Melhor ter remorso
que arrependimentos
Ou seguir pro inferno
que os dez mandamentos
Publicação em destaque
Poeta e apenas poeta
Já me olharam espantados quando digo que sou poeta e só poeta. Que não canto, nem danço, nem atuo, nem pinto, nem bordo, que "só" ...
terça-feira, 5 de maio de 2015
quinta-feira, 16 de abril de 2015
Sordidez Carioca
entre um Baseado e outro
eles planejam a Revolução
Entre um e outro tapa
o Nego da Rocinha
tem medo do B.O. de
Desacato, Conflito e Resistência
E com muito pó na cabeça
numa cobertura no Leblon
Ele planeja com cuidado
como deixar as coisas como estão
Redondilha maior ou menor?
"Cinco sílabas poéticas"
Formam um verso de sete
sílabas poéticas contadas
Até a última das tônicas
quinta-feira, 2 de abril de 2015
quarta-feira, 1 de abril de 2015
Com quantas becas se faz um poema?
Leve você em qualquer laje
versos sem assinatura
dum nome de d'douro traje
que apenas será loucura
Bote num museu de mármore
um penico na moldura
que cada macaco na árvore
em coro dirá:" arte pura"
Vai tenta arrisca petisca
de banquete a quem tem gula
faz sua arte visceral
Tome cuidado caro artista
que arte não cai bem com bula
e nem vem com manual
sexta-feira, 27 de março de 2015
Podorastia di versos
bem no pé do verso
sibila uma língua
que lânguida lambe
o metro e sua tônica
Em saliva imerso
o lábio à míngua
deixa que se game
na orgia polifônica
segunda-feira, 16 de março de 2015
Bom mocinho
Baixinha de peitos grandes
dona dum bumbum durinho
Rebola assim aos galopes
que engole meu pau todinho
Me chupa do talo à glande
com fome e com carinho
Num tesão rude que range
quando lhe dedo o rabinho
Pulsa e repulsa meu sangue
deixando meu pau durinho
Minha saliva vai longe
melando seu anelzinho
São meus dedos que lhe expande
aos poucos seu buraquinho
Até que se torne grande
pra que eu entre de mansinho
Seu doce gemido me unge
no papel de malvadinho
Que com vigor lhe inflige
um gozo pelo cuzinho
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015
Filosofices
Não sou Pedro
Não sou pedra
A minha lavra
De mil palavras
É de poesia
Na minha igreja
Não tem pecado
Não tem culpa
E muito menos
A tal sacristia
Não sou senhor
Não sou escravo
Todos dias travo
Um doce trago
De melancolia
No meu terreiro
Na minha terra
Certo é quem erra
Quem de tão torto
Acerta a alegria
Capitão do mato século XXI
Um negro vestindo preto
faz papel de autoridade
à mando dum branco que
traja terno e faculdade
quarta-feira, 14 de janeiro de 2015
SE ESSA RUA FOSSE MINHA
Se essa rua fosse minha
Eu mandava
Eu mandava já plantar
Muita árvore
Muita árvore sombreante
Para o meu
Para o meu calor passar
Nessa rua tá tão quente
Que se frita
Que se frita ovo no chão
Dentro dela
Dentro dela mora um sol
Que roubou
Que roubou meu tesão
Se eu roubei teu tesão
Tu roubaste
Tu roubaste o meu também
Se eu roubei
Se eu roubei teu tesão
É porque
É porque te quero sem
quinta-feira, 8 de janeiro de 2015
Madame Baderna
Me despetala em trapos, fitas, pétalas
de bem e mal me quer que mais me quer
que desdenha, destrata, mas me quer
como porta-bandeiras e abre-alas
Pois Eu me apego e até pago pra ver
dentro do porta-luvas levo as mágoas
e encho com alegria o porta-malas
sou da escola do samba e bem querer
Eu, Madame Baderna com prazer
tomo da tina e latrina de restos
essas babas e beijos dos amores
Eu sou essa Arlequina com as cores
que não se cabem nos pincéis modestos
desses caras sem cara pra bater
quarta-feira, 7 de janeiro de 2015
NO FIM DO CORREDOR
tinha um banheiro
no fim do corredor tinha um banheiro.
na vida de minhas calças tão respingadas
Nunca me esquecerei que no fim do corredor
tinha um banheiro
tinha um banheiro no fim do corredor
no fim do corredor tinha um banheiro.
sexta-feira, 12 de dezembro de 2014
quarta-feira, 3 de dezembro de 2014
sexta-feira, 21 de novembro de 2014
quinta-feira, 13 de novembro de 2014
Salada Etílico-Poética
não seu Olavo, num é chacota não
é verso sáfico de metro dado
aos meus poetas sem rima e solução
Eu conto sílabas num dedo a dedo
nesta veloz prestidigitação
que engana versos bem mal remendados
sendo meu velho truque de salão
Dez sílabas safadas que dos Anjos,
com maestria de quem Espanca sem
nos causar marcas, causou mais que medo
Dez sílabas heroicas são arranjos
pra Cisne Negro e Passarinho dizerem
a pior das verdades e um segredo.
quarta-feira, 24 de setembro de 2014
Depois do Brinde
havia uma fome atrevida
De lhe fazer mais cativa
em vontade bem vivida
terça-feira, 23 de setembro de 2014
Desgosto do Cavalo Branco
e nunca fui o primeiro da turma,
faço-me feio, torto e até manco:
sou mau agouro d'alma mais soturna...
Eu que carrego meu talento franco
de vaguear numa insônia noturna,
recuso-me a seguir por mais um tanto
de tédio e labor da vida curta!
Eu jamais seguirei num galopante
corcel alado tal conto de fadas.
Eu que sempre serei fidel amante
das moças e mulheres mais erradas...
Eu, nem príncipe nem bobo ou infante,
sou poeta de rimas espalhadas!
terça-feira, 16 de setembro de 2014
quinta-feira, 21 de agosto de 2014
Pragmática
que insiste em dizer que dois
e dois só é e só pode ser
o rigoroso de um quatro
Sendo que nós precisamos
pra fazer o bem de todos
e da nação que então seja
ao menos cinco ou seis
O conservador tortura
e conserva a dor de um três
querendo menos que dois
E o radical queima o palanque,
rasga a tabela exigindo
nada menos que seu dez
sexta-feira, 6 de junho de 2014
ÁGUA VIVA: O JARDIM METAFÍSICO
O JARDIM
O Jardim aparece como alegoria a multiplicidade do universo segundo a metafísica de Clarice Linspector em Água Viva. É um elemento cuja a metáfora abarca em si todo o universo da Natureza Espinosiana, "Deus ou seja Natureza" é uma expressão que define bem a concepção de Clarrice em seu panteismo feito em prosa poética dotado de uma polissemia própria e pungente.
Em uma honesta tentativa de decifrar Clarice Linspector e seu feérico livro Água Viva para uma árida metafísica resolvi por bem não abrir mão do lirismo absurdamente indissociável dessa obra e fazer uma análise mito-poética de sua especificidade universalizante.
"Neste instante-já estou envolvida por um vagueante desejo difuso de maravilhamento e milhares de reflexos do sol na água que corre da bica na relva de um jardim todo maduro de perfumes, jardim e sombras que invento já e agora e que são o meio concreto de falar neste meu instante de vida. Meu estado é o de jardim com água correndo. Descrevendo - o tento misturar palavras para que o tempo se faça. O que te digo deve ser lido rapidamente como quando se olha."
Jardim é o instante-já onde a Natureza se revela ao leitor em toda a sua compreensão possível de mundo é a forma inteligível que o conhecer humano concebe para ascender ao divino e ao transcendental. Vale dizer que por seu caráter mito poético O Jardim não é mera metáfora do universo em sua totalidade é ele de fato in natura. O olhar rápido e a imediaticidade revelam o primeiro e mais direto contato com a Verdade que o Jardim representa, a natureza é tautológica per si é “Uma rosa é uma rosa é uma rosa”.
O verso de Gertrude Stein seduz ao um entendimento imediato que apenas a Natureza quando vista pelos olhos poéticos consegue traduzir-se, traduzir-se não. Apreender, pois é um processo que não se prende aos intelectualismos semânticos e sim um processo que se dá por transcendência do conceito em ato de si.
“Sei da história de uma rosa. Parece -te estranho falar em rosa quando estou me ocupando com bichos? Mas ela agiu de um modo tal que lembra os mistérios animais. De dois em dois dias eu comprava uma rosa e colocava-a na água dentro da jarra feita especialmente para abrigar o longo talo de uma só flor. De dois em dois dias a rosa murchava e eu a trocava por outra. Até que houve determinada rosa. Cor-de-rosa sem corante ou enxerto porém do mais vivo rosa pela natureza mesmo. Sua beleza alargava o coração em amplidões.”
Rosa, a máxima flor, presentifica-se em meio ao natural reino dos bichos, os próprios reinos são criação do humano em sua tentativa vã de classificar, nomear e dar significado à poética do Jardim. O cor-de-rosa é uma perfeita representação do estado aparentemente indistinto do real pela ótica humana, mas pela Natureza é representação máxima de um estado que é vivo e verdadeiro. Mesmo que não alcançado pela dialética de olho e mente de quem observa a Rosa.
A prisão da rosa no cárcere doméstico é uma alegoria forte da linguagem que tenta a todo custo dar conta do real sacrificando-o, murchando-o em prol de sua domabilidade, de sua domesticação ao espaço da mente humana. Nomear o Ser é restringí-lo à uma pálida expressão de si mesmo. A linguagem humana aponta, sugere, faz-se uma sombra sob a Verdade e não a compreede, assim é esperar que a água do jarro nutra eternamente a Rosa que ornamenta a mesa da sala de jantar.
"Para me refazer e te refazer volto a meu estado de jardim e sombra, fresca realidade, mal existo e se existo é com delicado cuidado. Em redor da sombra faz calor de suor abundante. Estou viva. Mas sinto que ainda não alcancei os meus limites, fronteiras com o quê? sem fronteiras, a aventura da liberdade perigosa. Mas arrisco, vivo arriscando. Estou cheia de acácias balançando amarelas, e eu que mal e mal comecei a minha jornada, começo-a com um senso de tragédia, adivinhando para que oceano perdido vão os meus passos de vida."
A compreensão de si que se insere no contemplamento do Jardim é de uma total indentificação entre o eu e o mundo. Uma indissocialidade tântrica que permeia o pensamento Clariceano de tal forma que não há espaço para a metáfora morta o que há é uma absoluta multiplicidade que dissolve o Eu entre as acácias amarelas, entre o espírito da liberdade e as raizes da realidade.
O Suor, elemento tragicamente humano, contrasta como resíduo indesejável da tentaiva humana de lançar luzes sobre a Verdade. A realidade em seu frescor está nos limites fronteiriços das possibilidades do entendimento racional e apenas a poética é capaz de tomar para si um vislumbre momentâneo dessa totalidade panteística.
"Agora vou falar da dolência das flores para sentir mais o que existe. Antes te dou com prazer o néctar, suco doce que muitas flores contém e que os insetos buscam com avidez. Pistilo é órgão feminino da flor que geralmente ocupa o centro e contém o rudimento da semente. Pólen é pó fecundante produzido nos estames e contido nas anteras. Estame é o órgão masculino da flor. É composto por estilete e pela antera na parte inferior contornando o pistilo. Fecundação é a união de dois elementos de geração - masculino e feminino - da qual resulta o fruto fértil. "E plantou Javé Deus um jardim no Éden que fica no Oriente e colocou nele o homem que formara" (Gen. 11, 8)."
Em Água Viva Lispector partilha com Espinoza de um panteismo cristão que torna Natureza o divino, indissocia e funde num universalismo, aqui simbolizado pelo Jardim, todo o Amor que há enquanto Verdade. E é nessa fusão que se encontra a narrativa de Clarice que sendo uma narradora também é personagem e narrada de sua própria obra. O eu-lirico dessa prosa profundamente poética imiscui-se do Divino para ter em si o initeligível que é próprio da existência que é mesmo quando não dita ou não significada.
A dolência das flores, elemento-símbolo do jardim. contrasta a primeira vista com o Desejo de um Criador e numa descrição absolutamente profana da Flor enquanto sexo e geradora de vida. Clarice inverte a concepção de Criador unindo no Éden todo o humano presentificado no néctar da Natureza. O suco doce das Flores é buscado com avidez pelo inseto mas também pelo próprio homem que sendo parte da Natureza tenta negar que é uno ao Todo nesse Jardim.
"Mas conheço também outra vida ainda. Conheço e quero-a e devoro-a truculentamente. É uma vida de violência mágica. É misteriosa e enfeitiçante. Nela as cobras se enlaçam enquanto as estrelas tremem. Gotas de água pingam na obscuridade fosforescente da gruta. Nesse escuro as flores se entrelaçam em jardim feérico e úmido."
A gruta com suas sombras é uma caverna onde o homem contemplas as suas sombras sob a pálida luz fosforescente. É um indicativo do espaço humano dentro desse universo polissemântico, de apenas perceber as sombras, o obscuro. Um leve contorno daquilo que é de fato.
A avidez descrita por Lispector é parte da ânsia humana que se desvela num mundo onde o homem não participa mais. O Jardim Feérico vai para além da compreensão humana pois é o espaço onde cobras dialogam com as estrelas, onde a virulência da realidade não tenta impor seu domínio por completo, onde a Vida e a Verdade coexistem em plena harmonia sem mediações artificiais e onde o mistério é aceito como tal.
" No Jardim Botânico, então, fico exaurida. Tenho que tomar conta com o olhar de milhares de plantas e árvores e sobretudo da vitória-régia. Ela está lá. E eu a olho."
A contemplação da vitória-régia é uma sintese perfeita da postura da autora frente ao Real. Um simples Ser-em-si. O olhar precedido da existência e nada mais. O Real enquanto presentificação do Ser garante ao olhar do Jardim um êxtase místico. Uma verdadeira existência que esgota o ser humano, a contemplação do Real, exaure o indivíduo pois o mesmo não é capaz de abarcar toda sua infinitude. E a contemplação per si deve bastar pois a linguagem não pode mais do que sugerí-lo Indicar a Natureza é máximo que a mente finita do homem pode fazer em sua comunicabilidade desprovida da universalidade contida no Ser.
A recorrência do Jardim na prosa de Clarice denota o eterno desejo humano de domesticar a Natureza, de tê-la sob sua capacidade intelectiva e de vontade. Seja por preces ou tubos de ensaio é o homem com sua linguagem tentando cada vez mais dar conta dessa infinitude que o ultrapassa mas que mesmo assim o fascina. A poética de Clarice é uma ode ao humano que conta grãos de areia imaginando-se colecionador de estrelas.
terça-feira, 3 de junho de 2014
Saudades?
é a mesmíssima dum par
de pesos presos aos pés
quando me ponho a nadar
segunda-feira, 5 de maio de 2014
domingo, 30 de março de 2014
sexta-feira, 14 de março de 2014
Dizer que:
todo político é ladrão.
É o melhor salvo conduto
pra manter as coisas como estão.
Deixando todos enlameados
os que tem culpa e os que não
favorece os mais emporcalhados
que de sujeira entendem de montão.
O coronel engravatado
reina na sujeira do sertão
O midiático cooptado
domina fácil a televisão
E todo mundo é enganado
por esse velho chavão
quarta-feira, 12 de março de 2014
Pois os conta-sílabas ainda não estão extintos.
Escolhido o nome pensamos na identidade visual e nas futuras ações poéticas que executaríamos ao longo do ano a volta das oficinas, as interferências e as apresentações... A reunião se estendeu para depois das dez da noite e quando peguei o vagão do metrô já estava mais vazio. Só para não perder o costume saquei meus livretos de dentro da bolsa.
Distribui por todo vagão com um sorriso no rosto mas poucas pegavam e na volta menos ainda pagaram pelo prazer de ler poesia. Mas no fim do vagão uma senhora me chamou a atenção, ela estava compenetrada em meus versos e seus dedos se mexiam freneticamente contando as sílabas dos meus versos!
Encontrar outra conta-sílabas é cada vez mais raro com essa ditadura do verso livre. Foi um enorme prazer sentar ao lado dela e partilhar desse prazer que é a escansão, vê-la contando à moda espanhola que conta todas as sílabas do verso e me justificar dizendo que sigo a moda francesa de se contar somente até a última tônica.Acertado os termos ela conferiu que todos os versos estavam mesmo em redondilha maior. Era um sonetilho que agora tinha sido contado e revisado dentro do vagão. É bom encontrar com quem eu posso conversar na mesma língua.
E pensar que semanas antes uma revisora de oportunidade veio me corrigir a gramática sacrificando o ritmo e a oralidade de outro poema... O verso "lhe tomo num trago" tem um ritmo e uma melodia que "tomo-lhe em um trago" perde totalmente! Foi triste ser corrigido assim por alguém letrado, que faz da revisão o seu ganha pão, mas que ignora os conceitos mais básicos do que é poesia.
Por essas e por outras que eu elegi os vagões do metrô e seus personagens como meu melhor público no lugar daqueles acadêmicos com seus artigos e teses modernas debaixo do braço.
quinta-feira, 30 de janeiro de 2014
Poema Botequeiro
57 são amassados antes de serem lidos
Nos bares do Brasil
a cada 100 recados de guardanapo
57 são amassados antes de serem lidos
Nos bares do Brasil
a cada 100 recados
de guardanapo
57 são amassados
antes
de serem lidos
antes de serem lidos
antes de serem lidos
antes de serem lidos
antes de serem lidos
segunda-feira, 20 de janeiro de 2014
Redondilha Maior
e acredito que me expresso
dum jeito mais verdadeiro
se pelo verso me meço
Sou do tipo poeteiro
que mesmo quando converso
vou escandindo o letreiro
poético que estou imerso
São minhas métricas escravas
as cartas dum palacete
São palavras pouco sábias
que poeto pra cacete
São minhas sete sílabas
o mais redondo banquete
sábado, 11 de janeiro de 2014
A Menina Mariposa
só vê num verso qualquer
um espelho que desposa
sua vaidade de mulher
terça-feira, 17 de dezembro de 2013
Menina-raposa
seu corpo de flor
espinho e rosa
em perfume e cor
Menina-raposa
lhe sorvo o suor
de garoa nova
em tom sonhador
Menina-raposa
lhe provo o sabor
que tanto nos goza
em prazer e dor
Menina-raposa
sou seu caçador
de verso e de prosa
pecado e pudor
quarta-feira, 6 de novembro de 2013
Balada
de doce absinto
é forte o afago
da fome que sinto.
Lhe traço num rasgo
do quarto bonito
e quero num rastro
sorver o seu grito
Lhe faço calada
na palma da mão
e ponho de quatro
por puro tesão
Sou doce cilada
pro seu coração
um belo retrato
de vil perversão
Eu não peço nada
nem mesmo perdão,
lhe pego num ato
e devoro então
segunda-feira, 28 de outubro de 2013
Maresia
Imagina se eu fosse um pirata
e seu quarto navio todo cheio
de riquezas bem mais que ouro e prata
por apenas ter você no meio
lhe darei cantos e serenatas
se for minha sereia de cachos
com perfume do oceano e fragatas
entre os mastros as velas e laços
pelas cordas içadas ao vento
com seu corpo sutilmente preso
minha bela que faço de porto
para todos desejos imensos
que transborda até o mar onde rezo
o meu terço e cântico torto
sábado, 19 de outubro de 2013
Pescador de Palavras
subia pra pescar
no alto amazonas
Sonhava eu co'as águas
negras e barrentas
que não misturavam
ao se encontrar
Você prometia
que ia me levar
junto se eu ficasse
maior que você
Mas não me levou
até o solimões
e nem mesmo no
baixo Pantanal
Foi no Velho Chico
e no Rio das Velhas
que pescamos juntos
Me esquecia do anzol
confundia as linhas
mas tinha bem sorte
de principiante
Paciência nunca
tive muita e o papo
valia sempre o barco
Moro hoje no Rio
de Janeiro mas na
minha poesia
cabem versos mil
Até mesmo aqueles
de amor guardados
bem na sua gaveta
Eu pesco palavras
tal pescou jaús
com sabor de estórias
e algo de aventura
Paciente deixo
o verso chegar
mordendo meu metro
Puxando forte a linha
perfazendo rimas
embolando estrofes
na poesia turva
Ainda quero ouvir
o esturro duma onça
no meio do mato
Pra saber se o medo
que eu sentia quando
pequeno lhe ouvia
contar é esse mesmo
Mas quero também
ver todo seus versos
sairem da gaveta
Tal fossem cardume
grande de curimbas
tomando o rio todo
em versos e prosas
Pai, vamos pescar
peixes e palavras
nessa mesma linha?
Azul
e mais onze nos gramados
juntos, o time perfeito
que nem todo céu estrelado
brilha mais e desse jeito
pelos estádios e estados
ofuscam velhos eleitos
já depostos no relvado
Meu cruzeiro cruza os campos
dos mais belos horizontes
das minhas minas gerais
O Brasil de canto a canto
já nos vê como gigantes
destronando até os globais!
quarta-feira, 16 de outubro de 2013
do caráter poético das ruas.
é sempre e sempre
foi do tipo vadia
E se estende bem em
qualquer corda de varal
e até no fio do fio dental
quinta-feira, 26 de setembro de 2013
de caráter
dos frascos e comprimidos
comunista , feminista
e também botafoguense
Sobre trilhos
são só cereja no bolo
os sorrisos e as moedas
é que dão vida ao poeta
Não era como se dizia
terça-feira, 27 de agosto de 2013
Urbanização Infantil
-Mas mãe, eu quero brincar aqui fora.
-Desce! Desce agora! - respondeu ela sem a menor paciência.
sexta-feira, 16 de agosto de 2013
Com quantos pau-brasil se faz uma vanguarda?
um gole de vinho escocês
uma taça de cerveja russa
só não me abusa
do azeite francês
ou da comida inglesa
Experimenta urucum na cara
tapioca na tigela
Te quero mameluca
filha do boto
minha meretriz cabocla
Oh musa Liberdade
se deita comigo
não como espelho italiano
mas como olho d'água
que reflete o canto de Iara
Quero ser vitória régia
e não só a última flor do Lácio
quinta-feira, 1 de agosto de 2013
meu pássaro meu
não sou julieta
nem você romeu
sou vontade louca
da cor do marfim
que a fome desfruta
tal suave cetim
vem beber comigo
um gole de vinho
serei pão e trigo
em cada cadinho
meu pássaro meu
não sou julieta
nem você romeu
sou menina pura
vem fazer-me assim
presa mas com luta
de querer-lhe enfim
vem correr perigo
sem luz no caminho
sou seu mais antigo
desejo quentinho
meu pássaro meu
não sou julieta
nem você romeu
sou doce sou fruta
vem provar de mim
em suave labuta
de não dizer sim
vem beber comigo
um gole de vinho
serei pão e trigo
em cada cadinho
meu pássaro meu
não sou julieta
nem você romeu
sou quem sempre escuta
Vem contar pra mim
toda vida injusta
que não tem mais fim
vem ser meu amigo
não fique sozinho
sou seu novo abrigo
um seguro ninho
meu pássaro meu
não sou julieta
nem você romeu
quinta-feira, 25 de julho de 2013
Deu na televisão
irão falar do banco quebrado
Se não for do banco quebrado,
irão falar do trânsito parado,
Se não for do trânsito parado
irão falar do lixo deixado
Se não for do lixo deixado
irão falar do festejo estragado
Se não for do festejo estragado
irão falar do vizinho incomodado...
Se não incomodar a ninguém
não é protesto não é nada
é só um bando dizendo seu amém
uma matilha pela mídia amestrada!
domingo, 14 de julho de 2013
Baratas de Copacabana
pra essa festa ja tenho meu par:
levo cara de pau e as mãos nuas
pra dizer Não pras suas falcatruas!
Vinte centavos ou Caviar?
escolha o lado que vai ficar
são centenas que tomam as ruas
gritam verdades óbvias e cruas.
Você pode me atirar dinheiro
com o qual suborna os militares
mas ele não cala o mundo inteiro!
Você pode me atirar cinzeiro
o sangue de um mexe com milhares
porque de fumaça já estou cheio!
terça-feira, 9 de julho de 2013
Insônia
nas últimas décadas
não pôde fechar
os olhos pra quem
não tinha pão cama
remédio e escola
Agora se assusta
sendo eles de vândalos
pichados em rede
nacional em prol
do transnacional
capital que explora
Quem esteve insône
vigiou o sono
dos micro burgueses
que por seu conforto
em berço esplêndido
nunca se mexeram
Agora se assusta
com esses sonâmbulos
que gritam facismos
e queimam bandeiras
querendo escrever
leis sem saber ler
Quem sempre lutou
não pelo pais
mas pelo seu povo
queria ficar
feliz co'esse novo
e forte aliado
Agora vê cordas
que de novo tentam
manipular todos
com a mesma velha
mídia com suas cartas
marcadas e arcaicas
Quem nunca fechou
olhos não será
por spray, bombas,
manipulações
logo adormecido
por vinte centavos
Vândalo
subverter essas medidas
e brincar de cabra-cega
com as normas esquecidas
Quero brindar com as pregas
das verdades carcomidas
dum modernismo que afaga
ideias pré concebidas
O metro não é vilão
nem mata a criatividade
dum poeta verdadeiro
É desafio de montão
pra quem tem necessidade
de inovar o tempo inteiro
sexta-feira, 21 de junho de 2013
Vidraças valem mais que Vidas
quarta-feira, 19 de junho de 2013
Poeticamente sádico
e tolho cada palavra
que avulsa vira escrava
de meus desejos perversos
gosto quando a rima crava
na carne ímpetos imersos
em tara, desvios diversos
e doce perversão rara
com voz doce e macia
teço bem uma ilusão
de que a corda acaricia
pelas linhas da escansão
geme cada poesia
e se encadeia o tesão
terça-feira, 18 de junho de 2013
Protesto com Vinagre e Lágrimas
ou "só" pelo direito de ir e vir
É por tudo que nos faz os escravos
duma seleta elite ainda a sorrir
Oito horas de trabalho por salários
que se fossem piada fariam rir
Enlatados, viajamos num calvário
diário pro sustento garantir
Sabe quanto que vale meu vintém?
Vale muito mais do que seu valor
corrente, monetário e absoluto...
Vale o dever de não dizer amém
prum bando de bandido sem pudor
que trajando ternos mentem absurdos!
segunda-feira, 3 de junho de 2013
cabelos, roupas e unhas de feriado em casa
não quando é com meu comum leitor
Livretos somente entrego e recolho
Mantendo meu sorriso de olho a olho
Vagos vagões e céu de malumor
mas tinha ela num sorriso encantador
e tímido que obrigou meu desfolho
dos meus livretos com pesar e orgulho
Eu ouso - posso sentar? - Ela ri
esquecido falamos de livros
dos cursos, quadrinhos e poesia
Se dos nomes na língua esqueci
não me apagou os seus modos tão vivos,
seu doce desleixo que seduzia...
segunda-feira, 20 de maio de 2013
Capataz
Minha mucama mulata
me beija os pés lavados
com rosas e serenatas
que abençoa meus pisados
Tem nos olhos de gata
travessuras, requebrados
e uma malicia exata
dum feito mais que safado
Que ninguém jamais me acuda
da língua em meus ouvidos
que pra cama logo puxa
Que me importa se ela ajuda
uns tantos negros fugidos
debaixo de minha fuça?
terça-feira, 23 de abril de 2013
Como fazer um soneto
Compor sonetos bons não tem mistério
é só alinhar os tons, ritmo e rima
o assunto pode ser jocoso ou sério
o bom poeta faz seu próprio clima
Não não me faz essa cara de velório
vício de sonetar não tem vacina
Me instiga que começo o falatório
de metro, forma assim que me alucina
Escolha qualquer tema que quiser
e com os decassílabos me faça
um poema que dá gosto de ler
redondilhas também tem a sua graça
e são daquelas fáceis de fazer
se nessa arte você é novo na praça
segunda-feira, 22 de abril de 2013
Coroa de Sonetos de Amor - I
com seu beijo todinho para mim
mas não fique vermelha de pudor
pois dai minha fome não tem fim
Eu quero sua saliva e seu suor
na minha língua e boca bem assim
sabe como ficar ainda melhor?
se me amar também cada pedacim
Que mais quero é suas mãos tão famintas
ávidas, curiosas e atrevidas
me tocando e mostrando seu querer
Beije vai, cada uma de minhas pintas
em meu corpo e lhes chame de queridas
sabendo onde estão sem sequer lhes ver
Coroa de Sonetos de Amor - II
é assim que lido com todos meus medos
e nesse doce ofício de escrever
sem revelar desvelo meus segredos
Regojizo do sol em seu nascer
como quem primeiro ama os eleitos
para o primeiro amor do adolescer
com a força dos peitos apressados
Estamos nós fadados: paraíso
eis o nome da gaiola de nós dois
cujo caminho é a trilha do amor
Eis feito nosso fim o nosso guizo
Estamos cá sem antes ou depois
nesses sonhos que são da nossa cor
Coroa de Sonetos de Amor - III
eu branquelo e você essa preta linda
seu beijo caramelo o meu quitanda
você alvorada e Eu sou sol-se-pôr
E na minha sua boca é bem vinda
com a suavidade ou vigor
eu gosto de sua lingua com fulgor
que saborosamente vem e brinda
O roçar de seus cabelos em meu peito
tal cobras que deslizam pela presa
são meio passo pra me enlouquecer
Navegamos juntos em nosso leito
a nossa fome é rio sem represa
o que nunca jamais vamos perder
Coroa de Sonetos de Amor - IV
são as lembranças que guardamos
dos momentos de doce padecer
entre os lençóis que juntos nos amamos
Lembre também que já fomos foder
e pra isso nossos pais nós enganamos
dois jovens assim a tarde a meter
e mentindo dizendo que estudamos
"Menina estudiosa" o pai dizia
e nós dois explorando a anatomia
de nossos corpos: puro despudor!
latim, derivações das matemáticas
e entalpia das físicas sistemáticas
eternidades são de um só calor
Coroa de Sonetos de Amor - V
que deixam marcas sutis na pele
nos lábios, nos olhos, no sabor
que me prova na força que me fere
Inebria-me todo esse rubor
de quando seu chicote bem adere
na carne num prazer de doce dor
fazendo que meu gozo se rebele
Mas se depois do gozo vem meu pranto
não será de tristeza meu doce amo
mas sim de assim poder sempre viver
Você, meu amado, belo e puro encanto
permite até o deleite que mais amo
de sua face na minha padecer
Coroa de Sonetos de Amor - VI
o sorriso de nossos dias felizes
pois não, não é o que clama meu querer
que fincou em você longas raízes
Nosso amor clama a cama pode ver
nossas brigas e fodas tem matizes
exatamente opostas pra se manter
mesmo sendo você Apolo e eu Isis
Odeio nosso amor que me devora
não fique nem fuja faz parte de mim
Não lhe quero mais, mas vou pra onde for
Corpo: sim! Mente: não! e o peito chora
não, não me abraça quero um basta um fim
quero seu beijo com fogo e fulgor
Coroa de Sonetos de Amor - VII
de você meu amigo mais querido
meu amante e confidente dessa dor
causada pela vida e seu perigo
Me abraça forte e me dá seu amor
que apenas desse jeito Eu consigo
voar mais alto que o Cristo Redentor
pra lhe contar venturas em seu abrigo
E se hoje estamos juntos depois talvez
distância nem importa pro carinho
somos cumplices mesmo sem nos ver
É meu amigo meu amante toda vez
com seu riso, seu cheiro faço um ninho
que me aquece e me faz até esquecer
Coroa de Sonetos de Amor - VIII
a memória de quando era criança
e nós dois inventamos de correr
até depois da igreja pela praça
Eu cai e não parava de doer
Como Doía! Ficou essa lembrança
de você branca quando me foi ver
todo sujo no chão uma lambança!
Veio me dando beijos pra sarar
me prometendo que já ia passar
toda dor com carinhos na cabeça
E me veio a saudade de lhe amar
será que nós daríamos um par?
Linda não fale só faça a promessa
Coroa de Sonetos de Amor - IX
por que agora será minha cadela
fará cada vontade mais possessa
de tornar puta minha Cinderela
ajoelhe-se mas sem qualquer pressa
Eu quero que meu falo seja a vela
que concentrará toda a sua reza
enquanto minha mão lhe descabela
Não para agora e muito menos pensa
como é que ousa servir-me só metade?
abra a boca pra benção do seu fim.
Sim, eu lhe invado e não peço licença.
Era isso que sonhava com vontade?
não, não diga mais nada só o seu sim...
Coroa de Sonetos de Amor - X
sua boca velada e o seu suspiro
são as respostas que quero pra mim
minha doce miragem que prefiro
não, não conto os segundo para o fim
mas você bem que sabe que sou Sátiro
e não apenas um sonho que não-ruim
pois com o que lhe curo também firo.
Marcados, unos, nossos por completo
e vejo-lhe um espelho uma igual
com quem de olhos cerrados sempre vou
Fazemos juntos um par mais seleto
ninfas e faunos de outro carnaval
é minha por inteiro tal lhe sou
Coroa de Sonetos de Amor - XI
e desde que meus lábios lhe provou
jamais esqueci dessa tecitura
tão faminta que agora me tortura
a sua pele é de quando deus errou
tecendo-lhe asas de anjo em pleno vôo
zelando por seu corpo com doçura
e me atiçando minha mente impura
Lhe farei dos meus reinos a princesa
terá tudo que sonha apenas peça
meu banquete de farta e bela mesa
e a felicidade mais que uma promessa
ao seu lado é, acredite, certeza
não quero que se assuste nem esqueça
Coroa de Sonetos de Amor - XII
pois com meus gesto cheios de rudeza
eu quero lhe dizer que minha pressa
é o tanto que minh'alma lhe deseja
Antes que nessa mente os medos teça
sente e beba comigo um vinho à mesa
sinta o sabor do aroma nessa taça
pois cada gota é toda uma represa
Você é meu vinho mais inebriante
sabor macio, toque suave de carvalho
uma delícia de não ter mais fim
Mais uma taça e um brinde de amantes
nesse amor só lhe quero sem atalho
quero que saiba bem, tal é pra mim
Coroa de Sonetos de Amor - XIII
só quero lhe comer. Mais? não tô afim
não podemos pular todo esse flerte
e vir logo pagar-me esse boquete?
não, não que eu seja uma pessoa ruim
mas mulher bonita trato assim
se ela não sabe nem pintar o sete
e na cama só paga de vedete
você se faz de burra como uma porta
e espera que eu me dê todo o trabalho
de desvendar o que já não mostrou?
Não se faça de tonta esteve torta
desde o começo fora do baralho
moça bonita, nunca alguém lhe amou....
Coroa de Sonetos de Amor - XIV
do tamanho do espaço sideral
Mas digo bem sincero que beijou
meus lábios despertou um sem igual
Moça bonita veja bem como sou
as minhas asas são do carnaval
passado e minha auréola vazou
não passo duma nota de três real
Sou malandro nadinha de perfeito
lhe compro flor na banca duma praça
se meu atraso for mais que um horror
Lhe falo sou sincero desse jeito
não me xingue, nem ligue pra essas graças
Moça bonita me faz seu amor
Coroa de Sonetos de Amor - XV
sabendo onde estão sem sequer lhes ver
nesses sonhos que são da nossa cor
o que nunca jamais vamos perder
Eternidades são de um só calor
de sua face na minha padecer
quero seu beijo com fogo e fulgor
tão forte que me faz quase morrer
Linda não fale só faça a promessa
não, não diga mais nada só o seu sim
é minha por inteiro tal lhe sou
Não quero que se assuste nem esqueça
quero que saiba bem que como a mim
Moça bonita, nunca alguém lhe amou
domingo, 21 de abril de 2013
terça-feira, 16 de abril de 2013
de pulso
Inventamos o relógio
numa genialidade louca
para nos esquecer
de nossa estupidez
de nossa insensatez
de nossa pequenez
Olhamos pro relógio
pra não cairmos
no doce conforto
de criarmos deuses
de criarmos mitos
de criarmos sonhos
Pois ao olhar pro céu
em busca do tempo
nós nos damos conta
de quanto é infinito
de quanto é eterno
de quanto é absurdo
na parede como altar
o relógio dita a casa
como no pulso o homem
os precisos relógios
são nossas correntes
modernas e perfeitas
Que nos fizeram enfim
libertos dos deuses
mas escravos da máquina
domingo, 14 de abril de 2013
Os críticos literários de ocasião
sexta-feira, 12 de abril de 2013
Queijos
I - Entrada
Queijo combina com vinho
tal o beijo com carinho
mas se combinar demais
vira suspiros e ais
II - Convite
Quero um jantar bem gostoso
pão molhado no foundue
coberto de queijo cremoso
com velas ali e aqui
III -Dizem
que quanto mais fedorento
mais refinado é o queijo
mas é teu perfume suave
que saliva meu desejo
sábado, 6 de abril de 2013
Pechincha de feira
Se pela boca desdenha
mas o corpo quer comprar...
Como apagar essa lenha
com tanto fogo a queimar?
Só há um jeito meu bem: venha
cá comigo se deitar
sem perigo sabe a senha:
fruta doce do pomar
por estas maçãs tenha
fé que vai se aconchegar
entre bananas da Penha
e caquis d'outro lugar
na cesta quero que tenha
tudo que pode levar
da feira de Saramenha
mas seu pudor vai ficar
cuidarei dele pequena
com saudade de matar
queroso: de novo venha
cá comigo se deitar...
sexta-feira, 5 de abril de 2013
Homicídio Coletivo
quinta-feira, 14 de março de 2013
aos primeiro de Março
só me faltam
três pros trinta
e me assaltam
dúvidas infinitas
seria essa uma crise
de meia-idade precoce?
Ou mais uma rebordose
de um velho adolescente?
vinte sete anos
com teto mas sem tento,
carreiras, filhos,
carros ou casamento
vinte sete anos
Três faculdades,
um livro publicado
e outro pela metade
meio mambembe vendo
meus versos de vagão
em vagão com que pago
a cerveja e o feijão
meio lixeiro recolho
pedaços de meu coração
remendo, costuro e colo
uma mentira sem tesão
três pros trinta
é pouco sucesso
mas muita tinta
três pros trinta
é muito verso
pra poema de quinta
domingo, 10 de março de 2013
Poeta
um poeta tropical de férias do mundo
no trem lhe faz feliz o riso e a careta
do leitor que se espanta no seu verso imundo
Verso alexandrino poesia barata
mesmo no calor do rio seu metro é fecundo
E o livreto de preço livre a fome mata
Podendo esse poeta viver vagabundo
Ele faz com os coelhos que nas suas tocas
dormem saindo só se a lua no Rio de Janeiro
surge no céu e nos trilhos o ritmo toca
As sandálias gastas do poeta mineiro
contam de seu calor nas terras cariocas
"usar sapatos não dá nesse braseiro!"
quinta-feira, 7 de março de 2013
SD
Tenta tenta escrever filho da puta
que cê tá doido doido demais
roda roda mas não chama o seu juca
cê sabe, isso é o que o brigadeiro faz
Doido, maluco beleza e batuta
só pelo poder de Jah me veio a paz
Tudo doce sem gosto de cicuta
e a moça do chapéu beija o rapaz
toca, toca mas não chama o raul
to louco, to na trava, bateu o sino
esse veio de Saquarema do Sul
todo excesso nos leva pro divino
Dionisio é melhor que Belzebú
sou ele na sua sede de vinho
quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013
Um trabalho bem bolado
quinta-feira, 31 de janeiro de 2013
Vida
Vermes, em vossos ventres, vis vicejam
vão vagando famintos, verminosos
Vermes, em vossas veias, refestelam
virulências e vícios vultuosos
Vermes, que vos vomitam, vaticinam
vossa vontade vã e vossos vãos viços
virulentos, vazios, velhos que vingam
vagos vilões vilmente vos vividos
Venham ver, não vão passar d'uma aurora
vaga e vazia as vossas vastas vidas
num universo feito do inverso
Venham ver, vão passar num ir embora
voláteis visões das pessoas queridas
vagando voltando em prosa o verso
segunda-feira, 28 de janeiro de 2013
Noturno
toma-me com força
sou da chuva poça
de trocas veladas
e cartas marcadas
sonho que sou moça
de pele de louça
rara e bem cuidada
co'as roupas rasgadas
num toque faminto
por teus fortes dedos
nestes meus mamilos
mas, renego e minto,
seriam teus suspiros
nestes meus segredos?
quarta-feira, 23 de janeiro de 2013
Entre a Igrejinha e o Terreiro
De nascimento sou Mineiro
de comida boa com alho e sal
além de doces sem igual
mas vivo no Rio de Janeiro
Não eu num sei tocar pandeiro
surdo, bumba ou berimbau
Mas curto a onda de carnaval
do mêsdmarço inté Fevereiro
Eu larguei meus mares de montes
por mais um por-do-sol no cais
e versos com novo tempero
Vim dos mais belos horizontes
dessas minhas minas gerais
presse tão sacro pardieiro!
terça-feira, 22 de janeiro de 2013
Era pra ser um soneto..
Todos os dias eu travo
uma batalha sem fim
com as palavras
e o que elas querem dizer
com o que elas dizem pra mim
com o que elas dizem pra você
domingo, 20 de janeiro de 2013
Análise literária do soneto "Poeta do Hediondo" de Augusto dos Anjos
Os sons dentais das consoantes "d" e "t" auxiliam a sonoridade do poema a se apresentar como o tema de morte que finalmente surge ao fim do poema. Freqüentemente esses sons se encontram inclusive em posição de destaque sendo as sílabas tônicas de cada verso. Esses sons ecoam ao longo do poema prenunciando a temática fúnebre da morte.
Composto por versos heróicos o poeta demonstra uma capacidade única de domar o ritmo dos polissílabos. Feito raro na nossa poesia tão afeita a tijolos pequenos, o poeta aqui constrói não com azulejos o seu mosaico de versos e sim um castelo de sólidos e pesados componentes. A escolha dessas palavras faz parte do objetivo frio e certo do poeta, de uma poesia de ângulos agudos, de palavras diretas, onde muitos poetas floreiam e rodeiam o poeta em questão é direto, objetivo, científico. A agudeza de seus versos, o tamanho das palavras que escolhe e a maestria que consegue adequar tudo isso ao metro canônico é um feito hercúleo de raríssimas similitudes na língua portuguesa.
Na primeira estrofe temos um Algo que desperta o sujeito poético Algo que dispara as pancadas do coração por ameaçar sua própria vida tratada aqui como existência em seu sentido mais orgânico. A mortificadora coalescência pode ser vista como a própria morte quando o organismo cessa seus processos fisio-químicos que mantém o corpo em funcionamento, é quando todos os elementos do corpo passam a se movimentar para se tornar um só, voltar para a decomposição final uma única unidade de matéria.
E tal processo de morte descrito é causado por algo além do mero infortúnio, é a soma das desgraças humanas, mas não se trata de uma mera soma, é um somatório com fim, objetivo e função. A congregação das desgraças humanas é uma visão de que esses males atuam num processo escatológico, um processo destinado. Há um vaticínio, uma má sorte guiando essas desgraças a fim de resultar no fim do Poeta do Hediondo.
Na segunda estrofe, em seu primeiro verso, é retomada a idéia do coração que bate forte e intenso, são cavalgadas em seu peito que os desnorteiam, que o fazem alucinar. E justamente nesse delírio de agonia surge na mente uma consciência. Uma culpa de um misticismo cientificista que atribui as suas neuronas despertas pela agonia a capacidade de antever seu futuro.
Pela medicina de sua época uma Sonda em seu cérebro é decerto que post-mortem ou por si mesmo uma forma de morte. Com os versos que o antecedem compreende-se que é uma clarividência uma visão de seu futuro à mesa de autópsia. Tendo, inclusive um diagnóstico, um vaticínio sendo a sua causa mortis a mais hedionda generalização do Desconforto. Notando-se aqui um ponto importantíssimo no uso de maiúscula para gravar o desconforto, há uma entificação desse sentimento. Ele é tornado um personagem dessa história maldita. Algo que acompanhou a tanto o poeta que se torna por si algo além de um mero sentimento mas também um Ente de sua narrativa e quem sabe até seu verdadeiro Algoz.
(Augusto dos Anjos - EU E OUTRAS POESIAS)
terça-feira, 15 de janeiro de 2013
Danoso
Nas fotos eu a vejo
com um sorriso triste
de quem se faz tão feliz
quanto todos querem
Não sei mais o que bate
por sob seus belos seios
na camisola negra de dormir
nem se tem sonhos ou desejos
Sei que ela no seu quarto
ainda guarda o violino
que lhe dei com carinho
E dorme sobre sua cama
o urso de seu tamanho
escrito "Te amo" nos pés
domingo, 6 de janeiro de 2013
Ela
Vazio, medo, desamparo sem par
entre cacos das louças, panos, pratos...
tateia procurando o próprio lar
seguro e sadio do porta-retratos
Vela não encontra mas já sem ar
segura a lâmina tal amuleto
jeito perfeito de presentear
a sua dor com amargo sofrimento
Vaga, sozinha, perdida e estranha
seus olhos são um caudaloso rio
e queima frio seu coração e entranha
Vai segurando a faca pelo fio
morde sozinha uma raiva tamanha
que machuca seu lábio tão macio
Juventude
sábado, 22 de dezembro de 2012
Nutrição
picotei minha camisa
e fiz um suco de manga
ficaram fiapos de pano
grudados entre meus dentes
quinta-feira, 20 de dezembro de 2012
Hai-kais Eróticos
*
terça-feira, 18 de dezembro de 2012
O mito do talento artístico e a valorização do artista.
segunda-feira, 10 de dezembro de 2012
Diálogos que a gente vê por ai:
- Claro! O bicho não é burro o bastante pra jogar no homem!
domingo, 2 de dezembro de 2012
Ela, no espelho, sou eu
Pequenina e magricela
porém faminta como eu
tem um jeito de aquarela
que no pincel se perdeu
Pinta co's dedos a tela
dum jeito bem meu e seu
Assim bruta e singela
uma musa prum ateu
Sou narciso enamorado
por essa doce mocinha
que as vezes morre de medo
de ter o peito apaixonado
pela poesia daninha
que guardamos em segredo