Publicação em destaque
Poeta e apenas poeta
Já me olharam espantados quando digo que sou poeta e só poeta. Que não canto, nem danço, nem atuo, nem pinto, nem bordo, que "só" ...
segunda-feira, 25 de maio de 2020
Descontrole
quinta-feira, 21 de maio de 2020
Tá achando que esquerda é bagunça?
quarta-feira, 20 de maio de 2020
O que diria Fedro?
sábado, 2 de maio de 2020
Era como se fosse Domingo
sexta-feira, 6 de março de 2020
Porquê o mineiro se encanta ao ver o mar
quarta-feira, 4 de março de 2020
Paz(tiche)
e já aceito bem
meu vício é ver
um ser qualquer
transpirando
ao talhar a pedra,
ou numa pintura,
fazendo seu verso,
no seu gozo,
numa laje
vira massa,
vira terra,
numa horta,
num pomar,
num jardim,
no canteiro
central da
autopista
numa máquina,
numa troca
de pessoa
ao volante,
que se joga
pro seu canto
reza forte
para Bara
erra o tiro
mas o berro
da polícia
tá chegando;
Minha musa
tão safada
vê beleza
nisso tudo,
bebo um gole
de não sei
também sou
caprichoso
indolente
com meus versos
pasticheando
num sadeano
prazer métrico.
domingo, 16 de fevereiro de 2020
Poliana polivalente
De saco cheio: Poema x Poesia
quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020
A RABA DA BUNDA
segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020
Metafísica
sábado, 25 de janeiro de 2020
quinta-feira, 9 de janeiro de 2020
Dissoneto
sábado, 30 de novembro de 2019
Djafu
quinta-feira, 21 de novembro de 2019
Das vaidades post mortem
quebrar o meu epitáfio
até foder com meu cadáver...
Mas, por obséquio, jamais
coloquem os seus poemas
piegas na minha boca!
terça-feira, 19 de novembro de 2019
Dos anais contemporâneos da arte moderna
segunda-feira, 11 de novembro de 2019
Com quantos esqueletos se faz um armário?
"Comunista é o pseudônimo que os
conservadores e saudosistas do fascismo
inventaram para designar todo sujeito
que luta por justiça social."
Érico Veríssimo
"Se eu dou comida aos pobres,
eles me chamam de santo.
Se eu pergunto porque os pobres não têm
comida, eles me chamam de comunista."
D. Hélder Câmara
sexta-feira, 8 de novembro de 2019
Nunca mais azul
noventa questões
e uma redação;
Ela não me nota
passa sem me ver,
passa se achando:
-a última Caneta
Preta do Enem-
eu nem ligo mais
pois igual a Ela
já perdi a tampa
de mais de cem
levanto a mão banheiro
manchei meu batom
Talhado por Talião
eu amo algo
(ou mesmo alguém)
justo pelo ódio
que esse algo
(ou esse alguém)
causa em quem
eu mais odeio
(ou mais amo)
quarta-feira, 16 de outubro de 2019
QUESTÃO DE LÓGICA
terça-feira, 15 de outubro de 2019
O SALVAMENTO DO GATO NA PONTE DO SABER:
Campis Universitários, Variação Linguística e outras digressões
Como não ter um gato favorito? Quando eu adotei Sodoma e Gomorra na virada do ano de 2018 para 2019 jamais cogitava ter um terceiro gato.
Certa noite de domingo, quando fui deixar o Rodolfo no alojamento da UFRJ na ilha do fundão depois da Feira Literárias de Duque de Caxias na Biblioteca Leonel Brizola. Não posso deixar de comentar que apesar da biblioteca ter os traços concretos do imorrível Niemayer ela pulsava vivamente a Literatura e nos brindou com um fim de semana deveras agradável. Mas voltando o assunto encantado com o evento eu desviei um pouco da minha rota habitual e fui levar o Rodolfo para seu quarto lá no alojamento, mesmo alojamento onde eu mesmo já tinha morado meia década antes, mas isto é outra história.
Deixei o Rodolfo são e salvo e sem ter que perder duas horas no caos dos ônibus Fluminenses, agradeci pelo empenho na feira e fui em direção a Ponte do Saber que a moça do Google tão gentilmente me instruía a ir. Mesmo amando variação linguística. Eu sempre me esqueço de trocar por uma voz masculina me sinto mal em xingar ela quando erro o caminho, se fosse ele seria mais confortável de xingar. Melhor ainda é quando me lembro de colocar em Galego ou em Português de Portugal.
Continua, é claro, perfeitamente inteligível, no caso dos gajo xingo com mais prazer e pelo galego nutro uma estranha xenofilia de um povo que vive ali ao norte de Portugal com um idioma virtualmente idêntico mas sob os domínios da coroa espanhola. Ouvi-lo me guiar pelas ruas brasileiras é uma experiência que me aproxima de uma possibilidade histórica irrealisável.
Largando a História, e voltando a estória, lá ia eu pra Ponte do Saber que por ironia simbólica era uma via de mão única, é apenas uma saída da ilha do fundão. Lugar onde os milicos da ditadura isolaram todos os cursos universitários da UFRJ que conseguiram. Só ficaram acessíveis à população e longe do seu controle explícito aqueles cursos mais fortes como o Direito ou mais organizados politicamente. A ilha do fundão é ao lado da base aérea do Galeão, bem aos olhos vigilantes dos militares.
O mesmo aconteceu com a Ufmg cujo campos fora planejado para ser no coração da cidade. Acessível a toda população e os milicos mandaram pra bem longe ao lado vejam só que coincidência! De uma base militar do exército! E o que foi feito do terreno onde era para ser a universidade? Virou um bairro de mansões conhecido como Cidade Jardim.
Voltando a pretensiosa ponte do saber de onde o conhecimento só sai e nunca retorna. Uma mancha preta e magricela impetuosa parou em frente aos meus faróis num dia que eu estava imbuído de poesia.
Parei de pronto, desci do carro, desse meu carro que parece de funerária de tão grande mas que só carrega caixa de poesia para ser vestida, bebida, encadernada, as vezes lida, repousada a cabeça e constantemente recriada.
Miava muito, mas não fugiu. Pensei comigo o que eu iria fazer, parei pois ia devagar pois já não tinha pressa e já estava cansado de saber onde como eu ia chegar no meu destino.
Eu já não sabia que tipo de conhecimento poderia passar desembestado pela ponte do saber e atropelar aquele bichano esperto. Há quem ache que precise passar rápido pelos saberes dessa e de outras vidas.
Pelo sim pelo não coloquei aquele miador no meu carro, não tina caixa não tinha onde botar, porém esperava que como bom gato fosse minimamente desconfiado e se aquietasse em algum canto ou fosse explorar cada recanto daquela banheira de quatro rodas.
Coloquei o sujeito dentro do carro, no porta malas, eu não estava preparado para aquilo, pensei em dirigir devagar e só que tudo iria ficar bem, o miado constante eu poderia abstrair com música alta mas o impetuoso, não ficou nem cinco minutos lá, saltou a barreira dos bancos de 10 vezes o tamanho dele e o meu colo procurou. Tranquilo, estou de cinto vou dirigir mais devagar ainda. Fazendo as curvas da ponte do saber o diabo do menino batia aquele nada de cabeça nas minhas mãos no volante.
Eu, marinheiro de primeiríssima viagem em resgate de gatos e semi virgem em tutoria de felinos em geral. Não entendia nada.
Sério, no início do ano eu preferia que me dessem uma neném humano de um mês com a fralda de diarréia que um filhote gato recém nascido. Eu Sabia lidar muito melhor com humanos. Acho que hoje consigo cuidar dos dois com tranquilidade. Já sei amolecer a ração com água morna pro bebê e preparar leite materno congelado pro gatinho.
Mas voltando. Eu achei que ele queria nos matar, que queria sair do carro, que queria voltar, que sei lá. Parei o carro. Abri o porta malas e coloquei ele de volta num vão que tem no carro onde teoricamente ficaria o estepe mas no meu modelo o estepe fica do lado de fora( muito útil quando você vai viajar e seu carro está lotado de caixas e caixas de artigos Literários e só de pensar em tirar o estepe de lá você pensa em chamar o reboque ou em suicídio) nesse vão tem uma cobertura toda vedada de velcro, dali ele não vai escapar! Eu fiquei todo orgulhoso da minha inteligência e voltei a dirigir.
Não andei dois quilômetros, e ele desceu pelo meu cangote, cravando a patinhas com aquelas unhas minúsculas no meu peito e dessa vez não ficava quieto, no meu colo, na minha perna, na marcha, tentei dirigir com uma mão só segurando ele no banco do passageiro, ele achou que era lutinha e se empenhou em derrotar minha mão.
Tive a brilhante ideia de esvaziar o porta luvas, tirei documento, manual, pacote de camisinha, par de óculos noturnos, uns metros de corda,uns livretos de poesia minha uns exemplares do meu livro, uns panfletos aleatórios, umas notas de dinheiro que eu nem sabia que estavam ali.
Isso tudo com ele fazendo a festa porque era uma mão no volante, outra fazendo isso, daí não sobrava mão. Eu só praguejava e me perguntava porque eu estava fazendo aquilo.
Esvaziado o porta luvas, peguei aquele merdinha miador e com todo carinho taquei ele lá dentro.
Não sei se o porta luvas atuou como uma concha acústica, nem se era possível uma garganta e um pulmão tão pequeninos fazerem tanto barulho.
O som do miado ficou insuportável. E o volume do punk rock dos testiculos de Mary não conseguiam abafar. Abri a janela na auto estrada, não ajudou muito e eu ainda fiquei com medo de alguém ouvir e achar que eu estava matando.
Para meu alívio avistei a feira de São Cristóvão, dei seta pra direita, desci da linha vermelha liberei ele do seu cativeiro, passei em frente do melhor baião de dois do Rio de janeiro com ele trançando de um banco pro outro miando ritmadamente e eu indo calmante a 30km/h numa pilha de nervos.
Estávamos perto. Mais dez minutos. De novo ele dava cabeçadas na minha mão no volante e como um Eureka eu entendi que ele queria carinho. E comecei a usar uma das mãos para fazer carinho, ele durante um tempo tentou puxar a outra também, mas depois se contentou com uma só.
Dirigia exausto pelas ruas finais já era tarde, bem tarde devo ter gastado o triplo do tempo que gastaria do fundão até minha casa. Estava contente, não cagou, não mijou, não me mordeu, uma vitória completa.
Estacionei o carro, deixei ele lá dentro, no segundo que eu larguei abriu o miador. Total e absoluto.
Abri o portão de casa, coloquei Sodoma e Gomorra num quartinho, eram todos do mesmo tamanho mas não convinha mais estresse nesse dia.
Peguei um pote azul e outro vermelho enchi de água e ração. A fome do pequeno de pelo preto mas peito, cara e patas brancas era tanta que eu tinha que segurar o porque senão o pote saia arrastando a cada bocada que ele dava.
E ele dava duas bocadas, olhava pra mim miava e voltava a comer, mais duas bocadas e um miado. Até ficar roliço e o pote vazio. Nesse dia dormiu comigo desfiando minha barba deitado em meu peito. E até hoje, sempre que fico doente, passo mal ou estou triste é o primeiro a vir a se deitar comigo.
Quando levei à veterinária no dia seguinte ela se enganou e cravou que era fêmea, e também prescreveu um monte de remédio que dei com muito zelo. Cuidei melhor dele do que tomo os meus próprios remédios. Se eu cuidasse de mim como cuido dele mina vida seria outra! Meu tdah, minha depressão e ansiedade não seriam bichos de estimação tão ruins de se conviver, poderiam ser se não uns amores como este preto e branco ao menos pamonhas como Gomorra ou indiferentes como Sodoma.
Eu não disse seu nome ainda? Que distração a minha! Seu nome é Admá. Não Ademar como já quiseram insinuar. E não, ele não parece um senhor de meia idade, meio calvo, usando uma camisa velha de um candidato a vereador pelo PFL do interior. Nem Admar como escreveram no cartão da Clínica do veterinário. Tudo que eu não sofro com meu nome esse daqui passa. Ao menos ele nunca vai ter na sala dele 8 Admá, nem vai fazer Enem com uma sala só de Admá.
Admá é uma das cidades do vale do Sidim, o mesmo vale onde ficava as cidades de Sodoma e Gomorra. Sim, das minhas tantas ironias os gatos vistos como deuses cá em casa recebem o nome de cidades vítimas da ira Divina... Mas aqui sou eu a protegê-los e subverter essas e outras lógicas entretanto por ironia da ironia Admá que escapou da ira divina e também o verdadeiro xodó da casa, tanto que tem até apelido que só os íntimos da casa conhecem.
sexta-feira, 4 de outubro de 2019
Em causa própria
Já incidem juros e mora;
protestadas em cartório.
Pague logo sem demora
Porque o risco já vigora
de se decretar o arresto
de seu corpo, co'a penhora
dos seus lábios em protesto!
Serei porém o mais profícuo
nas lotas dessa almoeda
nos lances e no arremate
Sei, sou injusto e iníquo
mas eu quero que suceda
de para mim encampar-te
quinta-feira, 19 de setembro de 2019
Omilia da caridade
Tá confundido as coisas irmão
Cristão é que reparte o pão
Comuna faz revolução
e toma os meios de produção
quarta-feira, 18 de setembro de 2019
terça-feira, 17 de setembro de 2019
"Eu não sabia que você também sangrava"
Quadrilha México-Soviética
que amava Chavela que amava Kahlo
que amava Trotsky que amava Sheridan
que amava Leon que amava Sedova
que era revolucionária também
Rivera foi pintar nos Estados Unidos, Sheridan foi exilada,
Frida sofreu um desastre, Kahlo casou-se com Diego,
foi amante de Leon e Chavela, que tornou-se alcoolatra,
Sedova casou com Trotsky que foi morto por Mercader
que ainda não tinha entrado pra História.
quinta-feira, 12 de setembro de 2019
DENTROFORA
quarta-feira, 11 de setembro de 2019
Mas me ama?
O namoro enamorou
Vem cá amor, vem cá meu bem
Nós somos e eu só não sou
Acabou mas inda tem
sexta-feira, 23 de agosto de 2019
Eu
Não me importam os seus ismos
pudores, moralismos.
E nem me prendo a você
só ao que me dá prazer.
quinta-feira, 15 de agosto de 2019
Sou classe média
Bolsonaro, belo trato,
tá coberto de ração:
video-game mais barato
e mais caro o feijão!
quarta-feira, 7 de agosto de 2019
Fake news das rimas ricas
Foi no zap que espalharo
quem me dera não ser hoax
fuzilaram Bolsonaro
com treze tiros no tórax
terça-feira, 6 de agosto de 2019
quarta-feira, 31 de julho de 2019
O filho no colo do pai;
depois de uma história,
novinha ou de memória,
contada ao pé do ouvido:
se aconchega adormecido...
quinta-feira, 4 de julho de 2019
Deu no jornal em Sergipe
Salão do Simpósio Lotado
de pequenos empresários
desesperados com a nova
Alta do Gás pela Petrobrás
já havia uma Fábrica Falida,
os empregados desempregados,
a Economia em Recessão,
só Promessa nenhuma solução
levanta para dizer e não consegue;
na frente do Milico Ministro
de Minas e Energia e do Governador
o dono da fábrica comete suicídio.
quarta-feira, 26 de junho de 2019
Fugimos do Hugo Chávez e elegemos Pablo Escobar?
Em seis meses a Milícia já movimentou quase 100 milhões com o narcotráfico internacional desde a eleição presidencial com um único esquema.
O militar co-piloto presidencial foi pego com 39Kg de cocaína são 39.000 gramas. O grama de cocaína na Espanha custa €78,00 o Euro está valendo no momento R$4,37.
A conta:
39000g×€78,00×R$4,37=R$13.293.540,00
Sim, mais de treze milhões de reais numa única viagem. Até agora o nosso excelentíssimo presidente já fez 7 viagens internacionais.
Como todo mundo sabe o narcotráfico não é um esquema de uma pessoa só e se articula num mesmo modus operandi ao longo do tempo. Então podemos multiplicar esses 13 milhões por 7.
Totalizando R$93.054.780,00 mais uma viagem e chegaríamos a cem milhões em um único esquema das milícias que sabidamente envolvem militares da ativa e da reserva da polícia, exército, bombeiros e demais forças armadas.
Claro que isso apenas mais uma coincidência, que não há qualquer relação com o presidente que emprega, é vizinho e tem parentes milicianos ou ligados a Milícia.
quinta-feira, 13 de junho de 2019
quarta-feira, 12 de junho de 2019
Um companheiro indesejado
Um garoto que tinha um bicho de estimação, mas ele próprio não sabia que tinha um! Ninguém jamais contou isso para ele e nem o próprio a educação de se apresentar.
Era um bicho Travessos um humorista de primeira cheio de ideias fervilhantes e até às vezes sem noção.
Em algumas situações pregava peças maldosas e até perigosas para o seu dono e dele não desgrudava um segundo sequer!
Ele se divertia muito escondendo-lhe as chaves de casa apagando as anotações de sua agenda, marcando como lidas umas mensagens que seu dono sequer tinha lido no celular.
Seu bicho de estimação fazia seu dono olhar para um pombo branco e se esquecer de atravessar no sinal verde aberto para pedestres e não ver o Fusca azul vindo na esquina... Que perigo!
Chegava ali prender na cama sussurrando: "só mais 5 minutos" por 10 vezes seguidas para então se divertir com seu dono se arrumando apressado e totalmente atrasado para justo nesse momento trocava o par de meias dos sapatos (ou mesmo os próprios sapatos!) e lá ia seu seu dono rua afora com um de cada cor...
O bicho chegava até a fazer seu dono passar por mal educado fazendo ele passar do lado de um colega e não vê-lo porque o bicho mostrou que a cor da luz do sol refletida na vitrine e era muito mais legal e assim o bicho de estimação fazia seu dono olhar para luz e nem ver seu colega.
Seu bicho era particularmente maldoso com seu dano quando o assunto era o pessoas que seu dono sentia vontade de estar perto e pior agia quando seu dono sentia desejo por alguém.
Sempre o distraía quando aquela pessoa legal lhe fazia um gesto gentil, lhe fazendo esquecer de agradecer ou colocava uma mosca voadora super interessante para que o seu dono não visse que lhe chamaram para se sentar junto no ônibus de volta para casa.
Seu bicho de estimação o fazia perder o controle dele mesmo pois fazia ele acumular tantos "nãos" tantas frustrações que para todo mundo quando eles explodia de raiva "só por ter perdido a Chaves" era "só por ter perdido as chaves".
Ninguém sabia que seu bicho já tinha escondido também por pura brincadeira seus cadernos, carteira, celular, documentos, óculos, livros, lápis, estojo, borracha e tudo mais que pudesse por suas mãos artreiras.
E também as mesmas chaves mais dez vezes só só naquele dia e já era, sem exageros, a centésima vez no mês que as escondia e eles ainda estavam no dia quinze...
quinta-feira, 6 de junho de 2019
Terreno Fértil
Sou jardineiro da última flor do lácio
um coveiro nada culto tampouco belo
que cava com as próprias mãos o seu espaço
não sou ourives, me cai melhor o rastelo
Dessa terra bruta hei de tirar o macio
fruto cultivado e que há tanto tanto espero
Pois do campo sou devoto e nele que crio
a fome de juntar sua foice ao martelo
Das cidades onde vivo do meu país
expatriado, apertado e apartado
num apartamento que ainda fala minha língua
Mas que nada me responde ou me diz
e pelas mitomaníacas condenado
sem resposta ou pergunta e sempre à míngua
quinta-feira, 18 de abril de 2019
quinta-feira, 11 de abril de 2019
terça-feira, 5 de março de 2019
Vontades Barrocas
Que gana danada
de lhe dedilhar
até ouvir seu
arfar e desafinar
em meus ouvidos.
Que fome pesada
de lhe devorar
banquete e apogeu
para me fartar
nos seus gemidos
Que tara ousada
de lhe amarrar
Impio jubileu
para lhe causar
os seus delírios
Eu quero a Cocanha
o festival da carne
em seu corpo macio
Realizar toda a Sanha
que me parte o cio
quinta-feira, 17 de janeiro de 2019
Crônica: Império dos Sentidos
Quanto mais eu vivo e experimento, vejo que paladar/olfato são os mais íntimos dos sentidos. Quimicamente, são fragmentos de algo alheio ao nosso corpo que são dissolvidos em nossos órgãos sensoriais que nos fazem sentir aquilo. Trocando em miúdos, o cheiro de uma flor é pedaço minúsculo de uma flor que chegou até a suas narinas, o cheiro da água do mar, do alho frito na manteiga que desperta a fome, mas também é, para nosso desgosto e repulsa, o de merda.
Numa noite quente, dessas úmidas que só os trópicos são capazes de produzir quando as terras estão perto de grandes massas d'água, eu acordei com a boca seca pelo ar condicionado, mas, em meus sonhos, chupava sua buceta com sadismo requintado de quem faz gozar e não para de chupar. Essa boca seca me fez buscar água e, no quarto de hotel que estava hospedado, não havia frigobar e a água mineral que tínhamos a disposição era salobra - fora do Brasil a água tem um gosto estranho, mais pesado, quase leitoso. Isso veio me despertar para as coisas da oralidade, minha própria boca seca sendo insultada por aquela água que não era o que devia ser: insípida, inodora e incolor.
A intimidade que tenho com os sentidos seguem a seguinte ordem: visão, tato, audição, olfato/paladar. Não me incomodo em ver nada, nada ofende minha visão, nudez, feiúra, palavras de ódio, discursos escritos, violência gráfica, fotos e até mesmo o mundo real consigo usar o pescoço e olhar para o outro lado e evitar o que me desagrada se acaso não puder encarar de frente. Admirar um quadro, fotografia, prédio, pintura rupestre, obras dum mestre da escultura consegue me capturar alguma atenção, mas não por muito tempo, a não ser que sua narrativa me fascine. Se nas artes literárias sou pura forma, é ao conteúdo que me apego nas artes plásticas, isso diz muito sobre o quanto o conhecimento de uma arte molda seu gosto (ou não).
Confesso, minha oralidade é cheia de vícios e cacoetes. Tal qual eu prefiro sonetos do que a prosaica prosa, para me vir contar um conto, preciso de algo que realmente me dê tesão. Posso dizer o mesmo do beijo e do cunilíngua, que só me apraz quando a inspiração chega-me de jeito. Prefiro um abraço, um chamego, um carinho profundo do que a língua de quem não sei bem se quero e anseio. E, oras pois, beijo sempre há de ter sabor, pelo menos aquele que desejo. Pois, quando recebo um beijo que não quero, não me causa repulsa, apenas não me causa nada, é como um copo d'água bebido sem sede, é nada, mecânico e vazio. Eu juro que não entendo o horror homofóbico. O medo e a repulsa. Se não há um desejo recalcado ali, não há sensação a ser despertada. Se um mero abraço a quem desejo me atiça o melhor beijo de quem não me atrai me mantém completamente indiferente. Se isso não acontece contigo, tenho uma boa e uma má notícia pra você...
O tato me é um sentido caro, daqueles prazeres tímidos, íntimos e raros. O prazer de roçar os pés uns nos outros debaixo das cobertas, dos pingos de chuva na pele nua num dia quente, duma ducha fervente num dia frio, o toque do meu corpo noutro corpo macio, dum gato caminhando nas minhas costas de manhã, a crocância de mastigar gelo... Aliás, amo gelo, ele tem tantas utilidades divertidas, aprendi com meu pai a ter uma enorme caneca em casa, enchê-la d'água até a metade e levá-la ao congelador, depois é só completar e ter água estupidamente gelada por muito tempo. Mas o tato também pode ser incômodo às vezes, porém é fácil de repelir e de se afastar. Afora o calor do Rio, nada mais relacionado a ele me vem reclamar. Mas de fato o calor do Rio de Janeiro me faz querer arrancar a pele, cortar todas as terminações nervosas que me fazem sentir calor. Daí me lembro que boa parte disso é culpa dessa ideia de jerico de usar a moda europeia num lugar de clima tropical. Faz quinhentos anos que estamos cometendo esse erro de português cá nas terras do Pindorama, os índios devem estar rindo de nós nesses anos todos, suando feito porcos por pudor por causa dum amigo imaginário, censurador e sanguinário.
Ela implorava para eu parar e eu ali continuava. O sonho era uma bricolagem de experiências passadas, de algumas delas, e nessa ela havia me pedido as amarras e estava lá de mãos e pernas abertas, atadas e amarradas, gemia, arfava delirava e eu a chupava enquanto seu corpo tremia e gozava. As amarras entraram na minha vida há mais de uma década, são acessórios de arte, um prolongamento estético que tornam o sexo de minutos para horas, Cada nó, amarra é um deleite, um tesão, uma vontade única feita cuidado e a pedido de quem normalmente é a parte atada. Ela, amarrada ali, sendo chupada, chegava a orgasmos que não se permitiria chegar solta, que pediria para parar antes, que fugiria, que violentamente reagiria. As sensações de prazer alcançadas são fascinantes de se observar ,é muito melhor que qualquer experiência outra, é o melhor instrumento musical que eu poderia querer.
Já com audição o problema fica mais sério. Os sons são extremamente invasivos e é difícil evitá-los. Tenho problemas sério com barulhos desnecessários feitos por capricho ou burrice, como é o caso de foguetes e buzinas. Quanto aos foguetes não gosto mas tem quem goste, xingo só e fico no meu canto. Mas tenho verdadeiro rancor de quem usa buzina, é totalmente inútil, só faz barulho, incomoda e não resolve qualquer problema, se eu fosse rei da porra toda instituiria um tacógrafo em cada veículo que cobraria 0,01% do valor do veículo ao ano por buzinada que o motorista desse. Porque quanto maior e mais caro o carro mais o sujeito se acha dono da rua e no direito de abusar de nossos ouvidos. Quem me dera que os sons só chamassem a atenção com as assonância de um verso, as cacofonias de um poema rude, as rimas encadeadas, interpoladas ou emparelhadas de um soneto, mas a musicalidade é a ponta do universo dos sons e meus ouvidos não são daqueles que ouvem musicalidade em tudo.
Tenho na ponta da língua minha técnica, um esquecer das horas, do tempo e me atento ao meu instrumento musical de suspiros, gemidos, frêmitos, tremores. Descobrindo como, quando e o quanto cada movimento meu de língua, dedos, lábios e dentes causam o melhor resultado. Porque claro, ao contrário do que prega-se por aí, cada buceta é única e o que vale para uma não vale para a outra. Não diria sequer que há no mais das vezes, onde tocar, onde lamber, onde se morder e tudo isso sem adentrar nos anais da questão do cu.
O olfato, eis um sentido efêmero que costumo relegar e esquecer tantas vezes. Mas o cheiro de Dama da noite não me deixa esquecer da praça da liberdade onde comi meu primeiro cu num terreno baldio, uma tentativa frustrada, é verdade, mas uma tentativa. Estava bêbado demais, deu em cima de mim, me beijou, me levou pra lá, desafivelou meu cinto, abriu o zíper, meu chupou até ficar duro, colocou a camisinha, abaixou as calças e colocou-me dentro. Bombei desajeitado, meu pau escapuliu e o vi sujo de merda, não sei bem como mas senti vontade de mijar e anunciei que gozei. Estava bem bêbado, mijei dentro da camisinha. Não sei bem como mas nós nos despedimos, nunca mais vi depois desse dia de meus dezesseis anos. Mas o cheiro de Dama da Noite já esteve presente em inúmeras ocasiões, um cheiro que adoro e que quero plantar em meu jardim. O Rio de Janeiro com seu cheiro de maresia e sexo nos recebe como mangue e esgoto mas torna familiar com o tempo como também e não o cheiro do cerrado mineiro que é um no Jequitinhonha e outro na Serra do Curral Del Rey. E dos cheiros, o único que me afasta é o do pequi, fruto do cerrado de cheiro tão intenso que foi capaz de atentar contra meu sentindo favorito e mais ousado, o paladar.
Ela gozou e eu parei pra observar um pouco, conhecia bem aquele corpo e sabia o que viria a seguir. Alguns segundos de respiração descompassada, olhos semicerrados, boca entreaberta e quando parece que ia se acalmar, o corpo todo se irrompe num novo gozo como uma descarga elétrica lhe percorrendo por inteira. Já vi essa cena inúmeras vezes mas me sinto um expectador privilegiado sempre que atuo a causar tal espetáculo de êxtase. Um orgasmo em três tempos. O primeiro comigo inteiro e que se prolonga na agonia de meus dedos, o segundo tempo de calmaria e terceiro desta combustão espontânea que nunca soube de onde surge ou como surge.
Paladar, sentido apurado, sentido que tenho guardado e do qual só chega até mim o que e como eu permito. Sou um curioso, um experimentalista. Estou certo que morreria intoxicado se fizer um tour gastronômico pelo interior dos tigres asiáticos. Será que alguém ainda usa essa arcaica expressão dos livros de geografia dos anos noventa? Os tempos mudaram tanto, as mudanças foram tantas e os tijolos que construíram os BRICS será que vieram de lá? Faço meus próprios experimentos dentro da cozinha. Cama e fogão, meus domínios favoritos, os espaços de minha casa que pensei nos mínimos detalhes para saciar meus prazeres domésticos. Com a mesma desenvoltura que faço um prato novo e introduzo um ingrediente inusitado, eu experimento algo que nunca provei antes. Só o fato de nunca ter provado já me basta para querer. Moqueca de Banana da Terra com Carambola, Cordão de Filé Mignon Serenado, Sushi no Pau, Uramaki de Damasco e toda sorte de invenções que o paladar aceitar farei. Minha restrição só são os doces, até mesmo para as bebidas: sucos com muito pouco açúcar e, etílicos, prefiro o restrito e malfadado Bloody Mary, extremamente condimentado, que gera inspirações para poemas e fodas.
Quando alguma mulher diz “toda mulher gosta de ser tratada assim ou assado”, é sempre de bom tom tratá-la exatamente como ela demanda, porém convém saber que esse “toda” se refere exclusivamente a ela. A multiplicidade de seres e expressões do desejo é absurdamente maior do que poderia entender um único ente desejante. Se alguma nega, renega ou censura o gozo de outra, ali tem algo sobre o próprio prazer dela. Se há carinho e tesão, pode ser um caminho para ser explorado com cuidado. Muito cuidado!
Como vagueio de bar em bar procurando meu Bloody Mary e raramente encontro, assim também meu paladar restrito me leva naturalmente a pensar que sentir o gosto de outra pessoa é a maior intimidade que eu posso ter com alguém. Foder de camisinha me parece bem menos íntimo do que um longo e apaixonado beijo onde conheço a fundo o sabor de sua saliva. Sim, eu transaria com bem mais pessoas do que aquelas que eu beijaria, pois o paladar me é um sentindo muitíssimo mais íntimo que o tato, visão ou audição.
Eu lembro agora de um medo das oralidades advindos de sádicas mordidas inoportunas de outrem que já foram resolvidas com pedras de gelo usadas divertidamente. Misturar frio com calor dá um tesão daqueles tanto pra língua quente e o gelo dialogando com a buceta, como também o gelo dentro da buceta e o diálogo do pau entrando na buceta quente e sentindo o gelado gelo lá no fundo. Ambos são um tesão. Essa transa ficou para os anais da história, com o perdão novamente pelo, desta vez, duplo trocadilho, pois foi esta historiadora que me ensinou também os primeiros passos das práticas sodomitas.