, de talentos tão diversos quanto fantásticos, havia uma compositora de Ópera e Piano que desde o primeiro instante o reconhecera.
Não por sua face agora séria e amadurecida, mas por seu bela mão que ele tão despropositadamente parecia querer ocultar. Sim, pois se havia algo que ela apreciava mais do que uma sonata bem composta ou uma peça grandiosa era a harmonia dos dedos, ossos e falanges de mãos belas e bem cuidadas. Tinha em seu quarto uma coleção delas bem guardadas, dentro de um baú reforçado e trancado, em seus respectivos potes embebidos ao rum.
A compositora, ao notar aquela mão escondida atrás do tal esgrimista, se perguntava o porque dela estar tão mal cuidada e tão distante da beleza que já tivera, revoltando-se com tal desleixo para com uma mão tão preciosa. Mas, não obstante a tal fascínio, estava curiosíssima para saber do porque do seu inexplicável desaparecimento; afinal, sumira depois daquela inspiradora tarde de música, onde conduzira magistralmente suas mãos encantadas sobre o piano.
segunda-feira, 8 de setembro de 2008
Alice
Despertou com todo seu corpo alquebrado; um mal estar terrível lhe subia pelo amargor salgado que habitava sua boca. Não tivera sonhos, mas ainda remoia seu triste destino. Tudo que queria era desaparecer, mas abriu o chuveiro e, ao cair das águas mais cálidas, aconchegou-se novamente. Reconfortada, misturou nas águas suas próprias mágoas.
Terminado o pranto e o banho, sentou-se à penteadeira para seus cabelos escovar e, sob o seu reflexo, pôs-se a refletir sobre si mesma, refletir sobre ele, refletir sobre o que acontecera, refletir sobre o que os outros achariam, refletir sobre o futuro, refletir sobre sua vida, refletir sobre tudo que pudesse ser refletido. Refletir. E, em meio a suas reflexões, não teve dúvidas e refletidamente tornou-se espelho.
quinta-feira, 4 de setembro de 2008
Pequenos Luditas
Talvez um colo? Nem pensar! Era tempo demais! E todo o tempo era contado. Tudo o que diziam, com seus conta-tempo em mãos, era: "Hora de comer; Hora de estudar; Hora de dormir e de acordar!"
Mas numa noite, eles, todos juntos, desobedeceram e ficaram acordados até bem tarde. Tão tarde que todos sabiam que era hora de estarem na cama. Eles haviam bolado um plano fabuloso e perfeito.
Cada um pegou todos os conta-tempos pequenos, sileciosos, brilhantes, novos, velhos e médios que encontrou, parando em frente ao maior e mais barulhento que achou. Com a primeira das doze badaladas começaram juntos a martelar por toda a cidade.
Nota
Ludita: Movimento Operário da Revolução Industrial Inglesa que invadia as fábricas cujo os donos dimunuiram os salários ou demitiriam funcionários por causa da implantação de máquinas. Em protesto os Luiditas quebravam essas máquinas por roubarem seus salários e empregos.
domingo, 31 de agosto de 2008
Pela puta cara
Tudo o que disser
não lhe compromete
Faça o que quiser
mas me compra e mete
Trova
Coitada da poesia,
por favor, deixe-a livre
desses pesados grilhões
de sua falsa liberdade
Ébria composição
Através, da fumaça cinzenta,
do conhaque marrom, lhe contemplo
e ela tão solitária se senta
pra sorver seu café a conta e tempo
Sua presença que já me atormenta
e a fumaça carrega plo vento
as delícias que a pena me intenta
murmurando-lhe meu triste alento
Quando lhe vi deixar eu não pude
de notar sua tez tão mais macia
que a mais doce das notas do alaude
palpitar de seu peito: harmonia
intocável por minha mão rude
incapaz para tal sinfonia
quinta-feira, 28 de agosto de 2008
Apenas por diversão
Pois plante uma bicicleta
e pedale uma floresta!
Tranque chave na gaveta...
e peça o que não se empresta.
Pois desenhe torto a reta:
que Dez a burrice atesta!
Sê roto em roda seleta...
e faça do luto festa!
Apenas por diversão;
roube o doce do ladrão
do senador e da criança!
Desmarque todo o baralho...
Espante até o espantalho,
convidando-o pra esta dança!
quarta-feira, 27 de agosto de 2008
Análise Filosófica do conto “Três Sonhos” do livro: “O Senhor Calvino” de Gonçalo M. Tavares
(clique na imagem para ver o conto legível)
No primeiro conto vemos um Calvino obstinado e perseguidor dos seus objetivos. Encarando seus reveses "sem pensar", ou seja, sem hesitação e com uma certeza de quem está seguro de seus atos. Jogando-se frente uma situação aparentemente absurda que lhe foi imposta com maestria e firmeza. Calvino joga-se pela janela, trinta andares acima do solo, pois através dela foram jogados os objetos constituintes de sua personalidade, seus símbolos de poder. Para Calvino, os sapatos e gravata bem alinhados equivaleriam à capa e espada bem cuidadas de um mosqueteiro ou o chapéu e revólver de um Cowboy no Velho Oeste. São o que o torna preparado para enfrentar seu destino. Mas não se trata apenas de vestir seus trajes, Calvino o faz com maestria e obstinação. Seu nó é um nó de dedos certeiros. Mesmo falhando ao calçar o pé esquerdo, não desiste, e antes de chegar já tem os sapatos com os atacadores bem apertados. Ao fim de sua jornada Calvino chega impecável, realizado.
Com a mesma presteza Calvino age ao se deparar com a Borboleta. Em grego, Borboleta é Psyche, que também significa alma, sendo usada desde muito como símbolo para libertação, transcendência e transmutação. Calvino reconhece nela algo de precioso e por isso mesmo se apressa em fechar a janela para não deixá-la escapar. Da mesma forma com que nos concentramos mais quando um lampejo nos indica o caminho para a resposta de um problema que há muito nos atormenta. Calvino acompanha o vôo da borboleta, observando-a de longe, observando-a tocar seus diferentes desejos e problemas: de seu desejo pela mulher de minissaia, de seu mundano interesse pelos números (números estes que aparecerão mais fortemente no terceiro sonho) e por fim chegando perto do bife cru, da carne que ele espanta com veemência, como se tal pudesse macular a Borboleta-Alma.
Seus esforços são recompensados e a Borboleta adentra por sua orelha esquerda. Sim, pelo lado esquerdo de seu corpo, conhecido pela ciência moderna como o lado responsável pelas sensações e emoções e antigamente associado ao mistério, místico e sinistro. Quando essa alma, que tanto perseguiu, se une à de Calvino ele se sente completo, íntegro e saciado. Com todas as respostas aos seus questionamentos, já pensado, resolvido e realizado. Depois de tamanha perseguição, de passar por provações, finalmente encontrara seu momento derradeiro. Calvino encontrara seu momento de êxtase, seu instante de maior felicidade. Mas desperta por não dar conta de tamanha completude e felicidade que a revelação da verdade proporcionava. No entanto, resta-lhe uma dor de cabeça que não passa como se não passasse para lembrá-lo do que vivera.
Diferentemente dos dois sonhos anteriores, Calvino começa esse de fora da situação que ele mesmo se encontrava, custando a perceber que falavam de números, percentagens da venda de petróleo. A sensação ruim que existia no final do segundo conto persiste, transformada agora na estranheza da sensação de estar dentro do estômago de uma Baleia. Pela primeira vez Calvino começa a se dar conta do mundo, percebe com estranheza como todos falavam de percentagens e percebe como ele, mesmo depois de se afastar da discussão com seu sócio, não conseguiu se desvencilhar desses números. Esse terceiro sonho é um despertar propiciado pela Borboleta. Depois do segundo sonho Calvino percebe a pressa, os números e todo o sistema da cidade dentro dessa grande Baleia.
Os três sonhos mostram momentos distintos da vida de Calvino sendo o primeiro seu quotidiano, o segundo seu rompimento e o terceiro seu novo dia com os questionamentos suscitados pelo rompimento. Calvino sai do primeiro sonho realizado ao conseguir seus objetivos, chega impecável ao chão, preparado para sua labuta diária. Já no segundo, apesar de sua realização ser incrivelmente maior, termina com o mal estar de não ter dado conta de tal. E por fim chega o terceiro conto, onde a revelação se depara com seu quotidiano e o faz perceber o que lhe causa náusea. Os três sonhos juntos formam o conto, a sua evolução pessoal. Não podendo ser lidos isoladamente, mas sim, como um conjunto de instantes particulares e interdependentes.
segunda-feira, 25 de agosto de 2008
Elogio
E que nunca experimente,
porque se experimentar
não deixará de querer
aprecia-lo novamente...
quinta-feira, 21 de agosto de 2008
Sonetilho II
Pois todos os dias eu travo
uma batalha sem fim
Sendo às Palavras escravo
do que Elas querem dizer
Sendo sempre torto e bravo
no que dizem para mim
Pois meus dedos nunca cravo
no que dizem pra você
Sendo sempre o mais ávaro
em sabê-los tal qual e assim
pra cada Letra entender
Pois Versos eu ainda gravo
nessa torre de marfim
pra vê-los resplandecer
domingo, 17 de agosto de 2008
Tempestade
Depois de por todo o mundo
soprar numa busca perdida
até no abismo mais fundo
procurara sua querida
Entrou num bosque profundo
de tais belezas escondidas
e pelo vale fecundo
encontrara as esquecidas
O Vento dançou co'as pétalas
inebriado plo perfume
doce e saboroso delas.
Pois eram flores mais belas
que semearam seu gume
na tormenta de quimeras
sábado, 16 de agosto de 2008
Ele
Fabulosamente insípido,
era o seu melhor beijo...
Mas pelo seu olhar, límpido,
atiçava o maior desejo.
E terrivelmente ríspido,
o seu carinhoso ensejo!
Era de todo perdido
mas também tinha vicejo!
Regara pura indolência
nos campos que passara:
puro, descalço e desnudo!
Fizera assim sua indecência
nas mil camas que deitara
num gozo eterno e absurdo!
quinta-feira, 14 de agosto de 2008
menininha
menininha, menininha
tão inocente a me sorrir
que tu saiba serás minha
muito tenho a lhe bolir
menininha, menininha
vou lhe botar pra dormir
não ficarás mais sozinha
muito tenho a lhe bolir
menininha, menininha
não tens mais porque chorar
menininha, menininha
tens meu colo pra deitar
menininha, menininha
tens toda noite a mamar
terça-feira, 12 de agosto de 2008
sábado, 9 de agosto de 2008
Vaidosa
Ela não sabia, porém que material usaria para tamanho feitio que tanto desejava. Se importadas seriam as sedas das terras que, de tão longínquas, falavam como se sempre cantassem...
Pois sonhara com seu brilho, sua tanta maciez tão fria, que toda lhe arrepiava, mas acordava com dúvidas. Tinha também o velho tecelão que fornecia há muitos e muitos anos um acolhedor veludo. O melhor que já cobrira sua pele alva e macia. Também vestido nobres damas para os bailes da corte.
Depois pensou no couro, dos animais mais exóticos vindos dos reinos do sul, durável e protetor. Que perduraria por tempos, seria a sua obra de arte, que vestiria para encantos de todos os que lhe vissem.
Mas despertara também um ciúmes tão estranho, um medo que o perdesse. Pior quando se ela fosse decerto que herdariam seu trabalho mais valioso, outras tantas vestiriam. seu maior trabalho e seduziriam com sua criação. Pois então não teve mais dúvidas.
E com as mais belas linhas bordou em sua própria pele os mais bonitos detalhes que nunca, jamais, bordara. Foram seus próprios ossos, puxados com toda precisão, que se alinharam para sua nova e perfeita forma.
Nota: É um rascunho, não está do jeito que pretendia, está incompleto, falho precisando de muitos ajustes. Sobrando coisas, faltando outras tantas. Longe de estar sequer aceitável. Agradeço as sugestões
terça-feira, 29 de julho de 2008
Amargo Vazio
Meu rancor é tanto frio quanto cálido
Amargo tal um beijo calculado
e doce como a bela anis roubada
sem riso ou tristeza acalentada
Pouco me importa qual o meu estado
sem pensar quanto é certo ou errado
Eu não lamento tal vida alquebrada
quando se esvai minh'alma acorrentada
Insônia não é mau em companhia
quando bem juntos meu temor se esvai
deixando para trás qualquer cobrança
Insônia não é mau em solidão.
Quando ficar calado nada atrai
e a madrugada passa sem lembrança
Sr. Personna
Desesperado a saber caro amigo!
que passos anda nossa vil vontade?
Tu terias esse tal saber contigo
diga-me, pelo menos por vaidade!
O teu silêncio é algum castigo!
sabes se me ouvem nesta sua cidade?
Diria-me porque teus passos eu sigo?
já não nos restará qualquer verdade...
Sr. Personna, o que trazes pra mim?
traz-me um contento ou pesar sem fim?
Sr. Personna, o que trazes pra mim?
traz mentira ou boato alegre assim?
Sr. Personna, o que trazes pra mim?
traz-me agora um sonho bom ou ruim?
segunda-feira, 28 de julho de 2008
Tarde de verão
Efebo dos cabelos tão macios
Ninfa desnuda nada pelos Rios.
são companhias dessas melhores graças
após o bosque de apreciadas caças...
Flores e flautas surgem plos Estios,
Carícias com cuidados, muitos brios,
Divinos frutos, suculentas massas...
do odre tão raro três servidas taças
Doçuras d'um hálito juvenil,
tal Brisa do deus Zéfiro aos lábios,
perdem qualquer razão até os mais sábios
dos belos corpos são calores mil,
entre suspiros, relva tão macia...
afinal, cada taça está vazia.
quinta-feira, 24 de julho de 2008
Literatura Potencial
Flerto hoje com o movimento Oulipo
pois não direi que nele eu acredito
mas que talvez tenham a solução
para livrar-me desse vil grilhão
É no seu paradoxo q'eu insisto
num casamento tão perfeito e quisto
abocanhando as normas com paixão
frutos de liberdade nascerão
velho Parnaso até o Sr. Drummond
escolherei o mais afinado som
dos de Concreto até meu fiel Bilac
desonrarei jamais versando araque
luzes eternas da inspiração da vela
serão Augusto e a bela flor Florbela
terça-feira, 22 de julho de 2008
Sátiro
Olhos violaceamente tão injetados
incréu à tal fada que lhe sorri...
Sátiro co'a flauta de mil bordados,
em cada nota um naco da de si!
Vai pelo ar na presteza dos alados:
convida sáfico igual colibri!
Na sedução de ardores, mil cuidados...
pelo rubor da Fada, Ele se ri!
Quando co'a flauta vem seu belo canto,
dando-lhe beijos sem qualquer aviso...
roubados, mui bem dados por vaidade!
Chegando a noite a lhe servir de manto,
pois nela o seu maior pranto é de riso
por actos em ausente sobriedade...
domingo, 6 de julho de 2008
Nobre tecelão
Artesão vem tecendo pensamentos,
tem, pelo fiar, os dedos calejados...
Cada trançar desfia dos mil tormentos,
nos olhos míopes muito fatigados.
Seu tear em sinfonia tocando os ventos;
ao soar, novelos são assim trançados...
os fios serão tingidos nos momentos
pelos desejos bem acalentados.
Numa cortina d'um sutil bordado...
Deita em seu leito envolto na penumbra,
entre lençóis q'outrora pra si fiou.
Tem o seu sonho mais vazio velado,
mas sem que nunca alguém sequer descubra
d'um sol vermelho que num dia sonhou...
sábado, 5 de julho de 2008
Singela Trova
Detrás d'orelha um afago
Com o meu melhor carinho
uma flor e um verso trago
pra ninguém ficar sozinho
quinta-feira, 3 de julho de 2008
A minha adorável turba
São risos e mais risos, todos sorridentes!
Calem-se! Vocês são uns imbecis contentes.
Lágrimas e mais lágrimas, todos aos prantos!
Parem! Sabemos que entre nós já não há santos.
Loucuras e Loucuras mais, todos dementes!
Aquietem-se! Seus juízos estão ausentes.
São Vozes e mais vozes, ecoam pelos cantos!
Falem! E Digam-me os porquês desses encantos
Percam-se! Por entre essas vozes distorcidas.
Seres d'almas vazias e pensamentos pequenos!
São razões iludidas, homens em seus postos.
Esqueçam-se! Destas aspirações decaídas.
Seres de sangue ralo e de sonhos amenos!
Perdidas ilusões, homens apenas mortos.
segunda-feira, 30 de junho de 2008
Sua admirável Loucura
Co'a posse d'uma lâmina tão cega,
vão é ferir suas mãos torpes e frias!
Quando foge da morte e sua luz nega...
sua Louca: dance por vielas vazias!
Esse belo jardim sem flores rega;
criando poças que não secam por dias...
Seu punhado de areias vermelhas pega,
põe-se a gritar por todas cercanias!
Tal quando vai a despetalar espinho;
a lhe ferir o rosto, boca e mãos.
Pois sua dourada chave do moinho
fora roubada por seus vis irmãos!
Seu olhar tão doce quanto o melhor vinho,
causa medo além d'espanto aos mais sãos!
segunda-feira, 23 de junho de 2008
Lições III
Aprenda: nem tudo são descaminhos,
porque também virão viciosos vinhos.
Afinal nem o mundo é só impureza...
também sortida há qualquer malvadeza!
Saiba, pois nem tudo serão espinhos...
há ferrões nos melhores dos caminhos!
Pois que nem tudo é sempre uma tristeza,
sobra também a fome e algoz pobreza!
Pequena, são mazelas da virtude!
assim mui digna de quem só o bem faz...
Contrário a quem bebe por sua saúde...
pra se gozar como melhor lhe apraz!
dos que infligem tormentos amiúde...
sem a piedade d'um segundo em paz!
sexta-feira, 13 de junho de 2008
Zero-Amor
Ambos Bêbados Caminhavam Desolados
Ainda Baixava o Crepúsculo Dolorido
Embalados Faziam Gracejos Horrorosos
Enciumados Fizeram-se Gratos, Honrados
Insensíveis Jogaram-se à Lama Marrom
Inseparáveis Jaziam Lânguidos, Mordazes
Numa Opulenta Perversão Quotidiana
Naturalmente Ordenada Pelo Querer
Revelaram-lhes, Sensualmente, Taras Últimas
Vorazmente Xoxotas Zunindo Azulmente
Braulios Comedores Deleitados Enfim
Rejeitando Sanhaduras Tão Usuais
Velhacas Xícaras Zelaram Absorvidas
Bebiam-se Carregando Desfrutes Enfáticos
sexta-feira, 6 de junho de 2008
Valiosa
Ela foi, sem menor dúvida, meu maior sonho já feito e quando terminei sabia que era um trabalho perfeito. Não sei bem porque, mas não lhe convinham olhos de verdade, em sua face de fada incrustei duas pedras de jade.
Tinha lhe feito com as curvas mais delicadas e uma boca tão rubra quanto bem tracejada. Entre os lábios uma língua muitíssimo apurada e a tez ao menor toque ou roçar estava eriçada. Ouvia o bater de meu coração mesmo nos instantes de calma e quando eu nervoso ouvia o gritar de minha alma. Do meu chegar sabia de longe pelo olfato tão apurado e para ela sempre estaria encantadoramente bem perfumado.
Nunca me vira e nem podia sequer admirar a sua própria beleza que fora tecida por mim. Mas seus olhos eram de jade! Como eles lhe caiam perfeitamente com sua profundeza sem fim...
Ela a cada toque mui deliciosamente gemia, soando-me como a mais bela e formidável sinfonia. Sua voz tão doce e delicada foi, por mim, perfeitamente afinada. Dela eram as melhores carícia qu'eu recebia em toda minha vida e também ela rapidamente os pontos mais sensíveis descobria. Por mim cada gesto fora ensinada e nos toques de amor tornou-se requintada.
Adormecida seus olhos beijava, as frias pedras eram nela sempre cálidas. Nos seus olhos de jade nunca havia lágrima ou tristeza, somente a felicidade de Rei e Princesa.
terça-feira, 3 de junho de 2008
Minha Amada Princesa
Seria um crime dizer de sua beleza!
e seus gestos até as fadas encantam!
Nela tenho toda calma e certeza,
lhe contemplo e meus desejos vicejam...
Debaixo do dossel bela princesa,
com seu perfume meus medos se espantam!
Eu lutaria contra toda realeza
e contra todos os que lhe maldigam!
Minha amada sorri como se deita
tão lânguida e suave num suspiro...
é minha musa mais que perfeita!
A beira do seu leito lhe admiro
enquanto o corpo inteiro ela se enfeita,
fitando-me não vivo nem respiro!
segunda-feira, 26 de maio de 2008
O parnaso contra ataca II
Que se exploda o politicamente correto!
enfiar no papa um dedo no seu santo reto!
Já cansei do lirismo assim tão comedido,
que liberto não tem nada mais de atrevido!
Convenhamos que nada de errado ou certo...
há na vã poesia de tal falso liberto!
Nesse seu versejar velho e tão combalido,
falta d'algo mais velho pra ser revivido!
faça-me algum soneto...não és capaz?
versos seus tortos eu faço tão bem e assaz...
mais cuidadosamente sonoro e pungente!
Eu sei, sou dessa vil pretensão tão tamanha...
que sequer vai sonhar sua pequena e má sanha!
Pois acusa retrógrado? Sou exatamente!
sexta-feira, 23 de maio de 2008
O Parnaso contra ataca
Eu digo adeus à poesia de gaveta
com tantos dos seus versos tão disformes
Todo meu versejar não é gorjeta
Para que viva dentro dos conformes
Porque não há metro que lhes perverta
meus sentimentos vívidos e enormes
é natural que nas regras me verta
d'algum pensamento que encha ou entorne
Quero ver se tua tão vã liberdade
me provoca a menor saciedade
ou mesmo umas migalhas d'alegria
Diga-me pois onde está teu prazer
que ali também irei lhe perverter
pelo som da mais bela simetria
domingo, 18 de maio de 2008
Goticismo
Dulcíssima solidão
tão doce como um limão
que cultivo com carinho
no prazer de estar sozinho
terça-feira, 13 de maio de 2008
O Reinado
Tomava notas de todas as suas estratégias num pequeno caderno vermelho: cada movimento de seu exército que conseguisse reunir um destacamento inteiro ou senão uma tropa minguada.
Descreveu como se esconderiam nas montanhas escarpadas ao leste do palácio real, para depois descerem margeando o rio até os portões da cidade ou como atacariam durante a lua nova para que a escuridão lhes servisse de abrigo.
Escreveu também da honra e glória dos vencedores, todo o ouro e títulos que daria aqueles que se continuaram ao seu lado, mas, também descreveu nos pormenores da humilhante vergonha daqueles que derrotara com suas estratégias, inteligência e artimanhas.
Contou como tendo conquistado de volta o castelo; contou dos grandes bailes, onde as damas e cavalheiros do mais alto berço de todo o continente seriam convidadas, e dos festejos, enormes com banquetes de manadas e bandos inteiros abatidos para saciar a fome de todo o reino, em honra de sua vitória (comemorações que seriam repetidas, sempre à data da última batalha de reconquista, ano após ano) e então governou, no caderno vermelho, com justiça fazendo seu reino prosperar e crescer.
A intriga da corte lhe divertiria, jogando com as nobres damas e imponentes cavalheiros seus boatos, amores e influências. Mantendo-se sempre no poder com mão firme e gentil. Mas também seria ele protetor e financiador de poetas, músicos, escultures e pintores que lhe fariam enormes homenagens. Ele teria seu busto esculpido, pintado e descrito em todas as formas de artes.
Mas depois de alguns anos sentiria-se só e tomaria como sua rainha a princesa mais bela do Reino do Oriente e assim forjar uma nova e forte aliança que combateria os povos bárbaros que habitavam as terras ao sul.
Novamente se preparava para a guerra. Já não era mais tão novo para ir à frente de seu exército, mas agora contava com uma vasta experiência e muitos homens e recursos dispostos e leais à sua coroa.
Entre uma conquista e outra, sua rainha lhe daria herdeiros legítimos que seriam educados pelos melhores padres e cavalheiros de toda a corte. Bem versados nas letras, na fé e na espada, com o passar dos anos estariam lá ao seu lado para lhe auxiliar em suas batalhas e em seu governar.
Tão bons filhos que fariam, com sua sabedoria e força, com que o Reino se tornasse enfim um Império temido e respeitado até nas mais longínquas terras. Junto com eles ergueria um novo Palácio com a mais bela vista de todo o novo Império, construído para caber toda a sua grandeza, teria o melhor mármore vindo das terras onde o sol era mais vermelho, as tapeçarias importadas de todo os mares, salões onde mesmo gigantes se sentiriam confortáveis.
Mas ele saberia que os anos não lhe poupariam para sempre e, já idoso, entenderia que seu fim se aproximara passando então seus últimos meses garantindo que todas as conquistas de sua vida vitoriosa não se desfizessem em meio a intrigas e desavenças.
Seria no meio da primavera, sua estação favorita, que daria seu último suspiro e os funerais durariam até as portas do verão. Reis, príncipes, Xeiques, Aristocratas, Poetas e até a Santa Majestade prestariam sobre seu túmulo homenagens e honrarias, pois seria um homem de fé, um aliado valoroso e um inimigo terrível.
As histórias de seu reinado, suas batalhas e festejos jamais seriam esquecidos para sua glória.
terça-feira, 6 de maio de 2008
Lições II
Saiba, por que nem tudo são espinhos...
há, sempre, ferrões nos seus bons caminhos!
Porque, afinal, nem tudo é tristeza,
sobra também muita fome e pobreza!
Aprenda: nem tudo são descaminhos
que também há os tantos vícios dos vinhos!
Porque nem tudo no mundo é impureza:
há sortida vilania e malvadeza!
Menina, são mazelas da virtude!
Tão próprias de quem somente o bem faz.
Disto de quem bebe à própria saúde...
Para gozar como melhor lhe apraz!
Dos que infligem tormentos amiúde!
Sem dar sequer um momento de paz!
domingo, 27 de abril de 2008
Alegria
Bom dia luz do dia!
Bom dia raio de sol!
Boníssimo dia...
minha cara mia!
Está assim feliz?
Não, é só lirismo.
segunda-feira, 21 de abril de 2008
Menino mau
Se metade disso fosse verdade...
e largue mão dessa porca vaidade!
Já que você não passa d'um cordeiro,
fingindo ser um ouriço-cacheiro!
Vista suas calças já chegou a idade...
não é nem capaz da menor maldade!
Tema vilania d'um cão perdigueiro,
que depois da sova volta cabreiro!
Sua mordida mais forte é só carinho...
tem na sua boca veneno inocente,
que nem sabe como acertar um bom bote!
Agora vá brincar com seu carrinho...
e deixe para quem sabe realmente,
usar uma lingua como chicote!
segunda-feira, 14 de abril de 2008
Sonetilho
Lucas C. Lisboa
Quando o sol nascer do norte
e ninguém temer a morte...
Brindaremos às estrelas,
sem o medo de perdê-las!
O veneno fará forte,
no prazer de cada corte!
pintadas nas aquarelas,
feiúras tornadas belas...
serão sanhas revividas
pruma talentosa gralha
que compõe canções queridas!
São roseiras na muralha
de carnes apodrecidas!
(ou qualquer coisa que valha)
quinta-feira, 10 de abril de 2008
Fétidas Flores
Não são flores d'alma que presto:
são de sangue e carne, eu atesto.
Fazendo dos teus olhos vítimas,
das perversões minhas mais intimas!
Eu vomito verso indigesto,
o pior do lixo e do resto...
a seco engolido co'as lágrimas,
secreções, loucuras e lástimas!
Leitor pois não me leia incauto;
lhe pegarei em sobressalto...
em seu misto d'asco e desejo!
Sei q'estas palavras imundas,
atiçam vontades profundas...
que dentro de ti antevejo!
quinta-feira, 27 de março de 2008
Conto de Fadas
Carrego uma flor entre os dentes
Para saltar a sua janela
de minha doce cinderela
presa na torre por correntes
Algemada fica tão bela
encanta sábios e videntes
aguça os desejos ardentes
coberta co'a cera de vela
Atiça as formas nada esquálidas
os meus ardorosos carinhos
Adorna-lhe as lágrimas cálidas
entre os seios a rosa de espinhos
Ela, rainha das minhas fadas
no calabouço do meu ninho
segunda-feira, 24 de março de 2008
Seriado
minha vida é reprisada
como na televisão
o canal não muda nada
é a mesma programação
quinta-feira, 20 de março de 2008
Enlace perfeito
Caros Augusto e Florbela
são meu par mais que perfeito
para os quais eu não aceito
qualquer que seja a querela
quarta-feira, 19 de março de 2008
O Ritmo
O ritmo é um dos elementos fundamentais para a eufonia (eu=verdadeiro/belo/certo, fonia=som) de um poema. Na poesia clássica o ritmo se "afina" a partir de duas características simples: o metro e a tonicidade.
O metro define de forma geral o tempo dos versos, é através dele que se têm os intervalos regulares de um poema, seria o ritmo geral que se mantém ao longo de todo o poema.
Entende-se por metro o número de sílabas fonéticas de um verso contadas até a última tônica. A sílaba poética (ou fonética) se distingue da sílaba gramatical por se basear não nas regras gramaticais, mas no som das palavras.
Cada sílaba poética corresponde a um som, por isso, ocorrem distinções da gramatical, podendo ocorrer o fenômeno da Elisão quando sílabas, gramaticalmente diferentes, se tornam um mesmo som ou o caso da separação de uma mesma sílaba gramatical em mais de uma sílaba poética por formar mais de um som distinto.
Já a regularidade tônica de um poema, que é definida pela alternância entre as tônicas e as átonas, define o ritmo específico do verso.
Na língua portuguesa o metro prepondera sobre a regularidade tônica. Servindo como auxiliar na hora de definir o poema como de ritmo ascendente (quando o verso começa com sílaba átona) ou descendente (quando o verso começa com silaba tônica).
Exemplo:
EUEu/sou_a/ pe/na/do/po/eta (7 silabas fônicas)
sou/um/tor/to_em/li/nha/reta (7 silabas fônicas)
Sou/chi/co/te/ do/ca/rrasco (7 silabas fônicas)
Sou/ pra/zer/ en/quan/to_um/asco (7 silabas fônicas)
No exemplo acima temos uma trova de metro heptassílabo, pode-se notar a contagem silábica até a última silaba tônica. No primeiro verso vemos tanto o caso da elisão em: “/sou_a/” e também um caso de separação de uma silaba gramatical em duas fonéticas em: “/ po/eta”.Todos os versos são de tonalidade ascendente como se pode perceber pelo negrito que marca as tônicas.
sexta-feira, 7 de março de 2008
meu anjo
eu lhe escrevo este poema
com uma formosa pena
d'um cativo anjo arrancada
que jaz em minha morada
e não há culpa q'eu tema
nem tenho nenhuma pena
da sua asa delicada
pelos versos depenada
suas lágrimas são a tinta
que mancham o meu papel
Seu copioso pranto encanta
tal canto de menestrel
Sua tristeza faz q'eu sinta
um gostoso drink de fel
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008
Lições
Muito brincaram comigo,
até que aprendi a brincar...
Na vida se chicoteia
ou se deixa chicotear!
terça-feira, 12 de fevereiro de 2008
A Fama
Apareci no jornal
e não foi na policial!
Foi nota de rodapé...
mas era trova de pé!
sábado, 9 de fevereiro de 2008
sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008
Eu
Eu sou a pena do poeta
sou um torto em linha reta
Sou chicote do carrasco
Sou prazer enquanto asco
quinta-feira, 31 de janeiro de 2008
Homo imbobile
O velho inventor fascinou-se com aquele humano que se fazia de estátua, ninguém percebia quando levemente respirava. Um olhar mais atento até veria, de relance, o seu sorrateiro piscar de olhos.
Num estalo lhe viera a inspiração, e meses à fio trabalhou em seu mais novo projeto. Moldando-o à imagem e semelhança do homem. Tinha olhos verdes, uma leve barba por fazer, traços suaves e cabelos cacheados. Sua voz era aveludada como o melhor narrador de histórias infantis. Andava com graça e leveza.
Mas seu verdadeiro propósito era ali ficar como uma estátua, deixando de quando em quando parecer que respirava e piscar os olhos quando ninguém mais estivesse vendo. O velho passava oras à fio admirando o seu próprio homem-estátua.
segunda-feira, 21 de janeiro de 2008
Ecos d'um palhaço trágico
Tudo que se esperava daquele palhaço suicida é que sua última gargalhada, depois do salto, ecoasse cada vez mais distante, até o retumbante soluço final.
sexta-feira, 18 de janeiro de 2008
A quanto tempo nao sentia,
calmamente a dor verdadeira esvaindo
Faz tempo, muito tempo...
Mas hoje preciso senti-lo,
Sentir que ainda estou vivo!
Sentir na pele o que me rasga por dentro.
Hoje é dia de sentir.
Sentir tudo que há de mais terrível.
Para que eu possa me esquecer
esquecer de mim mesmo.
Esquecer que existo.
Pois me venham as laminas, os ácidos,
velas, torturas e loucuras.
Se nada opera efeito,
operar-me-ei cada defeito.
Fatais, fatais vaticinios,
frutos desses meus desatinos,
de meus sonhos irrealizados,
de meus porões mal assombrados.
Cercado, por todos os lados...
Será defeito?
Talvez só tenha me restado
um único jeito...
De tornar-me perfeito.
quinta-feira, 29 de novembro de 2007
Infância
Eu, pequeno garotinho
tão novo dizia poetar:
"cala boca cachorrinho,
deixa luquinhas passar!"
segunda-feira, 12 de novembro de 2007
a barca estígia II
remam remoendo seus erros e dores
desmortos remorrendo seus terrores
rutilam roucos restos desprezados
amargando prantos encarcerados
remam em seu rancor plo rio d'orrores
aprisionados pelas mortas flores
rosas, cravos, outrora derramados
sobr'eterno repouso dos finados
remam mortos, agora penitentes
sofrem por seus viveres indecentes
pois remam por seus crimes cometidos
mesmo quando plos vivos esquecidos
remam sofridos na barca da morte
praguejam por tamanha sua má sorte
quinta-feira, 8 de novembro de 2007
A Barca Estígia
remam remoendo seus erros e dores
desmortos remorrendo seus terrores
rutilam roucos todos desprezados
amargando prantos encarcerados
rancorosos remam plo rio d'orrores
presos por arreios de mortas flores
rosas, cravos, outrora derramados
sobre o eterno repouso dos finados
morreram e agora remam penitentes
sofrem por seus viveres indecentes
pois remam por seus crimes cometidos
mesmo quando pros vivos esquecidos
remam sofridos na barca da morte
praguejam por sua tamanha má sorte
segunda-feira, 29 de outubro de 2007
Marionete de trapos coloridos II
Pois quando noto seu, de fel, sorriso
Eu me deleito nesse doce apreço...
e de tamanho prazer regojizo,
tanto que ao deleite até me esqueço.
Gargalho por ver este olhar nervoso,
aos pesadelos quando eu lhe apareço
a divertir-me no mais puro gozo
Nessas palavras-linhas lhe enlouqueço
Sem mim teus passos são vagos, perdidos.
Sozinha és sem encanto, faz só dormir.
Jogada em qualquer canto o pó cobrindo
Marionete de trapos coloridos,
és assim tão linda que me faz rir!
Pois agora me dance, estou assistindo...
terça-feira, 23 de outubro de 2007
Meu brinquedo II
Seu corpo, aroma e traços bem cuidados,
que nessas mãos se fazem maltratados.
Os seus gemidos tão deliciosos...
que aperto, ouvindo-os ardorosos!
Os seios dela são assim delicados,
que não deixo por menos abusados!
Seus lábios, ao felatio, voluptuosos...
que dou-lhe meus humores mais gostosos!
És minha mais perfeita Bonequinha!
foi feita especialmente para mim:
para meu uso, deleite, abuso e trato.
Oh, mas ela realmente é perfeitinha!
Co'ela em mãos me divirto horas sem fim!
Gozando ambos em cada ato e maltrato...
bem ditos
É lícito ao poeta
se apropriar do que foi dito.
por outro qualquer esteta
que não tem estima disto?
terça-feira, 16 de outubro de 2007
boas novas num guardanapo
uma verdade selvagem
batendo na minha porta
chegada d'uma viagem
longa, escura, negra e torta
quinta-feira, 20 de setembro de 2007
Cidade-lua
Menino engenhoso
Vendo pássaros e penas
Fez voar papel
Querendo tão mais:
as núvens todas tocar
era seu intento
De feitura sua
muito bem arrematada
com precisos laços
trabalho ardoroso
feito por noites centenas
colado com mel
Penhasco foi cais
pr'ele para os céus zarpar
ao sabor do vento
Chegou até a lua
Com a sua pipa dourada
maior que seus braços
Malfadado pouso
entre casas tão pequenas
na cidade do céu
Nos tortos beirais
Moradas a se amontoar
sem ordenamento
Caido numa rua
da cidadela aluada
sem de vida rastros
quinta-feira, 6 de setembro de 2007
quarta-feira, 5 de setembro de 2007
Uma felicidade para sempre
Foi com os primeiros raios d'aurora que Ela acordou, ainda deitada sobre o peito nú de seu amado. Todos os dias era assim, acordava ao seu lado e admirava-o perdidamente. E suspirava, pois finalmente o tinha ali, como um sonho.
Levantou-se sorrindo por saber que os dias tristes agora eram apenas parte do passado. Os obstáculos e inimigos de sua felicidade foram vencidos um a um. Dirigiu-se para a cozinha, como fazia todas as manhãs, e preparou o desejum de ambos com todo cuidado.
Torradas e um chá de ervas para acompanhas mas, açúcar não colocou e sim duas colheres de cianeto. Em uma bandeja, carregou as torradas e as duas xícaras de chá, para o leito que fora desde sempre o ninho dos enlaces.
Ela o despertou com um beijo delicado e sereno. Ele, após retribui-la sorriu complacente para sua amada, ajeitaram-se à cama e começaram o desejum. Provaram das torradas e juntos levaram as xícaras à boca e quase simultaneamente retorceram os rostos pelo amargo sabor e sorriram cúmplices.
Sem pressa. terminaram o café da manhã e se deixaram deitar novamente entre carícias, beijos e afagos até juntos adormecerem.
sábado, 1 de setembro de 2007
Resoluções
Muito tempo já perdi...
mas hoje me decidi;
se exploda o caráter ético!
Sou, por natureza, herético.
quarta-feira, 29 de agosto de 2007
Era uma vez...
Apesar de tão nova a Felicidade foi a primeira a morrer, dormiu durante uma noite festiva e nunca mais despertou...
O Amor tornou-se taciturno, e obsessivo acabou por ir embora para viver como eremita. Algum tempo depois adoeceu pelo frio da montanha, mas, por seu orgulho lá ficou e se foi sem chamar quem pudesse dele cuidar.
A Sobriedade, que tanto brigava com o Amor, sentindo a saudade mais forte a cada dia que passava após seu exílio. Quando, depois de muito, soube de sua partida, a carência, que abateu sobre si, foi tão grande que cedeu, finalmente, aos constantes galanteios do Desejo e a ele se entregou totalmente, esquecendo-se de quem era... Não demorou e ambos desmedidos se foram após se deixarem cair em sucessivos excessos.
Mas, como nem tudo são males, logo após os primeiros enlaces, foi concebida a Esperança, que logo começou a ser mimada e conforme o enlace dos dois se tornava mais intenso os mimos aumentavam mais e mais. E quando eles se foram, sentiu-se desamparada e sozinha pondo-se, por ser tão nova, a chorar copiosamente.
Quem lhe escutou o choro, foi o malfadado Desespero que encantado se sentiu compadecido e chamando sua esposa, a Morte acolheram-na ao seio do lar.
Não eram, nenhum dos dois, muito afetuosos, o Desespero perdia o controle facilmente e acabava maltratando-a e a Morte já não tinha seu abraço de seda, desde que fora buscar o Amor. Mas a Esperança era uma criança que de muito pouco precisava e conseguiu sobreviver com as migalhas que recebia.
Os súditos de Nero
O Pássaro não vai voar,
quer morrer onde nasceu.
O Grilo não irá saltar,
queimar junto o verde seu...
Tatu não vai pra toca:
não se esconderá da morte!
Hienas numa gargalhada:
juntas pela mesma sorte!
O Urubu foi logo embora:
a carniça já é carvão...
Canguru de bolsa cheia
pro filho quer salvação!
Leão, protetor da floresta,
quis salvar o seu reinado!
Fogo não era seu súdito!
Caiu na chama amargurado...
sexta-feira, 24 de agosto de 2007
Ensaio sobre o caráter estético do erro.
“Prazer de sentir o dedo,
no buraco da meia furada...
Surpresa em ter reparado,
na minha unha mal cortada!”
(Detalhes, Lucas C. Lisboa)
Uma reflexão a respeito da metafísica do nada em sua relação com o trabalho de estruturação de idéias expressas e seu poder de fascinação.
Durante uma aula de Antropologia Filosófica, meu professor, em sua explanação a respeito da metafísica e ontologia em sua evolução e diálogo entre Hegel, Shopenhauer, Nietzche e Heidegger, contou uma metáfora (em minha interpretação evidentemente):
A rede de pesca é composta tanto por suas linhas quanto por seus espaços vazios. Quando seus espaços vazios são grandes por demais (ou há uma falha em seu padrão) deixa vazar o pescado almejado.
Mas, se por outro lado, se não houver espaços vazios, não há braços que tenham força para trazê-la de volta ao barco e mesmo se houver, sem os espaços vazios, não há seleção do que é pescado, trazendo toda a sorte de coisas indistintamente: pedras, peixes, ostras, água...
Traçando um paralelo: O mesmo ocorre com uma estrutura de pensamento, obra literária, teses filosóficas e congêneres (que chamarei a partir de agora simplesmente de obra). Julgo que preencher todas as lacunas não é desejável e, creio eu, até mesmo impossível.
O não-dito é necessário e vital para sua efetividade e interpretatividade. O Poder de impacto de uma obra não está só em sua coerência e concisão, mas também em seus aspectos de prolixidade e contradição.
Não obstante, uma justa medida, entre o ordenamento e a imprecisão também não é algo a ser tão almejado assim. O que importa essencialmente ao dito é sua capacidade de pescar o interlocutor e fazê-lo pensar, digredir, em cada acerto, mas também em cada erro presente ali.
As congruências e validades de um texto decerto que permitem que se interesse por ele, mas, por não poucas vezes, são seus paradoxos e incongruências que causam o fascínio e a paixão por uma obra. E, sem sombra de dúvida, não é o mero interesse que faz alguém se debruçar sob uma obra para desvendá-la e sim a paixão despertada.
Meu brinquedo
Os seios dela são tão delicados...
Que devem ser muito bem maltratados!
Seus gemidos são tão deliciosos...
Que lhe aperto para ouvi-los ardorosos!
Rosto, coxas, dorso... tão bem cuidados,
Que não deixo senão abusados!
Seus lábios, ao felatio, voluptuosos...
Que dou-lhe meus humores mais gostosos!
És minha mais perfeita Bonequinha!
foi feita especialmente para mim:
para meu uso, deleite, abuso e trato.
Oh, mas ela é realmente perfeitinha!
Co'ela em mãos me divirto horas sem fim!
Gozando ambos de maltrato em maltrato...
Detalhes
Prazer de sentir o dedo,
no buraco da meia furada...
Surpresa em ter reparado,
na minha unha mal cortada!
quinta-feira, 23 de agosto de 2007
Poética
Todo dia travo uma luta sem fim;
co'as palavras e o que querem dizer:
pois seja o que elas dizem para mim...
pois seja o que elas dizem pra você!
quarta-feira, 22 de agosto de 2007
Seres tristes
Seres tristes são estranhos
de sofreres tão pequenos
mas também d'outros tamanhos
desejando dias amenos
Tristes seres sem sonhos
tomam em dia seus venenos
seduzem os fáceis ganhos
almas vendidas por menos
Quem são estes tão banais
que choram por uma flor
que sorriem por suas tristezas
São ninguém, nada mais
Estão lá, seja onde for
Sem porquês e sem certezas
domingo, 19 de agosto de 2007
Sistema Integrado de Criação Poética.
Programa 1
Analisa a sintaxe de um texto separando cada palavra segundo sua variável podendo trocar indefinidademente entre elas.
Programa 2
Analisa o resultado do programa um sob o aspecto fonético, ritmico e harmônico de acordo a atingir uma determinada eufonia pré-estabelecida.
Programa 3
Organiza o texto para se encaixar em uma determinada contrução, métrico/poética.
Fase Final
Os três processos são realizados sucessivamente até se encontrar uma forma afinada aos três parâmetros.
sexta-feira, 17 de agosto de 2007
Meu doloroso
Eu jurei: Ser dominada? Nunca! Jamais!
como eu lhe odeio, foi injusto demais!
disse e me lembro como seu riso resoou...
Ele, por um erro menor, me esbofetou!
Mas pior, seduziu-me a pedir por mais...
Sob seu jugo, sofri torturas abissais!
Com seu pulso o controle de mim conquistou;
e pela dor e subjugo por fim me adestrou.
Porque é Ele quem me corta, marca e perfura...
e quem me faz esquecer da dor mais que forte.
É Ele que no fim sempre me deixa confusa...
mas também quem me dá esse tão seguro norte.
A luz útlima da vida insossa e escura...
devo a Ele essa que é a mais desejada sorte.
terça-feira, 14 de agosto de 2007
O Castigo
à Cruz de Santo André tensa se dirige:
de cabeça baixa, Submissa ao seu Destino...
por Transgredir a minha Norma que vige;
Antegoza e Arrepende de seu desatino!
Presa, o Chicote será sua punicão hoje,
a divertir-me tal brinquedo de menino!
Depois da centésima a contagem lhe foge;
mas gemidos, de Dor ou Prazer, não lastimo...
Gozo ao perceber seu corpo incandescente...
não só quente pelas Marcas e Vergões,
como também pelos orgasmos incontrolados.
Eu sei que de propósito foi Displicente:
pois à Força lhe faço implorar meus perdões
extraindo lamentos muito bem deliciados
segunda-feira, 13 de agosto de 2007
das largas omoplatas, o mistério
Oh Malakós, Malakós!
que tomastes por almôndegas
as pedras avermelhadas...
grande glutão fostes vós!
sábado, 11 de agosto de 2007
sexta-feira, 10 de agosto de 2007
Doce Garotinha
Ela está tão sozinha que
segura a faca pelo fio
mordendo uma raiva tamanha
machucando seu lábio macio
domingo, 5 de agosto de 2007
Questão de fé
Ele, por anos à fio, pulou de religião em religião buscando a sua iluminação, acabou encontrando sua luz, como homem bomba, nas chamas da explosão.
do Homem
Covardia é sapiência
Nem sempre seguir em frente;
Coragem: pura demência
retroceder é prudente...
segunda-feira, 30 de julho de 2007
Aconteceu
O conta-silabas depois de tanto tempo tecendo linhas e linhas de versos formou seu casulo de palavras, ritmo e rimas. E dentro dele ficou em sua metamorfose lendo livros, ouvindo vozes...
Até que um dia, sem mais nem menos, atinou que não importava quantas palavras lesse, em quanto o som lhe soasse bonito ou forte. Co'a mesma caneta que escreveu tantas linhas, ele, agora Poeta, riscou os versos que nada diziam e não os reescreveu.
Já era tempo de novidades, ousou (uma heresia talvez) e colocou verso ao lado de verso, trilhando, encadeados e continuos, não mais truncados um embaixo d'outro. Sentou-se novamente na mesma escrivaninha e pôs-se a escrever sua prosa.
terça-feira, 24 de julho de 2007
quarta-feira, 18 de julho de 2007
Preâmbulo
O estudo da estética da obra o Capital de Marx se justifica, dentre um meandro de razões, quando se enfoca a sua relação com os estudos comparativos do estudo da estética da obra de Durkheim e o estudo da estética da obra de Weber. Sendo que o segundo, o estudo sob o enfoque estético das obra de Durkheim, serve, essencialmente de sustentáculo especulativo numa análise comparativa entre o primeiro, estudo estético da obra de Marx, e o último, o estudo estético da obra de Weber. Não obstante, temos no estudo desse último, o estético em Max Weber, uma análise profunda de sua interelação comparativa com o estudo das questões estéticas em Karl Marx, e a possibilidade de ponte com esse estudo na obra de Emile Durkheim.
Aos dezesseis anos
Um conselho meu irmão:
em filme que dá tesão,
não vá usar um calção
sem uma cueca não...
domingo, 24 de junho de 2007
Inominável
Qual beijo tem melhor ânsia?
Que mãos tem maior ganância?
Tanto faz o gosto e calor;
basta paladar, ardor.
terça-feira, 12 de junho de 2007
após
Aconteceu, porém o que há de se fazer?
para que, porque ou por onde passa?
num ato não há muito o que perder
além da típica e própria desgraça
Tantos desejos, para que se querer?
falhas e erros por tudo que se faça!
num segundo, inexistência do ser;
uma lágrima desce, o clamor passa.
ambíguo, indefinido e aberto
um vazio que sangra e evidência
Lúcido? Talvez estivesse certo
Viver nem sequer mais um dia
Não dou adeus pois nunca estive perto
mas, pelos deuses! como eu queria...
sexta-feira, 8 de junho de 2007
Em versos
quinta-feira, 7 de junho de 2007
Com afeto
Toda languida, o beija com ternura,
tanta que, apaixonada, sequer
percebe que a faca, em suas mãos,
roça suave a pele do amado...